Inquérito Social XXIII
Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.
Assistência Médica e Social
A
assistência social é prestada aos operários através do Instituto Nacional do
Trabalho e do organismo católico da JOC. O Instituto Nacional do Trabalho,
pelas informações colhidas entre os operários de Lisboa, a quando do Inquérito,
não é conhecido. Na Covilhã a sua acção é notável; em Gouveia, ao tempo do
inquérito, também pouca influência exercera e o mesmo se pode dizer de
Castanheira de Pera. Os operários do Norte mostraram conhecer-lhe bem os
benefícios.
Com assistência
não queremos referir-nos à assistência dos médicos das Companhias de Seguros, provocada
pelos acidentes de trabalho, mas à assistência médica vulgar, sempre que haja
doença do operário. Esta assistência médica é prestada por Associações de
Socorros Mútuos, de que os operários são associados e, excepcionalmente pelas
fábricas, que tem médico próprio para os seus operários.
Assim,
segundo os nossos boletins de inquérito, na Covilhã há 1630 operários que
têm assistência médica; esta é prestada pela associação de Socorros Mútuos
Covilhanense e pelas Casas do Povo de Aldeia de Carvalho e pela Associação
Católica Feminina Operária.
No Tortosendo há operários, sócios de
Caixas de Previdência, estas sem aprovação oficial, constituída por pequenos
grupos de amigos e por alguns sócios da Associação de Socorros Mútuos
Covilhanense.
Em
Cebolais apenas 5 operários têm assistência médica, mas são naturais da
Covilhã.
No Teixoso
há 138 operários de lanifícios inscritos na Casa do Povo, com assistência
médica e outros benefícios, mediante uma cota de $50 mensais.
Nesta região
da Covilhã, operários há que são sócios da Associação Mutualista Covilhanense e
das Casas do Povo de Aldeia de Carvalho e do Teixoso, conjuntamente.
Tanto a
Associação de Socorros Mútuos Covilhanense, cujos estatutos juntamos, como a
Associação Católica Feminina, além da assistência médica prestam outros
serviços materiais valiosos aos seus associados.
Em Unhais
da Serra, na “Penteadora”, está estabelecida uma Caixa de Previdência para
a qual os operários concorrem com 8% dos seus salários. Porém, segundo os
nossos boletins de inquérito, à data em que eles foram preenchidos, os
operários da referida fábrica não tinham assistência médica.
No grémio
de Gouveia: temos 196 operários com assistência médica. Destes 81 são
sócios da Casa do Povo de Manteigas que pagam a cota mensal de 1$00; 5 de uma
Casa do Povo, perto de Viseu; 5 de Seia; 1 na Guarda; 4 em Sampaio e 100 de
Gouveia.
No grémio
do Sul há 3 fábricas onde nos declararam que havia médico à disposição dos
operários. Em Arrentela há uma Caixa de Socorros, dentro da fábrica, para a qual
os operários concorrem com 1$00 semanais. Em Santa Clara, de Coimbra, os
operários costumam dar a guardar o seu dinheiro aos usurários do lugar, que o
manobram por sua conta, em troca de serviços clínicos.
Em Lisboa
há cerca de 500 operários, sócios de Associação de Previdência, e outros havia
que no fim de 10 ou 15 anos de sócios, se riscaram delas, por falta de
cumprimento de algumas disposições a que estas se encontravam obrigadas; outros
riscaram-se por razões de economia particular; outros porque as associações
fecharam as portas.
Em Mação e
em Minde a previdência é desconhecida.
Em Coimbra há
30 operários sócios de Associações de Socorros; em Portalegre 22; em Arrentela
291 (na fábrica); em Alenquer 2; em Alhandra 58; e em Vila Franca de Xira 22.
Ao todo, no grémio do Sul, 925 operários são sócios de Associações de Socorros.
Vários há que têm 2 associações de Socorros. Há em Lisboa, também 108 operários
sócios de Funerárias.
Em Castanheira
de Pera é reduzidíssima a assistência. Apenas 2 empregados naturais da Covilhã
têm o seu montepio e 3 operários são membros de uma Casa do Povo.
No grémio do
Norte: dentro da cidade do Porto 74 operários são associados de Associações de
Previdência e 87 nas outras terras do mesmo grémio. Além disso, no Porto há 157
operários sócios de funerárias. As funerárias recrutam, portanto, os seus
sócios entre os operários de Lisboa e do Porto. A Previdência está mais
organizada nos grandes centros industriais; nos pequenos centros não temos
reflexos dela senão, e muito reduzidamente, através das Casas do Povo.
Desemprego
Ao
desemprego, na indústria de lanifícios, já foi feita referência neste
relatório. Quando se realizou este inquérito, é preciso não esquecer, que foi
na época do ano em que rareava mais o trabalho (portanto podemos dizer que o
desemprego no ano anterior ao Inquérito a que fazemos referência, diz respeito
a um pessoal que podemos considerar permanente) trabalhavam nas fábricas os
seguintes operários que durante esse ano estiveram algum tempo sem trabalho:
Grémio da Covilhã, 389 assim distribuídos:
Covilhã – 198
Cebolais – 191
O trabalho em
Cebolais caracteriza-se pela sua inconstância: há pessoal a trabalhar a jornal,
na indústria, que são ao mesmo tempo serviçais do patrão, de sol a sol. Nas
estatísticas deste inquérito, como já referimos algures, não figuram os
tecelões manuais das aldeias da Covilhã, excepto os do Teixoso. Se aparecessem
nestas estatísticas, maior seria o número de desempregados no grémio da
Covilhã, apesar de no Teixoso ter sido quase nulo o desemprego.
Grémio de Gouveia, 258 assim distribuídos:
Mortágua
|
61
|
Gouveia
|
26
|
Melo e Seia
|
23
|
Moimenta
|
12
|
Guarda
|
2
|
São Paio
|
26
|
Trinta e Maçainhas
|
95
|
Manteigas
|
13
|
Grémio do Sul, 478 assim distribuídos:
Lisboa
|
278
|
Arrentela
|
10
|
Portalegre
|
39
|
Alenquer, Alhandra e
Vila Franca
|
151
|
As fábricas de Lisboa e de Alenquer não trabalhavam os 6 dias
da semana; Portalegre estava a 3 e a 4 dias, o mesmo sucedendo ao pessoal de
Arrentela nalgumas secções.
Grémio de Castanheira de Pera, 34 assim distribuídos:
Castanheira de Pera – 31
Avelar -
3
Grémio do Norte, 186, assim distribuídos:
Porto – 138
Província - 48
As conclusões
que estes números sugerem, são feitas no Capítulo que consagramos à grande e à
pequena empresa. Para lá remetemos o leitor.
O desemprego,
ainda durante o inquérito social, foi atacado pela FNIL, com o fim de auxiliar
aqueles operários que a organizaçaõ industrial ia desempregando. Por isso estabeleceu-se
um subsídio semanal a cada um desses operários, subsídios esses pagos pelos
industriais; não impediu porém este subsídio que o desemprego aumentasse a
olhos vistos, apesar de todos os
esforços em limitá-lo àqueles operários que a organização dos quadros
permanentes de tecelagem e o receio do industrial pelas medidas sociais
anunciadas, atirava para ele. Já dissemos algures que os industriais
continuaram a admitir aprendizes, em substituição de todos aqueles operários
que atingiam 18 anos e, com esta idade um aumento de salário. Diziam eles que
pagavam para o desemprego, que havia um subsídio estabelecido para os
desempregados, e tinham, por isso, direito a proceder assim. Daqui provinha que
o desemprego era, não já um fruto das medidas adoptadas para estabilizar a
profissão do operário e dar à indústria operários capazes, através de uma maior
sequência no trabalho dos lanifícios, mas da sofreguidão do patronato.
Do reflexo
social que tiveram os subsídios aos desempregados no meio operário, já não me
compete tratar, porque se refere a um momento posterior ao preenchimento dos
boletins.
*
* *
Contra o
desemprego, constituem subsídio algumas associações de previdência e socorros
mútuos de que são sócios muitos operários enumerados na secção de assistência.
Prisões
As
prisões registadas nos boletins do inquérito são geralmente provocadas por
ofensas corporais, uma ou outra por crimes contra a honestidade; algumas por
crime de furto, apresentando neste pormenor a região de Seia um predomínio
sobre todas as outras; crimes políticos e suspeitas deles também aparecem
sobretudo em Lisboa, Alhandra e Covilhã. No grémio do Sul apareceu um único
caso de prisão por crime de homicídio voluntário.
Vestuário
Já
referimos a tendência para o luxo existente nas mulheres e nas raparigas e a
influência que este exerce na desmoralização. Já observámos também a facilidade
de pagamento nas fazendas para o seu vestuário e de suas famílias, que operários obtêm nas fábricas. Não há mais que relembrar isto.
Alimentação
A alimentação
do operário de lanifícios - referimo-nos especialmente à Covilhã - é uma
alimentação abundante e boa, porque gastam na mesma semana aquilo que ganharam.
A alimentação tem para eles mais valor que o vestuário, ao contrário do que acontece
noutras regiões e noutras indústrias.
Aqueles que
vivem longe da fábrica comem o seu almoço na mesma no local de trabalho, os que
vivem perto da oficina vão almoçar a casa.
Descanso Semanal
O descanso
semanal é ao Domingo; às vezes, por razões especiais, há algumas profissões
cujos operários gozam noutro dia da semana. Sirvam de exemplo os operários dos
estendedores de lã que têm, por vezes, de aproveitar o sol de um domingo e os
mecânicos que têm de reparar as máquinas.
Feriados
Aqui referimo-nos
exclusivamente à Covilhã. Além dos domingos, costumam guardar os dias santos;
os feriados oficiais são, em regra, desprezados. Não se trabalha no dia 1 de
Janeiro, 6 de Janeiro, 19 de Março, segunda feira de Páscoa, segunda feira de
Pascoela (Santo Antão), 1º de Maio, quinta feira da Ascensão, Corpo de Deus, S.
Pedro, S. Tiago, 15 de Agosto (romaria da Senhora do Carmo), 1 de Novembro, 8
de Dezembro e 25 de Dezembro. O dia 1º de Dezembro começou a ser feriado
obrigatório das fábricas em 1937. Os dias feriados, quando o tempo o permite,
são aproveitados pelos operários da Covilhã em passeios pelo campo ou pela
serra. O dia 15 de Agosto repartem-no pela romaria da Srª. do Carmo, no
Teixoso, e pelo rio Zêzere, onde vão tomar banho.
Regime de trabalho
O regime de
trabalho é de 8 horas diárias. Antes do estabelecimento das 8 horas,
trabalhava-se a semana inteira, os operários dormiam na fábrica e o descanso
era o mais reduzido possível. Os pais levavam as crianças pequenas para a
fábrica, para lhes encherem as canelas de fio.
Serões
Os
serões acabaram; só são permitidos por lei nos termos estabelecidos. Nos
centros mais recuados da província, onde a fiscalização é mínima e os operários
menos conscientes dos seus direitos, ainda há muitos abusos.
Abusos nos horários
de trabalho encontrámo-los em Arrentela, Mação, Minde, Cebolais de Cima,
Maçainhas e Trinta, em várias aldeias do grémio de Gouveia, em certas fábricas
do grémio do Norte e sobretudo no grémio de Castanheira de Pera, onde Chimpeles
ocupa o primeiro lugar no desconcerto.
As Publicações do Blogue:
Capítulos anteriores do Inquérito Social:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
Inquéritos VII - V
Inquéritos VIII - VI
Inquéritos IX - VII
Inquéritos X - VIII
Inquéritos XI - IX
Inquéritos XII - X
Inquéritos XIII - XI
Inquéritos XIV - XII
Inquéritos XV - XIII
Inquéritos XVI - XIV
Inquéritos XVII - XV
Inquéritos XVIII - XVI
Inquéritos XIX - XVII
Inquéritos XX - XVIII
Inquéritos XXI-XIX
Inquéritos XXII-XX
Inquéritos XXIII-XXI
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