terça-feira, 22 de novembro de 2016

Covilhã - Notícias Soltas IX

   Belmonte está a celebrar os 601 anos da Conquista de Ceuta com uma Exposição “Ceuta Ontem. Ceuta Hoje. 600 anos de Encontro de Culturas entre Atlântico e Mediterrâneo”, de 13 de Novembro a 17 de Maio de 2017. É uma co-produção entre o Museu dos Descobrimentos e Parque Temático do Porto, a Cidade Autónoma de Ceuta e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Pretende lembrar a Conquista de Ceuta, em 1415, no reinado de D. João I, na qual participaram os Infantes e muitos nobres. Entre os Infantes estava obviamente o Infante D. Henrique, 1º Senhor da Covilhã e dentre os milhares de nobres, o bisavô de Pedro Álvares Cabral - Luiz Álvares Cabral.
Nesta Exposição está patente a "Crónica da Tomada da Cidade de Ceuta por Dom João I", de Gomes Eanes de Zurara:

Crónica da Tomada da Cidade de Ceuta (ANTT)
Recordemos um passo da obra do cronista-mor Gomes Eanes de Zurara:

"(...) Já passavam de sete horas e meia depois do meio dia, quando a cidade foi de todo livre dos mouros. (...) As outras Companhias [de soldados portugueses], não tinham maior cuidado doutra coisa que de apanharem o esbulho. (...) Muitos que se acercaram primeiramente naquelas lojas dos mercadores que estavam na rua direita, assim como entraram pelas portas sem nenhuma temperança nem resguardo, davam com suas facas nos sacos das especiarias, e esfarrapavam-nos todos, de forma que tudo lançavam pelo chão. E bem era para haver dor do estrago, que ali foi feito naquele dia. Que as especiarias eram muitas de grosso valor. E as ruas não menos jaziam cheias delas (...) as quais depois que foram calcadas pelos pés da multidão das gentes que por cima delas passavam, e de si com o fervor do sol que era grande, davam depois de si muy grande odor. (...)"

O Infante D. Henrique em Ceuta
Painel de Azulejos de Jorge Colaço, Estação de S. Bento, Porto

Vejamos o que nos diz Luiz Fernando Carvalho Dias sobre a Família Cabral, inclusivé o guerreiro de Ceuta Luiz Álvares Cabral  e Belmonte:

"... Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, filho de Fernão Cabral, como refere, entre outros, o ilustre Barros na 1ª Década da Índia, levou consigo, dos seus maiores, à bela terra da Vera Cruz a fidelidade da sua Raça, personificada na Grão liberdade dos alcaides mores do Castelo de Belmonte, na isenção de prestar menagem.
            Singular privilégio esse, de nossos Reis confiarem aos Cabrais, sem garantia, uma das mais importantes fortalezas da Beira, chave defensiva do Vale do Zêzere e bastião duma linha de outras nobres fortalezas, carregadas de história, que desciam da Guarda por Sortelha à Covilhã e do Sabugal a Penamacor, Penha Garcia, Salvaterra e Segura, e do Rosmaninhal até ao Tejo!
            Singular privilégio, repito, numa época de tradição feudal onde os laços de vassalagem eram mais fortes do que os laços da pátria e os grandes senhores se permitiam o direito de eleger suserano mesmo que fosse o estranho Rei.
            A menagem, acto jurídico garantido pela honra, era o laço a unir o suserano ao vassalo.
            Isentar um súbdito de prestar menagem poderia classificar-se de acto de confiança pessoal e normal, mas dispensar toda uma geração de o fazer pressupunha já o reconhecimento público de fortes laços de solidariedade familiar assentes num conceito social de honra, que não admitia quebra.
            Em Portugal só a Casa de Marialva gozava de idêntico privilégio e exclusivo aos castelos de Numão e de Penedono.
            Tratava-se assim de um privilégio familiar e privilégio tão excelente cuja génese merece honrosa evocação nos factos centenários de quem o honrou nas horas altas e sobretudo nas horas aziagas. Sem documento coevo donde conste a isenção, ao contrário do que sucede com os Marialvas cuja carta régia de concessão ainda hoje existe, presumimos que este privilégio tenha advindo aos Cabrais da fidelidade de Álvaro Gil, alcaide - primeiro da Covilhã e depois da Guarda, no tempo de D. Fernando e depois no interregno - honrado escudeiro da Crónica de Fernão Lopes que, contra todos os fidalgos da cidade aliciados pelo bispo D. Afonso Correia, se recusou a entregar a fortaleza a D. João de Castela, marido da princesa Beatriz e genro da “ flor d’ altura “.
            Sabemos, contudo, ter sido Fernão Cabral, pai de Pedro Álvares, o primeiro Cabral a invocá-lo. Este, desde 1449 presidia à alcaidaria-mor de Belmonte e o Rei, quando lhe a doou de juro e herdade em 1464, autenticou nessa fonte não só serviços dele, mas os de seu pai e de seu avô, o que permite concluir que tal privilégio viesse na herança de Álvaro Gil e se instituísse depois em Belmonte com o bisavô de Pedro Álvares, ou seja com Luiz Álvares Cabral.
            Como serviram os Cabrais o princípio da fidelidade e quais as ligações desta nobre estirpe com a província da Beira? Eis o escopo do meu estudo, atentos os laços que ligam o Descobridor do Brasil à pequena pátria de todos nós, a Província da Beira, que Gil Vicente, mais tarde escolheria para representar a fama lusitana.
            Álvaro Gil Cabral, da família do Bispo da Guarda D. Gil, morreu em Coimbra em 1385, a seguir às Cortes de aclamação de D. João I, nas vésperas de Aljubarrota. Os seus bens transferiram-se logo para seu filho Luiz Álvares em Outubro desse ano, como consta da carta régia que confirmou tal doação. Mas de tais bens não constava a alcaidaria de Belmonte nem a da Guarda.
            Luiz Álvares só veio a radicar-se em Belmonte cerca de 1401 (Era de 1439) para receber a administração do morgadio de Maria Gil, constituído por bens na Covilhã e em Belmonte, anteriormente doados por El Rei D. Pedro ao referido D. Gil, mas só foi alcaide de Belmonte depois de ter cessado, por escambo, o domínio da mitra de Coimbra naquela vila e ainda o senhorio de Martim Vasques da Cunha ao ausentar-se para Castela em fins do século XIV.
            Luiz Álvares Cabral esteve na Tomada de Ceuta em 1415, como assevera Zurara; foi vedor do Infante D. Henrique e possuiu ainda Valhelhas, Manteigas, Vila Chã de Tavares e alguns bens em Azurara da Beira. Consta de um documento, ainda    inédito do arquivo da Câmara de Manteigas, que tinha casas em Belmonte  antes de ser alcaide-mor do Castelo.
            Faleceu entre 11 de Agosto de 1419 e 31 de Julho de 1421.
            Está documentada a sua residência em Belmonte em 1405, 1408, 1411 e 1419..." (1)

1)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/08/covilha-pedro-alvares-cabral-e-belmonte.html

As Publicações do Blogue:
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html



No nosso blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/11/covilha-noticias-soltas-viii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/10/covilha-noticias-soltas-vii.htm
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/09/covilha-noticias-soltas-vi.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/07/noticias-soltas-v_68.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/06/covilha-noticias-soltas-iv.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/04/covilha-noticias-soltas-iii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2016/03/covilha-noticias-soltas-ii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2015/12/covilha-noticias-soltas.html

Sem comentários:

Enviar um comentário