sábado, 6 de setembro de 2014

Covilhã - Os Ventos do Liberalismo/ Os Ventos do Miguelismo II


 O século XIX é um período de grandes transformações políticas, económicas e sociais. As ideias liberais fervilham por todo o mundo, opondo-se ao absolutismo vigente.
 Encontrámos no espólio e nas publicações de Luiz Fernando Carvalho Dias alguns documentos que comprovam a ocorrência de actos revolucionários e contrarrevolucionários na Covilhã oitocentista. Houve muito descontentamento, reuniões secretas da maçonaria ou doutras associações (“sociedades denominadas patrioticas”), prisões, exílios, mortes, quer de miguelistas, quer de liberais constitucionalistas ou cartistas. Que miguelistas? Que liberais?


Os documentos que estamos a apresentar sobre a Covilhã, acompanham a guerra civil que os portugueses viveram ao longo de várias décadas do século XIX: a Vilafrancada miguelista em Maio de 1823; a Abrilada em Abril de 1824, cuja derrota obriga D. Miguel a abandonar o país; a morte do rei D. João VI em Março de 1826 e o início da Regência da Infanta Isabel Maria; a Carta Constitucional outorgada por D. Pedro, que se encontrava no Brasil; a abdicação de D. Pedro em sua filha; o regresso de D. Miguel em 1828 e o país virado do avesso.

 Todas estas divergências e dúvidas parecem ficar esclarecidas quando D. Miguel, ao regressar de Viena em 1828, é aclamado Rei absoluto. Esta situação abre em Portugal uma guerra civil, primeiramente entre absolutistas e liberais. Só a Convenção de Évora-Monte (1834) e o início do reinado de Dona Maria II procuram sanar esta ferida imensa que grassa no País.


Auto de Aclamação de El-Rey o Senhor Dom Miguel Primeiro


            Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oito centos vinte oito annos e aos vinte seis dias do mez de Abril do dito Anno nesta Villa de Covilhaã em os Paços do Concelho da mesma ahi sendo presentes o juis Veriador e Prezidente, Veriadores, Procuradores e mais officiais da Camara, e bem assim Clero, Nobreza, e Povo por todos onanimemente foi dito e acordado que não podendo por mais tempo demorar um paço alem de legitimo e conforme aos seos sentimentos, como d’amuito tempo, e por diferentes vezes tem manifestado demais o exigem  Imperiozamente o bem do Estado, e felicidade da Nação, qual he o de se reconhecer e declarar Rey Legitimo e Emdependente destes Reinos e seos Dominios o Senhor Dom Miguel Primeiro para nos reger e governar do mesmo modo e com as mesmas Regalias que seos Augustos Predecessores Aclamaraõ Solenemente o mesmo Augusto Senhor, acordando que de tão glorioso acontecimento se fizeçe este auto que por certidão se devia levar a prezença do mesmo Augusto Senhor, juntamente com os vottos de vaçalagem e maior respeito à Sua Real Pessoa, e por que não cabia no tempo / por ser noite / render hoje mesmo Graças ao Alticimo, que na manhã do dia seguinte se cantaçe o Hino Tedeum na Igreja de Santa Maria Maior, rezervando para o adiante o dar mais demonstraçoens de reguzijo publico senão como dezejão ao menos como lhe for pocivel. E por esta maneira houverão este auto de Aclamação por feito que todos asignaraõ, eu Antonio Teixeira de Mendonça Escrivaõ deste juizo e nomiado para fazer este auto o escrevi e asigney. (A cópia das assinaturas):


Declararão a Camara e mais pessôas que se achavão prezentes ao tempo que se asignou o glorioso auto de Aclamação do Senhor Dom Miguel Rei independente e foi notado que algumas pessôas tinhaõ aparecido para assignar o mesmo auto sem que comtudo tiveçem concorrido quando se feS Aclamação, e que por isso para haver sobre tão importante objecto todas as clarezas se fizece expreça menção daquelles que ainda que compareçeraõ à signatura do auto não foraõ prezentes no acto de Aclamaçaõ, e se declarou serem os seguintes = O Tenente Coronel de Mellicias do Regimento desta Villa Joze Caetano Tavares = O Tenente do dito Regimento Jozé Paulo Nogueira = Joze Pessoa de Amorim = De que fiS este termo de encerramento que asigney. Antonio Teixr.ª de Mend.çª (1)

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Fonte - 1) Livro de Actas da Câmara da Covilhã

Publicações no blogue sobre este assunto:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/07/covilha-os-ventos-do-liberalismoos.html

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