Hoje vamos divulgar umas fotografias de alguns panos de
muralha e de outros locais da Covilhã. As muralhas, edificadas talvez por ordem de D. Sancho I,
formavam um polígono; à parte mais alta das muralhas chamava-se Castelo; estas
foram alongadas e reparadas no tempo de D. Dinis e, provavelmente mais
tarde, no reinado de D. Manuel, quando o Infante D. Luís era senhor da Covilhã.
Em 1755 o terramoto destruiu parte das muralhas. Temos conhecimento disso, por exemplo
através de "Memória da Vila da Covilhã (1758)”, do Dicionário Geográfico
de Portugal do Padre Luís Cardoso, onde se diz:
"Tem
esta villa muro em todo o circuito da freguezia de Santa Maria com sua
fortaleza, e Castelo, quazi tudo arruinado e em partes destruido de todo, e a
torre mayor cahio methade della este prezente anno, e parece foy ruina do
terremoto..." (1)
Na Real Fábrica dos Panos foi usada pedra das
muralhas, como podemos ver por uma consulta da Junta do Comércio de 1767:
“Senhor
O administrador da fábrica da Covilhã, Paulino
André Lombardi, tendo proposto a esta Junta que da diversidade e distância das
casas determinadas inteiramente para o uso dos teares dos lanifícios, se seguia
a incomodidade dos mestres, os quais não podiam ao mesmo tempo acudir ao ensino
de uns e outros aprendizes […] foi deferido, que mandasse o suplicante formar
um plano de toda a obra, que se julgasse necessária. E ele o representou à
Junta […] lembra-se juntamente, e faz a sua exposição na conta inclusa, de que
na vila da Covilhã se acham caídos há muitos anos todos os muros da mesma vila,
estando, por consequência, inútil toda a sua pedraria; e porque esta pertence a
Vossa Majestade, como também pertence a obra da casa dos lanifícios, que se
intenta, considera que não será impróprio representar a Vossa Majestade a
aplicação da referida pedra dos muros para o levantamento do edifício, suposta
a sua inutilização presente. […]
Pelo que
Parece à Junta, que a proposta do administrador da
fábrica doa lanifícios Paulino André Lombardi, está nos termos de ser
representada a Vossa Majestade, […] e nesta consideração, parece que à câmara
da vila da Covilhã seja V. Majestade servido ordenar, que à ordem do mesmo
administrador mande entregar toda a pedraria dos muros caídos da vila, para
levantamento do edifício da nova casa da Fábrica.
Lisboa a 12 de Novembro de 1767
Ao cimo do documento pode ler-se:
“Como parece, e assim o mando
ordenar. N. S. da Ajuda em 9 de
Maio de 1769 R”.
(1)
A Covilhã muralhada
Pano de muralha junto da Porta do Sol |
Portas do Sol: à direita pano de muralha e em frente a Cova da Beira |
Pano de muralha na rua António Augusto Aguiar (junto ao Mercado Municipal) |
Torreão de forma octogonal, hoje reservatório de água |
Pano de muralha próximo da Capela do Calvário |
Em busca das muralhas que ainda existem na Porta do Sol, deparámos com o Palácio dos Ministros. Que pena o pau de bandeira dificultar a visão do brasão! Acerca deste edifício e a propósito do brasão, Luiz Fernando Carvalho Dias diz-nos: "Outro brasão de armas existente ainda na Covilhã é uma pedra do século
XVIII, no antigo palácio dos ministros sobre a praça fechada dos cereais. É um
escudo quarteado que apresenta num dos quartéis uma estrela de cinco raios sobre
um santor ou cruz de Santo André. Este palácio dos ministros, ou dos juízes de
fora e corregedores que vinham à vila, é uma construção do século XVIII, fica
situado no Largo de Santa Maria e pode ter ligações com edifício mais antigo
pertencente ao concelho ou ao mercado da vila."
Palácio dos Ministros |
Agradaram-nos também algumas ruas, e construções sobre o ponto de vista arquitectónico, na zona da Porta do Sol.
Travessa do Peixe |
Rua 6 de Setembro, casa onde habitaram os avós paternos do editor |
Nota dos editores - As fotografias são da autoria de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias.
Fontes - O mapa é baseado em dados de Luiz Fernando Carvalho Dias e na sua obra "História dos Lanifícios (1750-1834)"; foi também consultada a obra "Do Foral à Covilhã do Século XII", de vários autores.
1)Estes extractos foram retirados da obra de Luiz Fernando Carvalho Dias "História dos Lanifícios (1750-1834) Documentos"
A Casa da Rua 6 de Setembro não era da família Paiva Tavares?
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarPossivelmente. O último andar esteve arrendado ao meu avô Álvaro da Cruz Dias e foi durante alguns anos a residência da sua família.
ResponderEliminarNo muro tem um brasão de armas. Tem alguma informação desse brasão?
ResponderEliminarObrigado
Não possuo qualquer informação sobre o brasão que se encontra no muro do quintal do edifício. Há uns meses fotografei o brasão e constatei o estado lastimável em que se encontra, muito diferente do que apresentava nos primeiros anos da década de 50. Nessa altura, quando o meu pai, Luiz Fernando Carvalho Dias, mo mostrou, disse-me a que família pertencia. Infelizmente já não me recordo.
EliminarVerificamos o seu interesse por estes assuntos, o que nos leva a pensar que se encontra ligado à Covilhã. Não se quererá identificar?
Cumprimentos
De alguma forma encontro-me ligado à Covilhã, vivi na Covilhã e estudei na UBI, mas não sou da Covilhã. Conheço a história da casa, onde viveu António de Paiva Boléo, industrial da Covilhã, e seus descendentes até aos anos 80 altura em que um dos seus netos vendeu a casa. O meu interesse pela casa é devido à arquitectura da mesma e pelo brasão que tentei descobrir a razão do mesmo, mas nunca tive sucesso. É de lastimar que os proprietários da casa, os familiares ligados ao brasão e mesmo as autoridades locais deixarem chegar uma obra de arte que conta a história de uma família e de uma cidade a um estado de degradação. Quem sabe este blog não pode ajudar publicando as fotos de degradação do brasão de modo abrir os olhos da Covilhã e dos covilhanences para a conservação do seu património histórico.
EliminarCumprimentos.
Consegue-me as fotos do brasão? Em tempos tirei com um telemóvel, mas não estão bem visiveis. Obrigado
EliminarAs nossas fotografias não estão famosas, dado o estado actual do brasão.
EliminarNão as iremos publicar e para lhas enviarmos necessitamos do seu endereço electrónico.
Cumprimentos