quarta-feira, 5 de março de 2014

Covilhã - Os Jesuítas IV


    Como encontrámos no espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias uma pasta sobre Jesuítas covilhanenses ou que se fixaram na Covilhã, continuamos hoje a publicar o tema a eles dedicado.
    A Companhia de Jesus foi fundada por Santo Inácio de Loyola que nasceu em 1491 no País Basco – Azpeitia – proveniente de uma família de fidalgos de província e morreu em Roma em 1556.
    A Companhia de Jesus entra em Portugal no reinado de D. João III, através de Francisco Xavier e Simão Rodrigues e tendo como pontos de partida Lisboa, Coimbra e Évora, toma nas suas mãos o ensino e a organização da missionação das colónias.
    Vamos agora acompanhar Jesuítas nascidos na Covilhã no século XIX, ou que, embora nascidos fora, aqui se fixaram.

XIV - Francisco Maria Rodrigues de Oliveira Grainha

    Nasceu na Covilhã em 1827, era médico e padre jesuíta. Foi pároco da Igreja de Santa Maria e a ele se devem as obras da empena contracurvada daquela igreja, cuja responsabilidade financeira é sua e de seu irmão João Grainha. Foi também fundador, em 1892, do Colégio da Aldeia da Ponte, numa quinta sua cedida aos Irmãos de S. João de Deus, para recolher órfãos e desprotegidos. Intervém em 1871 numa polémica - do Papa Rei e o Concílio - cujas cartas se encontram no Arquivo municipal
    Os doutores Grainhas pediam insistentemente que o Colégio jesuita de S. Fiel enviasse algum padre para a Covilhã; a resposta virá mais tarde com a chegada do Padre Nicolau Rodrigues, como veremos.
    Sobre o Padre/Doutor Francisco Grainha, o investigador Luiz Fernando Carvalho Dias conta-nos:
      “Camilo Castelo Branco, na Maria da Fonte, refere-se duas vezes ao Padre Francisco Grainha.
    O irmão, (XV) Doutor João Rodrigues Grainha (1816-1892), formou-se em Direito em 1846 e estudou Teologia, mas não alcançou a celebridade do Dr. Francisco que além de político muito influente, era um médico distinto sem esquecer a sua vida sacerdotal.
    Dizia o meu avô paterno Prof. Claudino Dias Agostinho e Rosa que privou ainda muito com ele que só em Coimbra o Dr. Grainha se convertera quando estudante de Medicina; atribuia-se a mudança de vida às suas relações com os Jesuítas. Antes da formatura ainda assinara na Covilhã o auto de aclamação de Dona Maria II, quando depois foi sempre miguelista e como tal duramente perseguido.”
   Também nos diz que foi a Roma ao Concílio Vaticano 1º, à Terra Santa levado por um cardeal que ele curou e esteve em Viena de Austria com D. Miguel 2º.
    Faleceu em 1896.
    Leiamos uma curiosidade jornalística:
“Vindos de Roma aonde acompanharam a peregrinação portugueza que foi prestar as suas homenagens ao Sumo Pontífice, chegaram na sexta feira à noite, 25 do corrente, a esta cidade os srs. Dr. Francisco Rodrigues d’Oliveira Grainha e Padre José da Costa e Oliveira Pinto.
Que nos conste foram suas Revªs os únicos covilhanenses que se incorporaram na perigrinação que Portugal foi à capital da christandade.
Damos as boas vindas aos nossos patrícios”
In: Correio da Covilhan, 31 de Maio de 1888

XVI - Francisco de Sales Borges Grainha


    
       Segundo Luiz Fernando Carvalho Dias, "O Padre Sales, como era conhecido, sobrinho dos doutores Graínha, entrou cedo na Companhia de Jesus. Teve cinco irmãs freiras e outro irmão, egresso da Companhia, que foi depois o conhecido maçon Manuel Borges Grainha. 
        Além do múnus sacerdotal que exerceu com toda a espiritualidade, era o Padre Sales um distinto engenheiro civil, autodidata por certo, pois não chegaram até nós notícias dos seus estudos nessa matéria. A Covilhã ficou-lhe a dever a construção dum belo templo com a sua torre altaneira: a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, vulgarmente conhecida por Santiago, por ter sido construída sobre a antiga igreja deste orago.”
     Desta Igreja, desde meados do século XX de novo na posse dos Jesuítas, A Comunidade de S. Pedro, falaremos mais tarde.
     Lemos também que em 1890 chegou com outros jesuítas a Macau, a fim de remodelar o Seminário.

XVII - Manuel Borges Grainha

    Nasceu na Covilhã em 1862. 
    Era irmão do Padre Francisco Sales de Borges Graínha, egresso da Companhia de Jesus, foi depois republicano, maçon e combateu aquela congregação. Frequentou Letras e era especialista em Línguas, sobretudo o Latim. Fez parte da Liga Nacional da Instrução, da Comissão que examinava livros para o Ensino Secundário, participou na reforma ortográfica, fez parte da Comissão de Propaganda e Instrução, foi responsável pela organização do Museu das Congregações Religiosas, director do Arquivo das Congregações religiosas e vogal da Comissão Jurisdicional dos Bens das Extintas Congregações Religiosas.
    A ele se devem várias obras de carácter didáctico e outras sobre os jesuítas. Algumas são:
- O analfabetismo em Portugal. Suas causas e meios de as remover. Relatório apresentado…, Lisboa, 1908
- Duas portarias diferentes sobre a ortografia nacional (1911-1920), Lisboa, 1922
- História do Colégio de Campolide
- História da Maçonaria em Portugal (1735-1912), Lisboa, 1912
- Os Jesuítas e as Congregações Religiosas em Portugal nos últimos Trinta Anos, Porto, 1891.
     Faleceu em Lisboa em 1925.

XVIII - Padre Nicolau Rodrigues


(1) [...]

    
    Viveu dois anos como hóspede dos doutores Grainha e pároco de Santa Maria, até que foi aberta residência da Companhia numa casa emprestada por Luís António de Carvalho, bisavô do editor deste blogue. Foi-lhes então oferecida a arruinada capelinha de Santiago, daqui o nome de Padres de Santiago, ou de Igreja de Santiago ainda hoje em uso. Devido ao exíguo tamanho deste templo, outra construção se fez – A Igreja do Sagrado Coração de Jesus - que estava ao culto em 1877 e também a residência dos padres da Companhia em 1879.
    O papel dos padres jesuítas desenrolou-se em torno da prática das obras de misericórdia, das Congregações Marianas, do Apostolado da Oração, da catequese, de missões nos arredores, de assistência aos atingidos pela varíola em 1873, de reparação de igrejas, como a de Santa Maria ou a da Boidobra.
    O Padre Nicolau deixa a Covilhã em 1895 e morre na Colômbia, pelos 70 anos, em 1900. 
    Na Covilhã deixou um rasto de santidade e de milagreiro, como nos foi referido por um nosso familiar: quando um operário, que trabalhava na torre da Igreja da Misericórdia, caiu na presença do padre Nicolau, este orou a Deus pelo homem, a quem não adveio nenhum mal.

Nota dos editores 1) In: Pagela nº 79 do Mensageiro


As Publicações do Blogue:

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Publicações neste blogue sobre os Jesuítas:

http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/02/covilha-os-jesuitas-iii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/01/covilha-os-jesuitas-ii.html





 


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