Inquérito social XI
Continuamos
a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da
Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da
autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.
Capítulo
VI
Bens
Mobiliários
Os bens
mobiliários do operário não chegam, por vezes, para atender ao baixo nível de
vida da nossa população. Se entrarmos nas suas casas, sobretudo se a família é
numerosa, não nos passará desapercebida a exiguidade dos bens mobiliários e a
pobreza dos existentes.
Chamamos
a atenção dos leitores para a estatística dos teares manuais, publicada atrás,
que não repetimos para não sobrecarregar este relatório.
Quanto
ao direito ao ofício chamamos a atenção para o capítulo “Economia”.
Capítulo
VII
Espécie
de Trabalho
O
trabalho na indústria de lanifícios está dividido por várias secções, sendo
elas as seguintes: preparação e lavagem de lãs; fiação; tecelagem; ultimação e
tinturaria; serviço de escritório, serviço auxiliar e serventia.
A
fábrica completa é aquela que agrupa todas as secções; fábrica especializada a
que tem só uma secção, ou algumas secções com o predomínio de qualquer delas.
Dentro de cada secção há vários graus de direcção e vários misteres; há operários
especializados e operários não especializados: Conforme o mister em que se
empregam é considerado especializado ou não. Esta distinção entre os oficios
especializados e não especializados é de grande importância, pois é através
dela que se fixam salários. A FNIL, através da circular 5, estabeleceu quais os
ofícios que se deviam considerar especializados.
No
trabalho dos lanifícios aparecem ofícios exclusivos dos homens, ofícios
reservados às mulheres e trabalhos próprios dos menores. Não há, porém, um diploma
corporativo donde isso se estabeleça; foi o costume que o sancionou. Seria
conveniente determinar se este costume deveria ou não ser obrigatório à face da
legislação corporativa. A existência dele exige uma fiscalização mais apertada
e constante, pois conduz a abusos frequentes. Em regiões afastadas da sede dos
grémios ou com dificuldades de comunicação, os horários de trabalho sofrem, por
vezes, bastantes atropelos. Nos centros industriais, a existência dos segundos
turnos dá possibilidades ao patrão de aumentar o número de pessoal com licença
para trabalhar, usando, por vezes, pessoal que já trabalhou no turno anterior,
com prejuízo destes operários e também dos desempregados. No grémio de
Castanheira de Pera e no grémio do Norte encontrámos frequentes deficiências
neste assunto.
***
O
trabalho é manual ou maquinal. Misteres há, onde predomina só a máquina, outros
onde predomina o trabalho do homem. No tear manual predomina a força e o
trabalho do tecelão; no tear mecânico o tecelão assiste ao tecer da fazenda,
limitando-se a afinar a máquina e a corrigir certos defeitos dela. É de
trabalho manual exclusivo o serviço da espinça, da cerzideira e da metedeira de
fios.
O
trabalho pode decorrer na fábrica ou em casa do operário: trabalho caseiro é usado
nas regiões onde predomina a indústria regional e na tecelagem manual, dispersa
pelo concelho da Covilhã, na espinça, na cerzidura, e no meter fios em quase
todos os centros fabris dos lanifícios. Se esta forma de trabalho tem grandes
vantagens sociais, pois representa, no trabalho feminino, a maneira de guardar
a mulher no lar, sem retirar as vantagens que o seu trabalho pode dar à
economia familiar, tem grandes inconvenientes como, por exemplo, a
impossibilidade de se fiscalizar os horários de trabalho. Há uma região do país
em que os industriais, desejando diminuir os encargos provenientes da garantia
do trabalho, durante um ano, aos seus tecelões, constituiram os quadros com um
número de operários, tecelões manuais, inferior às suas necessidades de produção
e obrigaram-nos a apresentar mais serviço do que aquele que é normalmente
possível realizar em oito horas de trabalho. Como a fiscalização é difícil de
realizar pelas aldeias do concelho da Covilhã, quiseram os industriais levar
esses operários ao risco de serem multados. Quando a fiscalização chegou, como
o responsável era o operário, este viu-se na necessidade de retirar ao seu
magro salário de empreitada o produto da multa pela transgressão em que ele,
aliás, pouca responsabilidade tinha. Se, em vez de optar por esta solução, se
limitasse a não cumprir as ordens do industrial ficaria desempregado, porque
até hoje ainda não existe, na indústria de lanifícios, a maneira legal de
obrigar um patrão a readmitir um operário ilegitimamente despedido. Espera-se
que o contrato colectivo venha a resolver este problema.
***
A
duração do trabalho varia conforme os centros: se as oito horas marcam, muitas
vezes, o limite máximo do trabalho, não marcam, contudo, o limite mínimo. Em
Cebolais encontrámos mulheres a trabalhar “à hora” e de sol a sol. Nos centros
onde a indústria é menos importante, acontece a mesma coisa.
Na
tecelagem manual dispersa no concelho da Covilhã, como o trabalho é de
empreitada, os tecelões procuram passar por cima dos horários de trabalho. As
razões disso fundam-se não só na natureza da empreitada, na falta de
fiscalização e também no facto apresentado, linhas atrás.
O
remédio para este mal seria a reunião dos teares em oficinas apropriadas, nas
aldeias onde eles predominam. Esta medida dava azo a impedir que a necessidade
de trabalho do operário manual fosse explorada pelo patrão, dador do trabalho,
na distribuição das peças e no desconto das férias. Infelizmente a boa fé é uma
ideia generosa de que os tempos nos obrigam a duvidar.
O
trabalho de sol a sol que se pratica em certas regiões, as menos
industrializadas, provém do costume do trabalho agrícola. É mesmo usada entre
operários que são ao mesmo tempo, agricultores e tecelões ou operários de
outros misteres dentro dos lanifícios. Como diz Sombart, e referimos noutro
lugar deste relatório, o seu salário industrial não é mais nem menos do que um
complemento do salário agrícola. A proibição de qualquer das duas actividades,
equivale à ruína desta gente. Nem a indústria é tão lucrativa, na forma por
eles usada, que lhes baste para viver, nem a agricultura é suficiente para seu
sustento. Acima das razões estéticas que possam presidir à organização da
economia, há um facto que nem a política nem a mesma economia permite que se
esqueça: os operários que são, ao mesmo tempo operários da agricultura, não
podem ficar na miséria.
***
Nos
diferentes grémios usa-se uma terminologia própria tanto para designar os
misteres, como os instrumentos de trabalho. Conviria, para efeito de fiscalização
e de informação a dar pelo industrial, a unificação da nomenclatura.
***
Profissões
|
||
Empregados de escritório
|
Desbarragem
|
Prensa
|
Empregados de armazém
|
Desenhadores
|
Preparação
|
Operários de armazém
|
Enleadeiras
|
Râmola
|
Acabamento ou ultimação
|
Enchedeiras
|
Reparação do fio
|
Ajuntadeiras
|
Esfarrapadeiras
|
Retorcedores
|
Apartadores de bobines
|
Espinça
|
Rolos
|
Apartadores de desperdício
|
Estufadores de fio
|
Debuxadores
|
Apartadores de fio
|
Fiandeiros
|
Afinadores de teares
|
Apartadores de lã
|
Pega fios
|
Afinadores doutras máquinas
|
Apartadores de trapo e mungo
|
Fiação
|
Ajudante de debuxador
|
Apontadores
|
Conserto de rolos das fiações
|
Ajudante de afinador
|
Barretes (operários encarregados dos ...)
|
Deitar cardas às fiações
|
Tecelagem mecânica
|
Bataneiros ou pisoeiros
|
Revestir de rolos as fiações
|
Tecelagem manual
|
Bobinagem
|
Lavadoria
|
Tinturaria
|
Bordadores
|
Lustro
|
Tesoura
|
Canelagem
|
Marcadores
|
Vaporização de fio
|
Carbonizadores
|
Metedeiras de fio
|
Serventia
|
Cardadores (de penteado e simples)
|
Passagem de Fazenda
|
Serviços auxiliares
|
Cerzideiras
|
Penteação
|
Carpinteiros
|
Contínuos de fiar
|
Perchas
|
Serralheiros, etc...
|
Cordão (operários de fazer)
|
Pregadores
|
As Publicações do Blogue:
Capítulos anteriores do Inquérito Social:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
Inquéritos VII - V
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-inqueritos-industria-dos.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-inqueritos-industria-dos.html
Inquéritos VIII - VI
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-inqueritos-industria-dos_17.html
Inquéritos IX - VII
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/10/covilha-inqueritos-industria-dos.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-inqueritos-industria-dos_17.html
Inquéritos IX - VII
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/10/covilha-inqueritos-industria-dos.html
Inquéritos X - VIII
Inquéritos XII - X
Sem comentários:
Enviar um comentário