Inquérito Social XVI
Continuamos
a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da
Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da
autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.
Salários Familiares
O salário
familiar é aqui a soma dos salários individuais dos membros da Família. Depende
da idade dos filhos, do emprego que têm, do auxílio de quaisquer outras pessoas
que possam viver no mesmo lar, por razões de sangue. Verifica-se que nos
primeiros anos a família numerosa causa grandes embaraços económicos ao
operário, mas quando os filhos começam a trabalhar uma réstea de sol
ilumina-lhes o lar, amargurado pelas dificuldades de cada dia. Gerralmente as
famílias numerosas descuidam, por razões económicas, a educação literária dos
primeiros filhos, pela necessidade absoluta de aumentar o salário familiar.
Depois de uma certa idade, os filhos começam a ficar com uma parcela do salário
ganho para as suas necessidades, daí se vestem e calçam, daí tiram para as suas
extravagâncias. O mesmo acontece com as raparigas.
Dos salários
familiares que recolhemos, há-os suficientes, diminutos, miseráveis e raramente
bons. Tudo isto nos vem demonstrar que uma medida geral de salários tendente a
proteger a família, poderia constituir um benefício incalculável para a
população de lanifícios; bastaria estabelecer um salário base, corrigi-lo,
posteriormente, segundo as necessidades familiares do operário, sobrecarregando
os que não têm família nem filhos, a favor daqueles que cumprem o dever social
de aumentar a população, que é a força dos Estados. O patronato contribuiria de
uma forma proporcional aos salários pagos, para um fundo donde saíria esse
salário familiar. Este benefício não deve provir unicamente do patronato, mas o
operário, que dele há-de tirar os benefícios, é justo que para ele também
contribua, dentro das suas possibilidades.
Veremos mais
adiante quanto esta medida se torna urgente, para obstar à diminuição de
natalidade que se verifica entre a população industrial dos lanifícios. Um
filho para uma família que trabalha na indústria representa hoje, pelas
circunstâncias económicas em que o trabalho se reparte, mais um encargo que uma
riqueza, porque a dificuldade de colocações ao atingir a idade do trabalho, é
grande e porque não existe na indústria aquilo a que podemos chamar no campo, o
desafogo campestre, que é aproveitar na lavoura caseira o trabalho que não se
pode empregar fora.
Ao tratarmos
da família, do trabalho das mulheres e das menores, mais evidente aparecerá a
necessidade de proteger a família, não só económica mas social e moralmente.
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Descontos e Abonos de Fazenda
e de Dinheiro
Na indústria
de lanifícios há um costume que beneficia bastante a família operária; queremos
referir-nos ao abono de dinheiro e fazendas, feito pelo patrão ao operário, à
conta de trabalho futuro.
Estes abonos
têm a vantagem de auxiliar grandemente o operário no vestir da sua família, de
o ajudar em ocasiões difíceis, de o retirar sobretudo ao domínio pernicioso da
usura. Esses abonos são feitos sem desconto de juros..
Os operários
vão descontando todas as semanas, do seu ordenado, uma certa soma para
amortizar a sua conta corrente. Nos grémios da Covilhã e, raramente no de
Gouveia, é que predomina este costume.
Por vezes
acontece que os operários parecem desconhecer este benefício: abandonam a
fábrica antes de ter satisfeito a importância abonada. Para evitar estes abusos
criou-se uma ressalva passada pelo patrão primitivo sem a qual o operário não
podia ser admitido em qualquer outra fábrica. Os efeitos desta ressalva foram
porém nulos porque os industriais continuavam a admiti-los sem ela,
demonstrando assim o espírito individualista a que, mais adiante, faremos
referência, no capítulo dedicado ao patronato.
Com a invasão
da indústria por uma série de aventureiros, muitos patrões houve deste género,
que por excessiva ganância ou impossibilidade económica, deixaram de conceder
estes abonos que foram regra geral na indústria dos dois grémios.
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Comparação
dos Salários dos Lanifícios com os salários de outras Indústrias e Mesteres
Não
exageramos se afirmarmos que na indústria se cumprem integralmente os salários
mínimos, estabelecidos pela circular 5. São estes, portanto, que vão servir de
base para se compararem os salários dos lanifícios, com os salários pagos pelas
outras indústrias e mesteres, naqueles centros onde floresce a indústria de
lanifícios. Os salários dessas profissões e mesteres, são-nos fornecidos pelos
nossos boletins de inquérito: não nos limitamos a inquirir o salário do
operário em questão, fomos mais longe, procurámos saber qual o salário que
auferiam os filhos, os maridos, as esposas e os pais. Conseguimos, assim,
abundantes listas de salário que ilustram esta parte do capítulo VIII.
Seguem-se
essas listas de profissões várias e dos salários respectivos, nas diversas
regiões.
Lista
de alguns salários fora da indústria de lanifícios
na
área do Grémio da Covilhã
Inquéritos XI - IX
Lista de alguns salários fora da indústria de lanifícios
na área do Grémio de Gouveia
Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.
As Publicações do Blogue:
Capítulos anteriores do Inquérito Social:
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