domingo, 22 de dezembro de 2013

Covilhã - Inquéritos à Indústria dos Lanifícios XXIV-XXII

Inquérito Social XXII

Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.

Capítulo XI

Modo de Vida

            As condições de vida do operário de lanifícios ficam suficientemente reveladas nos capítulos consagrados à família, ao salário e à religião, para que neste, dedicado ao modo de vida, não tenhamos que nos alargar demasiado. Começemos por nos referir à renda de casa e, começamos por aqui porque já noutros capítulos indicámos os operários proprietários de casas de habitação e possuidores de terras. Na estatística das rendas de casa aparecem todos os operários de lanifícios, embora vivam em economia comum com outros que já aparecem na mesma estatística. É uma renda que aparece, portanto, repetida, mas assim teve que ser porque muitos desses operários podem mudar de estado de um momento para o outro e porque assim conseguimos incluir aqueles filhos de famílias cujo chefe não trabalha na indústria de lanifícios. Este parece ter sido o melhor meio de estudar a crise de habitação entre os operários desta indústria.

Mapa das Rendas das Casas de Habitação dos Operários da Indústria de Lanifícios



             Pelo mapa junto verificamos que no Grémio da Covilhã há 3627 operários a pagar renda de casa, rendas que atingem por mês uma cifra de 107.201$00 e por ano 1.286.412$00; há 1285 operários que vivem em casa própria, 56 em casa oferecida pela empresa, e 159 que fazendo parte de famílias do campo, vivem em casas arrendadas juntamente com a terra que as circundam. Estes 159 operários devem indicar um número inferior à realidade, se atendermos a que, nos boletins, muitos deles esconderam a sua própria origem agrícola. Os boletins foram preenchidos, é preciso lembrá-lo, segundo as indicações dos próprios operários. No entanto temos sempre, em todas as estatísticas apresentadas, um número aproximado que é, aliás, o que interessa à Ciência Social.
            No Grémio da Covilhã a casa própria predomina: em Unhais, onde 50% dos operários são senhores da sua casa e, os que não têm casa são, geralmente, operários que vieram da Covilhã: em Cebolais, em Aldeia de Carvalho, na Borralheira, no Teixoso e no Tortozendo. Na cidade predomina a casa arrendada e as rendas andam, em média, à volta dos 5$00 aos 45$00 mensais.
            No Grémio de Gouveia há 1570 operários que pagam renda de casa, 1055 com casa própria, 83 com casa oferecida pela empresa, 26 que oriundos de famílias agrícolas têm terras arrendadas juntamente com a casa.
            Neste grémio pagam-se rendas de casa, no valor mensal de 37.671$00 e no valor anual de 452.052$00. A média da renda de casa é de 10$00 a 35$00 mensais. Em Parada de Santa, Portodinho e Melo só há habitações próprias.
            No Grémio do Sul as rendas de casa atingem cifras mais altas que nos restantes grémios. Há 1893 operários pagando renda, 426 com casa própria, 31 com casa da fábrica.
            O total das rendas mensais é de 91.634$00, ou seja, quase tanto como a Covilhã que tem o dobro dos operários; esta cifra atinge anualmente 1.099.608$00.
            As rendas das habitações de Lisboa andam à roda de 30$00 a 70$00 mensais. As casas de 30$00 são vulgarmente um quarto. A casa própria é uma excepção.
            As rendas em Alenquer vão de 15$00 a 35$00 mensais, havendo bastantes a 50$00. As casas de habitação propriedade de operários estão para com o total, numa proporção de 35%.
            Os problemas das casas e das rendas em Vila Franca de Xira está sensivelmente como em Lisboa. Alhandra está em circunstâncias idênticas a Vila Franca e a Lisboa, com a vantagem de haver mais casas próprias e as rendas serem um pouco inferiores.
            Arrentela assemelha-se a Alenquer nas rendas, mas fica muito longe quanto à casa própria. Como Alenquer, em rendas, temos Portalegre e Coimbra. Entre estas duas cidades existe a diferença seguinte: enquanto entre os operários de Portalegre é diminuto o número dos que são proprietários da sua casa, entre os de Santa Clara esse número atinge 50%.
            Em Minde, entre 55 operários, 41 têm habitação própria. A renda normal entre os outros é de 5$00 a 10$00 mensais.
            Em Mação todos os operários são proprietários de casa e terra, salvo 14 que pagam renda cuja média é de 15$00 mensais.
            Em Castanheira de Pera predomina a casa própria. Neste grémio é costume o operário construir a sua casa, para o que pede dinheiro emprestado, a juros, por vezes, altos. No Avelar dá-se o mesmo fenómeno que por todo o grémio de Castanheira. Neste grémio 146 operários pagam renda de casa, em média 5$00 a 25$00 por mês. A cifra mensal das rendas, neste grémio, é de 2.365$00 que perfaz anualmente 28.380$00. 890 vivem em casa própria e 13 em casa pertencente à fábrica.
            No Grémio do Norte predominam as rendas de 25$00 a 50$00. 453 operários pagam renda de casa, numa cifra mensal de 18.900$00 e anual de 226.800$00. 106 operários têm casa própria e 2 casa pertencente à empresa onde trabalham.
            Estas notas podem completar-se, segundo o método usado nos outros grémios, da seguinte maneira. As rendas do Porto variam de 30$00 a 55$00. A habitação própria é insignificante nesta cidade. Em S. João de Medina predomina  já a casa própria e as rendas andam à volta de 15$00 a 40$00.
            Em Viana do Castelo as rendas são um pouco superiores a S. João da Madeira.
            Em Guimarães predominam os operários que vivem em terras arrendadas.
       Terminamos, no que diz respeito a rendas de casa e ao problema da habitação, chamando a atenção da FNIL para o total das rendas de casa, pagas pelos operários de lanifícios: 3.289.502$00 anuais. Do que dissemos atrás podemos acrescentar que nos pequenos centros industriais, e nos grémios da Covilhã, Gouveia e Castanheira se verifica a tendência do operário construir a sua casa, recorrendo para isso à usura. Esta informação será susceptível de modificar a política das casas económicas?
            Parece-nos que o problema, ficando em aberto, é digno de estudo e de atenção!

Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.

As Publicações do Blogue:

Capítulos anteriores do Inquérito Social:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
Inquéritos VII - V
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Inquéritos IX - VII
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