Inquérito Social XIV
Continuamos
a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da
Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da
autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.
II Aqueles
a que a circular 5 não aumentou os salários.
Neste quadro aparecem todos aqueles
operários que mantiveram intacto o seu salário, porque a circular 5 se limitou
a estabelecer um mínimo que eles já auferiam, ou porque, começando a trabalhar
na indústria nos seis meses anteriores ao inquérito, não se justificava, pela
referida circular, nenhum aumento.
Os
sobreditos operários perfazem um total de 1.110, distribuídos pelos grémios
respectivos, da maneira seguinte:
Covilhã
........................ 385
Gouveia
........................165
Sul
................................ 390
Castanheira
de Pera ......117
Norte ............................ 53
III Os que
ganham mais do que o mínimo.
Refere-se
este quadro àqueles operários que auferem um salário superior ao estabelecido
como mínimo pela circular 5; estão, como acontece no quadro 1º, estes operários
agrupados por grémios, segundo a importância em que excedem o salário mínimo. A
técnica que presidiu à elaboração deste quadro 3º, é equivalente à do primeiro,
pelo que não vale a pena perder tempo a explicá-la. Todos os operários
empregados que excedem, porém, em mais de 5$00 o salário mínimo estabelecido,
fazendo embora parte deste quadro, como se vê na coluna respectiva, não
aparecem depois nos totais e resumos que se desenvolvem ao fim dos seis quadros
desta estatítica.
Portanto,
todos os operários incluídos na coluna dedicada àqueles que excedem em mais de
5$00 o salário mínimo, aparecem de novo, separados conforme a categoria, no
anexo primeiro dos salários. Fomos levados a não os incluir nos totais, porque
é muito imprecisa a cifra pela qual eles foram agrupados e, além disso, porque
era arriscado introduzi-los numa estatística relativamente certa quando
antecipadamente sabíamos que o salário constante dos nossos boletins de
inquérito, não era o salário real que os mesmos auferiam; limitaram-se, muitos
deles, a dar-nos conta de um salário que consta da Repartição da Fazenda
(Finanças).
Para se fazer
uma ideia do que essa diferença representa, comparemos os salários reais,
mensais, dos empregados e mestres duma fábrica, com os mesmos salários
constantes dos nossas boletins. A lista que segue foi-nos fornecida por
amabilidade de um industrial, com a condição de não revelar o seu nome.
Salário
real Salário
declarado
4.000$00 800$00
2.000$00 700$00
1.800$00 600$00
1.200$00 500$00
1.000$00 450$00
800$00 400$00
600$00 350$00
O anexo
retirou, pois, ao quadro 3º da presente estatística o erro a que esta
desproporção dava origem. Depois desta explicação podemos afirmar que, afora os
685 operários que vão figurar no anexo com a totalidade dos seus salários,
muitos deles fictícios, ganham mais do que o mínimo estabelecido pela circular
5:
No grémio da
Covilhã ....................... 45,1% da sua população fabril
“ “
de Gouveia ...................... 11,1%
“ “ “ “
“ “
do Sul ............................. 51,2% “
“ “ “
“ “
de Castª de Pera ............. 12,8%
“ “ “ “
“ “
do Norte ......................... 25,0%
“ “ “ “
Em todo o
país ganham mais do que o mínimo, cerca de 2.697 operários que somados aos 685
do anexo, perfazem 3.382 pessoas. Podemos completar este comentário ao 3º
quadro da presente estatística com elementos colhidos “de visu” ou trazidos ao
nosso conhecimento pelo exame minucioso dos boletins de inquérito.
Primeiramente
há que voltar a pôr aqui um problema várias vezes abordado na sequência deste
estudo: no grémio do Sul e também noutros grémios, há profissões exercidas por
mulheres, que na Covilhã são próprias dos homens. No grémio do Sul, essas
mulheres são, por vezes, compensadas com melhoria de salário. Essa melhoria vem
reflectir-se neste quadro. Noutros grémios e mesmo no grémio do Sul, afora as
fábricas de Lisboa, estas mulheres são remuneradas pelo mínimo da circular 5.
Na Covilhã, como são exercidas por homens, embora a mão de obra, por isso,
fique mais cara do que nos outros grémios, esse aumento de mão de obra não
aparece neste mapa, pois que os operários em questão ganham o salário mínimo
estabelecido.
Na Covilhã os
cardadores e outros operários especializados auferem em regra um salário de
1$50 acíma do mínimo. Os serventes ganham em geral 10$00. Os pegadores de fios,
com menos de 18 anos, auferem normalmente, além do mínimo, mais $50 ou mais
1$00. As mulheres especializadas em cerzir ou em meter fios ganham, quando não
trabalham de empreitada, cerca de 1$00 a mais do que o estabelecido.
No grémio do
Sul o excesso de salário sobre o mínimo é evidente nas metedeiras de fios e
cerzideiras que ganham, em geral, mais 3$00 e 4$00 e, por vezes 5$00 do que o
previsto na circular 5. Nestas profissões também é frequente a empreitada.
Nas fábricas
de Lisboa os salários dos operários masculinos são, em regra, os mais elevados
do país, porém nas fábricas de província que pertencem a este grémio, salvo
Santa Clara de Coimbra, o salário acima do mínimo é quase nulo.
Assim como
Cebolais e Unhais da Serra influem nos salários da Covilhã, baixando as suas
percentagens, assim também no grémio do Sul, as fábricas de Portalegre,
Arrentela e Alenquer e os pequenos centros de Mação e Minde, influem nos
salários do grémio do Sul, baixando as percentagens que as fábricas de Lisboa
pagam a mais.
Se não fossem
também as regiões de São Romão e Seia, diversos seriam os resultados
apresentados a respeito do grémio de Gouveia.
IV Os que
não atingiram o mínimo, ou o trabalho de fiscalização e correcção de salários
levado a cabo, pelo Inquérito.
Se, ao
falarmos na primeira parte do aumento que produziu a circular 5 afirmámos que o
Inquérito veio revelar deficiências do salário de empreitada, esta quarta parte
vai revelar-nos qual foi a acção do Inquérito na fiscalização do salário
mínimo.
Veio ele
dizer à FNIL quais as deficiências que se mantinham no cumprimento dos
salários. Os operários eram prejudicados diariamente em 755$00, ou seja
anualmente 226.200$00.
O Inquérito
foi, portanto, até aí a maior fiscalização realizada, pois deu azo a que se
ouvissem os operários, um por um, sobre o cumprimento ou não cumprimento do
salário mínimo.
Pode
acrescentar-se, por isso, que a acção da fiscalização, embora tivesse sido
deficiente até aí, não era aquele engano que se desejava fazer crer, visto que
num total de mais de 14.000 operários só houve que corrigir os salários de 460.
Pelo
Inquérito soube, pois, a FNIL que a sua fiscalização, embora batesse em
actividade todas a das outras indústrias, não tinha ainda a perfeição que se
desejava e que depois veio a adquirir.
Contribuiu
também o Inquérito para os 460 operários prejudicados que fossem indemnizados e
deu à FNIL os elementos suficientes para que as empresas transgressoras
modificassem o “statu quo” nesta matéria de salários.
No grémio de
Gouveia, sobretudo na região da serra, os pegadores de fios com mais de 18 anos
ficaram a ganhar, mesmo depois da circular 5, 5$50, e os pegadores de fios com
menos de 18 anos mas com mais de 18 meses de trabalho, 4$50. As mulheres
especializadas ficaram a ganhar como se o não fossem. Moimenta da Serra deve
ser a localidade do grémio de Gouveia em que os salários mais se aviltaram. Os
pegadores de fios, por todo o grémio de Gouveia, não estavam, a quando do
Inquérito, pela tabela que a circular 5 estabeleceu.
V e VI
Operários que subiram com a circular 5 e ganham mais que o mínimo e operários
que subiram também com a circular 5, mas que ganham menos que o mínimo.
O quinto
quadro é um complemento do terceiro quadro e uma repetição de todos aqueles
operários que figurando já no 1º quadro, no entanto ganham agora mais que o
mínimo.
O sexto
quadro é também um complemento do quarto; referem-se aos operários que
subiram com a circular 5, incluídos portanto no primeiro quadro, mas que,
contudo, ainda não auferiam, à data do Inquérito, o salário completo que a
circular 5 lhes atribuiu.
VII Resumo
O Resumo que aparece no fundo do mapa,
mostra as importâncias em que anualmente a circular 5 veio alterar o que
estava, ou aquilo que à data do Inquérito ainda não estava conforme ela
estabelecera.
VIII Anexo
O Anexo, como referimos atrás, ao tratar a
parte terceira do mapa, é um desdobramento dos salários dos operários, mestres
e empregados que ganham 5$00 além do mínimo.
Para o erro
existente neste anexo já se chamou a esclarecida atenção do leitor, noutro
lugar, e já se viu que ele era proveniente mais do receio da acção fiscal do
que do intuito de ludibriar os inqueridores.
Inquéritos XI - IX
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Inquéritos IV - II
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