Inquérito Social XX
Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias realizado em 1937-38.
Capítulo X
FAMÍLIA
(Continuação)
É agora ocasião de fazer referência ao trabalho das mulheres
dentro da indústria de lanifícios. A posição da mulher na família tem uma
grande importância para o estudo moral, social e económico de uma população.(Continuação)
A mulher que
trabalha nas fábricas sofre vulgarmente uma desvalorização na sua consciência
moral, começa a olhar a vida com óculos diferentes; ganhando para si, sente
necessidade de maior independência, levando-a, por isso, a não ligar a certos
conceitos sociais e morais; afasta-se da vida familiar, acostumando-se a certa
liberdade que na família não pode ter; fazendo uma concorrência ao trabalho do
homem provoca um aviltamento de salários.
Na sequência
do exposto, vamos comparar a mão de obra masculina com a mão de obra feminina,
tendo em vista a população de cada grémio:
Portanto
concluimos daqui que a mão de obra feminina nos grémios do norte e do sul é
superior à mão de obra masculina. O grémio da Covilhã é aquele onde, em
proporção, a mão de obra feminina é menor. Para que a percentagem da mão de
obra feminina no grémio do Sul fosse proporcional à da Covilhã, era preciso que
em vez das 1.576 mulheres que nele trabalham, trabalhassem 703. Na Covilhã há
profissões exclusivamente para homens, como a tecelagem e a tinturaria.
Conviria, até por uma razão de justiça económica, sem havermos de atender ao
ponto de vista moral, determinar que certas profissões fossem reservadas
exclusivamente para os homens; naqueles centros em que não houvesse um número
de homens suficiente para as preencher, recorrer-se-ia ao trabalho feminino,
remunerado, porém, como se os assalariados fossem masculinos. Evitar-se ia,
assim, que o aumento do trabalho feminino conduzisse ao aviltamento de
salários.
A protecção
ao trabalho masculino equivale ainda a uma consequente protecção da família,
pois dá azo a que novas famílias se constituam e, daí, a um aumento da
população.
Conclui-se
que, mesmo depois de feita a discriminação das três alíneas, a Covilhã continua
a ser a região do país onde, em proporção, o trabalho feminino é menos
explorado.
A classe A (<18 anos) é
constituída, geralmente, por filhas de família: pretendem com o seu trabalho
aumentar o salário familiar. Dão quase todo o salário aos pais.
A classe B (Solteiras >18 anos) é
constituída por operárias solteiras com mais de 18 anos: sendo filhas de
família pagam aos pais uma certa quantia pela alimentação, guardando o resto
para vestir e calçar e outros extraordinários, entre os quais, predomina o
luxo; operárias solteiras, com filhos, que trabalham para o sustento próprio e
dos filhos, e que vivem com estes; operárias solteiras sem encargos de família,
que vivem unicamente do seu trabalho.
A classe C (Mulheres em estado conjugal) é
constituída por aquelas mulheres que vivem em estado matrimonial e trabalham
nas fábricas, ou porque o trabalho do homem é diminuto, ou porque este não
trabalha; é constituída ainda por aquelas cujos maridos trabalham, mas pelo facto do casal não ter
filhos, ou tê-los já criados, não é essencial em casa a sua presença e por
aquelas mulheres cujos maridos emigraram.
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Na classe C
fizemos referência a todas as mulheres em estado matrimonial que vivem na
indústria dos lanifícios. Nesse número estavam, portanto, incluídas as mulheres
dos operários que trabalham na indústria. Mas como tem interesse saber-se
separadamente o seu número, vamos apresentá-lo em seguida:
Covilhã
........... 255
Gouveia
...........145
Sul
...................105
Castanheira
...... 28
Norte
................ 27
As 255 mulheres, casadas com operários de lanifícios, no
grémio da Covilhã, são, em geral, mulheres casadas há pouco tempo; mulheres sem
filhos, mulheres com maridos inválidos ou desempregados; mulheres cujos maridos
são pegadores de fios; e mulheres que trabalham em casa, em serviços industriais
de espinça ou meter fios.
Nos outros
grémios as mulheres dos operários empregam-se por razões idênticas.
No grémio de
Gouveia existem bastantes mulheres que saíram da fábrica quando casaram, mas
que voltaram a ela pela emigração dos maridos.
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Casais sem
filhos
Segue-se uma
estatística dos operários sem filhos que vivem em estado matrimonial.
Encontram-se nestas circunstâncias 1.341 operários. Predominam entre eles os
que têm menos de 40 anos de idade, pelo que somos levados a concluir que a
maioria deles casou há pouco tempo e que, em nova estatística entrariam já no
número dos operários casados, com filhos. Nos boletins destes operários
encontra-se muitas vezes em resposta à pergunta “tem filhos?”, esta expressão:
“em vésperas” e “a mulher está grávida”.
A
distribuição dos casais sem filhos, conforme o estado civil, pode consultar-se
no final deste capítulo.
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Casais com
filhos
Procurou-se
com as estatísticas dos casais com filhos, dar à FNIL a possibilidade de
calcular, em qualquer momento, os encargos que um salário familiar poderia
acarretar e ao mesmo tempo mostrar neste inquérito, a constituição da família
operária e o seu possível aumento.
Já ficou
transcrita atrás a idade dos operários casados, sem filhos, passamos, por isso,
a apresentar uma estatística referente à idade dos operários que vivem em
estado matrimonial e têm filhos:
Capítulos anteriores do Inquérito Social:
Inquéritos XI - IX
(Continua)
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