As Procissões
Já referimos que, entre outras, eram obrigações dos membros da Confraria participar anualmente na procissão de 5ª feira de Endoenças e na procissão do Dia de Todos-os-Santos, na tarde do dia 1 de Novembro. Eram os dois mordomos que entre outras incumbências deviam transportar as varas nos enterros, nas procissões e nos cortejos dos condenados para o cadafalso. Este espaço de sociabilidade masculina era importante para os confrades, como momento de convívio e união entre eles, mas também valorizava a instituição perante a comunidade.
As procissões, com o tempo e consoante a época, foram-se tornando cada vez mais majestosas e imponentes, sendo um misto de sagrado e profano, uma mistura do religioso – a procissão propriamente dita – com o laico – as feiras ou arraiais. Os exageros foram tantos que até o poder temporal e espiritual se viu obrigado a intervir. Nos cortejos a posição também está determinada, vindo em primeiro lugar o clero, a seguir a nobreza e só depois o terceiro estado (burguesia e povo). Nestas procissões os lugares de destaque eram ocupados pelos irmãos que ocupavam ou tinham ocupado cargos na mesa.
Embora as procissões de presença “obrigatória” fossem a de Quinta-Feira Santa e a de Todos-os-Santos, podiam realizar-se outras na Semana Santa, nos Passos e até extraordinárias, como quando as pestes exigiam pedidos especiais a Deus e aos santos.Era habitual em várias confrarias o Domingo de Passos ser celebrado com uma missa, um sermão e uma procissão. Vejamos os apontamentos de Luiz Fernando de Carvalho Dias sobre este assunto na Misericórdia da Covilhã.
· Regimento da Procissão dos Passos – 1615
Levará o Pendão – o irmão Diogo Peres da Costa
Pontas a ele – Simão da Costa Nogueira e Manuel Mendes
Linternas – Francisco Botelho da Guerra e João Álvares
Tochas ao pendão – Manuel Nave Robalo; Francisco Correia; Francisco de Gouveia Chama e Álvaro Gaspar.
Levarão o andor – António Camelo Botelho; Álvaro Pires; Bento da Costa; Pº Fig, de Santa Marinha; Diogo Sardinha; Martim d’ Oliveira; Sebastião da Costa de Sousa; António Simões; os mesmos tiram o senhor abaixo.
Linternas ao andor – Luís de Campos; Gaspar Fernandes da Fonte; Filipe de Macedo Castelo Branco; Gaspar Álvares; Afonso Botelho da Guerra; António Pires Ochavas; Diogo de Serpa da Silva; Diogo Fernandes de S. Martinho; Pº Falcão Tavares; Manuel Fernandes Rosário.
Tochas – António da Costa Castelo Branco; António Delgado de S. Martinho; Miguel da Costa Deça; Francisco Mendes; Domingos Leitão; António Mendes Rosário; Licº Sebastião Teixeira; Pº Fernandes das Portas de Baltra velho; Baltazar Pais Castel Branco; António Fernandes de S. Vicente; Sebastião de Gouveia de Pina; Francisco Fernandes de S. Bartolomeu; Domingos Machado; António Francisco de S. Martinho; Manuel Barata; Domingos Lourenço; Licº Francisco de Araújo Bulhão; António Dias Marques; António Mendes de S. Martinho; Licº Francisco da Costa Lemos, Belchior Álvares; Manuel Roiz Portella.
Estarão assentando os irmãos dos S. Passos á porta da Casa da Misericórdia: - os irmãos Francisco Fernandes do Poço e António Francisco de S. Vicente.
Estarão no Calvário:- Estêvão Pires e Manuel Antunes.
Pedirão na procissão:- Manuel Fernandes da Madanella; António Pinto.
Curarão os penitentes:- Diogo Francisco e Pº Sangrinho; Pº Afonso e Gaspar Roiz do Pelourinho.
Farão o lavatório – Baltazar Antunes e Barnabé Cardona.
Trarão o lavatório abaixo: António Fernandes Serra e Manuel Fernandes Nabo.
Darão por Estopas:- Manuel Roiz do Résio de S. Francisco.
Porão o Cristo no Calvário:- Os padres Francisco Fernandes, capelão; Francisco Fernandes, mordomo de Capela; Belchior Pereira.
Trará a bandeira abaixo – Baltazar Pais Castelbranco
Tangerão as campas:- João Fernandes, Vasco Roiz e António Roiz de S. Vicente.
Terá cargo do painel de S. Francisco e cobrará as esmolas:- Domingos Coutinho.
Terá cargo do painel de S. Vicente:- Diogo Fernandes Fontes.
Do de Nossa Senhora do Rosário – António Pires.
Terá cargo do painel das Portas de baltravelho . António Roiz.
Terá cargo da caixa – Amador Antunes.
E do andor – António Manuel.
Se a Procissão do Senhor dos Passos era importante – em muitas terras ainda hoje o é – as da Semana Santa superavam-na. A religiosidade das pessoas manifestava-se mais neste período de reflexão e penitência e por isso os Irmãos aproveitavam para organizarem uma “rica e bonita” procissão e fazerem boa figura, provavelmente com o fim de a instituição vir a receber mais dádivas e até heranças. Era normal a Mesa reunir-se com o objectivo de preparar a festividade: desde a compra de velas ou azeite, até à limpeza da Igreja, tudo era decidido. Vejamos, como exemplo, o que aconteceu em 1686, quando preparavam uma das procissões:
Aos seis dias do mês de Março de seiscentos e oitenta e seis nesta Santa casa de Misericórdia desta vila em mesa de despacho estando presente o provedor dela e deputados de mesa foram chamados a ela os definidores do presente ano, estando assim todos juntos lhe foi proposto pelo provedor Filipe Caldeira Castel Branco o quanto necessitava esta santa casa de um palio para a procissão de sexta-feira santa por estar muito roto e maltratado o que nela havia, e que na casa não havia por ora rendimentos para se poder fazer o dito palio que votassem os ditos definidores se convinha mandasse fazer o dito palio novo do dinheiro que estava em poder de Manuel Robalo Mendes procedido da herança que deixou a esta casa Brites de Figueiredo Pimentel; e por eles todos foi dito convinha muito fazer – se o dito palio e visto não haver rendimentos pudesse divertir – se o dito dinheiro para o dito palio e que se mandasse fazer com o custo e perfeição necessária de que mandou o provedor a mim o Padre João Teixeira, mordomo da capela, fizesse este termo que todos assinaram, assim definidores como deputados da mesa, que eu sobredito fiz em ausência do escrivão desta Santa Casa, dia, mês e era supra. (assinaturas)
A procissão das Endoenças, na Quinta-feira Santa, tem um regimento ainda mais completo já que era a mais majestosa de todas. Se em qualquer procissão o povo ia engrossando à medida que ela passava, nesta havia ainda os penitentes que muitas vezes se auto-flagelavam e por isso no final era oferecido vinagre ou vinho e uma pequena refeição. Na Quinta-feira Santa recorda-se a Última Ceia de Cristo com os Apóstolos e também o lava-pés de Cristo aos Discípulos e por isso também era costume, o provedor actual ou o antigo lavarem os pés a 12 pobres, jantarem com eles e até com 12 presos. A solidariedade entre grupos sociais diferentes ficava assim resolvida.
· Regimento da Procissão das Endoenças/ Quinta-Feira Santa da Era de 1615
Levará o Pendão – o irmão Filipe de Macedo Castelo Branco.
Pontas a ele – Sebastião de Gouveia de Pina e Manuel Fernandes Rosário.
Tochas – Manuel da Nave Robalo e Diogo Fernandes de S. Martinho.
A primeira bandeira
Trás o pendão- Domingos Leitão.
Lanternas- Domingos Machado e Álvaro Pires.
Tochas:- Licº Francisco da Costa Lemos; Pêro Fernandes das portas de baltra velho; Sebastião da Costa de Sousa; Martim de Oliveira; Manuel Barata; e Pêro Fernandes de Stª Marinha.
Capela
A primeira bandeira:- Os padres Jerónimo Vaz e Manuel Roiz.
Responderão:- O Revº Prior Francisco Vaz e o Padre Manuel Francisco, a quem se pedirá.
A segunda bandeira:- Luís de Almeida. Lanternas:- o Licº Sebastião Teixeira e António Mendes Rosário.
Tochas:- Diogo Sardinha; António Delgado de S. Martinho; Francisco de Gouveia Chama; Manuel de Andrade; e Belchior Álvares.
Capela:- o Revº Prior Mateus Fernandes e o Padre Francisco Fernandes Cruz.
Responderão:- os Padres Belchior Pereira e Fernão Cardoso, a quem se pedirá.
O Cristo:- o Provedor passado, como é costume.
Lanternas:- Luís de Campos; António Costa Castelo Branco; Manuel Mendes, António da Costa Teles; e Gaspar Álvares.
Tochas:- Miguel da Costa de Eça; Sebastião Álvares, Baltazar Pais Castelo Branco; António Pires Ochavas; Simão da Costa Nogueira; Gaspar Fernandes da Fonte; Bento da Costa e Álvaro Gaspar.
Capela:- o Revº Prior Simão Roiz de Calvos; o Revº Prior Jorge Seco.
Responderão:- O Revº Prior João Álvares; os Padres Francisco Fernandes, capelão; Sebastião Mendes, e os mais a quem se pedirá.
Levarão o lavatório:- o Padre Cabral; Manuel Mendes; António Figueiredo Serra e Manuel Fernandes Nabo.
Proverão os candeeiros:- António Simões; Pero Afonso Nabo; António Roiz, das portas de baltra velho; e Manuel Fernandes, das portas de S. Vicente.
Terão cuidado de prover as portas dos muros e de baltra velho Crastas.
De S. Francisco Barreiros – Digo Fernandes Fontes e António Roiz Raxeiro.
Farão o lavatório:- Manuel Roiz pesueiro e Domingos Coutinho.
Trá-lo-ão abaixo:- Manuel Fernandes da Madanela e Manuel Nunes.
Darão pos estopas:- Pero Roiz de S. João e António Nabais.
Curarão os penitentes;- Gaspar Roiz, pelourinho; António Fernandes de S. Vicente; António Fernandes de Stª. Maria; Manuel Figueiredo Hilário e João Fernandes, tecelão.
Acompanharão o Sant.mo Sacramento até à meia-noite:- Francisco Fernandes do poço; Pêro Dias e António Francisco de S. Vicente.
Da meia-noite até pela manhã:- Custódio Antunes,; António Dias Marques e Domingos Lourenço.
Pedirão as esmolas com bacias e cestas que trarão de suas casas:- Francisco Fernandes de S. Bartolomeu; Manuel Roiz, Estêvão Pires e Francisco Mendes.
Nota dos editores - Recordemos João Villaret a declamar "A Procissão" de António Lopes Ribeiro".
Fontes – Araújo, Maria Marta Lobo de – “As Misericórdias Portuguesas enquanto palcos de sociabilidade no século XVIII”, in História: Questões e Debates.
Documentos do Arquivo da Misericórdia da Covilhã.
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