Em 1578 o rei D. Sebastião morre sem descendentes em Alcácer- Quibir. Sucede-lhe seu tio-avô, o velho Cardeal D. Henrique, que não conseguiu decidir quem lhe sucederia no trono. Quando morre em 1580, instala-se uma crise dinástica em Portugal e é preciso escolher um rei. Os pretendentes, netos do rei D. Manuel, eram vários, mas a batalha mais feroz vai ser travada entre Filipe II de Espanha, filho de Dona Isabel, filha de D. Manuel, e de Carlos V, I de Espanha e D. António, prior do Crato, filho ilegítimo de D. Luís, senhor da Covilhã, filho de D. Manuel. Em 25 de Agosto de 1580, em Alcântara (Lisboa) ocorre uma batalha decisiva e vitoriosa para Filipe II. Entretanto este entra em Portugal e em 17 de Abril de 1581 as Cortes de Tomar vão declará-lo rei de Portugal. Estabelecem que o reino português passa a formar com Espanha uma monarquia dualista, embora Filipe II, I de Portugal tenha feito juramento de manter os direitos, costumes, privilégios e liberdades dos portugueses. Não cabe aqui historiar o que aconteceu nas décadas seguintes, mas recordemos apenas que o domínio espanhol durou sessenta anos.
Esta publicação apresenta uma reflexão de Luiz Fernando Carvalho Dias(não revista pelo autor) sobre o posicionamento dos portugueses perante a crise dinástica e ainda alguns documentos da época.D. Sebastião |
D. Henrique |
D. António |
Filipe I |
Entretanto os procuradores e defensores do Reino, em 25 de Abril de 1580 (Doc. nº 5) mandam à Câmara que eleja outro tesoureiro para o concelho visto M.el Mendes ser escuso por sentença da Relação. Em 27 de Abril (Doc. Nº6) voltam a escrever comunicando que determinaram fazer Cortes em Santarém em fins de Maio, para os quais a Câmara deve eleger dois procuradores, com poderes bastantes.
Doc. nº 5
Nos os p.dores
e defensores destes Reinos e senhorios de portugal ect. fazemos
s֮ber/
a voz juiz vereadores e procurador da vila de covilhan que nos vimos a
carta / que nos escrevestes e֮
que daes conta como m.el mendez q֮ na pauta deste anno/ foj nomeado pera
servir de thrº do concelho desa villa he diso escuso/ per sentença da Rellação.
pedindonos mandasemos niso prover e visto/ voso Requerimto
e a dita sentença que nos Inviastes, avemos por be֮ e / vos mandamos que tãto q֮
esta virdes elegaes e֮ camara cõforme / a hordenação hũa pesoa q֮ sirva de thrº do dito cº e֮ lugar do dito mel mendez o tp֮o q֮ falltar por coRer deste anno e alem diso o
mais tp֮o /
que ouvermos por be֮.
e a pesoa q֮ asi elegerdes a fareis chamar a cam.ra/ segdo
ordenaça E lhe noteficareis como asi foi electa pera o tall/ carguo E que o
sirva. E dar lheis juramento dos sãtos evãgelhos/ q֮ be֮ e verdadrªmente o faça de q֮ se faraa asento no l.º da camara/ pera Iso
hordenado pello escrivão della asinado por vos E pella tall/ pesoa. os
governadores o mandarão pellos doutores pº barbosa/ E Jeronimo pereira de saa
desembargadores do paço alvaro fe֮z
a fez/ e֮ almeirin a xxb dabrill de jbc lxxx/
Pº barbosa
a) jeronimo
p.ra de Saa
Doc nº 6
Nos os G.dres
E defensores destes Reynos e snorios fazemos saber a vos/ juiz
vreadores E procurador da villa de covilhãa – que por/ se ofereçere֮ algũas cousas de muyta Importancia que
convem/ a serviço de nosso sõr e Bem [em entrelinha]: E conservação – destes Reynos, comonicarense com todos/ os três estados como se
sempre costumou, detreminamos cõ aJuda/ de nosso sõr fazer cortes na villa
de santarem em fim do mes de/ mayo que vem deste ano presente de quinhentos E
oytenta, E/ posto que ha tão poucos dias q֮ desta vila se forão os procu/radores das
cortes pasadas, e sentimos muito a despesa E o/presão que sera pera os povos
tornarense a aJuntar, são os/ negocios de tal calidade E Importançia que
Juntamente/ com as cortes se não podere֮ escusar, cumpre muito ao Bem/ destes
Reynos ser no termo que estaapontado. Pelo que vos/ emcomendamos muito que
tanto que vos esta for dada Em/leyais dous procuradores de tal zelo prudencia
como pera/ este auto se Requerem cõ os advertirdes que se ordene֮ em sua/ vinda de manrª que em fim do mes
de mayo em todo o casso/ seyão nesta corte com suas procuracois Bastantes pera/
tudo o que comprir E necesario for como he costume E por/ Eles nos fareis as
lembranças que vos parecer que conve֮/ ao serviço de noso s.or E Bem
destes Reynos que he o que pre/tendemos, E asentareis o que ande aver pera suas
desp.as/ que sera o que for Rezão, E quererá noso sõr ordenar as
cousas/ destes Reynos como conve֮ ao Bem deles E em tal maneira/ q֮ Brevemente posão ser despachados, E as
procuraçois q֮/
troxere֮
Emtreguarão ao secretario Bertolameu froiz/ escrita em Almeiry a xxbij de
aBril de 580.
O Arcebispo de
Lisboa d. jº mezs francisco de Sa D.º joão tello
d.º lopes d Souza
Seguem-se duas cartas de Nuno Camelo dirigidas aos juízes, vereadores e procurador da Covilhã. Ambas escritas em Setúbal.
Pelo documento nº7 ficamos a saber do apoio dado a D. António junto da Câmara de Setúbal, tendo-lhe sido entregue o tesouro do concelho. Dias depois também foi bem recebido em Lisboa. Filipe entrou no reino. O Duque de Bragança saiu de Setúbal para o Alentejo.
Pelo documento nº7 ficamos a saber do apoio dado a D. António junto da Câmara de Setúbal, tendo-lhe sido entregue o tesouro do concelho. Dias depois também foi bem recebido em Lisboa. Filipe entrou no reino. O Duque de Bragança saiu de Setúbal para o Alentejo.
O documento nº 8 - Nuno Camelo refere que os guovernadores que
fugiRam foram e֮ hũa caRa/vella mto bem artelhada. diz que estam e֮ tavjla/ e que espeRavam֮ que elRej lhe perdohe.
Pede a vosas mercês ma farã/ mto gramde e֮ me nõ acupare֮ neste carguo per/ que tenho causas e Rezois pª me escusarem/ e darem este carguo a outros senhores majs/ bem dispostos e desocupados que eu/
Diz ainda que elleRej (D. António) espreve a vosas mercês e as majs villas e cj/dades que o alevamtem֮ per Rej he e֮ espjciall/ a esa villa (Covilhã) que foj de seu paj (D. Luís, senhor da Covilhã)e que
elRej (D. António) quis estes dias que mãodase/mos dous ome֮s da nosa cõsullta a elRej feli/pe dizerlhe que estavamos pªa se fazeRem֮ cortes/ sobre a detrjmjnaçam da soceçam֮ deste Rejno...
Pede a vosas mercês ma farã/ mto gramde e֮ me nõ acupare֮ neste carguo per/ que tenho causas e Rezois pª me escusarem/ e darem este carguo a outros senhores majs/ bem dispostos e desocupados que eu/
Diz ainda que elleRej (D. António) espreve a vosas mercês e as majs villas e cj/dades que o alevamtem֮ per Rej he e֮ espjciall/ a esa villa (Covilhã) que foj de seu paj (D. Luís, senhor da Covilhã)e que
elRej (D. António) quis estes dias que mãodase/mos dous ome֮s da nosa cõsullta a elRej feli/pe dizerlhe que estavamos pªa se fazeRem֮ cortes/ sobre a detrjmjnaçam da soceçam֮ deste Rejno...
Doc. nº 7
Aos mto e֮lustres Sõres / os snores juiz he /
veReadores e pdor / do cº da vjlla de covjlhãa
/
meus snores
I
Snores
ate hoje xxbj de Junho
não he fejto ho auto Re-/all das cortes descullpam֮se hos governa/dores dize֮do falltam֮ procuradores de lixboa / santarem֮ cojnbra he outras partes. honte֮ / xxb deste Junho fizemos Juta mãodaram a
elle dizer֮
hos guovernadores que começarião dja de san p.º xxix deste mês. não pareceo bem
/ esta dilaçam֮
semdo necesaria tanta brevjda/de pª nosa defensam֮. as novas majs certas / sam que a
dezanove deste mês que foj domj֮go/ se aJuntaram֮ os fjdallguos povo e al-/gũs procuradores
das cortes na Jgreja dos / apostolos de santare֮ he nela levantaram֮ pº Rej ao sõr dom֮ antº levarão no dallj a cama/Ra fiquaram֮ os ofjcjajs da justiça per / elle he os da
camaRa lhe e֮tregaram֮ o the/souro do cº. foj acõpamhado ate sua
casa
/ cõ bandejra Reall cor- Vermelha que llevava / manoel da costa borges
procoRador q֮
foj //
II
nas cortes pasadas. do
paço mão(daram) dejtar ao / povo dize֮ dous mjll 4dos e֮ Realles he soll-/tarõ pressos o dja deste
alevantamto che/gej a esta vjla de setuvell treze legoas / de santare֮. E֮ parte me pesou nõ me achar/ la ao menos
participara das merces q֮
/ foRam֮
comuñs. a cullpa foj mjnha porque / os do bando do sõr dom֮ antº me pjdjram֮ / cõ mta stañcja e tam֮ usaRam֮ dame-/aças pª me deter֮ e como e֮te֮dj que nj/so e֮cõtrava
mjnha cõcje֮cja
he as de vosas / mercês me fuj e majs apresado que ho tp֮o / cõ suas callmas padecja. depoj
dale/vantado a dois dias foj a cjdade de lixboa / homde foj bem Recebjdo a
camaRa so dizem / ho nõ qujs fazer per nõ perder e mas dele … [rasgado] / as toRes de belem he sam
giãm e a desta vjla / he Fama que estam֮ per elle he que dom Jorge / de meneses capitam֮ dos navjos dallto / bordo se Remdeho he
lhe beigou a mão per Rej / he lhe Ficou o mesmo careguo dom Jº tello / neste tp֮o se achou na cjdade cõ outros Fj/dalguos
de seu paRecer veho e֮
hũa gallera e desta villa foj onte֮ he fama que trouxe parte / do tisouro do
Rejno que estava na cjdade nã cõ pouquo Risquo de sua vjda ellRej//
III
Fellipe he e֮trado neste Rejno he nova certa / q֮ se lhe e֮treguou se֮ Regjste֮cja ellvas / campo mayor he oljve֮ça estremos he villa / vjçossa.
o duque de bargança partio hoje / xxbj de Junho desta vjlla pª alemteguo /
não dizem bem desta jda ne֮ da djlaçam֮ / das cortes. não a outra cousa de novo de
q֮/ seja necesario avjsar a vosas mercês/ nesta
lhe nõ digo meu paRecer pº vosas / mercês o te֮ tão jmtejro he sabem o que obrão / que
vosas mercês deve֮
fazer te֮
dados / prese֮te
cujas chagas he Rezam se defe֮/dam. da saude da teRa nõ diguo nada/ pº que me dejxem e֮trar quãodo fõr no/so sñr acrece֮te a vjda estado de vosas / mercês como
pode de setuvell a xxbj de / junho
de jbclxxx.//
Servidor de vosas
mercês a) nuno camello
Doc. nº 8
señores
per antº de proe֮ça esprevj a vosas mercês tudo o que
/ qua passa ate o dia de sua partida que foj dimj֮guo/ oje a biij dias do mês pasado.
ho portador desta veho/ aquj ter quj֮ta fejra deRadejro do mês passado elle /
me deu duas cartas de vosas mercês he hũa / do sõr ãdre tel֮z pª os guovernadores as quajs /
vjnham deregydas ao sõr manoell da sillva/ e eu as tomej lloguo e ao outro dia
p֮la
menham֮/ me fuj cõ elas a ellRej e Representoume/ o sõr
manoell da sjllva a ellRej e eu lhe dej as car/tas e Respomdeome que cõ
brevjdade seRiam despa/chadas. as quajs Respondº a vosas mercês per hũa/ carta
he outra ao sõr ãdre tel֮z.
servir eu njsto a vosas / mercês hobrigação que tenho ao cargo que me/ deRam֮ e se de my֮ quiseram esperar maes tãnbe֮/ diguo que tenho mta Rezam agravarme de
vosas mercês / nõ me espreverem. as novas de qua sam֮/ despojs de lhe ter esprito per antº de
proe֮ça
que par/tjo daquj ao domj֮guo a segunda fejra de madru/gada amanheceRam֮ os guovernadores fugi/dos.S. frco de Sa e
o governador de lixboa e dom֮/
Jº mascaRenhas os quajs fugiRam֮ polos/ muRos sajRam֮ per esquadas de cordas//
II fiquaRam֮ ajmda nesta vjlla ate o meho dia dõm/ Jº
tello he o arcebjspo de lisboa os quajs lloguo / se foRam֮ daquj. a terca fejRa a tarde e֮trou
a/quj ellRej foj Recebjdo cõ os vereadores e toda a / majs ge֮te da vjla cõ mto amor e asy o mostra/Ram֮ e֮ geRall.
loguo a quarta fejra mãodou Requado aos precuradores do Rejno que se aquj acha/Ram֮
e e֮
hũa camaRa pª isso depusitada (?)
nos/ fez hũa falla e֮
breves palavras dize֮do
e֮
quanta/ cõta e estima tinha o que os procuRadores do Rejno / tinham֮ fejto nestas cortes e nas passadas que/ o
fizeRam como mto bos he leajs portugeses e q֮/ elle esperava fazer lhe merce como elles
me/Recjam e outras palavras de mto amor.
e que as precuracojs que tjnham as desemos ao / doutor Pº barbosa. as quajs loguo os que as tjnhã/ lhe foRam֮ dadas e achouse nõ sere֮m abastã/tes. he se֮ e֮barguo diso elRej nos dixe que cõ/pria a
seu serviço e֮quãoto
nesta vjla estivese/ ho acõpanhasemos he atras da sua jda nos diRja/ o q֮ majs queRja de nos. a esta hora somos mã/dados chamar nõ sej o
pª quê amnham֮ que / sam iiij deste mês se parte ellRej
dizem֮
que / vaj pª lixboa. he semdo asj nõ a
procuRador que/ la va polo gram֮de
peRiguo que podem֮
coRer per q֮
/ os nõ apousentaRam֮
se não nas casas e֮pedj/das. ellRej diz que espreve a major parte das/
vjllas e cjdades do Rejno que mãodem procuRa/dores e procuRaçois abastantes
pªcortes//
se la for provisam pª
isso vosas mercês ma farã/ mto gramde e֮ me nõ acupare֮ neste carguo per/ que tenho causas e
Rezois pª me escusarem/ e darem este carguo a outros senhores majs/ bem
dispostos e desacupados que eu/ eu sñores estou espeRamdo per despacho dell/Rej
de ljcemça que me va se me a der cõ a de vo/sas mercês me jrej lloguo perque
daquj a hũ / mês se nõ ajutam֮ procuradores e procuraçois/
elleRej espreve a vosas mercês e as majs villas e cj/dades que o alevamtem֮ per Rej he e֮ espjciall/ a esa villa que foj de seu paj que aja gloRia/ njsto nõ diguo majs que vosas mercês sañ ta/js he de tanto syso
he prudencia que tudo fa/Ram֮ como de tajs pªs se espeRa./ ho dia que se daquj foRam֮ os guovernadores/ se foRam֮ per outra vja per teRa o bp֮o pjnhejro he/ o mejrjnho mor e֮ co֮panhja de dom Xpovam/ de mouRa e cõ
elles dous procuradores digo/ tres procuradores dela desa nosa comarqua/ a que֮ ellRej já sabe o nome. nõ diguo que֮ sãm/ per que tam֮to que aquj cheguej fuj desafiado dum/
destes snores dize֮do
que dixera delle que֮
eRa/ acerqua de dizeRem֮
que nõ eRa leall ne֮
bom֮/
pertuge֮z. e per se descullpar disto vaj cõ os tredoRes
pª castella foRam֮
achados e֮
alcacere/ do sall de camjnho omde os qujseRam֮ premder he avalhelhes hũa cõpanja de
solldados que pasava/ e os tolheho a justiça. vaj majs na cõpanhja//
destes sñores o bp֮o capelam֮ mõr.
e na /dos guovernadores aº dallbuquerque. se antes da mjnha ida de qua ouver de vir
mj/gell de fjgejredo ou outra pª vosas mercês ma / faRam e֮ lhe nõ mãodaRem֮ dar o djpro que / dela troxe. por que prjmro que dela par/tise deixe
cjmquoe֮ta
4dos pª parte de mjnhas/ djvjdas e o majs tenho gastado. beijo as mãos/ de vosas mercês de setuvell oje segda fejra/ iiij de julho de jbclxxx anos./
os guovernadores que
fugiRam foram e֮ hũa caRa/vella mto bem artelhada. diz que estam e֮ tavjla/ e que espeRavam֮ que elRej lhe perdohe. dom֮ ffrco de me/neses vem aquj ter mujtas
vezes diz que ãda/ tratãmdo damizade delRej pª cõ seu Irmão dõ/ Jº tello. elRej quis estes dias que mãodase/mos
dous ome֮s
da nosa cõsullta a elRej feli/pe dizerlhe que estavamos pª se fazeRem֮ cortes/ sobre a detrjmjnaçam da soceçam֮ deste Rejno q֮/ pidiamos a sua magestade sobrestivese ate
se/ detrjmjnar. nõ sam֮ ajmda partidos. ne֮ sej se aprovej/taRa. tambem֮ sam֮ elltos p֮la mesma vja/ ao duque de bargamça
sobre cõcertos cõ elRej./.
servjdor de vosas
merces a) nuno camello
(Continua)
As Publicações do Blogue:
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
Sobre o domínio filipino:
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