quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Covilhã - Os Filipes III

Em 1578 o rei D. Sebastião morre sem descendentes em Alcácer- Quibir. Sucede-lhe seu tio-avô, o velho Cardeal D. Henrique, que não conseguiu decidir quem lhe sucederia no trono. Quando morre em 1580, instala-se uma crise dinástica em Portugal e é preciso escolher um rei. Os pretendentes, netos do rei D. Manuel, eram vários, mas a batalha mais feroz vai ser travada entre Filipe II de Espanha, filho de Dona Isabel, filha de D. Manuel, e de Carlos V, I de Espanha e D. António, prior do Crato, filho ilegítimo de D. Luís, senhor da Covilhã, filho de D. Manuel. Em 25 de Agosto de 1580, em Alcântara (Lisboa) ocorre uma batalha decisiva e vitoriosa para Filipe II. Entretanto este entra em Portugal e em 17 de Abril de 1581 as Cortes de Tomar vão declará-lo rei de Portugal. Estabelecem que o reino português passa a formar com Espanha uma monarquia dualista, embora Filipe II, I de Portugal tenha feito juramento de manter os direitos, costumes, privilégios e liberdades dos portugueses. Não cabe aqui historiar o que aconteceu nas décadas seguintes, mas recordemos apenas que o domínio espanhol durou sessenta anos.
Esta publicação apresenta uma reflexão de Luiz Fernando Carvalho Dias(não revista pelo autor) sobre o posicionamento dos portugueses perante a crise dinástica e ainda alguns documentos da época.



D. Sebastião

D. Henrique
D. António




Filipe I
[...]
 Entretanto os procuradores e defensores do Reino, em 25 de Abril de 1580 (Doc. nº 5) mandam à Câmara que eleja outro tesoureiro para o concelho visto M.el Mendes ser escuso por sentença da Relação. Em 27 de Abril (Doc. Nº6) voltam a escrever comunicando que determinaram fazer Cortes em Santarém em fins de Maio, para os quais a Câmara deve eleger dois procuradores, com poderes bastantes.


Doc. nº 5

Nos os p.dores e defensores destes Reinos e senhorios de portugal ect. fazemos s֮ber/ a voz juiz vereadores e procurador da vila de covilhan que nos vimos a carta / que nos escrevestes e֮ que daes conta como m.el mendez q֮ na pauta deste anno/ foj nomeado pera servir de thrº do concelho desa villa he diso escuso/ per sentença da Rellação. pedindonos mandasemos niso prover e visto/ voso Requerimto e a dita sentença que nos Inviastes, avemos por be֮ e / vos mandamos que tãto q֮  esta virdes elegaes e֮ camara cõforme / a hordenação hũa pesoa q֮ sirva de thrº do dito cº e֮ lugar do dito mel mendez o tp֮o q֮ falltar por coRer deste anno e alem diso o mais tp֮o / que ouvermos por be֮. e a pesoa q֮ asi elegerdes a fareis chamar a cam.ra/ segdo ordenaça E lhe noteficareis como asi foi electa pera o tall/ carguo E que o sirva. E dar lheis juramento dos sãtos evãgelhos/ q֮ be֮ e verdadrªmente o faça de q֮ se faraa asento no l.º da camara/ pera Iso hordenado pello escrivão della asinado por vos E pella tall/ pesoa. os governadores o mandarão pellos doutores pº barbosa/ E Jeronimo pereira de saa desembargadores do paço alvaro fe֮z a fez/ e֮ almeirin a xxb dabrill de jbc lxxx/

                                                         Pº barbosa

a)     jeronimo p.ra de Saa 



Doc nº 6

Nos os G.dres E defensores destes Reynos e snorios fazemos saber a vos/ juiz vreadores E procurador da villa de covilhãa – que por/ se ofereçere֮ algũas cousas de muyta Importancia que convem/ a serviço de nosso sõr e Bem [em entrelinha]: E conservação – destes Reynos, comonicarense com todos/ os três estados como se sempre costumou, detreminamos cõ aJuda/ de nosso sõr fazer cortes na villa de santarem em fim do mes de/ mayo que vem deste ano presente de quinhentos E oytenta, E/ posto que ha tão poucos dias q֮ desta vila se forão os procu/radores das cortes pasadas, e sentimos muito a despesa E o/presão que sera pera os povos tornarense a aJuntar, são os/ negocios de tal calidade E Importançia que Juntamente/ com as cortes se não podere֮ escusar, cumpre muito ao Bem/ destes Reynos ser no termo que estaapontado. Pelo que vos/ emcomendamos muito que tanto que vos esta for dada Em/leyais dous procuradores de tal zelo prudencia como pera/ este auto se Requerem cõ os advertirdes que se ordene֮ em sua/ vinda de manrª que em fim do mes de mayo em todo o casso/ seyão nesta corte com suas procuracois Bastantes pera/ tudo o que comprir E necesario for como he costume E por/ Eles nos fareis as lembranças que vos parecer que conve֮/ ao serviço de noso s.or E Bem destes Reynos que he o que pre/tendemos, E asentareis o que ande aver pera suas desp.as/ que sera o que for Rezão, E quererá noso sõr ordenar as cousas/ destes Reynos como conve֮ ao Bem deles E em tal maneira/ q֮ Brevemente posão ser despachados, E as procuraçois q֮/ troxere֮ Emtreguarão ao secretario Bertolameu froiz/ escrita em Almeiry a xxbij de aBril de 580.



O Arcebispo de Lisboa   d. jº mezs       francisco de Sa   D.º joão tello 

                                                                                             d.º lopes d Souza


Seguem-se duas cartas de Nuno Camelo dirigidas aos juízes, vereadores e procurador da Covilhã. Ambas escritas em Setúbal.
Pelo documento nº7 ficamos a saber  do apoio dado a D. António junto da Câmara de Setúbal, tendo-lhe sido entregue o tesouro do concelho. Dias depois também foi bem recebido em Lisboa. Filipe entrou no reino. O Duque de Bragança saiu de Setúbal para o Alentejo.
O documento nº 8 - Nuno Camelo refere que os guovernadores que fugiRam foram e֮ hũa caRa/vella mto bem artelhada. diz que estam e֮ tavjla/ e que espeRavam֮ que elRej lhe perdohe.
Pede a vosas mercês ma farã/ mto gramde e֮ me nõ acupare֮ neste carguo per/ que tenho causas e Rezois pª me escusarem/ e darem este carguo a outros senhores majs/ bem dispostos e desocupados que eu/
Diz ainda que elleRej (D. António) espreve a vosas mercês e as majs villas e cj/dades que o alevamtem֮ per Rej he e֮ espjciall/ a esa villa (Covilhã) que foj de seu paj (D. Luís, senhor da Covilhã)e que
elRej (D. António) quis estes dias que mãodase/mos dous ome֮s da nosa cõsullta a elRej feli/pe dizerlhe que estavamos pªa se fazeRem֮ cortes/ sobre a detrjmjnaçam da soceçam֮ deste Rejno...


Doc. nº 7


Aos mto e֮lustres Sõres / os snores juiz he / veReadores e pdor / do cº da vjlla de covjlhãa /

meus snores
 I

                       Snores

ate hoje xxbj de Junho não he fejto ho auto Re-/all das cortes descullpam֮se hos governa/dores dize֮do falltam֮ procuradores de lixboa / santarem֮ cojnbra he outras partes. honte֮ / xxb deste Junho fizemos Juta mãodaram a elle dizer֮ hos guovernadores que começarião dja de san p.º xxix deste mês. não pareceo bem / esta dilaçam֮ semdo necesaria tanta brevjda/de pª nosa defensam֮. as novas majs certas / sam que a dezanove deste mês que foj domj֮go/ se aJuntaram֮ os fjdallguos povo e al-/gũs procuradores das cortes na Jgreja dos / apostolos de santare֮ he nela levantaram֮ pº Rej ao sõr dom֮ antº   levarão no dallj a cama/Ra  fiquaram֮ os ofjcjajs da justiça per / elle he os da camaRa lhe e֮tregaram֮ o the/souro do cº.  foj acõpamhado ate sua casa / cõ bandejra Reall cor- Vermelha que llevava / manoel da costa borges procoRador q֮ foj //
       
II



nas cortes pasadas. do paço mão(daram) dejtar ao / povo dize֮ dous mjll 4dos e֮ Realles he soll-/tarõ pressos  o dja deste alevantamto che/gej a esta vjla de setuvell treze legoas / de santare֮. E֮ parte me pesou nõ me achar/ la ao menos participara das merces q֮ / foRam֮ comuñs. a cullpa foj mjnha porque / os do bando do sõr dom֮ antº me pjdjram֮ / cõ mta stañcja e tam֮ usaRam֮ dame-/aças pª me deter֮ e como e֮te֮dj que nj/so e֮cõtrava mjnha cõcje֮cja he as de vosas / mercês me fuj e majs apresado que ho tp֮o / cõ suas callmas padecja. depoj dale/vantado a dois dias foj a cjdade de lixboa / homde foj bem Recebjdo a camaRa so dizem / ho nõ qujs fazer per nõ perder e mas dele … [rasgado] / as toRes de belem he sam giãm e a desta vjla / he Fama que estam֮ per elle he que dom Jorge / de meneses capitam֮ dos navjos dallto / bordo se Remdeho he lhe beigou a mão per Rej / he lhe Ficou o mesmo careguo  dom Jº tello / neste tp֮o se achou na cjdade cõ outros Fj/dalguos de seu paRecer veho e֮ hũa gallera e desta villa foj onte֮ he fama que trouxe parte / do tisouro do Rejno que estava na cjdade nã cõ pouquo Risquo de sua vjda  ellRej//


III
Fellipe he e֮trado neste Rejno he nova certa / q֮ se lhe e֮treguou se֮ Regjste֮cja ellvas / campo mayor he oljve֮ça estremos he villa / vjçossa. o duque de bargança partio hoje / xxbj de Junho desta vjlla pª alemteguo / não dizem bem desta jda ne֮ da djlaçam֮ / das cortes. não a outra cousa de novo de q֮/ seja necesario avjsar a vosas mercês/ nesta lhe nõ digo meu paRecer pº vosas / mercês o te֮ tão jmtejro he sabem o que obrão / que vosas mercês deve֮ fazer te֮ dados / prese֮te cujas chagas he Rezam se defe֮/dam. da saude da teRa nõ diguo nada/ pº que me dejxem e֮trar quãodo fõr no/so sñr  acrece֮te a vjda estado de vosas / mercês como pode    de setuvell a xxbj de / junho de jbclxxx.//

Servidor de vosas mercês     a)  nuno camello


Doc. nº 8

señores

per antº de proe֮ça esprevj a vosas mercês tudo o que / qua passa ate o dia de sua partida que foj dimj֮guo/ oje a biij dias do mês pasado. ho portador desta veho/ aquj ter quj֮ta fejra deRadejro do mês passado  elle / me deu duas cartas de vosas mercês he hũa / do sõr ãdre tel֮z pª os guovernadores as quajs / vjnham deregydas ao sõr manoell da sillva/ e eu as tomej lloguo e ao outro dia p֮la menham֮/ me fuj cõ elas a ellRej e Representoume/ o sõr manoell da sjllva a ellRej e eu lhe dej as car/tas e Respomdeome que cõ brevjdade seRiam despa/chadas. as quajs Respondº a vosas mercês per hũa/ carta he outra ao sõr ãdre tel֮z. servir eu njsto a vosas / mercês hobrigação que tenho ao cargo que me/ deRam֮ e se de my֮ quiseram esperar maes tãnbe֮/ diguo que tenho mta Rezam agravarme de vosas mercês / nõ me espreverem.  as novas de qua sam֮/ despojs de lhe ter esprito per antº de proe֮ça que par/tjo daquj ao domj֮guo  a segunda fejra de madru/gada amanheceRam֮ os guovernadores fugi/dos.S. frco de Sa e o governador de lixboa e dom֮/ Jº mascaRenhas os quajs fugiRam֮ polos/ muRos sajRam֮ per esquadas de cordas//
II fiquaRam֮ ajmda nesta vjlla ate o meho dia dõm/ Jº tello he o arcebjspo de lisboa os quajs lloguo / se foRam֮ daquj.   a terca fejRa a tarde e֮trou a/quj ellRej  foj Recebjdo cõ os vereadores e toda a / majs ge֮te da vjla cõ mto amor e asy o mostra/Ram֮ e֮ geRall.  loguo a quarta fejra mãodou Requado aos precuradores do Rejno que se aquj acha/Ram֮ e e֮ hũa camaRa pª isso depusitada (?) nos/ fez hũa falla e֮ breves palavras dize֮do e֮ quanta/ cõta e estima tinha o que os procuRadores do Rejno / tinham֮ fejto nestas cortes e nas passadas que/ o fizeRam como mto bos he leajs portugeses e q֮/ elle esperava fazer lhe merce como elles me/Recjam e outras palavras de mto amor.  e que as precuracojs que tjnham as desemos ao / doutor Pº barbosa.   as quajs loguo os que as tjnhã/ lhe foRam֮ dadas e achouse nõ sere֮m abastã/tes.   he se֮ e֮barguo diso elRej nos dixe que cõ/pria a seu serviço e֮quãoto nesta vjla estivese/ ho acõpanhasemos he atras da sua jda nos diRja/ o q֮ majs queRja de nos.   a esta hora somos mã/dados chamar nõ sej o pª quê    amnham֮ que / sam iiij deste mês se parte ellRej dizem֮ que / vaj pª lixboa.   he semdo asj nõ a procuRador que/ la va polo gram֮de peRiguo que podem֮ coRer per q֮ / os nõ apousentaRam֮ se não nas casas e֮pedj/das.    ellRej diz que espreve a major parte das/ vjllas e cjdades do Rejno que mãodem procuRa/dores e procuRaçois abastantes pªcortes//


III
se la for provisam pª isso vosas mercês ma farã/ mto gramde e֮ me nõ acupare֮ neste carguo per/ que tenho causas e Rezois pª me escusarem/ e darem este carguo a outros senhores majs/ bem dispostos e desacupados que eu/ eu sñores estou espeRamdo per despacho dell/Rej de ljcemça que me va se me a der cõ a de vo/sas mercês me jrej lloguo perque daquj a hũ / mês se nõ ajutam֮ procuradores e procuraçois/ elleRej espreve a vosas mercês e as majs villas e cj/dades que o alevamtem֮ per Rej he e֮ espjciall/ a esa villa que foj de seu paj que aja gloRia/ njsto nõ diguo majs que vosas mercês sañ ta/js he de tanto syso he prudencia que tudo fa/Ram֮ como de tajs pªs se espeRa./   ho dia que se daquj foRam֮ os guovernadores/ se foRam֮ per outra vja per teRa o bp֮o pjnhejro he/ o mejrjnho mor e֮ co֮panhja de dom Xpovam/ de mouRa e cõ elles dous procuradores digo/ tres procuradores dela desa nosa comarqua/ a que֮ ellRej já sabe o nome.   nõ diguo que֮ sãm/ per que tam֮to que aquj cheguej fuj desafiado dum/ destes snores dize֮do que dixera delle que֮ eRa/ acerqua de dizeRem֮ que nõ eRa leall ne֮ bom֮/ pertuge֮z.    e per se descullpar disto vaj cõ os tredoRes pª castella foRam֮ achados e֮ alcacere/ do sall de camjnho omde os qujseRam֮ premder he avalhelhes hũa cõpanja de solldados que pasava/ e os tolheho a justiça. vaj majs na cõpanhja//


IV
destes sñores o bp֮o capelam֮ mõr.   e na /dos guovernadores aº dallbuquerque.   se antes da mjnha ida de qua ouver de vir mj/gell de fjgejredo ou outra pª vosas mercês ma / faRam e֮ lhe nõ mãodaRem֮ dar o djpro que / dela troxe.  por que prjmro que dela par/tise deixe cjmquoe֮ta 4dos pª parte de mjnhas/ djvjdas e o majs tenho gastado.    beijo as mãos/ de vosas mercês de setuvell oje segda fejra/ iiij de julho de jbclxxx anos./


os guovernadores que fugiRam foram e֮ hũa caRa/vella mto bem artelhada. diz que estam e֮ tavjla/ e que espeRavam֮ que elRej lhe perdohe. dom֮ ffrco de me/neses vem aquj ter mujtas vezes diz que ãda/ tratãmdo damizade delRej pª cõ seu Irmão dõ/ Jº tello.   elRej quis estes dias que mãodase/mos dous ome֮s da nosa cõsullta a elRej feli/pe dizerlhe que estavamos pª se fazeRem֮ cortes/ sobre a detrjmjnaçam da soceçam֮ deste Rejno q֮/ pidiamos a sua magestade sobrestivese ate se/ detrjmjnar.   nõ sam֮ ajmda partidos. ne֮ sej se aprovej/taRa.   tambem֮ sam֮ elltos p֮la mesma vja/ ao duque de bargamça sobre cõcertos cõ elRej./.



servjdor de vosas merces            a)  nuno camello
(Continua)

Sobre o domínio filipino:
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