Continuamos hoje a publicar os monografistas da Covilhã, começando
com algumas reflexões de Luiz Fernando Carvalho Dias já publicadas neste blogue. Seguidamente voltamos
a apresentar a Memória de João Macedo Pereira Forjaz.
“Convém
enumerar os autores de monografias da Covilhã, os cabouqueiros da história
local, aqueles de quem mais ou menos recebi o encargo de continuá-la,
render-lhes homenagem pelo que registaram para o futuro, dos altos e baixos da
Covilhã, das suas origens, das horas de glória e das lágrimas, dos feitos
heróicos e de generosidade e até das misérias dos seus filhos, de tudo aquilo
que constitui hoje o escrínio histórico deste organismo vivo que é a cidade,
constituído actualmente por todos nós, como ontem foi pelos nossos avós e
amanhã será pelos nossos filhos.” […]
[…] O século XIX abre com o trabalho do luso-brasileiro,
oriundo da Covilhã, Dr. João António de Carvalho Rodrigues da Silva sobre a
indústria dos lanifícios. Tivemos oportunidade de publicar uma segunda edição
deste curioso estudo na revista “Lanifícios”, (a) no ano de 1955. Continua a
série com a memória do Dr. João de Macedo Pereira Forjaz, bastante
documentada.” (b)
******
“Esta Memória
da Covilhã e da sua indústria, da autoria de João Macedo Pereira
Forjaz foi escrita para a Academia Real das Ciências de Lisboa. Como instrue a
notícia manuscrita que a antecede, subscrita pelo Dr. António Mendes Alçada de
Morais, que no-la transmitiu, não está completa, embora o pareça, e o seu autor teria sido advogado,
segundo a mesma fonte.
Cumpre
esclarecer que não encontrámos, no fundo da Biblioteca da Academia das Ciências
rasto desta Memória, pois não deve
ter chegado a entrar na referida instituição; do autor também não achámos
qualquer referência
no arquivo da Universidade de Coimbra; assim haverá, que rever a hipótese da
profissão que lhe foi atribuída (1).
Devemos a
gentileza desta cópia ao Dr. Luiz Filipe da Fonseca Morais Alçada.
O Dr. António Alçada, como era mais conhecido, notabilizou-se como advogado e
jurista: escrevia elegantemente e deixou inéditos um livro de versos e um romance
incompleto cujo enredo decorre na Roma dos Césares. Publicou além de várias minutas de recurso para os
tribunais superiores, uma pequena Memória
da Covilhã, sua terra natal, como
representação da cidade, nos primeiros anos da república, destinada a conseguir uma promoção
a capital de distrito.
Como seu
tio, Dr. Valério Nunes de Morais, também o Dr. António Alçada foi jornalista de
mérito.
No
capítulo da sua actividade jornalística cabe referir não só alguns estudos de história da cidade, publicados na peugada do seu referido tio ou em
colaboração com ele, mas também
outros, que, sob o pseudónimo de Diogo Nunes, dedicou à divulgação dos progressos industriais, inspirado em revistas técnicas
estrangeiras, o que representa uma contribuição meritória à formação técnica da cidade que
lhe foi berço.” (c)
******
“Este
manuscrito é devido à pena do eminente advogado da vila da Covilhã, Dr.
João de Macedo Pereira Forjaz, que o fez para concorrer como candidato à Academia
Real das Ciências de Lisboa.
Não chegou a concluí-lo.
Parece aliás, concluído.
Esta cópia foi textualmente
extraída, sem nada alterar do manuscrito existente na biblioteca do Ex.o
Senhor Dr. Manuel José Gonçalves dos Santos Gascão, conservando-se a própria
ortografia.
Esta cópia foi tirada em 1905
por António Mendes Alçada de Morais e pertence-lhe.”
(d)
Descrição
Analítica e Económica da Notável villa da Covilhã, do seu antigo, e grande
distrito, e da famigerada Serra d'Estrela, acompanhada de notas e peças
justificativa.
(Continuação)
CAPITULO V
Dos antigos magistrados da
Covilhã e daqueles que ao presente há na dita vila e outras notícias da mesma
Tendo esta notável vila nos tempos antigos
sido sempre governada pelos seus homens bons, logo que em 1495 foram creadoo
pelo senhor Rei D. Manuel os juizes de fora, passa por certo ter sido o seu
primeiro juiz o Licenciado Vicente do Pico a quem S. Majestade deu 30 000 de
ordenado, 20 por sua conta e dez pelo concelho.
É o primeiro juiz de fora de órfãos o
Licenciado João Rodrigues, em 5 de Julho de 1557,
a quem S. Majestade deu alçada de 20 000
reis e deles para baixo, nos bens móveis, e poder para impor penas de 500 reis
quando lhe parecesse, tudo sem apelo nem agravo, e que pudesse trazer vara
branca como os juízes de fora, que lhe dessem casas e três camas, uma de
escudeiro, e duas de homem de pé, a primeira a 150 por mês, as segundas a 90
reis por ano.
Continuaram, pois, estes dois magistrados
e os que se lhe seguiram a exercerem as suas ocupações até a futura vila do
Fundão, em que ficaram os dois juizes unidos como ao presente estão; tendo hoje
além deste, o juiz conservador das fábricas e lanificios das três comarcas,
Guarda, Castelo Branco e Pinhel cujo juiz é privativo para tudo o que for dos mesmos lanificios.
O juiz de fora tem hoje uma boa casa de
aposentadoria na praça daquela vila, com a comodidade para também se
aposentarem os ministros que vierem em correição ou em alguma outra deligência,
que se mandou fazer com o produto das tabernas.
Na primeira sala desta casa se fazem as
audiências dos costumes, e na arcada que fica por baixo da mesma casa se vende
diàriamente todo o género de grão e muitos outros viveres, tendo também casa
unida para se recolherem os que crescem.
Pelourinho - A Câmara filipina |
A casa da Câmara é no sítio do pelourinho, é boa e está bem asseada, e
além dos vereadores e oficiais do costume tem por provisão 24 homens do povo,
que assistem às principais deliberações e funções que ali se fazem. Os seus
rendimentos são poucos e, por isso, se tem valido da provisão para arrematar as
tabernas, com que tem feito calçadas e outras obras úteis.
O livro das posturas da mesma Câmara não
contém cousa que se não encontre em todas as do Reino e portanto, me parecem
desnecessárias as suas análises.
A cadeia, fica unida à Casa da Câmara e sendo uma das
melhores da comarca
(23) não deixa de ter as
incomodidades que padecem as de Portugal, muito principalmente quando os
Magistrados não velam sobre os sagrados direitos da humanidade, o que sucede de
ordinário, verificando-se também na mesma a fiel e enérgica pintura, que
Filangieri faz das cadeias do seu país.
Também nesta vila houve uma forca de que ainda hoje há
vestígios por baixo do convento de Stº António, para a vista da Ribeira do
Bribáo. O Dr Filipe Toscano de Souza, natural de Penamacor, deu em 1625 uma
sentença de forca contra um malfeitor para ser enforcado na forca da Covilhã, o
que demonstra ter havido execuções na mesma, que foi demolida por um almotacé
que em 1750 gastou a pedra nas
calçadas.
As ruas desta Vila são quase todas
apertadas e ingremes, atendendo ao lugar donde se acha situada mas tem uma boa
praça a que chamam o pelourinho, cercada toda de casas, com um chafariz ao
cimo; porém a maior parte destas casas são antigas e mal construídas e as que
se têm feito de novo só próprias para o cómodo e trato das lãs de que usam
quase todos os seus moradores, assim como as
mulheres que se ocupam em escolher a lã, limpar os panos dos nós, fiá-la em
rodas de tecer dorguetes, e por isso além destes ofícios, só tem os de primeira
necessidade mas os salários de um e d'outros tem crescido incomparàvelmente,
não diminuindo nunca o luxo que é extremo e as festas de touros e outros mais
próprios do país a que são muito inclinados.
Em outro tempo teve esta vila muitas casas
nobres pois é constante ter tido 60 homens filhados; hoje só conserva duas que
são Macedos e Tavares, o mais fabricantes, homens de negócio e outros
semelhantes.
O Pelourinho na actualidade Fotografia de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias |
Tem além das sobreditas feiras,
mercados todos os meses que se fazem no pelourinho onde se vendem todo o
género de viveres, panos, baetas e tudo o mais que costuma concorrer a
semelhantes lugares; e seria para desejar os houvesse todas as semanas, e que
este uso se estabelecesse na Vila do Fundão e em outras mais Vilas do Reino
porque conduzem muito, diz Campomanes, a estimular a contracção interior e a
dar saída aos efeitos da indústria popular, contribuindo também a conter o
monopólio.
É a mesma vila abundante de carnes e
leite, este se costuma vender pelas ruas todos os dias, a carne de vaca se
vende em dois açougues, um do povo, outro a que chamam dos clérigos, que tiraram
provisão para o terem separado mas a carne de que mais usa o povo é de rez
miúda a que dão o nome de rasto, que se faz todos os Domingos na dita praça
do Pelourinho, e em sítio pegado a que chamam Matadouro e ali como
em mercado, se junta muito gado de lã e caprino, e compra cada um o que quer
para toda a semana, levando-a para suas casas, repartindo-a nas mesmas, que são
outros tantos açougues; de cujas carnes pagam Real d'Agua.
Junto da Vila há alguns olivaes mas
o azeite não é bastante para o gasto da mesma, e seus lanifícios.
Tem boas vinhas que dão o mais
saboroso e delicado vinho que não supre também o consumo; e soutos
que dão muito boa castanha, cuja lenha usam
para o combustivel; e mais de carvão que lhe vem da serra e lugares do termo; mas seria melhor que
reduzissem a maior parte destes soutos
a olivais e vinhas para suprirem o que lhes falta, e semearem mais pinheirais nas serras imediatas em que podia haver
imensos, suprindo com a sua madeira a que vão buscar às serras de Alcongosta,
termo da Vila do Fundão, e também as Lenhas de que carecem.
As suas quintas são muitas e boas, onde
tem as mais belas e nobilíssimas frutas de toda a qualidade que regam e
fertilizam, além de infinitas fontes, umas naturais e outras extraídas de
minas, as grandes Ribeiras de que falámos, cuja água anda repartida por um
homem do povo a que chamam Juiz de Agua, segundo as horas que cada um tem, no
livro competente da. Câmara.
Nestas fazendas que pelo menos têm a extensão de meia légua, e para
alguns lados mais, agricultam toda a qualidade de grão, legumes e ortaliças, o que abunda a
vila, à excepção de centeio e trigo,
que lhe vem de fora: mas os seus agronomos não seguem
senão a rutina dos antepassados, porque só costumam
adubar as terras com algum gado que tem, e estrumes vegetais; ignoram porém a
qualidade da mistura de argilas, marme, geso, cal etc. o que fazia produzir
melhor as mesmas terras que quase todas são arenosas e as suas pedras de mármore rude, sem que até agora se lhe tenha descoberto qualidade alguma de mineral.
Alem das mencionadas Ribeiras tem outra
a que chamam Corges, que corre meia legua distante da Vila, e fertilisa pouco
por se meter no Zezere em pequena distancia.Este mesmo Rio Zezere, que passa uma legua distante da Covilhã, e tem
duas grandes pontes, uma que chamam a ponte nova, outra a ponte pedrinha (24) de cuja origem falaremos
quando tratarmos da serra da Estrela, nunca seca, as suas aguas são puríssimas,
abunda de mimosas trutas; até ao lugar da Barroca tem pouco peixe mas deste
povo até Punhete, onde entra no Tejo, há muitas e saborosas que pescam em redes
e caneiros, podendo tambem abundar de saveis e lampreias se lhe não obstasse à sua subida os muitos açudes
que há naquele Rio, o que tambem impede a navegação. As suas margens até à ponte pedrinha são pouco agricultadas. por incuria dos seus proprietários
mas desde esta ponte até ao sobredito lugar da Barroca, que são oito leguas,
produzem muito porque alem da cevada, o milho que ali semeiam depois, costuma
dar 300 por um, e pelo menos 120 e 60 (25).
Estas terras a que vulgarmente chamam lodeiros, para os
seus cultivadores terem mão no Rio, e nas muitas natas, que ele conduz, o
cercam de salgueiros pelos lados que costumam quasi todos os anos, para me
explicar pela palavra comum, derrear, fazendo tambem aumentá-los com uns
pequenos açudes de mato, pedras e salgueiros que lhes unem e metem em parte do
Rio, a que chamam asnas e para que todos os lodos
fiquem nas mesmas terras e lhes produzam mais, fazem uns grandes e largos paredoens,
ao travez dos mesmos lodeiros, tiram agua do Rio por meio de rodas, cheias
de alcatruzes de barro, para o que fazem de verão uns pequenos açudes de mato, e por este
modo tiram e levam a agua por cima dos ditos paredões onde querem, só com o
movimento da roda, que lhe comunica a água, e sem auxilio de braço ou animal, o
que faz de verão a mais bela e encantadora vista, e duplicar a produção das
mesmas terras, sem duvida as melhores e mais produtivas do mundo e só comparaveis às do
famoso Nilo.
Mas esta fecundidade não é só própria dos lodeiros do
Zezere, ela se pode verificar em todas as Ribeiras e rios, em que se possam aproveitar as
suas natas; tais são entre nós a Meimoa, e o Barasal, que já se lhe contam
muitos; o Ponsul, o Ouravil, e o Tejo, em muitos lugares, que é para lastimar
se lhes tenham até agora despresado, tão preciosos e inexauriveis tesouros.
Sobre a navegação do Zezere já eu
disse, na memoria que há dois anos ofereci á Real Academia das Ciencias de Lisboa, em que tive o Accessit, que podia ser navegavel oito ou mais leguas, acima
de Punhete, em barcos mais pequenos que o ordinario, desfeitos de verão os
açudes, e algumas outras insignificantes dificuldades; e pode ser que esta se
fosse dilatando e estendendo mais, e com ela a felicidade dos Povos, e do
mesmo Reino, porque não há causa que tanto os felecite como são os bons
caminhos, canais e rios navegaveis.
CAPÍTULO VI (e)
Do termo antigo da Covilhã e
daquele que tem ao presente
O termo antigo da Covilhã era grande e pelo que tenho
visto em papeis e livros antigos, na mesma Vila, constava dos lugares seguintes:
Mapa dos Lugares Antigos
|
|||
Aldeia do Mato
|
1
|
Maxiais
|
35
|
Aldeia do Souto
|
2
|
Orvalho
|
36
|
Orjais
|
3
|
Janeiro de Cima
|
37
|
Teixoso
|
4
|
Janeiro de Baixo
|
38
|
Peraboa
|
5
|
Dornelas
|
39
|
Capinha
|
6
|
Boussa
|
40
|
Quintãs do Salgueiro
|
7
|
Unhais-o-Velho
|
41
|
Peroviseu
|
8
|
Cortes de Cima
|
42
|
Ferro
|
9
|
Cortes de Baixo
|
43
|
Fatela
|
10
|
Cortes do Meio
|
44
|
Alcaide
|
11
|
Aldeia Nova do Cabo
|
45
|
Alcaria
|
12
|
Souto da Casa
|
46
|
Levada
|
13
|
Cambas
|
47
|
Valverde
|
14
|
Lavacolhos
|
48
|
Chões
|
15
|
Relvas
|
49
|
Aldeia das Donas
|
16
|
Castelejo
|
50
|
Fundão
|
17
|
Ourondo
|
51
|
Pezo
|
18
|
Dominguizo
|
52
|
Pezinho
|
19
|
Alcongosta
|
53
|
Aldeia de Joane
|
20
|
Barco
|
54
|
Telhado
|
21
|
Boudobra
|
55
|
Freixial
|
22
|
Verdelhos
|
56
|
Gibraltar
|
23
|
Aldeia de Carvalho
|
57
|
Tortuzendo
|
24
|
Aldeia do Bispo
|
58
|
Vilar barroca
|
25
|
Casal da Serra
|
59
|
Paul
|
26
|
Sobral
|
60
|
Erada
|
27
|
Sameiro
|
61
|
Unhais da Serra
|
28
|
Vales
|
62
|
Bogas de Cima
|
29
|
Coutada
|
63
|
Bogas de Baixo
|
30
|
Sarzedo
|
64
|
Açor
|
31
|
Cebola
|
65
|
Buxinos
|
32
|
Silvares
|
66
|
Descuberto
|
33
|
Teixugas
|
67
|
Ladeiras
|
34
|
Caria
|
68
|
Tinha
também estes que não existem:
Quinteiros,
dizem ser
hoje Gibraltar 69
Pombal, que se chamou aldeia de Rocim
e hoje todo extinto 70
Favais 71
O Casal
do Telhal e um destes se chamou Salgueiro e era à Ponte Pedrinha 72
Tinha tambem os lugares
seguintes
|
|||
Anacer que hoje não existe
|
73
|
Vale de Lobo
|
77
|
Martim anes
|
74
|
Ferreira
|
78
|
Catrão
|
75
|
Comeal
|
79
|
Povoa dos Frades
|
76
|
Mata
|
80
|
Estes 8 lugares deu o Senhor D. Fernando por termo a Penamacor
e por eles lhe deu os seguintes:
Alvaro
|
81
|
Oleiros
|
83
|
Pampilhosa
|
82
|
Souto da Casa
|
84
|
Falecendo o Senhor D. Fernando, estes quatro lugares não
quiseram obedecer, e queixando se a Covilhã ao Senhor D. João 1º, mandou se cumprisse a carta do Senhor
D. Fernando, e tendo que alegar o fizessem. Em 1423 e em 1428 se
opôs a isto o Prior do Hospital porem o mesmo Senhor determinou se observasse o
que tinha mandado.
Estes são os lugares que achei serem do termo da Covilhã, que por todos fazem o numero
de 80 e para 360 que os mencionados
autores dizem tinha esta Vila, faltam 280, dos quais não tenho achado noticia
mas persuado-me ser verdadeira a sua asserção por ver que a Vila da Covilhã
teve contendas com as de Castelo Branco, nos tempos antigos, sobre os termos, o
que evidente se mostra da sentença que adiante transcrevemos, e se poderião
incluir ficando a Covilhã com o seu termo da serra da Gardunha, que é a da
Senhora da Serra, e Catrão para a parte da dita vila e as terras que tinha para
a parte de Castelo Branco se lhe deviam por termo, e às mais vilas
vizinhas; principalmente quando vejo se lhe tiraram oito lugares para o termo
de Penamacor e assim seriam os mais; e ver tambem que a Covilhã teve contenda
com a mesma vila de Castelo Branco sobre ser do seu termo o lugar da Cortiçada,
que se mandou sujeitar à Guarda em quanto se decidia a duvida, como consta
do Livro das Provisões da Camara fl 4.
Também é certo que Castelo Branco, Sobreira Formosa, Manteigas, Sarzedas, Cortiçada,
Belmonte, Castelo Novo e Gouveia, estas oito vilas, eram obrigadas a irem com
as suas signas debaixo da do concelho da Covilhã, quando esta ia ao serviço do
Rei; de sorte que saindo a signa da Covilhã a Buarcos em serviço do dito
senhor, os mandou avisar para que fossem em sua defeza e não o querendo fazer
se queixou a dita Vila ao Senhor D. Pedro 1º o qual
mandou em 1358 fossem como eram
obrigados pelo compromisso, quando fosse em seu serviço e defeza da Coroa.
Muitas outras vilas tinham tambem obrigação de dar as suas apelações para a Covilhã.
Em 1359, mandou o Senhor D. Afonso 4º
a Vicente Anes, juiz de Fora de Celorico que
fosse à Covilhã e mandasse vir à sua presença os Concelhos de Oleiros e Alvaro, o
que fizeram por seus procuradores. Confessou o procurador de Alvaro que sempre
apelaram para a Covilhã, e o de Oleiros que quando queriam apelar para a
Covilhã que apelavam, e querendo para o Prior tambem apelavam. Mandou o dito
juiz, estando em concelho no Adro de Stª Maria de Covilhã, que da parte de
El-Rei apelassem para a Covilhã.
A Vila de Castelo Novo teve sentença contra, por demanda
que com e1a teve o concelho da Covilhã sobre o darem as apelações para a dita
Vila, e chamando-os para diante do corregedor do Paço do Concelho de Castelo
Novo, e fazendo-lhe preguntas disseram que queriam vir com embargos a isso; mas
aparecendo o Procurador da Covilhã e mostrando a sentença que contra eles
tinham disseram que não queriam usar dos embargos, nem ir contra a sentença (26) mas sim observá-la; sentenciou
o Corregedor e condenou o dito concelho de Castelo Novo em 24 soldos e 9 dinheiros,
cuja sentença foi dada em Covilhã a 12
de Abril de 1393.
A vila de Belmonte pediu ao Senhor D. João 1º, mestre de Aviz, que a
isentasse de darem apelações para Covilhã, o que se lhe concedeu em 1423, como consta
do cartorio da Camara de Belmonte.
As multiplicadas promessas que o Senhor Infante D. Luis e
muitos outros senhores Reis de Portugal tinham feito à Covilhã, de não ser vila o Fundão, tinham
persuadido o concelho da mesma Vila que nunca o seria; mas em 1747 alcançou
esta graça do Senhor D. João V, ficando com maior termo que a Covilhã, pois
constando este de 67 lugares, ficou esta vila só com os seguintes e o Fundão com os
mais.
Mapa dos lugares do presente termo:
Tortuzendo - 1; Cortes de Cima - 2; Cortes do meio - 3;
Cortes de Baixo - 4; Bouça - 5; Unhais da Serra - 6; Coutada - 7; Dominguiso -
8; Erada-9; Barco-l0; Paul - 11; Pezo-12; Pezinho-13; Ourondo-14; Unhais o
Velho-15; Cebola-16; Cazegas-17; Sobral de Cazegas-18; Boudobra - 19; Ferro -
20; Peraboa - 21 ; Teixoso - 22; Aldeia de Carvalho-23; Sarzedo-24; Gibraltar-25;
Orjais-26; Aldeia de Mato-27; Aldeia do Souto - 28: Verdelhos - 29; Sameiro -
30; Caria – 31.
Notas:
23) Consta da
provisão que se acha no arquivo da Camara da dita vila, mandada passar em Moura
pelo Infante D. Luis, em 9 de Outubro de 1536, passarem os prezos do Castelo
donde estavam para a Cadeia nova; e esta provisão se passou a requerimento de
D. Diogo de Castro, alcaide-mór da sobredita vila, cuja lacaidaria se conserva
ainda hoje na Casa do Bisconde de Barbacena, seu descendente; e por isso a
cadeia parece ser outra, porque a que hoje existe, se lhe abriram os alicerces,
assim como para a casa da Camara, e torre do relógio, em 1613, por provisão de
D. Filipe 2º.
(24) Para a factura
desta grande ponte até os eclesiástlcos foram colectados para o que foram
obrigados por Diploma Regio, que veio dirigido ao Bispo da Guarda, pelo
requerimento que para este fim fizeram os moradores da Covilhã, e a Camara
da mesma Vila, como consta do seu cartorio.
(25) É tão
constante e publica esta verdade que não admite duvida ou contestação. O
Desembargador Conselheiro José António de Sá na sua Descricão Economica da
Torre de Moncorvo, enserida no terceiro tomo das Memorias Económicas da Real
Academia das Ciencias de Lisboa, cap. 10, pag. 225, tratando
do Campo da Vilariça e suas produções diz: que o alqueire de semeadura naquele
sitio produz 300, e por isso se vê já verificada a nossa asserção e
no grau da ultima evidencia ser o milho o melhor grão e o mais produtivo que se
conhece, não por se semear pouco e produzir muito, o que se não verifica com os
mais grãos cereais mas por se fazer dele o mais alimentante, saboroso e belo
pão, ainda sem outra mistura. Por ser o que nutre uma maior parte do mundo,
porque em quasi toda a America, as Indias Orientais, e uma boa parte da Turquia, é o seu comum sustento preferindo-o ainda ao trigo,
os medicos mais experimentados. Por ser um nobilíssimo sustento para todo o
animal assim como a sua palha verde ou seca. Por estar pouco tempo na terra, e
lhe ser propria a maior parte dela, logo que se escolha o tempo oportuno para a
sua sementeira. Por se crear e recolher no tempo de verão e por isso menos
exposto aos destrutivos rigores do Inverno é menos penosa a sua colheita. Por
ser, enfim, um recurso seguro contra as fomes, em tempos calamitosos como
acabamos de experimentar, no pronto auxilio que nos prodigalisou na passada e
destrutiva guerra; porque não está sujeito a tantos accidentes como o trigo a
quem os naturalistas contam cem achaques; é portanto sem hesitação o mais
util ao proprietário, ao lavrador, ao publico e ao Estado. Eis, em breves
palavras, seguindo o que eu penso, tudo quanto se pode responder, ao problema
do programa da Real Academia das Ciencias de Lisboa, do presente ano, sobre o
milho grosso.
(26) Esta
sentença a vi, estando fora do cartório da Covllhã, pela não saberem ler.
(*) Dispensamo-nos de publicar
aqui a versão latina da sentença, já publlcada por Herculano, no último tomo da História de Portugal, e depois,
com variantes, por Alfredo Pimenta, no 2º vol. dos Subsidios para a História da
Beira Baixa.
(Continua)
Notas dos editores - a) Revista que era propriedade da FNIL - Federação Nacional dos Industriais de Lanifícios.
b) Publicação neste blogue em
29 de Maio de 2011.
c)Texto da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias.
d)Texto de António Mendes Alçada de Morais.
1) Encontrámos posteriormente no espólio de Carvalho Dias as seguintes referências a cargos desempenhados por João de Macedo Pereira da Guerra Forjaz de Gusmão, que denotam não haver sido formado em Direito:
Vedor dos Panos da Fábrica da Covilhã - alvará de 23/10/1804, Livº 73, fls. 148 da Chancelaria de D. Maria I;
Escrivão do Geral da Vila da Covilhã, alvará de 07/01/1806, Lº 76, fls. 143, da Chancelaria de D. Maria I;
Repartidor dos Órfãos da Vila da Covilhã, alvará de mercê 07/01/1806, Lº 74, fls. 259 vº e alvará de propriedade do mesmo, da mesma data, Lº 76, fls. 143 da mesma Chancelaria, cargo que renunciou em 23/10/1813, Lº 16, fls. 122 da Chancelaria de D. João VI.
As publicações do blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-as-publicacoes.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/05/covilha-o-2-aniversario-do-nosso-blogue.html
1) Encontrámos posteriormente no espólio de Carvalho Dias as seguintes referências a cargos desempenhados por João de Macedo Pereira da Guerra Forjaz de Gusmão, que denotam não haver sido formado em Direito:
Vedor dos Panos da Fábrica da Covilhã - alvará de 23/10/1804, Livº 73, fls. 148 da Chancelaria de D. Maria I;
Escrivão do Geral da Vila da Covilhã, alvará de 07/01/1806, Lº 76, fls. 143, da Chancelaria de D. Maria I;
Repartidor dos Órfãos da Vila da Covilhã, alvará de mercê 07/01/1806, Lº 74, fls. 259 vº e alvará de propriedade do mesmo, da mesma data, Lº 76, fls. 143 da mesma Chancelaria, cargo que renunciou em 23/10/1813, Lº 16, fls. 122 da Chancelaria de D. João VI.
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