terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Covilhã - Rui Faleiro V

Mais dados biográficos de Rui Faleiro – 23 de Julho de 1527, dia em que Eva Afonso, a viver em Sevilha, apresenta, por um seu procurador, uma petição na Covilhã

       Eva Afonso, mulher de Rui Faleiro, está envolvida num processo com Francisco Faleiro para conseguir a curadoria de seu marido, como vimos numa anterior publicação. Hoje vamos apresentar um documento de 23 de Julho de 1527 em que se diz que na Igreja de Santa Marinha, Covilhã, (1) o tabelião Álvaro Mendes, em nome de Eva Afonso, compareceu perante o arcipreste com uma petição, para que fossem ouvidas várias testemunhas que comprovassem que Eva e Rui Faleiro tinham casado naquela igreja. A certidão (“público estormento”) contém os testemunhos de várias pessoas.

A Covilhã e a Cova da Beira em 2011
Fotografia de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias
 

In nomine domini Amen. Saibam quantos este público estormento dado por autorida­de de justiça virem como no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1527 anos, aos 23 dias do mês de Julho, em a vila de Covilhã, na igreja de Santa Marinha da mesma vila, estando aí o muito honrado o bacharel António Roiz, prior de S. Vicente de Mangualde, acipreste em a dita vila e seu aciprestado pelo muito magnifíco reverendo em Cristo padre e senhor dom Jorge de Melo, por mercê de Deus e da Santa Igreja de Roma bispo da Guarda, do conselho de El Rei nosso Senhor e seu esmoler mór e aí perante ele dito acipreste pareceu Alvaro Mendes, tabalião, morador em a dita vila, e em nome de Eva Afonso, sua cunhada, sobrinha de sua mulher, em seu nome apresentou ao dito acipreste uma petição que é a seguinte de verbo a verbo: Muito virtuoso senhor António Roiz acipreste em esta vila de Covilhã e seu aciprestado pelo muito reverendo e magnífico senhor dom Jorge de Melo, bispo da Guarda, de cuja diocese a dita vila é. Eva Afonso, estante que ora é e sou em a cidade de Sevilha dos reinos de Castela, faço saber a vossa mercê como a mim me é necessario um estromento de fé e certidão com dito de testemunhas que se apresentarem como é verdade que eu sou casada per palavras de presente como manda a santa madre igreja com Rui Faleiro, comendador, estante que ora é em a dita cidade de Sevilha, antre ambos fomos recebidos e casados polas ditas palavras de presente em as mãos de clérigo beneficiado à porta da igreja de Santa Marinha da dita vila e por assim ambos sermos casados e vivermos juntamente em casa, casados e velados, comendo em uma meza e dormindo em uma cama como marido e mulher e sempre fomos por taes havidos, consentidos e comunmente reputados antre todos com rezão jurado saber deste legítimo matrimónio de antre ambos veio a nascer uma filha que outro sim por dantre ambos ditaram foi nascida e havida e bautisada e de todo isto é pública voz e fama e opinião antre todos e … que senhor pelo que lhe é necessário serem pregunta­das testemunhas, peço a vossa mercê que fielmente per seu juramento me as pregunteis pelo constante nesta petição e assim se me conhecem a mim e ao dito Rui Faleiro, meu marido, e com seus ditos me mande passar um publico estromento para guarda de minha justiça … e me fará justiça, a qual petição sub apresentada ao dito acipreste e ele pôs nas costas dela o despacho seguinte : apresente neste por parte da suplicante as testemunhas de que se espera ajudar e que do caso saibam e sejam preguntadas e com sua fé e ditos lhe seja dado seu estromento. e logo per o dito Alvaro Mendes requeren­te foram apresentadas as testemunhas seguintes e seus ditos e testemunhos são os que seguem:
Fernão Afonso, prior da igreja de S. Miguel da dita vila, testemunha chegada por parte da dita Eva Afonso, juramentado aos santos evangelhos, pelo dito acipreste preguntado pelo conteúdo na dita petição, que era o que delo sabia, ­disse ele testemunha que era verdade que ele é cura da igreja de Santa Marinha da dita vila onde o pai e a mãe da dita Eva Afonso e seu marido Rui Faleiro foram fregueses e que ele se acorda amoestar ao dito Rui Faleiro e Eva Afonso em a igreja, por três Domingos como manda a Santa Igreja e, depois das três amoestações, ele testemunha se acorda, afirma receber os sobre ditos Rui Faleiro e Eva Afonso às portas principais da dita igreja donde eram fregueses, estando muita gente de presente. o qual recebimento foi per as palavras seguintes, a saber, eu Eva Afonso recebo a vós Rui Faleiro por meu marido bom e lídimo assim como manda a santa madre igreja de Roma e estas mesmas palavras em continente disse ele Rui Faleiro, consentindo eles ambos per suas livres vontades no dito casamento …… disse ele testemunha que sabe depois do dito recebimento deles sabe e os viu viver ambos em uma casa da dita freguesia como marido e mulher, comendo em uma meza e dormindo em uma cama e dantre ambos ele testemunha sabe haverem uma filha e sempre foram havidos por casados como marido e mulher a qual filha foi bautisada por sua filha dantre ambos, o que dito tem havia por voz e fama como é opinião de todos, os quais Rui Faleiro e Eva Afonso ele testemunha conhece que são os estantes na petição e ao costume disse nichil. Eu António Afonso escrivão e escreví.
Manuel Roiz, morador na dita vila, testemunha nomeada ao dito caso, juramentado aos santos avangelhos pelo acipreste preguntado pelo costume e cousas que lhe pertencem disse ela testemunha que é compadre da dita Eva Afonso e que com todo dirá a verdade do que sabe e do costume al não disse. Z. preguntado pelo constante na dita petição que lhe toda foi lida disse ele testemunha que é verdade que quando o dito Rui Faleiro veio à igreja de Santa Marinha a receber a dita Eva Afonso ele testemunha ficara em casa de Afonso Alvares, pai da dita Eva Afonso, ministrando o jantar para os convidados, porem disse ele testemunha que os que vieram à igreja que eles disseram que os vira receber e casar, que ele testemunha sabe que desde aquele dia do recebimento em diante ele testemunha os viu estar sempre dai em diante como marido e mulher, estando em sua casa deles comendo em uma meza e dormindo ambos em uma cama como casados e velados e por tais havidos e reputados antre todos e sabia ele testemunha que houvera uma filha de antre ambos e como filha de ambos foi havida e tida sempre e bautisada com grande festa e … e ele testemunha conhece a dita Eva Afonso e Rui Faleiro e eram grandes seus amigos, os quais são os conteúdos na dita petição e al não disse e o que dito tem havia por voz e fama e eu António Afonso escrivão e publico notário o escrevi.
Maria Fernandes, moradora na dita vila, testemunha ajuramentada aos santos evangelhos per o acipreste e preguntada pelo costuma disse ela testemunha nichil. Z. preguntada ela testemunha polo conteúdo na dita petição que lhe foi lida e declarada disse ela testemunha que era verdade que se acordava do recebimento de Rui Faleiro com Eva Afonso ao qual recebimento ela testemunha foi presente, a saber, vieram da casa do pai da dita Eva Afonso à igreja de Santa Marinha com muita gente donde ela era freguês e ela testemunha os viu receber à porta principal da dita igreja de Santa Marinha, nas mãos do prior de S. Miguel, a saber Fernão Afonso, cura da dita igreja, per as palavras seguintes, dando ambos as mãos, dizendo ela dita Eva Afonso: Recebo a vós Rui Faleiro por meu marido bom e lidimo assim como manda a santa madre igreja de Roma, as quais palavras o dito Rui Faleiro disse in continenti per a mesma maneira que ela disse, consentindo ambos per suas próprias vontades no dito casamento e disse ela testemunha que dai em diante os sabia estarem ambos em sua casa como marido e mulher, comendo ambos em uma mêza e dormindo em uma cama de que antre ambos nascera uma filha que foi bautisada por sua filha e por sua havida e al não disse somente que esta era publica voz e fama e comum opinião a todos. Eu António Afonso escrivão o escrevi. […]
[…]eu António Afonso escrivão o escrevi e com os ditos das ditas testemunhas o dito Alvaro Mendes em nome da dita Eva Afonso pediu o dito instrumento e o acipreste mandou a mim notário e … ele o tresladasse e lho levasse para ele assinar Eu o tresladei e vai tresladado mui fielmente sem borrão deste nem entrelinha, vai em quatro meias folhas com esta e vai por mim notário assinado pubrico  de meu sinal que tal é sem embargo de ir assinado por mim.
Antonius Rodericus      Sinal tabelionico
                                                             Antonius Alfonsus (2)
 
Nota dos editores – 1) A Igreja de Santa Marinha foi demolida. Hoje existem na Covilhã a Rua de Santa Marinha e o Largo de Santa Marinha. 2) O documento foi transcrito por Luiz Fernando Carvalho Dias.


http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-rui-faleiro-iii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/09/covilha-rui-faleiro-i.html 

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