Mais dados biográficos de Rui Faleiro - 1520
Hoje publicamos uma carta e respectiva tradução que em 1520 Rui Faleiro escreveu de Portugal ao Cardeal Adriano Florêncio, futuro Adriano VI, numa altura em que o rei Carlos I se encontrava na Alemanha a assumir o trono imperial como Carlos V. Nela Faleiro diz estar preso por ordem do rei português, D. Manuel e pede a intercessão espanhola, sendo depois solto ou tendo fugido do cárcere. Há investigadores que consideram que já estava louco, tinha ficado hospitalizado em Sevilha e por isso não fora com Fernão de Magalhães em 1519; mas em 1520 ele vem a Portugal ver a família (“ver a pátria e inclusivé os meus pais que devemos trazer sempre na memória”) e regressa a Sevilha, donde em 1523 escreve a Carlos V, como posteriormente veremos. Em 1527, tendo como fonte um processo entre Francisco Faleiro e Eva Afonso, (1) mulher de Rui, ficaremos a saber que em 1520 Eva Afonso vivia com o marido em Sevilha, mas regressou a Portugal, segundo ela doente, acompanhada pelo pai e, em parte da viagem, pelo marido. Também veremos que há testemunhas do processo que afirmam que Rui Faleiro veio buscar a mulher à Covilhã, onde foi preso, estando seis meses na cadeia daquela vila e quatro em Linhares; que Francisco veio a Portugal tentar que o soltassem e foi também muitas vezes à corte de Carlos V interceder pelo irmão. Ainda temos conhecimento desta vinda de Rui Faleiro a Portugal e do ano em que isso aconteceu, por uma carta dos oficiais da Casa da Contratação de Sevilha, datada de 31 de Julho de 1520, dando conta do sucedido e informando mesmo que ele veio para se curar da sua enfermidade.
D. Manuel, Rei de Portugal |
- Carta de Ruy Faleiro, que existe original no Arquivo General de Índias, Sevilha, (ainda que não tenha data corresponde ao ano de 1520 em que o Cardeal Adriano Florêncio, depois Papa Adriano VI, era Governador de Espanha e assinava cédulas reais (2), dando conta da sua prisão na Covilhã, por ordem do rei de Portugal, em 1520.
Preclarissime atque Reverendissime Domine
Dum era Hispali in pricipio Junii, veni ad videndam patriam , parentes, etiam non omisso quod semper memoriae habere debemus, prout mihi expedit aut possibile est percommissumque est, propriisque rebus convenit. Die sancti Joannis, vigésima quarta die Junii, dum eram in rure, quod vulgariter dicitur Oytero, quidam se obviam dederunt ut quaerentes, et domo paterna, coram patre, me apprehenderunt, elevatis armis, et tum usque ad hunc locum deduxerunt me, dicentes, quod de mandato regis Lusitaniae me hunc apportabant, quod ego sine praejudicio mei meorumque permissi; bono tamen verbo, responsoque accepto: posteaque me dimissit manu cujusdam carcerati ut me stormentis ferreis alligarent, juxta me dimissit: postea me petente, domina matre meã favente, estensum fuit mihi mandatum regium, propter quod gavisus fui, quod signum in cárcere vidi regium obstensum fuit mihi: precor vestrae dignissimae magestati, ut semper memoriam habeat certioremque faciet Magestatem imperatoriam, ut dignetur mei recordari, semperque, ut et taliter deprecor vestrae reverendissimae dominationi suosque faveat, et quod scribat regi Lusitaniae, etiam paulattim, quod me meisque non prejudicet, imo me própria libertate sinat fungi in obsequio Omnipotentissimi Dei, societate me sua praeclarissima virtus sua, prout libeat, prospere gubernet.
a) Roderiguo Faleiro
En el reverso o subscrito dice: - Reverendíssimo Domino atque Claríssimo Gubernatori Castellae atque Domino Cardinali Deturcensi
Tradução
Covilhã (Julho 1520)
Muito Ilustre e Reverendo Senhor
Estando em Sevilha, vim no princípio de Junho ver a pátria e inclusivé os meus pais que devemos trazer sempre na memória (… seguem umas linhas mal lidas ). No dia de São João, 24 de Junho, estando eu num campo vulgarmente chamado Oiteiro (3), vieram ao meu encontro e procura umas pessoas que, de armas alçadas me prenderam na casa paterna na presença de meu pai, e me trouxeram a este lugar, dizendo que o faziam por mandado do rei de Portugal. Acedi depois de uma troca de boas palavras e com a condição de não haver prejuízo para mim e para os meus. Depois deixaram-me preso nas mãos de um sujeito e aqui ligado com grilhões de ferro. Posteriormente, a pedido e em atenção à senhora minha mãe foi-me mostrado o mandato régio, com o que folguei pois vi no cárcere um sinal do rei. Rogo a Vossa digníssima majestade que se lembre sempre de mim e informe sua Majestade Imperial por forma que ela se digne recordar sempre de mim. Rogo a vossa reverendíssima Senhoria que proteja os seus e escreva mesmo umas curtíssimas linhas ao rei de Portugal, para que ele não prejudique os meus e a mim me deixe gozar de liberdade própria em atenção a Deus Omnipotentíssimo. E seu preclaríssimo poder governe prosperamente, como desejar.
a) Ruy Faleiro
Tradução do latim, feita a pedido de Luiz Fernando Carvalho Dias por Miguel Pinto de Menezes, ilustre latinista, antigo professor de latim do Colégio Militar e que traduziu, entre outras obras, a “Institutionum Juriscriminalis Lusitani, Liber Singularis” (As Instituições de Direito Criminal Português), de Pascoal José de Melo Freire, publicada no Boletim do Ministério da Justiça, nºs 155 e 156, Abril e Maio de 1966.
- Carta de los Oficiales de la Casa de la Contratación al Cardenal Gobernador dándole cuenta de la prisión de Ruy Faleiro en Portugal y de otros particulares
Sevilla, 31 de Júlio 1520
Yllmº Rmº e muy magºº señor
- como .v. yllmº s. vera por vna q el comendador Ruy falero seruidor de .v. s. Rmª q com Francisco falero su hermano levador desta ynbio / parece q el dho comendador Ruy falero fue preso por mandado del señor Rey de portogal en vn lugar q se llama cubillana q es en el Reyno de portogal de donde es natural el dho capitan el qual paresce se atrevio a yr desde esta cibdad a fin de se sanar y goarecer de su enfermedad lo mas secretamente q pudo syn dar parte a nadie y segund por la dha su carta paresce el ha seydo y es muy mal tratado com graves pressiones de fierros desdel dia de san juan batista q paso q fue preso a esta parte como mas largamente vera por vna carta suya q el dho su hermano le dará / en mas de le ynbiar el tercio segundo de los cinquenta myll mrs q ha de aver por este año de su quitacion de los cinqta myll mrs q cada año tiene sytuados en esta casa por capitã q se le ha ynbiado para sustentamiº avnq el tercio no se cunplia hasta en fyn de agosto acordamos de hazerllo sabr a .v. Rmª para q lo mande Remediar como viere q mas a seruiº de su magt y al bien del dho capitã convenga / y para lo solicitar va el dho su hermano francº falero levador desta al qual asy bien se le he pagado el dho tercio segundo deste año de su quitacion cõ q vaya a solicitar la libertad del dho su hrº a .v. s. Rmª suplicamos humillmente mande pºbeer en ello cõ mucha ynstancia.
- todos los despachos q .v. yllmº s. há mandado ynbiar a esta casa para las yndias despues de su mag. partido destos Reynos y los q su mag. nos mando ynbiar al tpo de su partida se ynbiarõ a buen Recabdo / y la .......
seuylla a xxxi de Julio de I U DXX aºs /.-d .v. yllmª s. – muy homylldes seruidores que sus manos bessan – juan lopes de Recalde – (Rubricado) – domingo de ochandiano – (Rubricado) (4)
- Probanza de Francisco Falero, fecha en la ciudad de Sevilla en el año de 1527
Muy virtuoso señor – Francisco Falero, português criado de Su Majestad, estante en esta cibdad, digo: que podrá haber seis años, poco más o menos, quel comendador e capitán Ruy Falero, mi hermano, adolesció e de aquella enfermedad ha quedado y quedo loco e furioso fuera de su juicio e sentido natural, e yo, como su hermano, le he tenido e curado e alimentado e sostenido e bien tratado, teniendo cargo de la tutela e cura e administración de su persona e bienes, con toda la diligencia e piedad que debia: e asimismo procuré de le librar e sacar de cierta prisión en questaba por mandado del señor rey de Portugal, e asi es que Eva Alonso, su mujer, a principio de su dolencia le desamparó e se fué de su poder a casa de su padre en el reino de Portugal, a la villa de Cubillan, donde se ha estado todo el tiempo de los dichos seis años, contra la voluntad del dicho su marido e sin le venir a ver, ni visitar, ni curar, ni querer saber dél, e agora por su parte se ha fecho relación a Su Majestad e a los señores de su Consejo de las Índias que yo no trataba bien al dicho comendador, mi hermano, e que ella queria venir a estar con él e le curar e servir: a cuya cabsa su Majestad mando dar su real cédula, para que, veniendo ella, le fuese acudido con ciertos maravedis de quitaciones e acostamiento que Su Majestad le manda dar para su mantenimiento; e porque yo tengo suplicado de la dicha cédula real e para informar a Su Majestad de la verdad de lo que pasa, me conviene llevar testimonio dello; yo, señor, os pido que a perpetua memoria, o como mejor de derecho lugar haya, mandeis recebir e recibais los testigos que sobrello presentare, e lo que dixeren e depusieren me lo den por testimonio en manera que haga fee, e sobre todo me fagais cumplimiento de justicia, para lo cual vuestro noble oficio imploro y las costas pido; e a los testigos que sobrello presentare, pido les mandeis preguntar por las preguntas seguintes.
Probanza de Francisco Falero hecha ante el Licenciado Castroverde por comision.
I – Primeramente, si conoscen a mi el dicho Francisco Falero e al dicho comendador e capitán Ruy Falero, mi hermano, e a la dicha Eva Afonso, mujer del dicho Ruy Falero, e a Diego Ribero, piloto, (5) etc.
II – Iten, si saben, creen, vieron, oyeron decir que puede haber seis años, poco mas o menos, questando el dicho comendador Ruy Falero, mi hermano, en esta cibdad por mandado de Su Mjestad, despues de se haber partido el armada a Maluco, adolesció, e estando enfermo e doliente la dicha Eva Afonso, su mujer, contra la voluntad del dicho comendador, su marido, le dexo e se fué al reino de Portugal, donde se ha estado y esta fasta el dia de hoy sin quererse venir a estar com el dicho su marido, ni saber dél ni le escrebir, e si outra cosa fuera, los testigos lo supieran, etc.
III – Iten, si saben, etc,. quel dicho comendador Ruy Falero fué al dicho reino de Portugal, a la villa de Cubillan, donde estaba la dicha su mujer, a la buscar, e antes que llegase, fué preso por mandado del señor Rey de Portugal e llevado a la cárcel de la dicha villa de Cubillan, donde estuvo preso seis meses, e después fué pasado a Linares, qués a cuatro léguas de alli, e estuvo preso otros cuatro meses; digan y declaren lo que cerca desto saben, etc.
IV - Iten, si saben, etc., que en el tiempo de los seis meses quel dicho comendador Ruy Falero estuvo preso seis meses en la dicha villa de Cubillan, aunque estaba e residia en la dicha villa la dicha Eva Afonso, su mujer, e su padre, no le vian ni visitaban, ni le proveian de cosa alguna de lo que habia menester, aunque tenia dello necessidad, e lo mismo ficieron en los otros cuatro meses questuvo preso en la dicha villa de Linares, a cuatro léguas de alli, e si lo contrario fuera, los testigos lo vieran e supieran e no pudiera ser menos, etc.
V – Iten, si saben, etc,. que teniendo el dicho comendador Ruy Falero en la dicha villa de Cubillán un esclavo negro que le servia en el cárcel donde estaba, la dicha Eva Alonso, su mujer, e su padre se lo hicieron quitar e tomar, diciendo que era suyo, e quexando dél diciendo que se hallaba en poder del dicho comendador, e le fué quitado e llevado a casa e poder de la dicha Eva Alonso e su padre, etc.
VI – Iten, si saben, etc. questando preso el dicho comendador Ruy Falero, el dicho Francisco Falero, su hermano, fué muchas veces a la Corte de Su Majestad a procurar su deliberación e hobo cartas para el señor Rey de Portugal para ello, e con mucho trabajo e peligro de su persona, fué al dicho reino de Portugal e fizo proceder contra las justicias e contra el señor Rey de Portugal, por excomuniones e censuras e poner entredicho por via de la conservatória, por ser comendador el dicho Ruy Falero, fasta tanto que lo libró e sacó de la prisión en questaba, en lo cual pasó mucho trabajo e peligro e hizo muchos gastos e expensas; digan e declaren lo que cerca desto saben, etc.
VII – Iten, si saben, etc. que despuès de salido de la prisión, el dicho comendador Ruy Falero se vino a esta cibdad de Sevilla, e aqui ha estado doliente e enfermo fasta que perdió el sentido e quedó loco e furioso e hoy dia lo está., etc.
Francisco Fernández, clérigo, português, vecino de Sevilla, testigo presentado en la dicha razón, juró segúnd derecho, e seyendo preguntado dixo lo seguinte.etc.
Del tercero articulo dixo que oyó decir lo contenido en esta pregunta a portugueses que lo habian visto preso al dicho comendador Ruy Falero en Cubillana e en Linares, e que, a que lo oyó decir, puede haber seis años, poco más o menos.
Del sexto articulo dixo, queste testigo oyó decir al dicho Francisco Falero, hermano del dicho comendador, como habia ido muchas veces al reino de Portugal, por librar al dicho su hermano, e que se habia puesto a muchos trabajos e peligros de sua persona; e que asimismo este testigo lo vido ir, estando este testigo en Sevilla, al dicho Francisco Falero, puede haber seis años, poco mas o menos, a la Corte de Su Majestad, e le dixo el dicho Francisco Falero a este testigo como iba a negociar para librar al dicho su hermano; e de lo al contenido en esta pregunta, que no lo sabe, etc.
Felipa de Acuña, hija de Diego de Acuña, portugués, natural de la villa de San Viceinte, qués en el reino de Portugal, estante al presente en esta cibdad de Sevilla, en la casa del dicho Francisco Falero, testigo presentado en la dicha razón, habiendo jurado, dixo lo seguinte, etc.
De la tercera pregunta dixo: que há oído decir lo contenido en esta pregunta al dicho comendador en cierto tiempo questovo cuerdo, e asimismo lo oyó decir a ciertas personas que venian de la dicha villa de Cubillan, etc.(6)
Notas dos editores - 1) Iremos apresentar dos documentos do espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias, o processo entre Eva Afonso e Francisco Faleiro sobre a tutela, curadoria e administração dos bens de Rui Faleiro.
2) In : Colleccion de los Viajes y Descubrimientos – de Martin Fernandez Navarrete, tomo 2, pag 405
2) Também in “ Colección General de documentos relativos a Islas Filipinas – Medina, J. Toríbio, T.I, Doc 93 (B. N. L., Hg. 12871-75.V.)
3) Sobre o sítio do Outeiro na Covilhã temos referências num “Registo dos Bens das Misericórdias – Covilhã “, que contamos publicar, a “uma morada de casas no sítio do Outeiro, freguesia de Santiago, antigamente emprazadas a João Roiz do Outeiro ...”; e a “umas casas com altos e baixos, com seu balcão, com serventia para o Outeiro, sitas na rua do Açougue, freguesia de Santa Maria, que partem com José Roiz Raposo e com casa dos Freires “. Existia ainda na cidade uma rua do Outeiro, que pensamos já não existir e que desconhecemos onde se localizava.
4) In Patronato: Simancas: Est. 2, Caj. 5, Leg. 1/6 (B. N. L., Hg. 12871 – 75.V.)
5) Na mesma época vivia em Sevilha Diogo Ribeiro, cartógrafo da Casa da Contratação. Aparecem referências deste como primo dos Faleiros, mas uma coisa é certa: no processo de curadoria, Francisco apresenta-o ligado aos seus familiares. Não temos essa parte do processo e por isso não podemos, para já, ficar a saber se lá haverá elementos acerca da sua naturalidade (Covilhã?) e parentesco com os Faleiros.
6) In Archivo de Índias, est. 62, c. 6, leg. 1/3
As Publicações do Blogue:
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html
As Publicações sobre Rui Faleiro no blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/05/covilha-rui-faleiro-xi.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/09/covilha-rui-faleiro-i.html
Sem comentários:
Enviar um comentário