O pretexto para esta Notícia Solta é a saída da Carta de Pêro Vaz de Caminha, avaliada em quase 3 milhões de euros, do cofre forte da Torre do Tombo para uma Exposição, no Castelo de Belmonte, de 26 de Abril a 26 de Outubro. Esta Exposição em Belmonte deve-se ao facto de Pedro Álvares Cabral ser natural desta povoação da Beira e Pêro Vaz de Caminha ser escrivão na viagem deste navegador, em 1500.
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Pedro Álvares Cabral nasceu em 1467 (?) na
povoação de Belmonte, na Beira Baixa e morreu, provavelmente em 1520,
na cidade de Santarém, no Ribatejo, onde está sepultado na belíssima Igreja da
Graça. Alguns dos seus restos mortais estão desde há um século no Rio de
Janeiro.
É o descobridor oficial do Brasil.
Descendia de uma família nobre, cujas raízes entroncam no seu trisavô Álvaro
Gil Cabral (século XIV). O seu bisavô, Luís Álvares Cabral já está ligado à
governação de Belmonte. Parece que Pedro A. Cabral saiu ao pai em altura, pois
este era conhecido como o “Gigante da Beira” pela sua invulgar estatura, grande
corpulência e valentia. Novinho deixou Belmonte e em Lisboa estuda Artes Militares,
História, Cosmografia e Marinharia. Nesta época, no Reino, vivem-se já as
viagens marítimas e em 1499, depois da chegada da Índia de Vasco da Gama, é
nomeado pelo Rei D. Manuel capitão-mor da armada que há-de voltar a Calecut com
a missão de estabelecer relações políticas e comerciais, fundando por aquelas
paragens o primeiro entreposto comercial português. Também teria sido incumbido
de pôr pé no continente brasileiro e oficialmente o publicar, ou teria sido
casual a chegada àquelas paragens? Os que acham que foi intencional a rota para
ocidente em pleno Oceano Atlântico, defendem que as exigências de D. João II
durante as negociações do Tratado de Tordesilhas, a experiência dos marinheiros
que iam na frota, o provável conhecimento anterior de terras para Ocidente, só
não publicitadas pela política de sigilo devida à concorrência com Castela, Espanha,
são a prova disso. Os que pensam que foi casual baseiam-se, por exemplo, na
Carta de Pêro Vaz de Caminha que em seguida usaremos. Quando foi nomeado por D.
Manuel já várias viagens de conquista e descobrimento tinham sido realizadas,
mas a armada de Pedro Álvares Cabral foi a mais bem equipada pois eram dez
naus, três caravelas e milhar e meio de homens, alguns, como Bartolomeu Dias,
experimentados e conhecedores do mar e dos seus segredos. Vão chegar ao
continente sul-americano a que vão chamar Terra ou Ilha de Vera Cruz. Continuam
para a Índia, mas antes Álvares Cabral manda regressar a Portugal uma
embarcação chefiada por Gaspar Lemos com a boa nova e a importante carta de
Pêro Vaz de Caminha, escrivão e testemunha presencial, que encerra notícias
importantíssimas de cariz histórico e antropológico. Transcrevemos agora algumas passagens desta Carta dirigida ao Rei D. Manuel:
Os cuidados cm a "Carta de Pêro Vaz de Caminha" na sua chegada a Belmonte |
“Senhor, posto que o capitão-mor
desta vossa frota e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do
achamento desta vossa terra nova, [prova da
casualidade?] que se ora nesta navegação achou, não deixarei de dar
disso minha conta. …
E assim seguimos nosso caminho … até
terça-feira d’oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que topámos alguns
sinais de terra … os quais eram muita quantidade d’ervas compridas. … E à
quarta-feira seguinte, pela manhã, topámos aves. … E neste dia, a horas de
véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui
alto e redondo, e d’outras serras mais baixas a sul dele e de terra chã com
grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs nome o Monte Pascoal e à
terra a Terra de Vera Cruz. …
[5ª feira, 23 de Abril] E
dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8. … E o capitão
mandou no batel, em terra, Nicolau Coelho, para ver aquele rio…. Eram ali 18 ou
20 homens, pardos, todos nus, sem nenhuma cousa que lhes cobrisse suas
vergonhas. Traziam arcos nas mãos e suas setas… Somente deu-lhes um barrete
vermelho e uma carapuça de linho, que levava na cabeça, e um sombreiro preto. E
um deles lhe deu um sombreiro de penas d’aves, compridas, com uma copazinha
pequena de penas vermelhas e parda, como de papagaio. … E tomou em uma almadia dous
daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos. … Trouve-os logo, já de
noute, ao capitão, onde foram recebidos com muito prazer e festa. … Traziam
ambos os beiços de baixo furados e metido por eles um osso branco de
comprimento duma mão travessa… Os cabelos seus são corredios e andavam
tosquiados de tosquia alta mais que de sobre-pente, de boa grandura e rapados
até por cima das orelhas. ... Acenderam tochas e entraram e não fizeram nenhuma
menção de cortesia nem de falar ao capitão nem a ninguém. Um deles, porém, pôs
olho no colar do capitão e começou d’acenar com a mão para terra e despois para
o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também um castiçal de
prata…um papagaio pardo…um carneiro, não fizeram dele menção. Mostraram-lhes
uma galinha, quase haviam medo dela. ... Andavam ali muitos deles. … Ali
andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos
muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão
çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não
tínhamos nenhuma vergonha…
[Domingo, 26 de Abril] Ao
domingo de Pascoela, pela manhã, determinou o capitão d’ir ouvir missa e
pregação naquele ilhéu….
Beijo as mãos de vossa Alteza. Deste
Porto Seguro, da vossa ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de
Maio de 1500. Pêro Vaz de Caminha”
No nosso blogue temos várias reflexões de Luiz Fernando Carvalho Dias sobre Pedro Álvares Cabral e Belmonte:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/01/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/12/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/12/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/01/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/12/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/12/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/08/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html
As publicações do blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-as-publicacoes.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-as-publicacoes.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/05/covilha-o-2-aniversario-do-nosso-blogue.html
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
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No nosso blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/04/covilha-noticias-soltas-iii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/03/covilha-noticias-soltas-ii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/12/covilha-noticias-soltas.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/12/covilha-noticias-soltas.html
Excelente pesquisa e texto muito bem fundamentado. Deve ser recomendado como rica fonte para estudantes e pesquisadores da História das relações de Portugal e o mundo.
ResponderEliminarObrigada, Ana Holmes. O nosso pai e sogro foi um grande investigador de História, tendo deixado um diversificado espólio que temos procurado publicar.
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