sábado, 29 de novembro de 2014

Covilhã - Contributos para a sua História dos Lanifícios XLVII

  

    Encontrámos no espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias este documento de Isaac Lostau, que, na opinião do investigador, é  do princípio do século XVIII – 1719. Isaac Lostau é um homem de negócios da cidade do Porto que apresenta ao rei D. João V a sua opinião sobre os diferentes itinerários de lãs, por terra ou, preferivelmente, pelo rio Douro até ao Porto. “A cauza de não ter tomado até agora este caminho, são os direitos que deveriam pagar da entrada neste Reinocomo são os dos portos secos e caza dos sincos.” Por outro lado a Guerra entre a França e Castela (a Guerra da sucessão de Espanha) facilita, agora, esta nova hipótese. Um problema a ter em conta serão as queixas que os contratadores dos direitos dos portos secos farão ao rei; este tem de pesar o que será melhor para o reino: manter somente o contrato das lãs da Estremadura e Andaluzia, ou permitir a entrada no Porto, via rio Douro, das lãs segovianas e leonesas.


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O negocio das lans segovianas e leonezas é dos mais importantes da Europa por ser a base das mais Fabricas, livre de corrupção e mudanças e por isso notorio que são os mais ricos homens de negocio em toda a parte, os que tratam neste genero.
A transportação da maior quantidade destas lãs, se tem feito até agora por Bilbau, S. Sebastião, Bayona, e a elas é que devem estes portos sua opulencia e muito negocio com que florecem.
O transporte delas, até os ditos portos se faz necessariamente por cargas por deverem passar os montes de Burgos e os ramos dos Pirineus, e para a Cidade do Porto se poderia fazer com mais brevidade, e menos gastos, em galeras ou carros de 4 rodas, desde os lavadouros até S. João da Pesqueira, Ervados, ou Foz tua, de onde podem decer pelo Rio Douro.
A cauza de não ter tomado até agora este caminho, são os direitos que deveriam pagar da entrada neste Reino, como são os dos portos secos e caza dos sincos.
Este embaraço faz com que não só não renda nada os ditos direitos mas antes impede o estabelecer-se este negócio e o grande aumento que da saída deste genero resultaria às rendas do consulado, e saca do porto, e dos mais direitos pelo muito que se havia de aumentar o comércio daquela cidade que necessariamente havia de ocazionar a saída deste genero por ela.
As circunstancias para se poder introduzir este comercio parece hoje mais favoraveis do que nunca foram, porque a guerra entre as duas Cortes de França e Castela se tem o transporte para Biscaia feito muito dificultosos, pela ocorrencia dos exercitos naquelas fronteiras.
Pode-se objectar as novas Fabricas estabelecidas em Castela, digo, objectar que restaurada a pax, cessará esta dificuldade, e tambem que as novas fabricas estabelecidas em Castela poderam dar consumo a grande parte destas lãs.
Responde-se que como França no tratado da partição de Espanha em 1700 se tinha reservado para si a Provincia de Guipuscoa, em que está S. Sebastião, considerando a utilidade do seu comercio, se pode prezumir que agora que a tem conquistada, não a há-de restituir pela mesma razão. E como a união das duas coroas no tempo de Luís 14 posto na mão dos Franceses todo o comercio da Espanha agora os emulos da guerra hão de tornar a levantar o antigo odio entre as duas Nações e fazer com que os castelhanos o favoreçam.
O comércio é como um Rio por donde se lhe faz cano e dá curso, por ali continua a correr, e assim introduzindo uma vez este negocio no Porto, dificultozo seria viraar-se (sic).
Verdade é que as fabricas poderão gastar algumas lãs no Reino de Espanha, e impedir se não consuma nele tanta fazenda de fora, como dantes; porem não há povoações bastantes nos reinos de Castela e Leão dar outra cultura a maior parte das suas terras, que a dar à creação dos gados, e como as lãs fazem o maior rendimento sempre lhes há-de ser necessario a exportação delas para fora do Reino, para o sustento do bem comum.
Poderão os contratadores dos direitos dos portos secos, dizer que prejudica ao seu contrato a entrada das ditas lãs no Reino, pelo Porto, e as saídas das ditas lãs no Reino se fazem por esta cidade de Lisboa, como são as lãs da Estremadura e Andaluzia que se costumam carregar por esta cidade, porem pode-se considerar meios para se evitar este inconveniente sem privar o Reino do benefício que lhe resultaria da introdução das lans segovianas e leonesas. Demais é matéria digna de exame e ponderação se seria mais conveniente para o aumento das rendas reais levantar-se totalmente por todo o Reino este direito dos portos secos que só rende a V. Magde. 75$ cruzados por ano: porque é muito aparente que levantado ele viriam os castelhanos buscar a esta corte e mais portos todos os generos de Fazendas de fora, que por entrada pagam 25 por cento (sic) e se aumentaria muito mais a saída que se faz por esta corte de Lans de Estremadura e Andalusia e lucraria V. Magde. nos mais direitos muito mais do que perdia nos portos secos; e o comercio do Reino liberto e sem este gravame.
Representa a V. Magde. estas ponderações Izac Lostau homem de negocio da Cidade do Porto para que parecendo conveniente a V. Magde. e ao bem comum se suspenda ao menos por algum tempo a impozição dos Direitos dos Portos Secos, tão somente a respeito das ditas lãs que de Castela se transportarem pela dita cidade do Porto para que possa tomar suas medidas, com os seus correspondentes, para se dar principio a este comércio.
                          (s.d)                                                                                                                 FIM

Fonte - ANTT 


As publicações sobre os Contributos para a História dos Lanifícios:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/11/covilha-contributos-para-sua-historia.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/10/covilha-contributos-para-sua-historia.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/08/covilha-contributos-para-sua-historia.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/07/covilha-contributos-para-sua-historia_9.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/07/covilha-contributos-para-sua-historia_6.html
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http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/04/covilha-contributos-para-sua-historia_27.html
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http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/03/covilha-contributos-para-sua-historia_16.html
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