Covilhã - A Casa da Câmara e o Pelourinho
A propósito do auto de 1613 de abertura dos alicerces para a nova Câmara, encontrámos várias reflexões de Luiz Fernando Carvalho Dias, relacionadas com o local de funcionamento da Câmara da Covilhã.
Em "Covilhã - Subsídios para o estudo da sua Heráldica de Domínio", Carvalho Dias informa-nos que "A pedra de Armas mais
antiga que se conhece estava enxertada nos muros da antiga Câmara e datava de
1613, data da reedificação. Mas a pedra não era homogénea [...]
[...] O edifício porém que as armas enobreciam sabemos ser parte de 1613, e outra parte dele, mais antigo, de 1518. Foi
nesta última data que o Concelho se transferiu do alpendre de Santa Maria do
Castelo para a beira da muralha, frente ao pelourinho." (1)
Eis a Inscrição de 1518:
Inscrição da primeira Câmara de D. Manuel,
na parede que subia do poço dos cavalos para o Arco do Pelourinho (da Covilhã):
Ho.LDO. António Corea. Cavaleiro /
Da.Orde(m) de Xps (Cristo). Coregedor Desta Co/Marca Por El Rei Domanuel Nosso
/ Sor mãdou fazer Esta Obra Ano de 1518/
(Informação deixada por Carvalho Dias: Vidé. Na chancelaria de D. Manuel a
nomeação para corregedor da Guarda do Lic. António Correa e dos encarregados
das obras da Covilhã pelo mesmo Rei.) (2)
No espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias encontrámos este auto de 1613 de abertura de "os alliceses das obras que novamente se fazem na dita villa por provisão de Sua Magestade a saber Casa da Camera e audiencia e torre do Relogio e Cadeia":
Leitura do documento: auto que mandaram fazer o
Licenciado João Roiz da Costa, Jujz de fora em esta notavel Villa de Covilham e
seo termo por Sua Magestade e dioguo de serpa da sillva affonso botelho guerra
vereadores em ella e pero falcão tavares precurador em a dita Camera,
anno do nascimento de nosso Senhor Jesu Christo de mill seiscentos e
treze annos aos vinte e hoito dias do mes de Setembro do dito anno em a notavel
villa de Covilham aas portas da villa que estão pera o pelourinho ahi foraõ juntos o Licenciado João Roiz da Costa juiz de fora com allcada por ell Rey
nosso Senhor na dita villa e seu termo e dioguo de serpa da sillva e affonso
botelho da Guerra vereadores e pero ffalcão tavares procurador da camera o
presente anno nesta dita villa e por
elles juiz e vereadores foi mandado abrir os alliceses das obras que novamente
se fazem na dita villa por provisão de Sua Magestade a saber Casa da Camera e
audiencia e torre do Relogio e Cadeia os quaes alliceses mandaram abrir pello
mestre das ditas obras gonçallo Sanches para se fazerem as ditas obras
conforme a obrigação e arrematação que estava feita e de tudo mandavam fazer
este auto que todos assinaram e declaro que conforme a aRematação que lhe foram
feitas ao dito Gonçalo Sanches mestre das ditas obras e conforme as ditas meças
e pello dito Juiz e Vereadores e procurador da camera foi lançado a primeira
pedra para se fazerem as ditas obras de que eu escrivão dou fee de tudo passar
na verdade.
aa)
Botelho Costa tavares
Serpa
e declaro que stavão presentes os
misteres da dita villa francisco allez domingos lourenço e luis dallmeida
tabelião do judicial e francisco fernandes polo fellipe guomes tesoureiro da
dita villa e allvaro gaspar e jorge ferreira e bertollameo de gois que todos
foram testemunhas que assinaram e eu dioguo sardinha escrevão da Camera o
escrevi.
aa) djoguo sardinha Bertollameo de gois jorge fr.ª Francisco Frz Francisco Allz Domingos Lçº
Vejamos o que dizem os monografistas sobre este assunto:
Monografia de Padre Manuel Cabral de Pina
Câmara Filipina |
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Vejamos o que dizem os monografistas sobre este assunto:
"Tem mais esta vila os Paços da Câmara, todos de cantaria lavrada,
e são de muita grandeza e teem janelas de sacada, com grades de ferro, e fazem
notável vista para o Terreiro do Pelourinho. Sobre eles se levanta uma alta
torre, também de cantaria lavrada, na qual há dois sinos, um é do relógio da
vila e o outro é de tanger à ronda e funções da Camara, os quais sinos, pela sua
qualidade, são dos mais excelentes da província." (3)
Memória das Fábricas da Covilhã
Tem a vila 954 fogos; 3.481 pessoas;
excelentes edifícios, e casas particulares: de todos o mais majestoso é o da Câmara e cadeia, que
formada nos muros sobre a porta da vila, que é de abóbada, tem 9 janelas
rasgadas, dominando um grande terreiro; no meio está uma muito grande pedra
lavrada em oitavo e no cimo faz a figura duma roca; no meio do edifício estão
esculpidas as armas reais; e também no mesmo sitio foi fabricada a torre do
relógio, com este para Nascente, e outro sino para o Norte, que serve de tocar
à Câmara, audiência, ronda e mais funções. Também no dito terreiro se faz Praça
quotidiana de todos os géneros de alimento e mercado ou feira no terceiro
domingo de cada mês; e no cimo junto às escadas tem um chafariz com água em
abundância por duas bicas. (4)
Memória da Covilhã de João Macedo Pereira Forjaz
A casa da Câmara é no sítio do pelourinho, é boa e está bem asseada, e além dos vereadores e oficiais do costume tem por provisão 24 homens do povo, que assistem às principais deliberações e funções que ali se fazem. Os seus rendimentos são poucos e, por isso, se tem valido da provisão para arrematar as tabernas, com que tem feito calçadas e outras obras úteis.
O livro das posturas da mesma Câmara não contém cousa que se não encontre em todas as do Reino e portanto, me parecem desnecessárias as suas análises.
A cadeia, fica unida à Casa da Câmara e sendo uma das melhores da comarca (23) não deixa de ter as incomodidades que padecem as de Portugal, muito principalmente quando os Magistrados não velam sobre os sagrados direitos da humanidade, o que sucede de ordinário, verificando-se também na mesma a fiel e enérgica pintura, que Filangieri faz das cadeias do seu país.
23) Consta da provisão que se acha no arquivo da Camara da dita vila, mandada passar em Moura pelo Infante D. Luis, em 9 de Outubro de 1536, passarem os prezos do Castelo donde estavam para a Cadeia nova; e esta provisão se passou a requerimento de D. Diogo de Castro, alcaide-mór da sobredita vila, cuja alcaidaria se conserva ainda hoje na Casa do visconde de Barbacena, seu descendente; e por isso a cadeia parece ser outra, porque a que hoje existe, se lhe abriram os alicerces, assim como para a casa da Camara, e torre do relógio, em 1613, por provisão de D. Filipe 2º. (5)
******
Apresentamos ainda um documento dos finais do século XV, autorizando o alcaide-mor, D. Rodrigo de Castro a "fazer hûuas casas no muro da villa de covilhãa comtra o arevalde homde esta a judaria ":A Câmara Filipina, a Fonte de três Bicas, a "Casa da Hera" |
Dom Rodrigo de Castro e a "Casa da Hera"
(No muro da vila)
(No muro da vila)
" A dom Rodrigo de crasto liçença pera fazer hûuas casas no muro da villa de covilhãa comtra o arevalde homde esta a judaria
Dom Joham e etc. A quamtos esta carta virem fazemos saber que dom Rodrigo de crasto do nosso Conselho e alcayde moor pello duque de beja nosso muyto prezado e amado primo da villa e fortelleza da villa de covilhãa nos dise que no muro da dita villa comtra o arevalde homde esta a judaria estavam damtigamente fumdadas huuas casas as quaaes estavam daneficadas e desejamdo elle de ter booas casas e por elle hj achar lugar desposto pera ellas as começou e as queria ali fazer e que por quamto lhe era dito que as nom poderia fazer no dito muro sem nossa liçemça nos pedia por mercee que lhos outorgassemos e visto per o dito duque nos pedir que lha dessemos praz nos darmos como de feito per esta damos licemça e lugar ao dito dom Rodrigo que elle possa fazer e acabar as ditas casas no muro da dita villa homde as tem começadas. E em testemunho dello e por sua guarda lhe mandamos dar esta carta assynada per nos e assellada do nosso sello pemdemte dada em a nossa cidade devora a doze dias do mes de mayo pero de torres a ffez anno do nacimento de nosso Senhor Jhesu christo de mjll e quatroçemtos e novemta." (6)
Na "Casa da Hera" hospedava-se D. Luís, Senhor da Covilhã, quando vinha em visita à Vila.
[...] "É natural que Pedro Álvares Cabral tivesse visitado várias vezes as propriedades paternas na Covilhã e no seu concelho e se tivesse reunido com o irmão e os sobrinhos no velho Palácio de D. Rodrigo de Castro, heróico Governador de Tânger, encostado à muralha da Covilhã, e olhado da janela manuelina que tantos de nós ainda conhecemos, o Pelourinho, a fértil várzea do Zêzere, a Judiaria da Covilhã donde saíram os astrólogos Diogo Mendes Vizinho, os irmãos Faleiros e os Ximenez, estes origem de banqueiros europeus e de aristocratas romanos da Renascença; as oficinas primitivas dos teares covilhanenses e os tintes e pisões que então começavam a aflorar nas margens da ribeira de Goldra e, ainda lá longe, olhasse a silhueta aristocrática do velho Paço de Belmonte e suas futuras propriedades do Sarzedo. " [...] (7)
Algumas imagens da Praça do Município:
A Praça do Município ou do Pelourinho, assim chamada porque nela estava a "Casa da Câmara" e um pelourinho desaparecido em 1863. Aqui havia um fontanário de três bicas, removido aquando das obras do século XX, mercado e festas ao longo do ano, farmácias, igrejas, teatro, coreto, cafés, pastelarias e casas de habitação. Em 1958 esta praça sofreu várias transformações, tendo desaparecido a câmara filipina, substituída pelos actuais Paços do Concelho. Em 2002 verificaram-se novas modificações com a inauguração do silo-auto.
Notas: - 1)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/05/covilha-subsidios-para-o-estudo-da-sua.html
2) http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/05/covilha-o-4-aniversario-do-nosso-blogue.html
3)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/10/covilha-memoralistas-ou-monografistas-xi.html
4)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/01/covilha-memoralistas-ou-monografistas.html
5)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/11/covilha-memoralistas-ou-monografistas-iv.html
Na "Casa da Hera" hospedava-se D. Luís, Senhor da Covilhã, quando vinha em visita à Vila.
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A Janela manuelina, da "Casa da Hera", que andou desaparecida durante muitos anos. |
O investigador Carvalho Dias, numa conferência sobre Pedro Álvares Cabral, diz-nos:
[...] "É natural que Pedro Álvares Cabral tivesse visitado várias vezes as propriedades paternas na Covilhã e no seu concelho e se tivesse reunido com o irmão e os sobrinhos no velho Palácio de D. Rodrigo de Castro, heróico Governador de Tânger, encostado à muralha da Covilhã, e olhado da janela manuelina que tantos de nós ainda conhecemos, o Pelourinho, a fértil várzea do Zêzere, a Judiaria da Covilhã donde saíram os astrólogos Diogo Mendes Vizinho, os irmãos Faleiros e os Ximenez, estes origem de banqueiros europeus e de aristocratas romanos da Renascença; as oficinas primitivas dos teares covilhanenses e os tintes e pisões que então começavam a aflorar nas margens da ribeira de Goldra e, ainda lá longe, olhasse a silhueta aristocrática do velho Paço de Belmonte e suas futuras propriedades do Sarzedo. " [...] (7)
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Algumas imagens da Praça do Município:
Praça do Município, hoje |
Notas: - 1)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/05/covilha-subsidios-para-o-estudo-da-sua.html
2) http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/05/covilha-o-4-aniversario-do-nosso-blogue.html
3)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/10/covilha-memoralistas-ou-monografistas-xi.html
4)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/01/covilha-memoralistas-ou-monografistas.html
5)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/11/covilha-memoralistas-ou-monografistas-iv.html
6)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/04/covilha-alcaidaria-iii.html
7)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/10/covilha-pedro-alvares-cabral-iv.html
As Publicações do Blogue:
7)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/10/covilha-pedro-alvares-cabral-iv.html
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Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
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