sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Covilhã - Rui Faleiro I

Dados biográficos de Rui Faleiro         

          Começamos hoje a publicar documentos sobre o cosmógrafo Rui Faleiro, que Luiz Fernando Carvalho Dias transcreveu nas inúmeras vezes que, nas décadas de sessenta e setenta do século XX, se deslocou a Sevilha ao Arquivo Geral das Índias e outros que ele achou importantes para o conhecimento da vida daquele cosmógrafo. (1)

         O seu interesse prende-se com o facto de Faleiro ser covilhanense, tendo mesmo uma rua com o seu nome, que vai da Praça do Município (Pelourinho) para a Serra. Com estes documentos pensamos ir preenchendo a biografia de Rui Faleiro desde que estudou e viveu em Salamanca, Siena e Lisboa até ao fim da sua existência. Ele viveu no auge dos Descobrimentos portugueses, já que atravessou os reinados de D. João II, D. Manuel e ainda chegou ao de D. João III. Queria pertencer à Junta dos Matemáticos e foi preterido, quis regressar à pátria e foi preso, provavelmente porque a política de sigilo entre Portugal e Espanha levava para a cadeia quem saísse da sua Terra e fosse servir o país vizinho. É em 1517 que abandona Portugal com seu irmão Francisco e com Fernão de Magalhães. Magalhães deixa o país, porque pediu ao rei D. Manuel uma recompensa pelos serviços prestados no Oriente e no norte de África, mas o rei nunca lha concedeu. Juntou-se a Rui Faleiro e começaram a preparar uma viagem de circum-navegação por ocidente, atravessando do Atlântico para o Pacífico no sul do continente americano, com a finalidade de provarem que o rico arquipélago das Molucas (a Especiaria) estava fora do hemisfério que pelo Tratado de Tordesilhas pertencia a Portugal. Tratava-se de uma viagem muito perigosa, porque era preciso determinar com rigor a longitude das ilhas e os conhecimentos sobre o assunto estavam ainda pouco desenvolvidos. Vão oferecer os seus préstimos a Sevilha e logo encontraram apoiantes, entre eles o Bispo de Burgos, que convenceram o rei Carlos I, futuro Carlos V, a aprovar o projecto. São considerados em pé de igualdade, sócios se quisermos, ambos com o cargo de capitão-geral da armada; mas Rui Faleiro, dados os seus conhecimentos, ficou encarregue de construir alguns instrumentos de orientação necessários na viagem, bem como regimentos, sobretudo um regimento com soluções para o problema da longitude. Em determinado momento zangam-se os dois e, embora Fernão de Magalhães continue a pedir a Faleiro os regimentos, parte para a viagem no verão de 1519. Na opinião do especialista Teixeira da Mota as instruções de Faleiro estão incluídas, e chegaram a ser utilizadas, na relação da viagem de Fernão de Magalhães escrita por António Pigaffeta.
     Mas o que levou ao divórcio entre os dois? Terá sido a loucura de Rui Faleiro? Ou o vaticínio da sua morte pela leitura dos astros, caso embarcasse? Ou zangas entre os dois capitães-gerais? Ou uma ordem régia?
     Qual vai ser o papel do irmão, Francisco Faleiro, em toda esta saga? Sabemos que em 1519 recebe um soldo do rei para preparar a Armada que for a seguir à de Fernão de Magalhães/Rui Faleiro; também não acompanha Fernão de Magalhães; num processo com Eva Afonso, mulher de Rui Faleiro, vem a ganhar a curadoria e administração dos bens do irmão devido à doença deste; em 1531 queixa-se ao rei por não ter ido em nenhuma viagem; fez parte de júris ou juntas da Casa da Contratação de Sevilha, que resolvia pleitos ligados ao mar; em 1567 vivia em Sevilha, com setenta e três anos de idade, na freguesia de San Juan de la Palma. Escreve o “Tratado del Esphera y del Arte del Marear” (1535), considerado por alguns uma compilação tardia dos conhecimentos de Rui Faleiro e de outros. No entanto também há especialistas e estudiosos dos irmãos Faleiro que valorizam Francisco e minimizam o valor pessoal de Rui que cedo enlouqueceu, ou “foi tomado pelos demónios da família”. Há mesmo quem ironicamente, supomos nós, lhes chame “os dois sapientes provincianos da Covilhã”.

     Analisemos agora documentos que nos vão ajudar a reconstituir a biografia de Rui Faleiro a partir de 1517, quando foi para Sevilha. Posteriormente, a propósito dos problemas familiares, ainda pensamos esboçar alguns traços anteriores.
     Rui Faleiro, Francisco Faleiro e Fernão de Magalhães vão então oferecer os seus serviços ao rei de Espanha, Carlos I, em 1520 também Carlos V, Imperador da Alemanha, numa época de feroz concorrência entre os países ibéricos.


Retrato de Carlos V (quadro de Jan Vermeyer)

     Em 23 de Fevereiro de 1518 , em Valladolid, Rui Faleiro e Fernão de Magalhães outorgam uma escritura em que se comprometem a dar a João de Aranda, feitor da Casa da Contratação de Sevilha a oitava parte do produto que obtiverem da viagem às Molucas.
     Já em Março os dois apresentam ao Rei uma memória com o projecto e as condições em que se comprometem a empreender a viagem.
     No dia 22 de Março são confirmadas as negociações (o acordo) feitas com Rui Faleiro e Magalhães. É também neste dia que o Rei  os nomeia capitães da Armada da Especiaria.
E ainda dá conhecimento aos oficiais da Casa da Contratação, que os fez capitães com um salário de 50.000 maravedis/ano. Vejamos o documento relativo a Rui Faleiro: 

Real Cédula en la que se previene a los Oficiales de la Casa de la Contratación que el bachiller Rui Falero há sido recibido por capitan, com cierto salário. 

El Rey - Nuestros officiales de la Casa de la Contrataçión de las Indias que residis en la ciudad de Sevilla. Sabed que mi merced y voluntad es de tomar y recibir por nuestro capitán al Bachiller Rui Falero, y que haya y tenga de salário en cada un año cincuenta mill maravedis; por ende , yo vos mando que los pongades é asentedes así en los nuestros libros y nominas de esa Casa que vosotros tenéis, y le libréis y pagueis los dichos cincuenta mill maravedis este presente año, desde el dia de la fecha desta mi cédula en adelante fasta en fin dél, y dende en adelante en cada un año à los tiempo y segund y como y cuando libráredes y pagáredes a los otros que de Nos tienen salários en esa Casa, é tomada su carta de pago, ó de quien su poder hobiere, com la cual y com el traslado signado de escribano público desta mi cédula, mando que sean recebidos y pasados en cuenta á vos, el nuestro tesorero, en cada un año los dichos cincuenta mill maravedis, y asentad el traslado desta mi cédula en los libros, y sobrescrita y librada de vosotros volved, esta, original, al dicho Bachiller Rui Falero. Fecha en Valladolid á veinte y dos de Marzo de mill y quinientos diez y ocho años. – Yo el Rey. – Por mandado del Rey. – Francisco de los Cobos. – Y en las espaldas de la dicha cédula están dos señales de firmas. Y púsose en las espaldas de la dicha cédula lo seguiente: Asentóse esta cédula de Su Alteza en el libro de los ofícios y situados que tienen los Oficiales de Sus Altezas que residen en Sevilla, á fojas veinte y cuatro, en diez y nueve dias del mês de Mayo de mill y quinientos y diez y ocho años, para que se guarde y cumpla lo en ella contenido, segund que Su Alteza lo manda. 

Em Abril o Rei dá instruções que devem ser guardadas e cumpridas na viagem que vão fazer: 

Instrucciones generales dadas por el Rey á Magallanes y Falero para el Viaje que habian de hacer. 

El Rey – Lo que vos, Fernando de Magallanes, caballero natural de reino de Portogal, y el Bachiller Rui Falero, asimismo del dicho reino, en el viaje que com la buena ventura habéis de facer, es lo seguiente:
Primeiramente, habéis de ir derechamente à la cibdad de Sevilla á presentar vuestras provisiones é capitulaciones á los nuestros Oficiales de la Casa de la Contratación de las Índias, que residen en la dicha cibdad, e solicitareis que, conforme à ello é à lo que yo cerca dello les mando escrebir, vos armen luego cinco navios que yo vos mando dar y vos los bastezcan de la gente y cosas nescesarias, é facerme héis saber algunos dias antes que este presto todo para cuando pensáis partir, y asimismo cuando estuvierdes presto é á la vela, porque de todo quiero ser informado.
Ansimismo, como sabeis, yo he de nombrar personas que vayan com vos en la dicha armada por nuestros fatores, contadores e escribanos, como Nos quisiéremos, para que tengam cuenta é razón de la gente é mercadorias nuestras que en ella llevardes, é tomen é reciban todo lo que dello resultare.
Habéis de tener mucho cuidado que en ello que hobierdes de facer en el dicho viaje, asi en el resgate é contratación de las mercadorias é cosas que en nuestro nombre se hobieren de facer, se haga por las dichas personas que asi nosotros nombraremos para ello, é no por vosotros ni por outra alguna, é por ante nuestro escribano de la dicha armada, é que todo lo que hobierdes de facer que toque á nuestro servicio, lo hagais tomando el parecer de las dichas personas, é com su acuerdo é seyendo todos juntos é conformes para ello, é sobre todo vos encomiendo la conformidad  dentre vosotros.
Otrosi: vos mando que todo lo que de la dicha armada nos perteneciere, asi de rescate ó contratación, como en outra cualquier manera, lo hagáis entregar luego libremente por ante el escribano de la dicha armada al nuestro tesorero ó factor que en ella Nos inviaremos, conforme à nuestra instrucción que para ello llevare, para que él lo traiga á los nuestros Oficiales de la Casa de la Contratación de las Índias, de Sevilla.
Item: luego que com la ayuda de Nuestro Señor hobierdes llegado á las dichas tierras é islas que así is á descobrir, me hagais saber vuestra llegada lo más presto que ser pueda, para que yo sepa como sóis llegados en salvamiento, como yo espero en su misericórdia que se fará. Fecha en Aranda de Duero à … (roto) de Abril de quinientos diez é ocho años. – Yo EL REY. – Por mandado del Rey. – Francisco de los Cobos. – Y al pie están dos señales de firmas. 

No dia 16 de Abril o Rei escreve aos oficiais da Casa da Contratação, perguntando-lhes se nela  haverá alguém que “como terceiro” acompanhe os dois portugueses na viagem. Quer também outras pessoas para tesoureiro, vedor e escrivão da Armada à Especiaria.
 Em 17 de Abril Carlos I promete privilégios aos herdeiros de Faleiro e Magalhães, se estes falecerem durante a viagem. É também nesse dia que Magalhães e Rui Faleiro  passam a receber mais 8.000 maravedis/mês: 

Real Cédula por la que se aumenta a Magallanes y á Falero sus sueldos de capitanes en atención á que van con una armada á descubrir “á la parte del Mar Oceano”. 

El Rey - Nuestros officiales de la Casa de la Contrataçión de las Indias que residis en la ciudad de Sevilla. Porque como vereis, Nos enviamos à Fernando de Magallanes y al Bachiller Rui Falero con una armada nuestra a descubrir á la parte del Mar Oceano, y demás de los cincuenta mill maravedis que les habemos mandado asentar de salário en cada un año à cada uno, por nuestros capitanes, mi merced y voluntad es que hayan y lleven el tiempo que andovieren en la dicha armada en nuestro servicio ocho mill maravedis de sueldo cada uno cada mês, etc….
Fecha en Aranda á diez y sete de Abril de mill y quinientos diez y ocho años. – Yo el Rey. 

Em 21 de Maio de 1518, a pedido dos oficiais da Casa da Contratação, é prorrogado o prazo para a preparação da Armada até Dezembro.
Em 28 de Setembro, D. Álvaro da Costa, embaixador de Portugal em Espanha, a tratar do casamento de D. Manuel com D. Leonor, irmã de Carlos I, dá novas de Magalhães e Faleiro – “anda casi fora de seu syso” - ao rei D. Manuel: 

Carta de D. Álvaro da Costa para D. Manuel acerca de Fernão de Magalhães, de Saragoça 28 de Setembro de 1518 

“... Eu fiz diligência com Dom Jorge acerqua que yda laa do seu alcayde e ele diz que hira em toda a maneira asy senhor que esto está desta maneira e com tudo eu nunca deixarei de trabalhar nisto o que poder ...”
E antes:
“ a mim senhor pareceme que vossa alteza pode recolher fernam de Magalhães que será grande bofetada pera estes que polo bacharel nom dou eu muito que anda casi fora de seu syso...” (2) 

A cópia que se segue não está datada, mas o contexto relaciona-se com o documento anterior e com descrições apresentadas a seguir, pois refere o embaixador de Portugal e as perseguições que Magalhães e Faleiro sofreram. 

“Aqui em Zaragoza prosseguió Hernando de Magallanes su demanda, y porque vino un embajador de Portugal a tragtar del casamiento de Madama Leonor, hermana del Rey com el rey Don Manuel de Portugal, digose que andaban por matar a él y al bachiller Ruy Faleiro los de la parte del dicho Embajador, y así andaban ambos a sombra de tejado, y por esto el Obispo de Burgos, cuando se tardaban en el negociar com él despues del sol puesto, enviaba gente de su casa, que hasta su posada los acompañasen.” 

Em 24 de Outubro de 1518 Magalhães escreve ao Rei de Espanha e entre outros assuntos “fala na afronta das bandeiras e do convite de Portugal para voltar”.
As cartas de Novembro dão conta dos desacatos contra Magalhães. Será que estes desacatos tiveram a ver com a baixa política portuguesa contra os traidores?
Em 10 de Março de 1519 por uma real cédula de Barcelona ficamos a saber:”...la armada que mandamos inbiar con Ferndo de Magallanes e ruy falero nnuestros capitanes cavalleros de la orden de Santiago al descubrimyº de la especeria...”
Em 5 de Maio o Rei promete a Magalhães e a Faleiro dar-lhes cartas de privilégio de cavaleiros e outras mercês compatíveis com os serviços que prestarem. Tudo quando regressarem da viagem.
Em 8 de Maio o Rei volta a dar instruções a Magalhães e Faleiro. Continuamos a ver Faleiro integrado na preparação da Viagem.
Em 18 de Junho - Sebastião Álvares ou Alvarez, feitor ou cônsul e agente secreto de Portugal em Sevilha criava um teia de intrigas entre os capitães espanhóis e Fernão de Magalhães para impedir a viagem às Molucas. É certamente neste contexto que escreveu ao rei D. Manuel: 

Carta de Sebastião Alvarez para D. Manuel, de Sevilha, 18 de Junho de 1519. 

“... (Magalhães) fez grande admiração de eu tal saber e aqui me disse a verdade e como o correo era partido que eu já tudo sabia. E me disse que certo não haveria cousa porque ele desse com a carga em terra senão tirando-lhe algua cousa do capitulado, porém que primeiro haveria de ver o que V. Alteza faria. eu lhe disse que mais queria ver os regimentos e Ruy faleiro que dizia abertamente que não havia de seguir sem farol e que havia de navegar ao Sul ou não hira na armada e que ele cuidara que ía por capitão-mor e que eu sabia que avia outros mandados em contrário os quaes ele não saberia senão a tempo que não pudesse Remediar sua honra .... falei a rruy faleiro per duas vezes nunca me all Respondeo senã que como faria tall, contra el Rei seu senhor que lhe tanta mercê fazia a todo o que lhe dezia nom me respondia all, parece me que está como homem torvado do Juizo e que este seu familiar lhe despontou algum saber se o nele havia, pareceme que movido fernão de Magalhães que Rui Faleiro seguirá o que Magalhães fizer ...”
§ o faleiro tem caa seu pay e may e irmãaos hum deles leva consigo ...”  (2) 

Parece curiosa a informação de algumas exigências de Faleiro para ir na Armada, de ir ou não como capitão-mor, de estar “torvado do juízo” e o facto de ter a família em Sevilha e um dos irmãos (será Francisco?) ir na Viagem.
Em 9 de Agosto de 1519, são efectuadas diligências em Sevilha por causa da ordem que o Rei deu para que Faleiro não fosse na armada de Magalhães.
Em 20 de Setembro de 1519 a Armada parte finalmente para a descoberta da Especiaria....
Terminamos com este documento,também sem data,já depois da separação de Magalhães e Faleiro, que recebeu 100.000 maravedis “por su vida”. Indica-se que  o bacharel Faleiro não quis ir na Viagem, referem-se algumas razões para esse comportamento e ainda se diz que ele, entretanto, enlouqueceu. 

“Higoles el Rey merced del habito de Santiago al Magallanes y al bachiler Ruy Falero y ciertas Mercedes si cumpliesen lo que habian prometido, y creo que al Ruy Falero hizo merced de 100.000 maravedis por su vida en la Casa de la Contratacción de Sevilla, porque no quiso ir al viaje com Magallanes por algunos respetos que tuvo, y dijo se que de miedo del Magallanes o porque riñeron, o porque lo cognoscia, que la compañia del Magallanes, donde mandase, no le convenia. Finalmente, después de partido Magallanes, o quizá antes, perdió el siso tornandose loco el Ruy Falero.” 

Notas dos editores1) Como  Luiz Fernando Carvalho Dias não nos deixou reflexões sobre o assunto, todo o texto escrito (no tipo de letra Courier New) é da responsabilidade dos editores.
2) As cartas de D. Álvaro da Costa para D. Manuel e de Sebastião Álvares para o mesmo Rei, que transcrevemos, não têm indicada a fonte.
O mesmo acontece quanto ao processo de curadoria, instaurado por Eva Afonso, mulher de Rui Faleiro, na parte que decorreu em Portugal e que iremos apresentar. 

Bibliografia  e fontes consultadas e a consultar nos próximos episódios – Albuquerque, Luís (1985) – “Os Descobrimentos Portugueses”, Publicações Alfa. Casas, Bartolomeu de las – “História de las Índias”, tomo III e tomo V. Cortesão, Armando  (1969-70)  “História da Cartografia Portuguesa”, Junta de Investigações do Ultramar. Gonçalves, Júlio (1961) - “Faleiro e Medina”, separata do Boletim da Sociedade de Geografia, Janeiro /Março 1961. Medina, J. Toribio de (1888) –  “Colección de documentos inéditos para a História de Chile”, (1518-1818), Vol. I, Santiago do Chile. Navarrete, Martin Fernandez – “Collección de los Viajes y Descubrimientos”. Serrão, Joaquim Veríssimo (1969) – “Um Memorial de Francisco Faleiro ao Imperador Carlos V, 1531”, in Arquivo Cultural Português, Vol. I, Paris. Archivo de Indias de Sevilha (documentos). “Colección General de documentos relativos a las Islas Filipinas, existentes en el Archivo de las Índias de Sevilla” (1918 1923), Compañia General de Tabacos de Filipinas, Barcelona. “Dicionário de História de Portugal”, dir. Joel Serrão, Iniciativas Editoriais. "História de Portugal", dir. José Hermano Saraiva, Publicações Alfa.


http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-rui-faleiro-iii.html

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Covilhã - Pedro Álvares Cabral e Belmonte III

Publicamos hoje a última parte da conferência relacionada com o V centenário do nascimento de Pedro Álvares Cabral, proferida em 1968, no Brasil, por Luiz Fernando Carvalho Dias, na cidade do Rio de Janeiro.  

     O conferencista continua a descrever a primitiva capela tumular dos Cabrais, junto a S. Tiago de Belmonte, construida em mil quatrocentos e oitenta e tal por Fernão Cabral.

Panteão dos Cabrais e Igreja de S. Tiago


            Desta primitiva capela resta um arco gótico de boa traça, uma bela pedra de armas com três escudos, ostentando ao centro as cabras passantes guardadas pelas prensas.
            Eram as prensas, então, as armas de domínio da vila de Belmonte. Evocavam a morte do filho dos alcaides do Castelo, sacrificado pelos sitiantes, ao coagirem em vão o pai à entrega da vila. Sobre as prensas a alma do escudo belmontense: Tudicula Passus, ou seja, em romance, a mó do suplício.
            Restam ainda dois túmulos da primitiva capela de Fernão Cabral: um com as armas dos Gouveias guardando, segundo parece, os restos mortais dos pais e do irmão de D. Isabel; outro, com as maças d’ armas do Gigante da Beira, guardando as ossadas de Fernão Cabral e de sua mulher.
            Num pátio interior do Castelo, da mesma época, da mesma pedra e do mesmo molde dos escudos sobrepostos ao arco gótico de S. Tiago, ressalta outra pedra d’ armas, esta ostentando simplesmente as cabras passantes.
            Desejo ainda fazer uma referência especial à formosíssima janela do Castelo e ao escudo cortado dos Cabrais e dos Castros, o escudo de João Fernandes, irmão de Pedro Álvares, e de D. Joana de Castro, sua mulher, indicativo dos senhores que a mandaram construir. Podemos reter que esta D. Joana de Castro era filha de D. Rodrigo de Castro, alcaide-mor da Covilhã, poeta do Cancioneiro Geral, bravo combatente de Marrocos, e embaixador especial de D. Manuel ao Papa Alexandre VI quando o mandou repreender pela dissolução da Corte de Roma.
            Também é Sanches de Baena que fixa a data da morte de Fernão Cabral em 1493 e as partilhas entre irmãos, a 6 de Maio de 1494.
            Será temerário admitir que Pedro Álvares Cabral estaria nestas datas em Belmonte?
            Antes de fechar este longo capítulo cumpre ainda lembrar: Fernão Cabral, além da importante função de alcaide-mor de Belmonte, função vitalícia e transmissível, e de Regedor da Justiça da Comarca da Beira, entrou em 1466 para o Conselho do Rei.
            De todas estas funções só a de alcaide-mor de Belmonte implicava o uso de uma residência oficial, por isso, até prova em contrário, havemos de admitir que Pedro Álvares Cabral e os outros filhos de Fernão Cabral nasceram em Belmonte, residência oficial e solar de seu pai.
            O Castelo de Belmonte, pelo menos, desde o princípio do século XV foi residência oficial e de facto dos Cabrais.
            D. Teresa de Andrade, a quando da sua viuvez e na menoridade do filho Fernão, habitava umas vezes o Castelo de Belmonte e outras seus paços de Viseu, como já referimos.
            Que a residência habitual de Fernão Cabral também era em Belmonte, deriva não só das Ordenações do Reino que impunham ao alcaide assistência no Castelo, mas ainda de vários factos que passo a expôr:
            Nomeado em 1471 por D. Afonso V como monteiro-mór da Serra de Crestados, que depois foi a Serra da Esperança, consta da referida carta e indirectamente, que Fernão Cabral aí vivia - pois El-Rei manda-lhe:                        

            Olhe e faça executar a pena para si
            “nos que não guardarem o couto do respectivo monte porque D. Afonso V 
            o reserva para seu desenfadamento e caça. “ 

            Ainda existe o original deste documento com o auto de posse, dado pela Câmara de Belmonte ao sr. Fernão Cabral, sem qualquer outro qualificativo o que demonstra familiaridade, e ainda as notificações dessa posse às Comarcas da Covilhã e de Penamacor. Temos vários documentos de outros alcaides-mores da região que viviam nos respectivos castelos, v.g. no do Sabugal, no de Penamacor, no de Monsanto, no da Covilhã, etc. Mesmo combatendo em África, nos castelos tinham a sua mulher e filhos.
            Falta ainda abordar de novo, pelo interesse que tem para o Brasil, a génese do privilégio da isenção da menagem do Castelo de Belmonte que já tocámos noutro lugar.
            Quando D. João II subiu ao trono em 1481, fez-se jurar pelos três estados como Rei e mandou aos alcaides dos castelos que lhe prestassem menagem. Contudo o auto de menagem do Castelo de Belmonte, lavrado em nome de Fernão Cabral, não está assinado! Porquê?
            No arquivo da Casa Cadaval, em documentos do século XVIII, respeitantes ao Brasil ficou registada a história da “grão liberdade“ do Castelo de Belmonte. Assim rezam os papéis desse apaixonado pleito.
            Fernão Cabral, convocado para prestar menagem invocou a D. João II a isenção de a prestar porque esse era o privilégio da sua Casa. O Rei deu um ano a Fernão Cabral para justificar a sua razão... o auto foi lavrado, mas como não está assinado devemos concluir que Fernão Cabral satisfez a prova e o Rei aceitou-a.
            Mais tarde D. João IV, o Rei restaurador, reconheceu o privilégio e aceitou que Francisco Cabral, então Senhor  da Casa de Belmonte, não prestasse menagem pelo referido Castelo.
            Ainda, no século XVII, Fernão Cabral o quarto, também titular da Casa de Belmonte, é nomeado Governador de Pernambuco, em 1688; embora prestasse menagem por tal Governo para evitar delongas e para o não perder, protestou o privilégio da Casa de Belmonte, o que foi aceite.
            Porém, no século XVIII, o Rei D. João V e os seus tribunais, embora reconhecessem o privilégio referido, restringiram-no ao Castelo de Belmonte e não aceitaram que Pedro Álvares Cabral, senhor do mesmo Castelo, usasse da Grão liberdade ao ser nomeado em 1721 Governador da capitania de S. Paulo.
             Creio que este Pedro Álvares Cabral, embaixador em Espanha, residiu em Penamacor, antes de ser alcaide-mor de Belmonte e lá lhe nasceram alguns filhos.
            Chamo a atenção para um facto curioso: nenhum outro homónimo do Descobridor do Brasil usou dos títulos familiares de senhor de Azurara e alcaide-mor de Belmonte a não ser este embaixador, o que faz duvidar que a figura constante do Livro de Varões e Donas, apresentada como a vera efígie do Descobridor do Brasil, não passa da imagem do Governador de S. Paulo.
            Aquele dístico “ Descobridor do Brasil “ sugere lá ter sido metido à força e sem razão, pois, nunca o descobridor do Brasil como filho segundo da casa de seu pai, poderia ter sido Alcaide-mor de Belmonte e Senhor de Azurara; tais prerrogativas, como bens da coroa, transmitiam-se nos termos da lei mental já enxertada nas Ordenações Afonsinas, ao filho varão mais velho e nunca ao filho segundo! Seria altura para perguntar: Teria ficado para  a posteridade a  verdadeira  efígie de Cabral?
            A hipótese dos medalhões dos Jerónimos não passa de uma hipótese e muito duvidosa, até porque o medalhão representativo do Gama não aparenta qualquer semelhança com a tábua que mais garantias dá de o representar.
            A gravura da Biblioteca de Madrid é do princípio do século XIX e de autor italiano, desconhecendo-se-lhe a fonte. A jacente de seu irmão João Fernandes mandada esculpir pela piedade filial de Jorge Cabral, Governador da Índia, no granito duro da serra para o rico mausoléu de S. Francisco da Covilhã, tão pouco ajuda a reconstituir a fisionomia e a estatura de Cabral, até porque sendo inicialmente dourada foi mais tarde deformada a pico grosso de canteiro inexperiente.
            Se Pedro Álvares fosse como seu irmão João Fernandes dos túmulos da Covilhã, seria homem de estatura meã, mas se pelo contrário saísse ao seu pai Fernão Cabral, o Gigante da Beira, seria enorme e coincidiria com aquela figura imponente e cheia de esplendor que certas expressões da carta de Caminha deixam adivinhar.
            Porém, em Cabral, interessa sobretudo o retrato moral. Esse debuxou-o Jaime Cortesão, carinhosamente, sobre elementos documentais da época. Cortesão, contudo, afastou, para mim temerariamente, a versão da estocada em Vasco da Gama nas vésperas da partida da quarta armada e que, segundo Gaspar Correia, justificaria a inimizade do Rei. Convém analisar: Se Gaspar Correia nem sempre prima pela veracidade das suas informações, contudo, neste caso, a sua razão de saber merece cuidada atenção.
            Aliás o desforço de Cabral, se não convence os praxistas e não se enquadra dentro de uma pura jurisdicidade, está dentro dos códigos da honra, cujo fervoroso servidor ele era, na opinião do mesmo Cortesão e ainda de João de Barros que no-lo pinta:                    

                        “muito sensível nos pruridos da honra...“ 

            Também Pedro Álvares Cabral sabia por raça e por instinto e pela lei não escrita da sua província que certa acção de desforço pessoal faz parte da personalidade de cada um e é o antídoto da cobardia. Vasco da Gama, invocando o seu privilégio de Almirante de todas as naus da Índia e exigindo tardiamente do Rei o cumprimento da palavra, depois de publicamente Cabral ter sido designado, ofendia gravemente a honra deste que sem poder explicar-se, via-se despojado, embora voluntariamente para servir o Rei, duma missão a que se consagrara com ardor.
            Despojado, porquê, perguntaria o povo?
            Cortesão, insigne historiador e português de boa têmpera, esqueceu um dado essencial à resolução do pleito, ou seja o facto de Gaspar Correia ter sido escrivão de Afonso de Albuquerque, e este, em 1509, ter implorado ao Rei que chamasse de novo Pedro Álvares Cabral ao seu serviço.
            Era natural que Albuquerque havendo de abordar tão melindroso assunto, qual era o desagrado do Rei por um membro de sua família, achasse de seu prestígio, explicar ao secretário ou secretários as causas dele, tanto mais que a estocada no Gama não envolvia qualquer desprimor para a moral do tempo. Gaspar Correia ocupava, pois, uma posição chave para testemunhar a veracidade desse caso, cujo segredo em Portugal naturalmente se compreendia, mas ao qual, na Índia, Albuquerque não se julgava vinculado.
            Eu creio bem, que Pedro Álvares Cabral, beirão e homem sem mácula, não desdenharia ter caído em desgraça e sorriria magnânimo àquela preocupação do terrível Albuquerque, de o trazer de novo à Corte. Albuquerque considerava o ostracismo o pior dos males; Cabral duvido.
            Pouco ou nada sabemos dos serviços de Cabral antes do achamento do Brasil mais do que aquele “muyto auto” para tal, da linguagem do mesmo Gaspar Correia e as acções notáveis em África que ilustraram o sermão do ilustre Bispo D. Diogo Ortiz de Vilhegas, misto de teólogo e de cosmógrafo e sucessor de Diogo Fernandes Cabral, aquando da soleníssima cerimónia da partida da Segunda Armada, na Igreja do Restelo.

            Os últimos são os primeiros, por isso ficou para o fim desta palestra a Senhora da Esperança, padroeira de Belmonte e na voz dos lavradores, madrinha e companheira de Pedro Álvares Cabral - o mais insigne lavrador dos mares, aquando da sua viagem de achamento de Vera Cruz, as terras da grande esperança de Vera Cruz.
            Quem escreve história só deve conhecer um caminho - o da verdade. Se não deve negar sistematicamente, deve calar quando carece de provas.
            Assim tenho feito com a Senhora da Esperança.
            Ora Frei Vicente Salgado, um probo historiador do século XVIII, regista uma escritura notarial em que Jorge Cabral, Governador que foi da Índia, na sucessão de D. João de Castro, e sobrinho do descobridor do Brasil, doou aos padres da Ordem Terceira de S. Francisco, em 12 de Novembro de 1563, uma propriedade da Serra de Crestados. Desse instrumento consta:           

            “Logo per o dito Senhor Jorge Cabral foi dito que ele edificara uma ermida da invocação de N. Srª da Esperança, na Serra de Crestados, termo da Vila de Belmonte a qual fundara e edificara com o propósito de nela fazer oficinas e casas e a dar à Ordem de Nossa Senhora da Piedade e tinha feito algumas casas térreas com outra mais obra e assim um pomar de muitas árvores ...... e por os ditos padres da dita ordem da Piedade a não quererem aceitar, e ele dito Jorge Cabral por Serviço de Deus e Nª Senhora e devoção que tem aos padres de S. Francisco da 3ª ordem há por bem dar e renunciar a dita casa e ermida etc.....“ 

            Parecia, assim, impossível, desligar a Senhora da Esperança do seu convento, obra de Jorge Cabral.
            A notícia de Santuário Mariano, que referia a ída da Imagem com Pedro Álvares Cabral ao Brasil, seria para arrumar entre as lendas piedosas, enlevo de rústicos e nada mais.
            De facto Jorge Cabral, filho de João Fernandes, também fora várias vezes à Índia. Nada mais natural, na imaginação do povo, que sua devoção à Senhora da Esperança e o mito do Brasil, fizessem confundir o sobrinho com o tio .     
            Aliás parecia ser essa a interpretação correcta pelo demérito das notícias do Santuário Mariano, livro há muito tempo arredado pela crítica da mesa de trabalho dos estudiosos. Aliás, um simples exame da imagem, venerada em Belmonte, não podia deixar de atribuí-la a época mais tardia, exactamente à da fundação do Convento da Esperança.
            Aquela imagem, de facto, nunca poderia ter acompanhado Pedro Álvares Cabral ao Brasil.
            Rondava, pois, a descrença há muito em quem se debruçara sobre o problema, quando há cerca de três anos (1965), misteriosamente, por virtude de obras de restauro da Igreja de S. Tiago, apareceu o antigo altar ainda com restos de azulejos hispano-árabes, aliás iguais aos da Igreja de S. Gião de Azurara e, detrás dele, esmaecido, um curioso fresco, na parede da capela-mor.
            A composição desse fresco prima pela estranha posição das figuras: ao centro S. Tiago, padroeiro da Igreja; do lado do Evangelho, a Senhora da Esperança e do lado da Epístola, S. Pedro.
            Consultado, por mim, o malogrado crítico de arte e professor da Universidade de Coimbra, Luiz Reis Santos afiançou-me depois de um exame aturado que tal fresco devia ser anterior a 1530. A tradição da Senhora da Esperança, em Belmonte, havia que fazê-la recuar outra vez, a uma época anterior à fundação do Convento!
            Como explicar que a Senhora da Esperança e S. Pedro figurassem naquele fresco, em posição secundária, frente a S. Tiago? Decerto que S. Tiago era o patrono da Igreja, mas a Senhora era a Mãe de Cristo. A Senhora ali, só para consagrar uma velha devoção de Belmonte!
            Como explicar a inclusão de S. Pedro naquele fresco, se em Belmonte, nem anteriormente à primeira metade do século XVI, nem depois, existiu qualquer capela dedicada ao príncipe dos Apóstolos?
            A junção da Senhora da Esperança e S. Pedro, atenta a tradição religiosamente guardada e transmitida, não seria alusão à devoção de Pedro Álvares Cabral pela Senhora da Esperança e ainda alusão ao milagre do achamento do Brasil?
            A Senhora da Esperança e S. Pedro, naquela velha igreja, plena de relíquias da nobre família, que outra coisa poderia significar?
            Ali, pois, ficou na singeleza de um humilde santuário de Belmonte, coração e alma da nossa Beira, a Senhora da Esperança, padroeira de Cabral e guia deste deslumbrante Brasil, portentosa nação do presente e do futuro, que Pedro Álvares, deslumbrado, amou pela primeira vez em Porto Seguro, terra onde lançou os caboucos da mais esperançosa comunidade - a luso-brasileira.
            Que este centenário abra novas perspectivas a essa comunidade e de coração aberto, os povos que a constituem, na longa vastidão dos quatro continentes, se abracem com os mais puros ideais da nossa convivência histórica, porque Pedro Álvares Cabral foi o mais esforçado cavaleiro dela e seu inspirador: 

                                    Na honra, sem mácula;
                                    Na genorosidade sem limites e
                                    Na fidelidade à Pátria. 

FIM



Fonte das Gravuras - Folheto da Câmara Municipal de Belmonte.
Nota dos editores – Contamos apresentar documentos relacionados com a família de Pedro Álvares Cabral.

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sábado, 24 de setembro de 2011

Covilhã - Lista dos Sentenciados na Inquisição XIX

Lista dos Sentenciados no Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa, Coimbra e Évora, originários ou moradores no antigo termo da Covilhã e nos concelhos limítrofes de Belmonte e Manteigas.

471      João Henriques Ferreira, x.n., de 48 anos, mercador, fabricante de panos, contratador e administrador da fábrica dos panos finos, natural e morador na Covilhã, filho de Pedro Henriques Ferreira, x.n., mercador e de Catarina Rodrigues, casado em 2ªs núpcias com Mariana Henriques, x.n., tendo sido casado em 1ªs núpcias com Domingas Henriques, de 2/10/1703 a 26/11/1706. 5 anos para as galés. (A 2ª mulher e a 1ª mulher são os referidos sob os nºs 504 e 456 desta lista).
PT-TT-TSO/IL/28/7732                    

472     Manuel da Cunha Falcão, x.n., de 43 (30) anos, tratante, natural do Fundão e morador em Lisboa, filho de Miguel da Cunha, estanqueiro e de Guiomar Henriques,(3ªs núpcias dele, tendo casado em 1ªs núpcias com Leonor Rodrigues e em 2ªs com Ana Nunes), neto paterno de Martinho de Oliveira e Juliana da Cunha, casado com Teresa Maria, x.n., bisneto de Brás de Oliveira, pai do avô paterno e de Miguel Henriques Falcão, natural de Alfaiates e de Brites da Cunha, pais da avó paterna, trisneto de Rodrigo da Cunha, pai da bisavó Brites da Cunha, tetraneto de Pedro da Cunha e Brites do Mercado, pais do trisavô Rodrigo e penta neto de Luís do Mercado, cavaleiro fidalgo da Casa Real, pai da tetra avó Brites do Mercado,  de 29/3/1703 a 6/9/1705. Relaxado em carne. Morreu queimado vivo, dizendo que não cria na Lei de Moisés, nem em alguma outra. Diz-se no sermão que ele fora a causa da morte do Inquisidor Geral (D. Frei José de Lencastre, 14º Inquisidor Geral ?). Era grande amigo de Frei Jerónimo e muito conhecido em Lisboa onde vinha buscar lãs para os seus contratos. A sentença da inquisição consta de fls 302, do ms. 1486 da Biblioteca da Universidade de Coimbra. (1).
PT-TT-TSO/IL/28/3407                    

473     Catarina Henriques, x.n., de 36 anos, natural e moradora em Lisboa, casada com Manuel Mendes Henriques, filha de Simão Lopes Samuda, x.n., médico, natural de Odemira e de Isabel Henriques, x.n., natural da Covilhã, neta paterna de António de Samuda e Guiomar Dias e materna de João Esteves Henriques e Catarina Henriques, bisneta de Diogo Henriques e Branca Lopes Henriques, pais do avô materno e de Álvaro Rodrigues e Custódia Henriques, pais da avó materna, de 6/9/1703 a 9/12/1705. Auto de fé de 6/9/1705. (A mãe e os irmãos são os referidos sob os nºs 298, 450, 451 desta lista)
PT-TT-TSO/IL/28/8793                                

 474     Manuel Rodrigues Morão, x.n., de 37 anos de idade, ferreiro, natural da Idanha-a-Nova, morador no Fundão, filho de João Rodrigues Morão, x.n., ferreiro e de Ana Mendes, casado com Ana Mendes, x.n., neto paterno de Diogo Nunes Morão e de Mécia Nunes, (O filho e o irmão são os referidos sob os nºs 812 e 489 desta lista), de 30/8/1706 a 20/9/1707.
PT-TT-TSO/IL/28/7514

475          Diogo Mendes ou Diogo Mendes da Cunha, x.n., de 44 anos, ferreiro, natural e morador no Fundão, filho de João da Cunha, mercador e de Isabel Henriques, neto paterno de Manuel Mendes, natural do Fundão e de Isabel Maria, natural de Sevilha e materno de Francisco Mendes ou Francisco Mendes de Almeida, x.n., mercador e de Beatriz Nunes, “a vaca”, x.n., casado com Maria Mendes, de 31/7/1706 a 26/9/1706, preso em 4/9/1706, auto público de 12/9/1706. (A mãe, avó materna, o filho e os irmãos são os referidos sob os nºs 338, 375, 953, 453, 478, 513, 523 e 621 desta lista).
PT-TT-TSO/IL/28/26

476        Miguel da Cunha Henriques, x.n., de 35 anos, mercador, natural do Fundão e morador em Alpedrinha, filho de Rodrigo da Cunha, x.n., mercador e de Branca Mendes, neto paterno de Martinho de Oliveira e Juliana da Cunha, bisneto de Brás de Oliveira, pai do avô paterno e de Miguel Henriques Falcão, natural de Alfaiates e Brites da Cunha, pais da avó paterna, trisneto de Rodrigo da Cunha, pai da bisavó Brites da Cunha, tetraneto de Pedro da Cunha e Brites do Mercado, pais do trisavô Rodrigo e penta neto de Luís do Mercado, cavaleiro fidalgo da Casa Real, pai da tetra avó Brites do Mercado, casado com Isabel Henriques, x.n., de 31/7/1706 a 26/9/1706. (O pai, a mãe e a  mulher são os referidos sob os nºs 335 e 354, 480 desta lista). (1).
PT-TT-TSO/IL/28/5291

477        Francisco Lopes Preto ou Francico Lopes Bulha, ¾ de x.n., de 47 anos, médico, natural da Covilhã e morador no Fundão, filho de Diogo Pereira, x.n., mercador e de Violante Rodrigues, neto paterno de Manuel Lopes, x.v., barbeiro e Mécia Pereira e materno de Francisco Lopes ou Francisco Lopes Preto e de Serena Nunes, bisneto de Manuel Lopes e Brites Antunes, x.x.v.v., pais do avô paterno; de Diogo Pereira, alfaiate e Leonor Mendes, x.x.n.n., pais da avó paterna, de Domingos Rodrigues e de Maria Lopes, pais do avô materno e de Manuel Rodrigues, o borrinhos de alcunha e Violante Mendes, pais da avó materna, casado com Brites CarvalhoData de nova prisão 4/9/1706. Auto de fé de 12/9/1706. (O pai, a mãe, a mulher e os irmãos são os referidos sob os nºs 347, 348, 515, 521, 538 e 543 desta lista).
PT-TT-TSO/IL/28/8121            

478          Francisco Mendes da Cunha, x.n., de 51 anos, solteiro, tratante, natural do Fundão e morador em Maçãs de D. Maria, assistente ora em Lisboa, filho João da Cunha e de Isabel Henriques, neto paterno de Manuel Mendes, natural do Fundão e Isabel Maria, natural de Sevilha e materno de Francisco Mendes ou Francisco Mendes de Almeida, x.n., mercador e de Beatriz Nun vaca”, x.n.,de 31/7/1706 a 27/9/1706. (A mãe, a avó materna e os irmãos são os referidos sob os nºs 338, 375, 453, 475, 513, 523 e 621 desta lista).
Processo digitalizado PT-TT-TSO/IL/28/2773

479          Diogo Chaves de Carvalho, x.n., de 39 anos rendeiro, natural do  Fundão e morador em Lisboa, filho de Francisco Carvalho Chaves, x.n., homem de negócio e de Ana Mendes Medalha ou Ana Mendes, neto paterno de Francisco Carvalho Chaves, x.n. e de Leonor Mendes e materno de Francisco Lopes ou Francisco Lopes Preto e de Brites Nunes, bisneto de Diogo Carvalho Chaves, x.n., homem de negócio, e Brites Henriques, pais do avô paterno, de Domingos Rodrigues e de Maria Lopes, pais do avô materno, viúvo de Marquesa Mendes, de 25/12/1702 a 19/2/1708. 5 anos para o Brasil. (A mãe é a referida sob os  nºs 381 e 511 desta lista. O irmão e o filho são os referidos sob os nºs 509 e 572).
PT-TT-TSO/IL/28/511

480           Isabel Henriques, x.n., de 30 anos, casada com Miguel da Cunha Henriques, mercador, natural do Fundão e moradora em Alpedrinha, filha de Gabriel Nunes e de Isabel Henriques, naturais do Fundão, neta paterna de Luís Vaz e Isabel Lopes e materna de Francisco Vaz, x.n., médico, natural da Guarda e Isabel Henriques, bisneta de Rui Vaz e Leonor Rodrigues, pais do avô materno e de António Fernandes e Leonor Rodrigues, pais da avó materna, (O pai. a mãe, o marido, a filha e as irmãs são os referidos sob os nºs 332, 355, 476, 1024, 481 e 512 desta lista), de 1/9/1706 a 25/9/1706..
PT-TT-TSO/IL/28/9993

481           Ana Nunes, x.n., de 30 anos, natural do Fundão ( de Alpedrinha ) e moradora em Alpedrinha ( no Fundão ), filha de Gabriel Nunes e Isabel Henriques, naturais do Fundão, neta paterna de Luís Vaz e Isabel Lopes e materna de Francisco Vaz, médico, natural da Guarda e Isabel Henriques, bisneta de Rui Vaz e Leonor Rodrigues, pais do avô materno e de António Fernandes e Leonor Rodrigues, pais da avó materna,  casada com João Henriques, mercador, (O pai, a mãe e as irmãs são os referidos sob os nºs 332, 355,  480 e 512 desta lista), de 1/9/1706 a 30/9/1706. Presa em 1/9/1706. Auto de fé de 12/9/1706.
PT-TT-TSO/IL/28/9766           

482        Isabel Henriques, x.n., natural da Covilhã, moradora em Lisboa,  viúva de Simão Lopes Samuda, x.n., médico, natural de Odemira, filha de João Esteves Henriques e de Catarina Henriques, neta paterna de Diogo Henriques e Branca Lopes Henriques e materna de Álvaro Rodrigues e Custódia Henriques, em 1/10/1706, já com processo anterior, quando tinha 27 anos, no ano de 1670, processo 28/1830. (Está já referida sob o nº 298. Os filhos são os referidos sob os nºs  449, 450, 451, 483 e 484 desta lista)

483           Clara Henriques, x.n., de 26 anos, solteira, natural e moradora em Lisboa, filha de Simão Lopes Samuda, x.n., médico, natural de Odemira e de Isabel Henriques, x.n., natural da Covilhã,  neta paterna de Manuel de Samuda e Guiomar Dias e materna de João Esteves Henriques e Catarina Henriques, bisneta de Diogo Henriques e Branca Lopes Henriques, pais do avô materno e de Álvaro Rodrigues e Custódia Henriques, pais da avó materna,  de 15/5/1703 a 1/10/1706. (A mãe e os irmãos são os referidos sob os nºs 298 e 482,499, 450, 451 e 484 desta lista).
Processo digitalizado PT/TT/TSO/IL/28/25   

484      Branca Lopes Henriques, x.n., de 28 anos, natural e moradora em Lisboa,  filha de Simão Lopes Samuda, x.n., médico, natural de Odemira e de Isabel Henriques, x.n. natural da Covilhã, casada com Manuel de Mesas. Neta paterna de António de Samuda e Guiomar Dias e materna de João Esteves Henriques e Catarina Henriques, bisneta de Diogo Henriques e Branca Lopes Henriques, pais do avô materno e de Álvaro Rodrigues e Custódia Henriques, pais da avó materna,  de 15/3/1703 a 2/10/1706. (A mãe e os irmãos são os referidos sob os nºs 298 e 482,499, 450, 451 e 483 desta lista)
PT/TT/TSO/IL/28/9760          

485       Brites da Cunha, x.n., de 26 anos, solteira, natural de Penamacor e moradora em Proença-a-Velha,  filha de Rodrigo da Cunha e Branca Mendes, naturais do Fundão, neta  paterna de Martinho de Oliveira e Juliana da Cunha, bisneta de Brás de Oliveira, pai do avô paterno e de Miguel Henriques Falcão, natural de Alfaiates e de Brites da Cunha, trisneta de Rodrigo da Cunha, pai da bisavó Brites da Cunha, tetraneta de Pedro da Cunha e Brites do Mercado, pais do trisavô Rodrigo e quinto neta de Luís do Mercado, cavaleiro fidalgo da Casa Real, pai da tetra avó Brites do Mercado, ( O pai e a mãe são os referidos sob os nºs 335 e 354 desta lista), de 31/7/1706 a 30/9/1706. (1)
PT/TT/TSO/IL/28/9764

486      Francisco Lopes Bulha, x.n., médico, natural da Covilhã e morador no Fundão, casado com Beatriz Carvalho, filho de Diogo Pereira, barbeiro, natural da Covilhã e Violante Rodrigues, neto paterno de Manuel Lopes, x.v., barbeiro e de Mécia Pereira, x.n., e materno de Francisco Lopes ou Francisco Lopes Preto, x.n., tendeiro e de Serena Nunes, x.n., bisneto de Manuel Lopes e Brites Antunes, x.x.v.v., pais do avô paterno e de Diogo Pereira, alfaiate e Leonor Mendes, x.x.n.n., pais da avó paterna,  de Domingos Rodrigues e de Maria Lopes, naturais e moradores que foram no Fundão, pais do avô materno e de Manuel Rodrigues e Violante Mendes, naturais e moradores que foram no Fundão, pais da avó materna, de 13/11/1704 a 28/8/1706. (O pai e a mãe são os referidos sob os nºs 348 e 347 desta lista). É o mesmo referido sob o nº 477 desta lista. Neste processo é referido como rendeiro, mas do mesmo processo, a fls 13,  das declarações de Baltazar Henriques, natural da Covilhã, este declara que Francisco Lopes Bulha é médico, mas noutra parte do processo diz que é rendeiro e seria o nº 532 da lista. Tem somente denuncias contra um Francisco Lopes Bulha, ora rendeiro, (532), ora médico (477).
Processo digitalizado PT-TT-TSO/IL/28/841

487 Pedro Lopes Álvares ou Pedro Lopes, x.n., mercador, natural e morador no Fundão, filho de Pedro Rodrigues, x.n., casado com Mécia Rodrigues, x.n., tendo anteriormente sido casado em 1ªs núpcias com Leonor dos Santos, (A mulher e os filhos são os referidos sob os nºs 490 e 493, 590, 610, 615, 633, 758, 815, 596, 609, 618 e 629 desta lista), de 27/9/1706 a 2/10/1706. Ele e a mulher já tinham sido presos e reconciliados na Inquisição de Coimbra
Processo digitalizado PT-TT-TSO/IL/28/3049

488      Leonor Mendes, x.n., de 58 (52) anos, viúva de António Mendes, trapeiro, natural de Idanha-a-Nova, moradora no Fundão, filha de João Rodrigues, x.n., tratante e de Ana Mendes, de 6/10/1706 a 15/10/1706.
PT/TT/TSO/IL/28/7070    

489     Jorge Rodrigues Morão, x.n., de 61 anos, ferreiro, natural de Idanha-a-Nova, morador no Fundão, filho de João Henriques Morão, x.n., ferreiro e de Ana Mendes, x.n., casado com Beatriz Ribeiro ou Brites Ribeiro, neto paterno de Diogo Nunes Morão e de Mécia Nunes, de 26/1/1706 a 22/4/1706. (A mulher, os filhos e o irmão são os referidos sob os nºs 623, 522, 555, 587, 608, 878, 891 e 474 desta lista).
PT/TT/TSO/IL/28/3042                     

490      Mécia Rodrigues, x.n., natural e moradora no Fundão, casada com Pedro Lopes ou Pedro Lopes Álvares, filha de Tomé da Silva, x.n., sapateiro e curtidor, natural de Sousel e de Maria Nunes, x.n., natural do Fundão, onde foram moradores, neta paterna de Gaspar de Siqueira, x.n., tratante e Grácia Mendes, x.n., naturais de Sousel e materna de Gaspar Mendes e Mécia Roiz, naturais e moradores no Fundão, de 1/9/1706 a 2/10/1706. (Ela, a mãe, o marido, os filhos e os irmãos são os referidos sob os nºs 493, 397, 487, 590, 610, 615, 633, 758, 815, 494, 497, 498 e 506 desta lista).
PT-TT-TSO/IL/28/9849

Fonte – Os dados em itálico foram retirados do “site” do ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo relativo aos processos do Tribunal da Inquisição.
Na cota dos processos, as indicações IL/28, IC/25 e IE/21 referem-se aos tribunais, respectivamente, de Lisboa, Coimbra e Évora.

Nota dos Editores - 1) Os dados apresentados neste parente do poeta Fernando Pessoa, foram também retirados do texto intitulado “Fernando Pessoa – Poeta e Pensador tem origem em Alfaiates”, de José António Vaz; e do portal “Geneall.pt”, base de dados, sobre o Estudo da Árvore Genealógica do mesmo escritor.