sábado, 2 de agosto de 2014

Covilhã - Judeus Covilhanenses III

   Hoje publicamos algumas informações referentes aos judeus  residentes em Amesterdão, bem como no Recife, Brasil, fugidos ao Tribunal da Inquisição de Portugal. Familiares destes terão deixado Pernambuco em 1654, após a derrota holandesa, e fundado Nova Amesterdão onde hoje é Nova York.

Luiz Fernando Carvalho Dias diz-nos que “Mendes dos Remédios em “ Os Judeus portugueses em Amsterdam “ Coimbra, F. França Amado, 1911 a pag 197 começa a publicação de um manuscrito que refere a população judaica portuguesa em Amsterdam no anno de 1675 – onde se encontra nomes usados por vários judeus da Covilhã, como Fróis, Cáceres, Nunes Henriques, Nunes Cáceres, Vaz, Chaves, Lara, Lopes Henriques, Furtado, Vilareal, Henriques Álvares, Mendes Silva, antecipados de apelidos e nomes judaicos; Moreno, Pessoa, Rodrigues, Coutinho, Pereira, Sória, Cunha, Fundão, etc.”
   Nas nossas publicações neste blogue, já encontrámos muitos destes nomes.
   Em seguida apresentamos excertos de Memórias (1) sobre os judeus portugueses: a aceitação e o papel dos mesmos em Amesterdão, bem como a diáspora que os levou até ao Brasil.
   Fizemos questão de pôr hoje esta publicação, porque no texto se refere: “Tão assinalado ficou o dia desta dedicação (Sinagoga dos Judeus Portugueses de Amsterdão) que ainda hoje celebram o seu aniversário a 2 de Agosto com grandiosas demonstrações de alegria.”
 
Sinagoga de Amesterdão, óleo de Emanuel de Witte

[…]
Capítulo V

Dos Judeus Portugueses nos Países Baixos

Aonde os judeus portugueses acharam melhor estrela foi nos Países Baixos, maiormente nas cidades mercantis que com muita humanidade costumavam acolher os estrangeiros. A Holanda que pelas necessidades do seu comércio se viu obrigada a abrir o seio a todas as seitas do mundo, recebia os judeus de toda a parte e sabia aproveitar-se de sua desgraça. Os nossos ali acharam todo o seu amparo. E ainda que a primeira assembleia que eles formaram em Amsterdão deu princípio (a) alguns crimes do governo por ser em tempos em que tudo era suspeitoso pela guerra que então se continuava com muito ardor, e os houveram por católicos romanos que se recatavam e escondiam suas imagens; contudo como se lhes não acharam mais do que livros hebraicos e a lei de Moysés, deixaram-nos fazer assento no país com mais firmeza e mais sossego, maiormente porque entenderam quanto convinha agasalhar uns homens que traziam imensos cabedais a sua casa e que eram os mais hábeis que então havia em todo o trato do comércio de que a República necessitava.
Com efeito, eles foram mais úteis à Holanda do que a franceses refugiados nos fins do século XVI depois da revogação do Édito de Nantes; estes levaram-lhes muita indústria, mas poucas riquezas; e os portugueses sobre as quantiosas somas de cabedal lhe entregaram nas mãos o comércio de toda a Espanha. (1) Eles ensinaram aos holandeses os segredos da nossa navegação e do nosso comércio da Índia; eles incitaram com os seus tesouros a que passassem às nossas conquistas e foram a principal causa de se fazer a poderosíssima Companhia Geral daquele Estado para a Índia porque conseguiram crescer em lusimento e respeito e em forças tanto navais e mercantis como de guerra.
Eles, pois, se estabeleceram tranquilamente em Amsterdão, em Hamburgo, em Anvers, e na Haia. Juntos com os espanhóis fizeram um mesmo corpo e se intitularam judeus do desterro de Portugal = separando-se dos judeus alemães que ali havia desde o fim do século XV a que chamavam Benjamitas pelos haverem por descendentes da tribo de Benjamim e nesta conta se compreendiam os judeus da Boémia, de Morávia, de Polónia e de Moscóvia; as suas sinagogas são separadas das dos alemães e ainda que têm a mesma religião e os mesmos artigos da fé, diversificam todavia por algumas práticas e cerimónias.
Nas sinagogas não lhes dão assento, uma só família dos Benjamitas goza desta regalia, em galardão da caridade com que havia acolhido em outro tempo os desterrados de Espanha e Portugal e cooperado para que os soberanos da República os deixassem estabelecer-se no país.
Também se não misturavam com os Benjamitas por casamentos e alianças (2) e chega o divórcio com estes seus irmãos a tal excesso que nunca nem se incorporam nem se confundem jamais com os outros filhos de Jacob; e se um judeu português desposou uma judia alemã perde imediatamente as suas prerrogativas e não é mais reconhecido por membro da Sinagoga, mas fica inteiramente separado de todo o corpo da Nação nem pode ser enterrado entre os portugueses; quase praticam o mesmo a respeito dos judeus italianos posto que os hajam em melhor conta que aos alemães.
Esta distinção e sobranceria com que se tratam os portugueses nasce da ideia em que estão geralmente, de que tiram a sua linhagem da Tribo de Judá até David do qual têm que as principais famílias vieram habitar na Espanha nos tempos do cativeiro de Babilónia, ao contrário dos alemães que eles reputam menos .... por virem da Tribo de Benjamim. Acresce a isto que eles excedem aos alemães em engenho e jurisdição; (3) os seus costumes são mais puros, passam por homens mais iguais e mais justos e de boa fé. (4) Têm maior ... e mais fauto e elegância no seu trato; são menos supersticiosos que os alemães, nem afectam como eles singularidade alguma no seu traje e maneiras e não diferem das outras nações com quem vivem senão no culto. (5)
Estas qualidades são as com que se avantajam aos alemães e as que lhes dão aquela elevação de sentimentos e aquele ar com que se portam e com que se fazem mais contemplados das nações estrangeiras.
Em nenhuma parte do mundo têm eles maior acolhimento e segurança do que em Amsterdão, assim pela liberdade de consciência das sete Províncias, quanto pela bondade dos seus moradores (6) ali ocupam a mais bela parte da cidade aonde vivem com todo o esplendor e lusimento. Quando nela pousaram foi Aaron Levita, filho de Uri Levita, o primeiro que os circuncidou (7) nesta cidade erigiram eles a sua primeira Sinagoga a que chamaram Casa de Jacob = do nome de Jacob tirado seu fundador. (8)
Depois fizeram outra de novo a que chamaram = Neve Schalom = isto é, domicílio da Paz; à testa dela esteve Judas Vega, Rabi que viera de África, a que sucedeu Uriel que tão fortemente censurou os defeitos de sua Nação que incorreu no seu ódio, e deu ocasião a que muitos se separassem dele. (9)
Em 1618 erigiram terceira sinagoga a que deram o nome de Beth Israel, isto é, Casa de Israel, debaixo da direcção de David Pardo e como se separaram dos outros foram havidos por cismáticos, mas a primeira sinagoga tomou o seu partido e se uniu com eles. O Cisma em fim cessou depois de vinte anos em 1639.
De todos estas três sinagogas veio a fazer-se depois uma só com a denominação de Talmud Hathorath ou Thora, isto é, Estudo ou Ciência da Lei, a qual é chamada a Sinagoga dos Judeus Portugueses de Amsterdão, o edifício em que ela está foi começado em 1617 e acabado em quatro anos. Quatro judeus portugueses de distinção puseram as quatro pedras angulares do seu fundamento da Sinagoga - Jerónimo Nunes da Costa, António Álvares, Manuel Pinto e David Pinto.
É fundada ao Oriente da cidade, tem 500 pés de comprido e 100 de largo, sem contar a área e as muralhas exteriores; a sua altura do chão até à abóbada é de 70 pés, é espaçosa e clara e por dentro mui perfeita e vistosa por fora, está cercada de um formoso páteo, com suas galerias à maneira de muro que a rodeia correndo da direita e da esquerda ao comprimento da sinagoga; no páteo está o aposento dos Senhores da Mahamad, seis casas dos Medrassim, duas para os Hozanim e uma para o guardião; nos lados tem corredores com colunas para passear e tem três portas, e faz a principal admirável perspectiva por se notarem três abóbadas de que se  forma todo o edifício, das quais as dos lados se sustentam nas paredes, e a do meio em quatro pilares de pedra; de cada lado tem uma galeria para assento das mulheres que sustentam seis colunas de cada parte.
Pendem cinco ordens de magníficos lampadários com seus debuxos dourados na abóbada e em tanta quantidade que fazem o número de 800 luzes; as madeiras são de jacarandá e bordo, com muitos adornos, o artifício compete com o melhor de toda a fábrica. (10) Assim esta sinagoga é dos mais luzidos edifícios da cidade e a maior e a mais bela e magnífica que há em todo o mundo, merecendo por isso os gabos de todos os mestres e sabedores de Arquitectura.
Foi solenemente dedicada em 2 de Agosto de 1675 com grandiosa pompa e solenidade; havendo assinalado este dia pelo mais alegre e bem ditoso que havia tido a Nação depois da ruína de Jerusalem. Os príncipes d’entre os judeus levaram em procissão a Lei e entrando na Sinagoga praticaram actos de sua devoção e deram avultadíssimas esmolas, fizeram grandes festas por espaço de 8 dias, nelas pregaram os seus Deraschot ou Sermões e foram oradores os portugueses Isaac Aboab, Salomão de Oliveira, Isaac Zacuto, Isaac Neto, Elijahu Lopes, D. Isaac Vellosino e D. David Sarpathi.
O principal que pregou no primeiro dia tomou por tema as palavras do Cap. 41 v. 4 do Deuteronomio = Vós estais unidos ao vosso Deus = e mostrou que o tempo dos milagres não havia acabado, se não que Deus só mudará a maneira de os fazer porque então a força os fazia a Deus secretos e ocultos, quando antigamente eram sensíveis e públicos; que um destes milagres secretos era sem dúvida o zelo e a caridade que haviam mostrado na edificação da Sinagoga que consagravam e que isto havia anunciado Ezequiel no Cap. XI, v. 16: Eu serei a ele um pequeno templo no lugar a que vierem.
De todas as orações se fez uma colecção que se publicou depois com este título = Sermões que pregaram os doutos emgenhos da K.K. Talmud - Tora desta cidade de Amsterdão no alegre estreamento e pública celebridade da Esnoga que se consagrou a Deus para casa de oração cuja entrada se festejou em Sabath. Nahamia. Anno 5435 (de Cristo 1675) Estampado em Amsterdão em casa e à conta de David de Castro Tartaz em 4º. (11)
Tão assinalado ficou o dia desta dedicação que ainda hoje celebram o seu aniversário a 2 de Agosto com grandiosas demonstrações de alegria.
O Príncipe de Orange Frederico Henrique e a Rainha Henriqueta Maria, mulher de Carlos, Rei de Inglaterra que muito os favoreceram, foram em pessoa visitar a Sinagoga; e o Rabi português Menaseh Ben Israel lhes recitou em língua portuguesa uma oração gratulatória em nome da sua Nação que fez imprimir em Amsterdão em 402 (de Cristo 1642) dedicado ao Doutor Abraham Ferraz, Aharon Acoen, a Jeosuali Jesurum Rodriguez, a Moseh de Mesquita, a Iahcob Coen Enriquez, e a Habrahão Franco, chefes ou directores da Sinagoga dos Judeus Portugueses em Amsterdão.
Há nesta sinagoga cinco fraternidades ou sociedades Académicas que chamam Kether Thora = Tora or = Jesiba de los Pintos= Tiphereth Bachurim = Meirat Enajein = a principal he Kether Thorah = isto é Corôa da Lei., fundada em 1643, dirigida por muitos e mui sábios homens. Há além disto dez Academias Caritativas intituladasAbi Ietimim, Gemilut Chasadeim, Temime Darech, Ionem Daltim, Maskil el Dal, Se hare, Zedeek, Ketersem Tov. Resith Chochmi, Baale Teschuiva = (12)
A Haia é outra cidade que frequentaram os nossos: para ali se recolhiam de Amsterdão e de outras partes, os mais ricos e poderosos da Nação para gozarem socegadamente dos imensos tesouros que juntavam vivendo prosperamente em soberbas casas com toda a ostentação do luxo. Tem nesta cidade uma grande sinagoga e extremam-se dos Alemães por certos ritos e cerimónias como sucede em Amsterdão. Também alguns se estabeleceram em Hamburgo, entre os que ali se domiciliaram foi um deles o insigne médico Rodrigo de Castro.
Os judeus portugueses de todas estas cidades usam da tradução castelhana da Bíblia de Ferrara, maiormente das Edições de R. Menassés ben Israel de 1630 e de 1646, das de Samuel de Cáceres de 1661 e da de Jacob Lumbroso de 1639 e em particular de Pentateuco do mesmo R. Menassés de 1627 e de 1655, da Parafrase de R. Isaac Aboab de 1681 da versão castelhana de R. José Franco Serrão e de uma versão portuguesa de que faz menção Cristóvão Arnoldo nas suas notas ao Sota Wagen seiliano. (13) Também se servem da tradução castelhana de Miscna impressa em Veneza em 1606, feita quanto parece, por R. Abraham, filho de Reuben ben Nachman de Marrocos, (14) e do Tratado dos Capítulos dos Padres da tradução espanhola de Moses Belmonte, impressa em Amsterdão em 1712, em 8º na oficina de Salomão Praops. com o texto hebreu e com parafrase caldaica do Cântico de Salomão.
Entre todos os judeus portugueses de Holanda os que mais se assinalaram por seu grande saber foram os seguintes: Jacob Jehuda Leão, R. Salomão Jehudah de Leão, Isaac Aboab, Isaac Ben Matalias Abuab, R. Isaac Abas, Samuel Ben Isaac Abas, Rab. Menassé Ben Israel, Abraham Israel Pilzaro, R. Mortera, Aguilar, Nunes, Telles, Pereira, Cardozo e Zacuto.
Pelo que toca às famílias distintas dos judeus portugueses, ali se achavam mais que em nenhuma outra parte do mundo: uma das quais era a dos Abarbaneis de quem faz muita muita menção Levi de Barrios na sua História Universal dos Judeus, falando de José Abarbanel e de seu irmão Menasseh, e de Jonas seu filho (15) e ainda hoje se mantêm outras muitas como a dos Pintos, a de Nunes, da Costa, etc...

Notas:
(1) - Lettres de quelques Juifs Portug., pag. 18.
(2) - Wagenseilo, na obra Para loculo II, pag 126.
(3) - Assim o notam dois grandes escritores dos mesmos alemães Jehudt na obra Memorabilis Judaica, P. 1, pag. 133. Wolfio, Biblioth. Hebr., Tom. II, pag. 1107.
(4) - Este foi o juízo que deles fez, entre outros, o sueco André Morelis, nos Prolegomenos ad Phosphorum Fidei Orthodoscae, pag. 23, contando o grande cisma que houve entre uns e outros por ocasião dos escritos de Chaja Chajon e de R. Nechemia Chaija - Magnos Lusitanos inter ac germanos judeos excitavit motus lusitani autem ut sunt in omnibus aequores cultiores que i ita (sic) laudatum lebrum quieta industria examinarunt eundem que una cum tanto Nehemia auctrrea (sic) sinistris germanorum judiciis publica censura vindicarunt.
(5) - Bramer contum. Releg. , pag. 201.
(6) - Daniel Levi de Barrios, Casa de Israel, pag. 24.
(7) - Daniel Levi de Barrios, na obra Casa de Jacob, pag. 2.
(8) - Desta e das mais Sinagogas que tiveram em amsterdão faz memória Daniel Levi de Barrios na História Universal Judaica; na outra Arbol de las Vidas e na outra Luzes e Flores da Ley Divina = em que expõem a origem do judaísmo em Holanda e a vida de seus primitivos Doutores; Veja-se também António Álvares Soares na Sylva.
(9) - A esta Sinagoga se fez o Diálogo em português = dos Sete Montes Sagrados = que se viam naquela casa, obra a que Rohel Jesurum por outro nome Paulo de Dina, natural de Lisboa, fez uma prefação.
(10) - Vem uma descrição desta Sinagoga na Prefação da Coleção dos Sermões que se pregaram na Dedicação.
(11) - Vej. Daniel de Barros no Governo Popular Judaico, pag. 33. Wolfio, Biblioth. Hebr., Tom. 2, pag. 1284 e Tom. III, pag. 1181. Basnage, Hist. de Jucts, no Tom. V, pag. 2095 e no Tom. IX, pag. 995 e segts. Benthemio, de Statu Belgii Eccles. P. 1, pag. 53 e Jacob Scuda, Memoralia Judaica, Liv. IV. C. IX.
(12) - Delas faz uma descrição Daniel Levi de Barrios, na obra Triumpho del Governo popular y sedilo antiguedad Holay desa an. 443. (de Cristo 1683).
(13) - Pag. 1212.
(14) - Um judeu português trabalhava em 1726 em traduzir todo o Miscn e para isso comprara um exemplar em Veneza que fora da Livraria de Cornélio Schulterigio.
(15) - Daniel Levi de Barrios, Relacion de los Poetas e Escritores Espanholes de la Nacion Judaica, Amsterdão; e Basnage, Hist. des Juifs, C. XXVI, que referem alguns judeus portugueses.

[…]

Placa de rua no Recife (2)

Capítulo X

Dos Judeus Portugueses na América

A América, atraindo os olhos de todos os europeus, convidou também a muitos dos judeus portugueses a que deixando a Pátria ou as terras estranhas para onde se haviam transportado, viessem a estabelecer seu domicílio nos lugares do Brasil. (1) Uns passaram  a estas partes imediatamente do reino e ainda que o snr. Rei D. Sebastião lho proíbiu depois de seu alvará de 30 de Junho de 1567, sempre continuaram a ir, obtendo a princípio licença e dando fiança como no mesmo alvará se lhes permitia e depois ainda sem ela nos tempos da dominação castelhana, que por isso os povos requereram nas Cortes de Lisboa de 1642 que se renovasse a proibição que antigamente se havia feito.
A Baía de Todos Os Santos era uma das cidades do Brasil aonde se estabeleceram muitos deles; lá os acharam os Holandeses quando a conquistaram, que por ventura tiveram muita parte na entrega da cidade, segundo então se suspeitou; pelo menos foram eles os que depois persuadiram aos Índios com o título de Liberdade e de religião a receber o novo jugo, quando o Coronel João Dort lançava bandos em que oferecia fazenda, casa e liberdade de consciência a todos os que quisessem gozar dela e consta que mais de duzentos judeus ali ficaram. (2)
Não só os do Reino mas os mesmos judeus portugueses de Holanda se trespassavam em grande número para o Brasil por ocasião das conquistas dos holandeses e da sua Companhia Ocidental porque vendo Holanda quanto lhe importava para seu comércio valer-se dos cabedais, e pessoas dos judeus do Norte, pôs grande cuidado em fazer com que eles passassem ao Brasil e se interessassem no trato e comércio da terra. (3) Quase todos eles foram assentar seu domicílio em Pernambuco no Arricife e Torres junto a ele e na fortificação nova que os holandeses haviam feito na sua vizinhança (4), chamada Cidade Maurícia, de Maurício de Nazão ou Nassau, seu autor. (5)
Entre os que foram para terras do Brasil ou lá nasceram, deixaram de si assinalada memória os seguintes que aqui poremos: António Mendes R.          Moyses (sic) de Aguilar, António de Montesinos ou Aaron Levi, natural de Vila Flor (6) que havendo ído desde o porto de Honda até a Província de Quito, dali passou a Pernambuco, o qual escreveu uma Relação das Relíquias que achara no Brasil, do Povo de Israel e abriu caminho a que o R. Menassés na sua obra = Esperança de Israel = assentasse como certo que as Dez Tribos estavam ocultas em várias regiões da América, maiormente em terras de Setão, vivendo conforme a Lei de Moysés; Isaac Aboab, natural de castro Daire, na Beira, discípulo de Uziel, de Amsterdão se passou ao Brasil em 1642 e ali foi Presidente da Sinagoga dos Judeus, donde tornou para Amsterdão e sucedeu ao R. Menassés na Cadeira da Gemará (7); Ephraim Soeiro, irmão do mesmo R. Menassés, que o havia enviado ao Brasil para ver se pelo trato do comércio podiam ambos crescer em cabedal e fortuna; Jacob de Andrade Velosino que nasceu em Pernambuco em 1657, no domínio dos holandeses, com os quais depois da Restauração que fizemos, se passou para Amsterdão.

Notas:
(1) - Dos judeus na América falou com erudição Fabrício, na obra “ Lux Salutaris Evangelica “, pag. 754; Wolfio, na Bibliotheca Hebraica, Tom. IV, pag. 515; Besnage, Histoire des Juifs, Liv. VII, C. 4; Coreal, Voyage aux Indes Occidentales, Tom. 1, pag. 291, ed.. de 1722. O Jesuíta Latifau nos “ Costumes dos Selvagens Americanos “ e o anónimo autor da “ Dissertação sobre os Povos da América e sobre a Conformidade dos seus Costumes com os de outros Povos Antigos e Modernos “ que saíu em Amsterdão em 1724, fol . e vem no Tom. 1º dos Costumes Religiosos e outros muitos, dos quais alguns se persuadiram que os Americanos descendiam dos Hebreus.
(2) - D. Gonçalo de Cespedes e Meneses na História de Filipe IV, C. 20, pag. 206, col. 2.
(3) - D. Francisco Manoel = Restauração de Pernambuco, nas Epanáforas, pag. 492.
(4) - Consta do assento e condições com que Pernambuco se entregou ao Mestre de Campo General Francisco Barreto e dos artigos militares que traz D. Francisco Manoel, no lugar acima citado, pags 529 e 536.
(5) - D. Francisco Manoel no lugar acima citado, pag. 489 e 490. - ( A construção denomina-se hoje por Forte Orange ou de Itamaracá )
(6) - Castro, na Bibliotheca Esp., pag. 564, põem Miraflor por Villa flor: sobre este escritor veja-se Basnage na Historia dos Judeus.
(7) - Wolfio, Biblioth. Hebr. Tom. 3, pag. 538; Barrios, na Arbol de las Vidas, pag. 64 e na Vida de Ussel, pag. 45. := Sabio Ishac Aboab en el remoto = Brazil=
(8) - Barrios diz dele na obra Arbol de las Vidas, pag. 79:
= Primero illustró al Brazil
= con virtud, y sciencia summa
Wolfio. 703. Consta da sua obra determinio ( sic ) Vitae Sect. XII, pag. 236. Castro na Biblioth. Esp. pag. 551 chama-lhe cunhado de Menassés, sendo que ele era seu irmão, como ele mesmo lhe chama adiante. ap. 557. [...]

Nota dos editores - 1)Presumimos sejam de António Ribeiro dos Santos (1745-1818). 
2) Fotografia da autoria de Leonardo Dantas Silva no album  "A História dos Judeus dos EUA - Arruando pelo Recife" In Facebook

As Publicações do Blogue:

Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html


As publicações sobre Judeus Covilhanenses:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/02/covilha-judeus-covilhanenses-no-seculo.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/02/covilha-judeus-covilhanenses-no-seculo_10.html

Sem comentários:

Enviar um comentário