O século XIX é um período de grandes transformações políticas, económicas e sociais. As ideias liberais fervilham por todo o mundo, opondo-se ao absolutismo vigente.
Encontrámos no espólio e nas publicações de Luiz Fernando Carvalho Dias alguns documentos que nos elucidam que na Covilhã também se viveram momentos revolucionários e contra-revolucionários. Houve muito descontentamento, reuniões secretas da maçonaria ou doutras associações (“sociedades denominadas patrioticas”), prisões, exílios, mortes, quer de miguelistas, quer de liberais constitucionalistas ou cartistas.
O documento que hoje publicamos refere-se a uma desordem no Convento de S. Francisco. Pensamos ser uma carta do juiz de fora da Covilhã, datada de 6 de Março de 1830, relatando um incidente de 13 de Dezembro de 1829.
"Ill.mº e Ex.mº Senhor
Levo ao
conhecimento de V. Ex.ª que às 8 horas
da noite do dia 13 do corrente participou-me o alcaide deste juízo a instancias
do P.e Gregorio Pais prior de S. Salvador, desta vila da Covilhã, que no
Convento de S. Francisco da mesma, havia uma grande desordem em que perigava a
vida do P.e Guardião, que pretendiam assassinar Fr. Francisco de St.ª Joana,
comissário, e Fr. Antonio da Conceição Guedes; que por este motivo e
temendo-os já o P.e Fr. Manuel de St.ª Rita Maia se tinha refugiado em casa
daquele prior seu parente. Logo me dirigi com três oficiais de Justiça a esta
casa a tomar algum conhecimento do caso; compareceu logo nela o Guardião, que
com o pretexto de vir confessar uma enferma em perigo foi chamado para sair da vista
daqueles dois religiosos. A este tempo e sem demora Ana Maria, solteira, ama
que foi do antecedente prior de S. Salvador, que habita em frente da porta de
carro do Convento, em cuja casa costuma entrar o p.e Guardião, gritou em altas
vozes que lhe acudissem porque os ditos frades e mais um leigo lhe pretendiam
arrombar a porta de sua casa, armados e com violencia, procurando o P.e
Guardião com muito furor.
Logo mandei os meus oficiais a terminar
esta desordem e prender quem a motivasse; mas os ditos dois religiosos armados
de bacamarte e pistolas e com os habitos arregaçados, na dita porta de
carro do convento disseram aos meus oficiais / que então não conheceram / que
se retirassem, senão que morriam imediatamente, o que assim fizeram juntamente
comigo.
Resolvi fazer prender estes dois religiosos,
como me requereu o P.e Guardião, que estava muito assustado e chorando; requisitei, para este fim, tropa ao tenente
comandante da 1ª Companhia do Batalhão de Voluntários desta Vila e lhe
disse que assim o comunicasse vocalmente ao seu coronel porque então lhe não
podia escrever.
Fiz cercar com soldados e
ordenanças a cerca do convento; subiram alguns à mesma cerca até à porta da
cosinha do convento, onde encontraram os moços e as chaves dele. Depois que tive
imediatamente esta notícia fui chamar o P.e Guardião e lhe disse que
pessoalmente designasse os sitios do Convento em que os dois religiosos haviam
de ser procurados, que para isso dava à sua disposição o dito Tenente de
Voluntários, o quartel-mestre dos mesmos, um escrivão meu, e cinco ou seis
soldados armados; que ninguem mais entrava no convento, o que assim se
executou. Mas pouco depois viu-se surgir pela cerca Fr. António da Conceição Guedes
que brevemente foi preso. A este tempo chegou o coronel de voluntários, o
sargento-mór comandante das ordenanças; e o ajudante de milícias e todos
resolvemos ontem a fazer prender o outro religioso que foi encontrado de pé
atrás de uma esquina da parte de fora da dita cosinha com um punhal na mão
direita, hábito arregaçado, e uma pistola no bolso das calças, protestando não
se dar à prisão, e morrer com o punhal na mão, matando todo aquele que se lhe
aproximasse para o prender. Instou-se lhe que se desse à prisão, e com efeito
cedeu, atirando com o punhal ao chão; logo foi preso. Eu e o coronel dos
voluntários nos aproximámos a ele, para não ser ofendido, tirou-se lhe a
pistola; foi conduzido à cadeia, ficando o Guardião no Convento, com os
creados. Tanto a tropa como as
ordenanças e oficiais de justiça que efectuaram a deligencia se portaram com
muita tranquilidade, ordem e subordinação."
Fonte - Intendência Geral da Polícia
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html
Notícias Soltas:
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Fonte - Intendência Geral da Polícia
Relação dos maços da Correspondência dos corregedores das Comarcas do Reino e juízes de fora com o Intendente Geral da Polícia da Corte e Reino
Maço 332, pag. 288 - Carta do juiz de Fora da Covilhã sobre a desordem no Convento de S. Francisco de 13/12/1829. Covilhã 6/3/1830.
As Publicações do Blogue:
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
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