Hoje
publicamos algumas informações referentes aos judeus residentes em Amesterdão, bem como no Recife,
Brasil, fugidos ao Tribunal da Inquisição de Portugal. Familiares destes terão deixado
Pernambuco em 1654, após a derrota holandesa, e fundado Nova Amesterdão onde
hoje é Nova York.
Luiz Fernando Carvalho Dias diz-nos que “Mendes dos Remédios em “ Os Judeus portugueses em Amsterdam
“ Coimbra, F. França Amado, 1911 a
pag 197 começa a publicação de um manuscrito que refere a população judaica
portuguesa em Amsterdam no anno de 1675 – onde se encontra nomes usados por
vários judeus da Covilhã, como Fróis, Cáceres, Nunes Henriques, Nunes Cáceres,
Vaz, Chaves, Lara, Lopes Henriques, Furtado, Vilareal, Henriques Álvares,
Mendes Silva, antecipados de apelidos e nomes judaicos; Moreno, Pessoa,
Rodrigues, Coutinho, Pereira, Sória, Cunha, Fundão, etc.”
Nas nossas publicações neste blogue, já
encontrámos muitos destes nomes.
Em seguida apresentamos excertos de Memórias (1) sobre os
judeus portugueses: a aceitação e o papel dos mesmos em Amesterdão, bem como a diáspora que os levou até ao Brasil.
Fizemos questão de pôr hoje esta publicação, porque no texto se refere: “Tão assinalado
ficou o dia desta dedicação (Sinagoga dos Judeus Portugueses de Amsterdão) que ainda hoje
celebram o seu aniversário a 2 de Agosto com grandiosas demonstrações de
alegria.”
[…]
Capítulo V
Dos Judeus
Portugueses nos Países Baixos
Aonde os judeus
portugueses acharam melhor estrela foi nos Países Baixos, maiormente nas cidades mercantis que com muita humanidade
costumavam acolher os estrangeiros. A Holanda que pelas necessidades do seu
comércio se viu obrigada a abrir o seio a todas as seitas do mundo, recebia os
judeus de toda a parte e sabia aproveitar-se de sua desgraça. Os nossos ali
acharam todo o seu amparo. E ainda que a primeira assembleia que eles formaram
em Amsterdão deu princípio (a) alguns crimes do governo por ser em tempos em
que tudo era suspeitoso pela guerra que então se continuava com muito ardor, e
os houveram por católicos romanos que se recatavam e escondiam suas imagens;
contudo como se lhes não acharam mais do que livros hebraicos e a lei de
Moysés, deixaram-nos fazer assento no país com mais firmeza e mais sossego,
maiormente porque entenderam quanto convinha agasalhar uns homens que traziam
imensos cabedais a sua casa e que eram os mais hábeis que então havia em todo o
trato do comércio de que a República necessitava.
Com efeito, eles
foram mais úteis à Holanda do que a franceses refugiados nos fins do século XVI
depois da revogação do Édito de Nantes; estes levaram-lhes muita indústria, mas
poucas riquezas; e os portugueses sobre as quantiosas somas de cabedal lhe
entregaram nas mãos o comércio de toda a Espanha. (1) Eles ensinaram aos holandeses os segredos da nossa
navegação e do nosso comércio da Índia; eles incitaram com os seus tesouros a
que passassem às nossas conquistas e foram a principal causa de se fazer a
poderosíssima Companhia Geral daquele Estado para a Índia porque conseguiram
crescer em lusimento e respeito e em forças tanto navais e mercantis como de
guerra.
Eles, pois, se
estabeleceram tranquilamente em Amsterdão, em Hamburgo, em Anvers, e na Haia. Juntos com os
espanhóis fizeram um mesmo corpo e se intitularam judeus do desterro de
Portugal = separando-se dos judeus alemães que ali havia desde o fim do
século XV a que chamavam Benjamitas pelos haverem por descendentes da tribo de
Benjamim e nesta conta se compreendiam os judeus da Boémia, de Morávia, de
Polónia e de Moscóvia; as suas sinagogas são separadas das dos alemães e ainda
que têm a mesma religião e os mesmos artigos da fé, diversificam todavia por
algumas práticas e cerimónias.
Nas sinagogas não lhes dão assento, uma só família dos
Benjamitas goza desta regalia, em galardão da caridade com que havia acolhido
em outro tempo os desterrados de Espanha e Portugal e cooperado para que os
soberanos da República os deixassem estabelecer-se no país.
Também se não misturavam com os Benjamitas por casamentos e
alianças (2) e chega o divórcio com estes seus irmãos a tal excesso que nunca
nem se incorporam nem se confundem jamais com os outros filhos de Jacob; e se
um judeu português desposou uma judia alemã perde imediatamente as suas
prerrogativas e não é mais reconhecido por membro da Sinagoga, mas fica
inteiramente separado de todo o corpo da Nação nem pode ser enterrado entre os
portugueses; quase praticam o mesmo a respeito dos judeus italianos posto que
os hajam em melhor conta que aos alemães.
Esta distinção e
sobranceria com que se tratam os portugueses nasce da ideia em que estão
geralmente, de que tiram a sua linhagem da Tribo de Judá até David do qual têm
que as principais famílias vieram habitar na Espanha nos tempos do cativeiro de
Babilónia, ao contrário dos alemães que eles reputam menos .... por virem da Tribo de Benjamim. Acresce a isto que
eles excedem aos alemães em engenho e jurisdição; (3) os seus costumes são mais
puros, passam por homens mais iguais e mais justos e de boa fé. (4) Têm maior
... e mais fauto e elegância no seu trato; são menos supersticiosos que os
alemães, nem afectam como eles singularidade alguma no seu traje e maneiras e
não diferem das outras nações com quem vivem senão no culto. (5)
Estas qualidades
são as com que se avantajam aos alemães e as que lhes dão aquela elevação de
sentimentos e aquele ar com que se portam e com que se fazem mais contemplados
das nações estrangeiras.
Em nenhuma parte do mundo têm eles maior acolhimento e
segurança do que em Amsterdão, assim pela liberdade de consciência das sete
Províncias, quanto pela bondade dos seus moradores (6) ali ocupam a mais bela
parte da cidade aonde vivem com todo o esplendor e lusimento. Quando nela
pousaram foi Aaron Levita, filho de Uri Levita, o primeiro que os circuncidou
(7) nesta cidade erigiram eles a sua primeira Sinagoga a que chamaram Casa de
Jacob = do nome de Jacob tirado seu fundador. (8)
Depois fizeram outra de novo a que chamaram = Neve Schalom
= isto é, domicílio da Paz; à testa dela esteve Judas Vega, Rabi que viera de
África, a que sucedeu Uriel que tão fortemente censurou os defeitos de sua
Nação que incorreu no seu ódio, e deu ocasião a que muitos se separassem dele.
(9)
Em 1618 erigiram terceira sinagoga a que deram o nome de
Beth Israel, isto é, Casa de Israel, debaixo da direcção de David Pardo e como
se separaram dos outros foram havidos por cismáticos, mas a primeira sinagoga
tomou o seu partido e se uniu com eles. O Cisma em fim cessou depois de vinte
anos em 1639.
De todos estas
três sinagogas veio a fazer-se depois uma só com a denominação de Talmud
Hathorath ou Thora, isto é, Estudo ou Ciência da Lei, a qual é chamada a
Sinagoga dos Judeus Portugueses de Amsterdão, o edifício em que ela está foi
começado em 1617 e acabado em quatro anos. Quatro judeus portugueses de
distinção puseram as quatro pedras angulares do seu fundamento da Sinagoga -
Jerónimo Nunes da Costa, António Álvares, Manuel Pinto e David Pinto.
É fundada ao
Oriente da cidade, tem 500 pés de comprido e
100 de largo, sem contar a área e as muralhas exteriores; a sua altura do chão
até à abóbada é de 70 pés , é espaçosa e
clara e por dentro mui perfeita e vistosa por fora, está cercada de um formoso
páteo, com suas galerias à maneira de muro que a rodeia correndo da direita e
da esquerda ao comprimento da sinagoga; no páteo está o aposento dos Senhores
da Mahamad, seis casas dos Medrassim, duas para os Hozanim e uma para o
guardião; nos lados tem corredores com colunas para passear e tem três portas,
e faz a principal admirável perspectiva por se notarem três abóbadas de que
se forma todo o edifício, das quais as
dos lados se sustentam nas paredes, e a do meio em quatro pilares de pedra; de
cada lado tem uma galeria para assento das mulheres que sustentam seis colunas
de cada parte.
Pendem cinco
ordens de magníficos lampadários com seus debuxos dourados na abóbada e em
tanta quantidade que fazem o número de 800 luzes; as madeiras são de jacarandá
e bordo, com muitos adornos, o artifício compete com o melhor de toda a
fábrica. (10) Assim esta sinagoga é dos mais luzidos edifícios da cidade e a
maior e a mais bela e magnífica que há em todo o mundo, merecendo por isso os
gabos de todos os mestres e sabedores de Arquitectura.
Foi solenemente
dedicada em 2 de Agosto de 1675 com grandiosa pompa e solenidade; havendo assinalado este dia pelo mais alegre
e bem ditoso que havia tido a Nação depois da ruína de Jerusalem. Os príncipes
d’entre os judeus levaram em procissão a Lei e entrando na Sinagoga praticaram
actos de sua devoção e deram avultadíssimas esmolas, fizeram grandes festas
por espaço de 8 dias, nelas pregaram os seus Deraschot ou Sermões e foram
oradores os portugueses Isaac Aboab, Salomão de Oliveira, Isaac Zacuto, Isaac
Neto, Elijahu Lopes, D. Isaac Vellosino e D. David Sarpathi.
O principal que pregou no primeiro dia tomou por tema as
palavras do Cap. 41 v. 4 do Deuteronomio = Vós estais unidos ao vosso Deus = e
mostrou que o tempo dos milagres não havia acabado, se não que Deus só mudará a
maneira de os fazer porque então a força os fazia a Deus secretos e ocultos,
quando antigamente eram sensíveis e públicos; que um destes milagres secretos
era sem dúvida o zelo e a caridade que haviam mostrado na edificação da
Sinagoga que consagravam e que isto havia anunciado Ezequiel no Cap. XI, v. 16:
Eu serei a ele um pequeno templo no lugar a que vierem.
De todas as orações se fez uma colecção que se publicou
depois com este título = Sermões que pregaram os doutos emgenhos da K.K. Talmud
- Tora desta cidade de Amsterdão no alegre estreamento e pública celebridade da
Esnoga que se consagrou a Deus para casa de oração cuja entrada se festejou em
Sabath. Nahamia. Anno 5435 (de Cristo 1675) Estampado em Amsterdão em casa e
à conta de David de Castro Tartaz em 4º. (11)
Tão assinalado
ficou o dia desta dedicação que ainda hoje celebram o seu aniversário a 2 de
Agosto com grandiosas demonstrações de alegria.
O Príncipe de
Orange Frederico Henrique e a Rainha Henriqueta Maria, mulher de Carlos, Rei de
Inglaterra que muito os favoreceram, foram em pessoa visitar a Sinagoga; e o
Rabi português Menaseh Ben Israel lhes recitou em língua portuguesa uma oração
gratulatória em nome da sua Nação que fez imprimir em Amsterdão em 402 (de
Cristo 1642) dedicado ao Doutor Abraham Ferraz, Aharon Acoen, a Jeosuali
Jesurum Rodriguez, a Moseh de Mesquita, a Iahcob Coen Enriquez, e a Habrahão
Franco, chefes ou directores da Sinagoga dos Judeus Portugueses em Amsterdão.
Há nesta sinagoga cinco fraternidades ou sociedades
Académicas que chamam Kether Thora = Tora or = Jesiba de los Pintos= Tiphereth
Bachurim = Meirat Enajein = a principal he Kether Thorah = isto é Corôa da
Lei., fundada em 1643, dirigida por muitos e mui sábios homens. Há além disto
dez Academias Caritativas intituladasAbi Ietimim, Gemilut Chasadeim, Temime
Darech, Ionem Daltim, Maskil el Dal, Se hare, Zedeek, Ketersem Tov. Resith
Chochmi, Baale Teschuiva = (12)
A Haia é outra
cidade que frequentaram os nossos: para
ali se recolhiam de Amsterdão e de outras partes, os mais ricos e poderosos da
Nação para gozarem socegadamente dos imensos tesouros que juntavam vivendo
prosperamente em soberbas casas com toda a ostentação do luxo. Tem nesta cidade
uma grande sinagoga e extremam-se dos Alemães por certos ritos e cerimónias
como sucede em Amsterdão. Também alguns se estabeleceram em Hamburgo, entre os
que ali se domiciliaram foi um deles o insigne médico Rodrigo de Castro.
Os judeus portugueses de todas estas cidades usam da
tradução castelhana da Bíblia de Ferrara, maiormente das Edições de R. Menassés
ben Israel de 1630 e de 1646, das de Samuel de Cáceres de 1661 e da de Jacob
Lumbroso de 1639 e em particular de Pentateuco do mesmo R. Menassés de 1627 e
de 1655, da Parafrase de R. Isaac Aboab de 1681 da versão castelhana de R. José
Franco Serrão e de uma versão portuguesa de que faz menção Cristóvão Arnoldo
nas suas notas ao Sota Wagen seiliano. (13) Também se servem da tradução
castelhana de Miscna impressa em Veneza em 1606, feita quanto parece, por R.
Abraham, filho de Reuben ben Nachman de Marrocos, (14) e do Tratado dos
Capítulos dos Padres da tradução espanhola de Moses Belmonte, impressa em
Amsterdão em 1712, em 8º na oficina de Salomão Praops. com o texto hebreu e com
parafrase caldaica do Cântico de Salomão.
Entre todos os
judeus portugueses de Holanda os que mais se assinalaram por seu grande saber
foram os seguintes: Jacob Jehuda Leão, R. Salomão Jehudah de Leão, Isaac Aboab,
Isaac Ben Matalias Abuab, R. Isaac Abas, Samuel Ben Isaac Abas, Rab. Menassé
Ben Israel, Abraham Israel Pilzaro, R. Mortera, Aguilar, Nunes, Telles,
Pereira, Cardozo e Zacuto.
Pelo que toca às famílias distintas dos judeus portugueses,
ali se achavam mais que em nenhuma outra parte do mundo: uma das quais era a
dos Abarbaneis de quem faz muita muita menção Levi de Barrios na sua História
Universal dos Judeus, falando de José Abarbanel e de seu irmão Menasseh, e de
Jonas seu filho (15) e ainda hoje se mantêm outras muitas como a dos Pintos, a
de Nunes, da Costa, etc...
Notas:
(1) - Lettres de quelques Juifs
Portug., pag. 18.
(2) - Wagenseilo, na obra Para
loculo II, pag 126.
(3) - Assim o notam dois grandes
escritores dos mesmos alemães Jehudt na obra Memorabilis Judaica, P. 1, pag.
133. Wolfio, Biblioth. Hebr., Tom. II, pag. 1107.
(4) - Este foi o juízo que deles
fez, entre outros, o sueco André Morelis, nos Prolegomenos ad Phosphorum Fidei
Orthodoscae, pag. 23, contando o grande cisma que houve entre uns e outros por
ocasião dos escritos de Chaja Chajon e de R. Nechemia Chaija - Magnos Lusitanos
inter ac germanos judeos excitavit motus lusitani autem ut sunt in omnibus
aequores cultiores que i ita (sic) laudatum lebrum quieta industria examinarunt
eundem que una cum tanto Nehemia auctrrea (sic) sinistris germanorum judiciis
publica censura vindicarunt.
(5) - Bramer contum. Releg. , pag.
201.
(6) - Daniel Levi de Barrios, Casa
de Israel, pag. 24.
(7) - Daniel Levi de Barrios, na
obra Casa de Jacob, pag. 2.
(8) - Desta e das mais Sinagogas que
tiveram em amsterdão faz memória Daniel Levi de Barrios na História Universal
Judaica; na outra Arbol de las Vidas e na outra Luzes e Flores da Ley Divina =
em que expõem a origem do judaísmo em Holanda e a vida de seus primitivos
Doutores; Veja-se também António Álvares Soares na Sylva.
(9) - A esta Sinagoga se fez o
Diálogo em português = dos Sete Montes Sagrados = que se viam naquela casa,
obra a que Rohel Jesurum por outro nome Paulo de Dina, natural de Lisboa, fez
uma prefação.
(10) - Vem uma descrição desta
Sinagoga na Prefação da Coleção dos Sermões que se pregaram na Dedicação.
(11) - Vej. Daniel de Barros no
Governo Popular Judaico, pag. 33. Wolfio, Biblioth. Hebr., Tom. 2, pag. 1284 e
Tom. III, pag. 1181. Basnage, Hist. de Jucts, no Tom. V, pag. 2095 e no Tom.
IX, pag. 995 e segts. Benthemio, de Statu Belgii Eccles. P. 1, pag. 53 e Jacob
Scuda, Memoralia Judaica, Liv. IV. C. IX.
(12) - Delas faz uma descrição
Daniel Levi de Barrios, na obra Triumpho del Governo popular y sedilo
antiguedad Holay desa an. 443. (de Cristo 1683).
(13) - Pag. 1212.
(14) - Um judeu português trabalhava
em 1726 em traduzir todo o Miscn e para isso comprara um exemplar em Veneza que
fora da Livraria de Cornélio Schulterigio.
(15) - Daniel Levi de Barrios,
Relacion de los Poetas e Escritores Espanholes de la Nacion Judaica, Amsterdão;
e Basnage, Hist. des Juifs, C. XXVI, que referem alguns judeus portugueses.
[…]
Placa de rua no Recife (2) |
Capítulo X
Dos Judeus
Portugueses na América
A América, atraindo os olhos de todos os europeus, convidou
também a muitos dos judeus portugueses a que deixando a Pátria ou as terras
estranhas para onde se haviam transportado, viessem a estabelecer seu domicílio
nos lugares do Brasil. (1) Uns passaram
a estas partes imediatamente do reino e ainda que o snr. Rei D.
Sebastião lho proíbiu depois de seu alvará de 30 de Junho de 1567, sempre
continuaram a ir, obtendo a princípio licença e dando fiança como no mesmo
alvará se lhes permitia e depois ainda sem ela nos tempos da dominação
castelhana, que por isso os povos requereram nas Cortes de Lisboa de 1642 que
se renovasse a proibição que antigamente se havia feito.
A Baía de Todos
Os Santos era uma das cidades do Brasil aonde se estabeleceram muitos deles; lá
os acharam os Holandeses quando a conquistaram, que por ventura tiveram muita
parte na entrega da cidade, segundo então se suspeitou; pelo menos foram eles
os que depois persuadiram aos Índios com o título de Liberdade e de religião a
receber o novo jugo, quando o Coronel João Dort lançava bandos em que oferecia
fazenda, casa e liberdade de consciência a todos os que quisessem gozar dela e
consta que mais de duzentos judeus ali ficaram. (2)
Não só os do
Reino mas os mesmos judeus portugueses de Holanda se trespassavam em grande
número para o Brasil por ocasião das conquistas dos holandeses e da sua
Companhia Ocidental porque vendo Holanda quanto lhe importava para seu comércio
valer-se dos cabedais, e pessoas dos judeus do Norte, pôs grande cuidado em
fazer com que eles passassem ao Brasil e se interessassem no trato e comércio
da terra. (3) Quase todos eles foram assentar seu domicílio em Pernambuco no
Arricife e Torres junto a ele e na fortificação nova que os holandeses haviam
feito na sua vizinhança (4), chamada Cidade Maurícia, de Maurício de Nazão ou
Nassau, seu autor. (5)
Entre os que
foram para terras do Brasil ou lá nasceram, deixaram de si assinalada memória
os seguintes que aqui poremos: António Mendes R. Moyses (sic) de Aguilar, António de
Montesinos ou Aaron Levi, natural de Vila Flor (6) que havendo ído desde o
porto de Honda até a Província de Quito, dali passou a Pernambuco, o qual
escreveu uma Relação das Relíquias que achara no Brasil, do Povo de Israel e
abriu caminho a que o R. Menassés na sua obra = Esperança de Israel =
assentasse como certo que as Dez Tribos estavam ocultas em várias regiões da
América, maiormente em terras de Setão, vivendo conforme a Lei de Moysés; Isaac
Aboab, natural de castro Daire, na Beira, discípulo de Uziel, de Amsterdão se
passou ao Brasil em 1642 e ali foi Presidente da Sinagoga dos Judeus, donde
tornou para Amsterdão e sucedeu ao R. Menassés na Cadeira da Gemará (7);
Ephraim Soeiro, irmão do mesmo R. Menassés, que o havia enviado ao Brasil para
ver se pelo trato do comércio podiam ambos crescer em cabedal e fortuna; Jacob
de Andrade Velosino que nasceu em Pernambuco em 1657, no domínio dos
holandeses, com os quais depois da Restauração que fizemos, se passou para Amsterdão.
Notas:
(1) - Dos judeus na América falou
com erudição Fabrício, na obra “ Lux Salutaris Evangelica “, pag. 754; Wolfio,
na Bibliotheca Hebraica, Tom. IV, pag. 515; Besnage, Histoire des Juifs, Liv.
VII, C. 4; Coreal, Voyage aux Indes Occidentales, Tom. 1, pag. 291, ed.. de
1722. O Jesuíta Latifau nos “ Costumes dos Selvagens Americanos “ e o anónimo
autor da “ Dissertação sobre os Povos da América e sobre a Conformidade dos
seus Costumes com os de outros Povos Antigos e Modernos “ que saíu em Amsterdão
em 1724, fol . e vem no Tom. 1º dos Costumes Religiosos e outros muitos, dos
quais alguns se persuadiram que os Americanos descendiam dos Hebreus.
(2) - D. Gonçalo de Cespedes e
Meneses na História de Filipe IV, C. 20, pag. 206, col. 2.
(3) - D. Francisco Manoel =
Restauração de Pernambuco, nas Epanáforas, pag. 492.
(4) - Consta do assento e condições
com que Pernambuco se entregou ao Mestre de Campo General Francisco Barreto e
dos artigos militares que traz D. Francisco Manoel, no lugar acima citado, pags
529 e 536.
(5) - D. Francisco Manoel no lugar
acima citado, pag. 489 e 490. - ( A
construção denomina-se hoje por Forte Orange ou de Itamaracá )
(6) - Castro, na Bibliotheca Esp.,
pag. 564, põem Miraflor por Villa flor: sobre este escritor veja-se Basnage na
Historia dos Judeus.
(7) - Wolfio, Biblioth. Hebr. Tom.
3, pag. 538; Barrios, na Arbol de las Vidas, pag. 64 e na Vida de Ussel, pag.
45. := Sabio Ishac Aboab en el remoto = Brazil=
(8) - Barrios diz dele na obra Arbol
de las Vidas, pag. 79:
= Primero illustró al Brazil
= con virtud, y sciencia summa
Wolfio. 703. Consta da sua obra
determinio ( sic ) Vitae Sect. XII, pag. 236. Castro na Biblioth. Esp. pag. 551
chama-lhe cunhado de Menassés, sendo que ele era seu irmão, como ele mesmo lhe
chama adiante. ap. 557. [...]
Nota dos editores - 1)Presumimos sejam de António Ribeiro dos Santos (1745-1818).
2) Fotografia da autoria de Leonardo Dantas Silva no album "A História dos Judeus dos EUA - Arruando pelo Recife" In Facebook
As Publicações do Blogue:
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html
As publicações sobre Judeus Covilhanenses:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/02/covilha-judeus-covilhanenses-no-seculo.html
As Publicações do Blogue:
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html
As publicações sobre Judeus Covilhanenses:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/02/covilha-judeus-covilhanenses-no-seculo.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/02/covilha-judeus-covilhanenses-no-seculo_10.html
Sem comentários:
Enviar um comentário