quarta-feira, 19 de março de 2014

Covilhã - Memoralistas ou Monografistas VII

    Continuamos hoje a publicar os monografistas da Covilhã, começando com algumas reflexões de Luiz Fernando Carvalho Dias já publicadas neste blogue.
     
“Convém enumerar os autores de monografias da Covilhã, os cabouqueiros da história local, aqueles de quem mais ou menos recebi o encargo de continuá-la, render-lhes homenagem pelo que registaram para o futuro, dos altos e baixos da Covilhã, das suas origens, das horas de glória e das lágrimas, dos feitos heróicos e de generosidade e até das misérias dos seus filhos, de tudo aquilo que constitui hoje o escrínio histórico deste organismo vivo que é a cidade, constituído actualmente por todos nós, como ontem foi pelos nossos avós e amanhã será pelos nossos filhos. […]
Para a Academia Real da História, no século XVIII, destinada ao primeiro dicionário do Padre Luís Cardoso, escreveu o prior de São Silvestre, Manuel Cabral de Pina, a monografia mais completa dessa época, que constitui um trabalho sério, no sentido de que é possível hoje referenciar quase todas as suas fontes. O Padre Pina, que frequentou um ano a Universidade de Coimbra, era natural do concelho de Fornos de Algodres e colheu muitos elementos para a sua monografia nas cópias do Arquivo da Torre do Tombo existentes na Câmara e nos livros paroquiais."



Igreja de S. Silvestre
Fotografia de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias




     Pelas leituras que temos feito podemos concluir que o texto que vamos apresentar - Monografia de o Padre Manuel Cabral de Pina - não é o original. Trata-se de uma cópia, pois constatámos que ao longo da monografia aparecem, por vezes, frases entre parêntesis e até com letra diferente feitas por alguém que, em época posterior, pretendeu incluir no texto original dados mais recentes. Num dos casos chega-se a datar: "...Esta nota se fez em 1850"
    "O original perdeu-se no Terramoto. A cópia que possuo é dos princípios do sé. XIX, mas posterior às invasões Francesas. Cedeu-me um exemplar o Ex.mo Senhor Artur de Moura Quintela... O questionário que lhe serviu de base é diferente daquele que foi enviado aos párocos, depois do Terramoto de 1755." (1)


A 1ª folha do manuscrito de o Padre Pina


Eu o Padre Manuel Cabral de Pina, pároco da Igreja de S. Silvestre, abaixo declarada, satisfazendo a uma ordem de meu superior para responder a um interrogatório àcerca das terras, serras e rios, respondo o que se segue pela ordem dos mesmos interrogatórios o que toca à Vila de Covilhã.
Fica na província da Beira, pertence ao bispado da Guarda e a comarca da mesma, tem treze freguesias como abaixo se dirá. É de El Rei por quanto El Rei D.Manuel, por provisão de 21 de Fevereiro de 1498 a fez realenga e da Coroa para sempre e prometeu por sua fé real de nunca se dar a donatário, não somente particular mas ainda aos filhos do Rei. E suposto ao depois de consentimento dela se deu ao Infante D. Luis, filho do mesmo rei D. Manuel, foi por aquela vez somente e, depois de morto o Infante, lhe foi confirmada a dita mercê de realenga, com a cláusula derrogativa de todas as leis em contrário, por alvará de 13 de Maio de l58l, como senhor que era da mesma.
Tem no seu casco e arrabaldes próximos  981 vizinhos. (Agora no de 1836 tem 1730). E no lugar da Bouça e Quintas que distam dela uma légua mas que pertencem às suas freguesias tem 61 vizinhos. (Em 1836 só nas quintas perten­centes às freguesias da Vila, são 252; e os moradores da Bouça passam de 30 vizinhos).
2º.
No tempo presente se acha situada em monte, na costa da ladeira que desce do alto da Serra da Estrela, de Norte para o Nascente, entre duas ribeiras que nascem no cimo da mesma ladeira e correm também do Norte para o Nascente. Uma delas se chama a Ribeira da Carpinteira e, por outro nome, da Fábrica, por estar nela a fábrica de El Rei para os panos, na qual, por baixo da Vila, está uma ponte de cantaria, chamada a Ponte de D. Joana. (Esta ponte é presentemente de madeira porque a antiga de cantaria de que fala o autor é tradição que fora destruída em 1749 por uma horrorosa trovoada e cheia). A outra ribeira se chama a Degoldra, na qual tambem, por baixo da Vila, está uma ponte de cantaria, chamada Ponte de Martim-Collo.
Na sua primeira fundação estava esta Vila situada no fundo da dita costa, junto aos pomares, onde chamam Ladeira de Martim Colo, porque neste sítio, assim chamado, principia a mesma ladeira. E sendo destruida na geral invasão e destruição que os mouros fizeram na Espanha, por indução do Conde Julião, no tempo que nela reinava D. Rodrigo, último rei godo, foi ao depois, no mesmo sítio, fundada por El Rei D. Sancho lº, como declaram as Crónicas, cuja fundação se extinguiu mas ainda dela existem vestigios, alguns edifícios, como tambem uma parte da. povoação que chamam as três freguesias, porque sómente delas consta. Des­ta Vila se descobrem as povoações do Teixoso, Belmonte, Caria, Peraboa, Ferro, Boido­bra, Alcaria, Freixial dos Potes, Souto da Casa, Aldeia Nova do Cabo, Fundão, Alcongos­ta, Alcaide, Donas, Valverde e Valverdinho.
3º.
Tem terreno seu o qual compreende os lugares e aldeias abaixo descritas, não falando em alguns casaes de seis vizinhos e daí para baixo, e se chamam esses lugares:
1.Aldeia do Mato que tem vizinhos 189; 2. Aldeia do Souto id, 54; 3. Orjaes id. 99; 4. Teixoso id. 412; 5. Gibaltar id.35 ; 6. Aldeia de Carvalho id. 128; 7. Boidobra id. 70; 8. Turtuzendo id. 214; 9. Cazal da Serra id. 30; 10. Cortes do Meio id. 30; 11. Mourais id. 9; 12.Quadrados id. 8; 13. Bouça. id. 20; 14. Dominguiso id. 40; 15. Pezo id.30; 16. Vales id. 33; 17. Coutada id. 38; 18. Pezinho id. 13; 19.Barco id. 55; 20. 0u­rondo id. 42; 21. Relvas id. 20; 22. Paúl id. 91; 23. Cortes de Baixo id. 16; 24. Unhaes da Serra id. 76; 25. Erada id. 57; 26. Cazegas id. 89; 27. Sobral da Serra id. 32; 28. Ce­bola id, 26; 29. Unhaes o Velho id. 15; 30. Means id. 16; 31. Vidual de Cima id. 31; 32. Vidual de Baixo id. 20; 33. Cambas id. 27; 34. Cameiro id. 8; 35. Romor id. 11; 36. Pesoa­ria id. 16; 37.De Moço id.15; 38. Janeiro de Baixo id. 38; 39. Orgueiro id. ll; 40. Brejo de Baixo id. 14; 41. Brejo de Cima id. 8; 42.Esteiro id. 9;43. Porto da Vaca id. 11; 44. Machadinho id. 8; 45. Souto id. 18; 46. Dornelas id. 33; 47. Machial id. 7; 48.Carregal id. 8; 49. Durão id. 8; 50. Portas do Souto id. 14; 51. Seladinhas id. 10; 52. Póvoa id. 16; 53. Bodelhão id. 24; 54. Alqueidão id.15; 54. Vilar Barroco id. 21; 56.Vilarinhos id.8; 57. Orvalho id. 75; 58.Foz Giraldo id. 11; 59. Bogas de Baixo id.17 ; 60. Machial id. 19; 61. Ladeira id. 7;62. Descuberto id. 11;63. Bogas do Meio id. 9; 64. Janeiro de Cima id. 62; 65.Barroca id.36; 66.Silvares id. 123; 67. S.Martinho id. 20; 68.Bogas de Cima id.14; 69. Boxinhos id. 9; 70. Lavacolhos id. 79; 71. Castelejo id. 92; 72. Enxabarda id. 45; 73. Telhado id. 85; 74. Freixial dos Potes id. 58; 75. Casal de Santa Maria id. 7; 76. Souto da Casa id. 173; 77. Aldeia Nova do Cabo id. 190; 78. Aldeia de Joane id. 75; 79. Fundão id. 452; 80. Valverde id. 57; 81. Donas id. 65; 82. Tei­xugas id. 10; 83. Chãos id. 20; 84. Alcongosta id. 138; 85. Alcaide id. 335; 86.Montes da Senhora id. 15; 87. Fatela id. 150; 88. Perovizeu id. 188; 89. Vales id. 20; 90. Capinha id. 200; 91. Salgueiro id. 29; 92. Quintãs do Salgueiro id. 60; 93. Escarigo id. 76; 94. AI­caria id. 74; 95. Ferro id. 200; 96. Peraboa id. 178; 97. Caria id. 262; 98. Monte do Bispo id. 18.
4º.
Tem esta vila treze freguesias que são as seguintes:      

S. JOÃO MARTIR IN COLLO. A paróquia de S. João Martir in Collo está sita nas três freguesias e é uma delas. Está dentro da vila para o Poente. O seu orago é o glorioso S. João Baptista em sua degolação, com a denominação de S. João martir in collo. Tem a igreja três altares: O principal em que está a imagem do orago; O colateral da parte direita, com a imagem de Santo Antão abade e é o altar das Almas do purgatório; o colateral da parte esquerda com a imagem da Senhora da Piedade.Não tem naves. Tem duas irmandades, uma da Senhora da Piedade e outra das Almas do purgatório. (Tem hoje tambem a confraria do Santíssimo Sacramento) O pároco se chama prior cuja apresentação é in solidum do Prior do Convento de Folques dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho em quem, nos tempos antigos, cedeu o direito do padroado,  um João Mendes, dela fundador. Tem de renda pouco mais ou menos trezentos mil reis. Não tem beneficiados. Esta igreja é matriz de duas filiaes, uma no lugar de Alcaria e outra no lugar do Dominguiso, deste termo, aonde o pároco da matriz apresenta curas.
Em terras próprias desta igreja foi fundado o Convento de Santo António dos Capuchos desta vila como abaixo se diz no nq 6.
S. MARTINHO. A paróquia de S. Martinho está sita nas três freguesias e é uma delas .Está fora da vila para o Poente, em distância de quarenta passos pouco mais ou menos. O seu orago é o glorioso S. Martinho, bispo. Tem três altares: o principal com a imagem do orago, o colateral da parte direita, com a imagem do Apóstolo Santo André e o colateral da parte esquerda, com a imagem de S. Jacinto. Não tem naves, nem irmandades. O pároco se chama prior cuja apresentação é da colação ordinária e terá de renda pouco mais ou menos cento e cinquenta mil reis. Não tem beneficiados. Esta igreja é muito antiga e da primeira fundação da vila. Nela se faziam as principaes funções eclesiásticas da vila e dela saíam as procissôes publicas da mesma como é tradição constante e assentada geralmente. E pela mesma tradição consta que ao pé desta igreja era a praça pública da vila e que, por esta causa, se chamava a Praça de S. Martinho.
S. VICENTE. A paróquia de S. Vicente está sita nas três freguesias e é uma delas. Está dentro da vila. O seu orago é o glorioso S. Vicente, mártir. Tem três altares: o principal em que estão três imagens em vulto, no meio a imagem da Senhora da Ajuda, no lado direito a imagem do orago, no lado esquerdo a imagem de S. Lourenço que para alí veio da sua antiga igreja, por se demolir, como abaixo se dirá ao nº 7; O colateral da parte direita, em que estão as imagens da Senhora da Graça e de Santa Rita; o colateral da parte esquerda, em que está a imagem do Apóstolo Santo André cujo altar é de uma capela que instituiu Fernão de Anes Cardozo e junto dele está uma sepultura, com letreiro que diz: Sepultura de Fernão de Annes Cardozo. Não tem naves nem irmandades. O pároco se chama prior cuja apresentação é do padroado real. Tem de renda, pouco mais ou menos, sessenta mil reis. Não tem beneficiados.
SANTA MARIA. A paróquia de Santa Maria está sita dentro dos muros da vila,  no meio da freguesia, e tudo o que há dentro dos muros é freguesia desta paróquia. O seu orago é Santa Maria. Tem sete altares: O principal em que estão três imagens, uma da Senhora de vestir que é magestosa e se chama tambem a Senhora de Reclamador e há tradição que, em umas guerras muito antigas, fora trazida de Castela, sentada em uma cadeira em que esteve até o tempo de que há lembrança e tinha o Menino Jesus tambem de vestir; outra é a imagem do glorioso S. José, com o Menino nos braços; outra, a imagem de Santa Rita; a face do arco cruzeiro, da parte direita, está outro altar da Anunciação da Senhora, com a sua imagem pintada; junto a ele está uma capela do Santíssimo Sacramento, com altar, em que há dois sacrários, um em que está o mesmo Sacramento, outro em que está uma memorável relíquia do Santo Lenho, abaixo declarada no interrogatório 18, e neste altar não há mais imagens; a outra face do arco cruzeiro,da parte esquerda, está outro altar de S. Francisco Xavier com a sua imagem em vulto; junto a ele há uma capela com altar em que está uma imagem grande de Cristo crucificado, outra imagem da Senhora do Rosário, outra imagem de Santa Apolónia: este é o altar das almas. Em todos estes altares referidos se diz missa.
No lado direito do corpo da igreja está outro altar com a imagem de S. Caetano; mais outro altar com a imagem da Senhora das Angústias. Nestes dois altares se não diz missa. Tem três naves com arcos bem feitos. Há nesta igreja três irmandades, uma do Senhor, outra das Almas e outra dos clérigos com o título da Senhora da Assunção. Há duas na freguesia, abaixo relatadas ,no número 7. O pároco se chama vigário cuja apresentação é do padroado real. Tem de côngrua quarenta e dois mil reis em dinheiro, quarenta alqueires de centeio e vinte de trigo de passal, duas arrobas de cera e casas de residência, tudo pago pela Comenda. Há cura, apresentado pelo pároco, o qual tem de côngrua oito mil reis, pagos da Comenda, e a terça parte do pé de altar porque as duas partes as leva o pároco. Há sacristão, apresentado pelo mesmo pároco, o qual tem de côngrua, paga da Comenda, quatro mil reis em dinheiro, oito alqueires de trigo, doze de centeio, dezasseis almudes de vinho e oito alqueires de azeite. É obrigado a alumear a alâmpada da Comenda e a dar vinho e hóstias para as missas. Há mais quatro raçoeiros, apresentados pelo mesmo pároco, os quais não são beneficiados porque não teem colação e instituição canónica sem a qual se não dá benefício; nem têm coro nem nela rezam. E, alem disto, renun­ciam à raçoaria livremente quando querem e por autoridade própria, sem ser necessário consentimento e aceitação do superior como repetidas vezes, estão fazendo, o que não poderiam fazer se fosse benefício. A renda destes consiste nas pensões que se lhe pagam de certos prazos seus. Terá cada um ano por outro, três mil reis. São estes preferidos nas benesses da igreja com obrigação de assistirem a várias funçôes dela. Há tradição antiga que são obrigados às festas de Sabaoth.
Esta igreja é matriz de uma filial que tem de Unhaes o Velho, deste termo, onde o pároco dela apresenta cura. A freguesia desta igreja é a maior de todas as da vila e, da mesma sorte, a igreja é, no seu edifício, a maior das igrejas paroquiaes todas e dela saiem, no tempo presente, as procissões públicas, em que entram as reais que faz a Câmara, a qual está dentro do limite dela, excepto a procissão real da bula da cruzada que sai da igreja da S. Pedro e a procissão dos santos óleos que tambem sai da igreja de S. Pedro.
No tempo antigo se faziam as funçôes públicas na igreja de S. Martinho como acima fica dito.
Do sacrário desta paróquia se leve o Senhor aos enfermos tambem das três freguesias de S. Vicente, de S. Martinho e de S. João Martir in Collo.
S. SILVESTRE. A paróquia de S. Silvestre está dentro da vila, para a parte do Sul. O seu orago é o glorioso S. Silvestre, papa. Tem um só altar com três­ imagens, uma da Senhora da Estrela, outra do orago e outra de S. Lopo, bispo. Não tem naves nem irmandades. O pároco se chama prior cuja apresentação é da colação ordinária. Em tempos muito antigos era do padroado particular da casa de Bernardo de Macedo Castelo Branco, desta vila, contra quem prescreveu a mitra deste bispado, o qual padroado teve príncipio na forma abaixo relatada, na relação das famílias, ao número 11.
Tem o pároco de renda, pouco mais ou menos, duzentos e trinta mil reis.Não tem beneficiados. Esta igreja é matriz de uma anexa e filial que tem no lugar do Barco, deste termo,onde o pároco dela apresenta cura.
É esta igreja muito antiga e da primeira fundação da vila, relatada acima ao número 2º. A sua antiguidade bem se mostra pelo seu edifício pois tinha a forma usada dos templários e mais claramente se mostra pela muita antiguidade dos seus fundadores,  declarados abaixo ao número 11.
Tinha nas paredes do corpo, da parte de fora, quatro a cinco sepulturas, metidas dentro das mesmas paredes, em arcos de cantaria tosca, sem se saber se eram ou não próprias de alguem, porque disso não constava; nem já delas se usava, nem já tinham por cima as lapas que na sua fatura lhe foram postas.
E por esta igreja se achar com notável indecência foi reformada a fundamento no ano de 1728. A esta igreja vem a procissão da Ladaínha maior, em dia do evangelista S. Marcos, a 25 do mês de Abril.
Pelas quintas que estão na freguesia desta igreja, da parte dalem do rio Zêzere, em distância de mais de uma légua, corre um ribeiro chamado da Póvoa, que nasce no alto da serra do lugar de Ferro, deste termo, inclinado para o Sul, e corre inclinado para o Poente e morre no dito rio Zêzere, de fronte desta vila.
Uma destas quintas, chamada Seves, nos tempos antigos foi povoação e lugar, como se declara no Tombo velho desta igreja e disto se teem tambem achado vestígios.
S. TIAGO. A paróquia de S. Tiago está dentro da vila, para o fundo dela, da parte do Nascente. O seu orago é o glorioso apóstolo S. Tiago Maior, patrão das Hespanhas. Tem três altares. O principal em que há seis imagens em vulto, a do santo a cavalo, pelejando com os mouros, metida em um nicho no fundo do altar. Mais acima, em dois nichos mais pequenos, a de S. João Baptista e outra do mesmo S. Tiago de romeiro. No cimo do altar, em outro nicho grande, o Menino Deus, a Senhora e São José. O colateral da parte direita onde está a imagem de Santa Ana e o colateral da parte esquerda em que está a imagem de S. Sebas­tião. Não tem naves. Tem uma irmandade de Santa Ana que consta somente de mulheres que a festejam no seu dia. O pároco se chama prior cuja apresentação é da colação ordinária. Tem de renda, pouco mais ou menos, duzentos e quarenta mil reis. Não tem beneficiados. Esta paróquia é matriz de uma filial que tem no lugar de Ferro, deste termo, onde o pároco dela apresenta cura. Por se achar esta igreja muito antiga e muito indecente foi reformada, poucos anos há, pelo prior actual Manuel dos Santos de Bastos e se acha hoje com grande aceio e magnificência.
S. PEDRO.A paróquia de S. Pedro está dentro da vila. O seu orago é o glorioso apóstolo S. Pedro. Tem quatro altares: o principal, com tribuna, em que está a imagem da Senhora do Rosário, de vestir, que é magestosa, e a imagem do orago (hoje a imagem de S. Domingos). No corpo, da parte direita, está o altar do Santíssimo Sacramento e no cimo do sacrário está uma imagem de Cristo Senhor Nosso ressuscitado. Da parte debaixo deste altar está outro das Almas, em que está a imagem de Cristo crucificado, de bastante grandeza. Há mais neste altar duas imagens pequenas, uma de S. Mateus e outra de S. João de Deus. Tem, da parte esquerda outro altar, metido em arco de cantaria, em que está a imagem de S. Gonçalo cujo altar é de uma capela de que é administrador Bernardo de Macedo Castelo Branco, desta vi1a, e no cimo do arco está o escudo das suas armas e junto e de fronte do altar uma sepultura própria.
Tem duas naves e tem três irmandades, uma do Senhor, outra da Senhora do Rosário e outra das Almas.
O pároco se chama prior cuja apresentação é in solidum do reverendo Cabido da Guarda. Tem de renda, pouco mais ou menos, cento e trinta mil reis. Não tem beneficiados. Dentro do limite desta paróquia está a Casa da Misericórdia e o Hospital. Do sacrário desta igreja se leva o Senhor tambem aos enfermos das freguesias de S. Si1vestre, S. Tiago, Madalena, S. João de Ma1ta, S. Paulo, S. Bartolomeu, S. Sa1vador e Santa Marinha.
MADALENA. A par6quia da Madalena está no fundo da vila, para a parte do Nascente; fica fora das casas da vila mas pegada com elas. O seu orago é a gloriosa Santa Maria Madalena. Tem um só altar em que estão sete imagens, a do orago, a de S. Francisco, a de Santo Aleixo, a de Santa Luzia e no cimo do altar as imagens do Menino Deus, da Senhora e de S. José. Não tem naves nem irmandades.
O pároco se chama prior cuja apresentação é da colação ordinária. No tempo antigo, era de padroado particular, da casa e família dos Tavares, desta vila, como descendentes de D. Marinha de Tavares que a fundou, segundo se relata abaixo no número 4º contra os quais se prescreveu pela mitra. Tem de renda, pouco mais ou menos, duzentos e quarenta mil reis. Não tem beneficiados. Esta paróquia é matriz de uma filial que tem no lugar do Pezo, deste termo, onde o pároco dela apresenta cura.
S. JOÃO DE MALTA. A par6quia de S. João de Malta está no fundo da vila para a parte quasi do Norte, mas junto das casas dela. O seu orago é o glorioso S. João Baptista. Tem um só altar em que está a imagem do orago, em vu1to, e outras mais pintadas, uma de S. Sebastião e outra de Santo Amaro e no cimo as do Minino Deus, da Senhora e de S. José. Foi reformada a capela mór e se tiraram do altar as imagens pintadas e se pôs de novo a imagem pintada do orago e tambem se conserva a imagem dele, em vulto. Não tem naves nem irmandades.
O pároco se chama cura e é apresentado pelo comendador de Malta a cuja comenda pertence esta igreja. Tem de renda dez mil reis em dinheiro, dez arráteis de cera, para as missas, dois almudes de vinho, dois alqueires de trigo, um arrátel de incenso, tudo pago pela dita comenda. Não tem beneficiados. É cabeça da Comenda de S. João do Hospital. É matriz de uma filial que tem no lugar de Escarigo, deste termo, (hoje do Fundão), e de outra que tem no lugar de Sameiro, fora dele, nas quais o comendador apresenta curas. Entrando a procissão da ladaínha terceira de Maio em três igrejas esta é a primeira onde entra.
S. PAULO. A paróquia de S.Paulo está dentro da vila. O seu orago é o glorioso apóstolo S. Paulo. Tem três altares, o principal em que está a imagem do orago, e outro de S. Lázaro que para esta igreja foi trazido da sua capela quando se arruinou, como se diz abaixo, no número 7. O co1ateral da parte direita em que está a imagem de S. Martinho, bispo, e o co1ateral da parte esquerda em que está a imagem da Senhora do Pranto. Não tem naves nem irmandades. Há, porem, uma hermida na freguesia, a hermida do Senhor Jesus que se declara no mesmo número 7. O pároco se chama prior cuja apresentação é do padroado real. Tem de renda, pouco mais ou menos, oitenta mil reis, entrando o rendimento de umas capelas de que é administrador. Não tem beneficiados.
Esta é a segunda igreja onde entra a terceira ladaínha de Maio, que como ficou dito, na lauda antecedente, entra em três igrejas.
S. BARTOLOMEU. A par6quia de S. Bartolomeu está no fim da vila, para a parte do Norte. O seu orago é o glorioso apóstolo S. Bartolomeu. Tem três altares: o principal em que está a imagem do orago, o co1ateral da parte direita em que está a imagem da Senhora da Graça e o co1ateral da parte esquerda em que está a imagem de Cristo crucificado. Existe na sacristia outra imagem da Senhora da Graça a qual, por muito antiga e indecente, foi mandada enterrar haverá sessenta anos. Porem, haverá dez ou doze anos, sendo reedificada a parede da capela, se achou a dita imagem intacta, com os mesmos vestidos com que foi enterrada. Uma devota que viu este prodígio a mandou encarnar e, fazendo-lhe outro vestido, levou por relíquia os sobreditos. Depois disto, um visi tador a mandou outra vez enterrar cujo mandato não executou o pároco que então era, achando o não devia fazer pela razão do referido sucesso. Não tem naves nem irmandades.
O pároco se chama vigário cuja apresentação é do padroado real. Tem de renda quarenta mil reis e dois mil reis mais de ensinar a doutrina, sessenta alqueires meados de trigo e centeio, oito arráteis de cera, um alqueire de azeite, dois almudes de vinho para as missas e quatro alqueires de trigo para hóstias. Não tem beneficiados. Esta paróquia é matriz de uma filial que tem no lugar do Salgueiro, deste termo (hoje do Fundão) onde o pároco dela apresenta cura.
SALVADOR. A paróquia do Salvador está dentro da vila para a parte do Norte. O seu orago é o Salvador do Mundo. Tem trez altares, o principal em que está a imagem do orago, o colateral da parte direita em que está a imagem de S.Braz e o colateral da parte esquerda em que está a imagem do apóstolo Santo André. A imagem de S. José está no altar principal. Não tem naves. Tem uma irmandade de S. Braz, muito dilatada em número de irmãos.
SANTA MARINHA. A paróquia de Santa Marinha está no cimo da vila, para o Norte, mas fora dela em distância de vinte passos. O seu orago é a gloriosa Santa Marinha. Tem trez altares, o principal com a imagem do orago, o colateral da parte direita com a imagem da Senhora da Graça e o colateral da parte esquerda com a imagem do glorioso S. José. Não tem naves nem irmandades.
O pároco se chama prior cuja apresentação é do padroado real in solidum. Terá de renda, pouco mais ou menos, cento e cinquenta mil reis. Esta igreja é matriz de uma filial que tem no lugar de Aldeia de Carvalho, deste termo, onde o pároco dela apresenta cura. Pelos limites desta freguesia corre a ribeira chamada da Carpinteira ou da fábrica, relatada acima ao número 2.
5º.

Fica respondido acima ao número 4. 

A última folha agora apresentada.

Nota dos editores 1) Dias, Luiz Fernando Carvalho, "Frei Heitor Pinto (Novas Achegas para a sua Biografia)", Coimbra, Biblioteca da Universidade, 1952.

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