domingo, 22 de junho de 2014

Covilhã - Contributos para a sua História dos Lanifícios XXXIX

O Museu de Lanifícios, na Covilhã,  está em Festa. Comemora os 250 anos da fundação da Real Fábrica de Panos, por decreto régio de D. José, em 26 de Junho de 1764.


D. José I


Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal

Apresentamos hoje algumas reflexões e referências do investigador Luiz Fernando Carvalho Dias relacionadas com os lanifícios, em especial com a Real Fábrica de Panos, bem como imagens e algumas fotografias do editor Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias.

             "Ainda no século XVIII a Covilhã conta com mais dois monografistas – ambos anónimos – um, o do manuscrito do Museu de Londres e da cópia deteriorada na Biblioteca Nacional de Lisboa, cujo trabalho reveste bastante interesse sobretudo sob o aspecto industrial, que se encontra publicada segundo a primeira fonte, no volume I dos nossos “Documentos para a História dos Lanifícios” . (1)
Vejamos então um extracto do manuscrito "Fábricas da Covilhã (Memórias das):
[...] "Desta fábrica (da Covilhã) resultou aos habitantes desta vila grande utilidade porque todos se empregaram com desvelo na agência dos panos; pelo que alcançaram muitos privilégios, que concederam os Senhores reis destes Reinos, a quem se obrigaram a pagar 600$000 rs. de sisa particular em cada um ano, repartida nos mês de Maio por todos os fabricantes e traficantes que nele obravam alguns destes géneros; a cujo tributo ficaram também obrigados os do lugar do Teixoso, e de outros povos no arrabalde. Devendo porém ir em maior aumento, hoje se acha em total decadência, ou pela miséria dos tempos, e falta de dinheiro, ou pela introdução dos panos estrangeiros, de que começaram a fazer maior gasto os nacionais deste Reino. Esta porém não é a causa formal da sua destruição, mas sim outra oculta, por castigo da Divina Omnipotência, pelos demasiados vícios em que deram os oficiais, apartando-se dos actos que devia(m) formar o juízo para o bem, e utilidade, dando só assenso à refinada malícia; e por ela têm industriosamente escogitado o modo de furtar mais honesto e imperceptível e aos que não têm tal ou qual experiência no que convém a alguns ou à maior parte dos fabricantes menos bem morigerados para não perderem um ponto da ambição, cuidando que deste modo tão desonesto haviam de conseguir, em poucos anos muitas riquezas, com os mais que apartados deste abominável sistema, se regulam pelo mais seguro da consciência.
A mesma decadência em que se acha o trato e negócio dos panos e baetas fabricados nesta fábrica, dão claros indícios do que foi antigamente, tanto porque ainda  se conservam vestígios permanentes e assentos de oficinas, como porque ainda existem a trabalhar 14 pisões na Ribeira da parte do Sul (da Degoldra) em que se acomodam trabalhando mais de 70 oficiais, cinco oficinas de tingir e em duas destas há quatro dornas somente para tinta azul com pastel, que é de todas a mais segura e perdurável. No mesmo sítio se vêem 4 demolidas, deputadas para o mesmo exercício: trabalham mais dezasseis oficinas, ou tendas, do tosar e prensar, com 42 oficiais; em uma não há este exercício; e 4 se acham demolidas". [...] (2)

As dornas encontradas na Real Fábrica de Panos (a)

Roda de Fiar introduzida em Portugal em meados do século XVIII (b)


Na Real Fábrica dos Panos foi usada pedra das muralhas, como podemos ver por uma consulta da Junta do Comércio de 1767: 

“Senhor
O administrador da fábrica da Covilhã, Paulino André Lombardi, tendo proposto a esta Junta que da diversidade e distância das casas determinadas inteiramente para o uso dos teares dos lanifícios, se seguia a incomodidade dos mestres, os quais não podiam ao mesmo tempo acudir ao ensino de uns e outros aprendizes […] foi deferido, que mandasse o suplicante formar um plano de toda a obra, que se julgasse necessária. E ele o representou à Junta […] lembra-se juntamente, e faz a sua exposição na conta inclusa, de que na vila da Covilhã se acham caídos há muitos anos todos os muros da mesma vila, estando, por consequência, inútil toda a sua pedraria; e porque esta pertence a Vossa Majestade, como também pertence a obra da casa dos lanifícios, que se intenta, considera que não será impróprio representar a Vossa Majestade a aplicação da referida pedra dos muros para o levantamento do edifício, suposta a sua inutilização presente. […]
Pelo que
Parece à Junta, que a proposta do administrador da fábrica doa lanifícios Paulino André Lombardi, está nos termos de ser representada a Vossa Majestade, […] e nesta consideração, parece que à câmara da vila da Covilhã seja V. Majestade servido ordenar, que à ordem do mesmo administrador mande entregar toda a pedraria dos muros caídos da vila, para levantamento do edifício da nova casa da Fábrica.
Lisboa a 12 de Novembro de 1767 
Ao cimo do documento pode ler-se:
“Como parece, e assim o mando
ordenar. N. S. da Ajuda em 9 de
Maio de 1769         R”. (2) (3)


Pano de muralha na rua António Augusto de Aguiar (Junto ao Mercado Municipal)
Batalhão de Caçadores 2, hoje Museu de Lanifícios e Universidade da Beira Interior 


O Arco do Quartel que une dois dos espaços (um é o Museu de Lanifícios) da Universidade da Beira Interior,
na rua Marquês d' Ávila e Bolama (Antigo Quartel de Caçadores 2  e antes Real Fábrica de Panos)


Museu de Lanifícios - Núcleo da Real Fábrica Veiga (na Calçada do Biribau)


Universidade da Beira Interior

Largo do Rato, muito próximo da Universidade da Beira Interior

Capela de S. Martinho, também junto da Universidade  e perto do Museu de Lanifícios (c)

1)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/05/covilha-memoralistas-ou-monografistas.html
2)Dias, Luiz Fernando Carvalho, "História dos Lanifícios (1750-1834, Documentos", Volume I, Lisboa, 1958
3)http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/07/covilha-fotografias-actuais-vi.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/08/covilha-fotografias-actuais-iii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/07/covilha-fotografias-actuais.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/05/covilha-postais-antigos-ii.html 
a) e b) "Museu de Lanifícios, Universidade da Beira Interior"
c) As fotografias são da autoria de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias

As Publicações do Blogue:

As publicações sobre os Contributos para a História dos Lanifícios:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/06/covilha-contributos-para-sua-historia.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/05/covilha-contributos-para-sua-historia_29.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/05/covilha-contributos-para-sua-historia.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/04/covilha-contributos-para-sua-historia_27.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/04/covilha-contributos-para-sua-historia_23.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/04/covilha-contributos-para-sua-historia_6.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/04/covilha-contributos-para-sua-historia.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/03/covilha-contributos-para-sua-historia_16.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/03/covilha-contributos-para-sua-historia.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/02/covilha-contributos-para-sua-historia_26.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/02/covilha-contributos-para-sua-historia.html

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