domingo, 17 de novembro de 2019

Covilhã - Os Filipes - II


Em 1578 o rei D. Sebastião morre sem descendentes em Alcácer- Quibir. Sucede-lhe seu tio-avô, o velho Cardeal D. Henrique, que não conseguiu decidir quem lhe sucederia no trono. Quando morre em 1580, instala-se uma crise dinástica em Portugal e é preciso escolher um rei. Os pretendentes, netos do rei D. Manuel, eram vários, mas a batalha mais feroz vai ser travada entre Filipe II de Espanha, filho de Dona Isabel, filha de D. Manuel, e de Carlos V, I de Espanha e D. António, prior do Crato, filho ilegítimo de D. Luís, senhor da Covilhã, filho de D. Manuel. Em 25 de Agosto de 1580, em Alcântara (Lisboa) ocorre uma batalha decisiva e vitoriosa para Filipe II. Entretanto este entra em Portugal e em 17 de Abril de 1581 as Cortes de Tomar vão declará-lo rei de Portugal. Estabelecem que o reino português passa a formar com Espanha uma monarquia dualista, embora Filipe II, I de Portugal tenha feito juramento de manter os direitos, costumes, privilégios e liberdades dos portugueses. Não cabe aqui historiar o que aconteceu nas décadas seguintes, mas recordemos apenas que o domínio espanhol durou sessenta anos.
Esta publicação apresenta uma reflexão de Luiz Fernando Carvalho Dias(não revista pelo autor) sobre o posicionamento dos portugueses perante a crise dinástica e ainda alguns documentos da época.


D. Sebastião
D. Henrique
D. António
Filipe I


Covilhã e 1580

Agrupam-se em três categorias os portugueses de 1580 perante a crise dinástica que assolou o país: os adversários renitentes de Filipe 2º; os seus partidários e aqueles que o aceitaram como o menor dos males.

Os primeiros eram constituídos pelos partidários do Prior do Crato e por aqueles que vieram para ele, depois de terem esperado, em vão, por uma sentença do Cardeal Rei, ou desiludidos da inacção do Duque de Bragança.

Os segundos venderam-se às benesses e ao ouro que Cristóvão de Moura lhes oferecia.

Os terceiros, embora não desejassem o Castelhano, ponderavam os inconvenientes de uma guerra a terçar com a nação exausta e achavam preferível aceitar Filipe, com as altas mercês e promessas que trazia na algibeira, de respeitar a independência da nação na monarquia dual, do que haver de suportá-lo como vencedor… Aguardando melhor oportunidade, ainda que demorasse 60 anos o despontar duma alvorada!...
As intenções do Prior do Crato vão-se esclarecendo pouco a pouco e a sua figura de príncipe desventurado e patriota vai conseguindo vencer a bruma que enevoava o sol do seu patriotismo. Para isso muito contribuiu a correspondência dos diplomatas espanhóis, que nunca chegaram a acreditar no entendimento proposto, mas nunca realizado, (mero expediente dilatório) que salvaguardasse os interesses de Filipe. No partido do Prior inscreveram-se pois os mártires da pátria, os resistentes intolerantes. Durante 60 anos, hora a hora, momento a momento, nos conventos, nos conciliábulos, sob a mística aparentemente inofensiva do encoberto, dentro da pátria e na própria Espanha, onde sofriam o desterro e no estrangeiro, em revoltas locais, conspirando directamente contra os terços espanhóis da ocupação, ou passivamente resistindo, escrevendo ou batalhando, eles mantiveram viva a esperança na hora da libertação. Mesmo morto, a causa não esmoreceu; os seus partidários acabaram por constituir com os cautelosos e prudentes, o movimento único que fez o Primeiro de Dezembro. A estes o tempo acabou por lhes dar razão.

Parece que o Cardeal Rei se deve contar como a principal figura dos homens do terceiro grupo: a ideia de não se pronunciar definitivamente, de não dar sentença, de deixar tudo no vago e no incerto, tinha como fim não comprometer a situação deste terceiro grupo. Deixar que aceitassem Filipe, sem que o direito estivesse definido, era criar ao espanhol a obrigação de pagar serviços, de manter liberdades, em suma, de recompensar lealdades de subditos não vinculados. Não definir o direito era ao mesmo tempo não fechar a porta à acção revoltosa e não comprometer o pronunciamento futuro dos cautelosos. Favorecer abertamente o Duque de Bragança equivaleria por outro lado a instigar Filipe a iniciar uma acção de conquista, comprometendo definitivamente a hipótese daquele poder vir a chefiar um movimento. Com direitos definidos, ao Duque cabia resistir e resistir era ser vencido, não resistir era comprometê-lo, no seu prestígio, perante o povo!

D. António, resistindo abertamente, cumpria também a sua missão: foi o ponto de honra, o protesto público da nação.

O que disseram, neste transe, as repúblicas municipais? Eis o estudo que urge realizar. Neste momento a monografia continua a ser o caminho mais acertado para ajudar a reconstituir o quadro histórico da época.
Dos magnates já se sabe os que se venderam; dos prelados já se conhece os que transigiram; só do povo da província pouco ou nada se escreveu.
Nas repúblicas municipais, ao lado das magistraturas e do funcionalismo, existia um corpo político constituído por parte da nobreza provinciana, que ocupava rotativamente os cadeirais das câmaras. Ao lado deles, como representantes do povo, apareciam os procuradores dos mesteres. Muitas vezes estes, dentro das câmaras, assumiam atitudes rebeldes contra a nobreza local e não se conformavam com as suas decisões. Os municípios, além da administração local propriamente dita, quando tinham voto em Cortes, mandavam representantes e estes, através delas formulavam ao Soberano requerimentos de ordem local ou nacional, representando oficialmente os municípios. Certos municípios exerceram funções políticas mais vastas. O de Lisboa, muitas vezes arvorava-se em porta voz dos restantes e no Ultramar chegaram a depôr os Governadores e a assumir o comando de vastos territórios e a defesa militar deles, tudo isto de acordo com a constituição histórica de uma monarquia que sempre detestou o cesarismo político e nunca aceitou que as razões de estado se sobrepuzessem à justiça e à verdade; onde o prestígio do Rei era tal que nunca se sentia diminuido pelas manifestações da liberdade popular contra os seus delegados! Basta recordar que nem o grande Albuquerque resistiu à voz de uma opinião pública que lhe era contrária… tão acentuada, reconhecida e presada era pelo Rei a personalidade dos seus súbditos. Lembramos aqui a carta em que D. Manuel proíbe a Afonso d’Albuquerque qualquer interferência da correspondência para o Rei. 

As eleições municipais, tantas vezes renhidas, também causam perturbações à ordem pública, levando os soberanos a intervir.

Mas os lugares da administração municipal não eram desejados. Impunham-se e das imposições havia muitas vezes recurso, sobretudo das tesourarias que vulgarmente acarretavam aborrecimentos, prejuízos e até prisões. Eram correntes os privilégios de isenção destes cargos de tesouraria, que nunca recaiam sobre os nobres. As suas obrigações, em geral, ficavam a cargo da burguesia local.
Privilegiados também os havia a servir o concelho, v.g. os mesários das misericórdias e seus provedores e diversas categorias de mamposteiros.
Nas câmaras também não intervinham os alcaides maiores e menores, os funcionários da fazenda e muitos outros.
Natural era pois que dentro do concelho coexistissem com a opinião oficial, opiniões dela divergentes.

Como se comportou o município covilhanense na crise de 1580? Coexistiam dentro do concelho opiniões diferentes da opinião oficial?

Ainda chegaram até nós alguns documentos que ajudam a esclarecer a questão, embora a vitória de Filipe, cautelosamente, tenha levado à destruição de provas contrárias a uma fidelidade que poderia nunca ter existido.

Que D. Henrique preferia um concerto à sentença, parece evidente: o documento que no-lo comprova não está assinado, nem datado (Doc. nº 1), mas é indiscutivelmente do punho de Nuno Camello, autor de duas cartas que adiante publicamos.  Pelos outros documentos verifica-se que Nuno Camello estivera em Almeirim antes de Março de 1580 e terá sido um dos procuradores da Covilhã, com Miguel de Figueiredo, às últimas cortes do Cardeal, aquelas que se fecharam com a sua morte.

Nuno Camelo era fidalgo da Casa d’El Rei. Temos notícia de ter pertencido, durante muitos anos, à governança da Vila. Sabemos também haver combatido em Marrocos. Foi pai de D. Maria de Souza, casada em primeiras núpcias com André Aranha, comendador de Stª Maria da vila da Covilhã.
Esta senhora, já viúva, casou em segundas núpcias com um professor da Universidade de Coimbra, o Doutor Francisco Dias.
Outra filha de Nuno Camelo foi D. Inês de Souza, casada com Paulo de Figueiredo de Almeida, que aparece diversas vezes nos livros e documentos da Misericórdia. Ela e o marido foram os pais do P.e António de Souza, o venerável mártir do Japão, relevo da Companhia de Jesus, grande missionário e um dos vultos mais insignes da galeria dos santos e missionários covilhanenses do Oriente.

O referido documento (Doc. nº 1) é afinal um dos muitos papéis que os procuradores enviavam às câmaras informando-as do andamento dos negócios públicos.

Docº nº 1

Pag 1

Mãoda elRey noso sõr dizer a vosas mercês / que lhe djseRam que algũs precuradoRes desta / Junta e֮temderam que ho cõcerto de que tratava / ho Requado de Sua A. que sesta fejra dej a V. V. mercês era ãtre elRej de castela e asi ãdava / c.ª e semdo jsto mto deferente pareceo a el Rej noso / sor mto necesario tornar a mãodar declarar / a V. V. mercês que este côcerto que desejava de / procurar não ‘ se não e֮tre elRej de castela he este Rejno e dizer ‘ se que este Rejno esta e֮duvjda / e senjfiquar que esta mto perto de se dar sña / por elRej de castela e e֮come֮da el Rej noso Snõr a V. V. mercês que vejam mto mjlhor seRa cõcrui֮r se jsto / por cõcerto que cõ se dar sña e que cõsjderem / todos mto bem cõ o que lhe Ja tem mãodado dizer / que semdo mateRia tam jmportante e jndo nela / tanto a todo Rejno Rezam he que todos sejam ca/pazes della.

Pag 4ª

Aos mujto elustres / snores os SnoRes / Juiz e vereadores da / villa de covjlham / meuos Snores /(1)


O documento nº 2 (Doc. Nº 2) é uma carta dos governadores do Reino de 31 de Janeiro de 1580, comunicando a infausta morte do Cardeal, falando das intenções deste para com os procuradores e das deles que são «procurar com muito cuidado para que se faça justiça assim a estes reinos na elleição que pretendem como aos pretendentes da sucessão…» A justiça que pretendiam os povos era a eleição…

Doc. Nº 2

Os Governadores e defemsores destes Reinos e Senorios / fazemos saber a vos juiz vereadores e procurador da villa de / covilhaã. Como noso Sor foj servido de levar p.ª si el Rej Don anriq.e / noso sõr de que ajnda que por suas muitas e grandes virtudes / aja tantas causas de semtime֮to vos deve muito consollar / verdes que estando no çeo poderá Interceder pollo be֮ destes Reinos / e comservaçã deles comforme do zello que sempre teve. e mos/trou e֮ sua vida. e já isto tinha S. A. que as te֮ mandado Recado / aos procuradores dos povos que o dia damahaã que he segunda / fr.ª à tarde se ajumtase֮ p.ª lhes mandar dizer que avia por bem / q֮ se lhe dese os papeis Da tore do tombo que pedião e tp֮o convenie֮te/ p.ª os apresemtare֮. E este mesmo Intento avemos De proseguir / E procurar com mujto cuidado p.ª que se faça justiça asi a estes / Reinos na elleiçã que pretende֮ como aos pretende֮tes Da socesão / e p.ª se comseguir estes efeitos e֮ comservaçã Da just.ª no que / toca a elleição e dito dos pretende֮tes, vos encomendamos / que procureis por no povo aver muita pãz e comcordia não comsem/tindo allteraçã por leve que seja e֮ favor de p.ª allgũa e֮ particular / cõforme ao asemto tomado nas cortes pasadas e ao que conve֮m ao bem / comũ. e pera bem destas cousas vos emcomendamos que nos façaes / as lembranças que pera Isto asy ser vos parecere֮ necesarias. escrita / e֮ almeirim ao deradr.º de janr.º de 580 esta bertolameu froes a fez escrever E yreis pela pela (sic) vila juntam.te cõ o povo E quebrareis os escudos como se fez per falecm.to dos Reis pasados (letra diferente)



O arcebispo de Lisboa + d Jº mazs      francisco de sa    Dõ João tello  e

          (dom João de mascarenhas)                            dº lopes de Sousa



p.ª a villa de Covilhaã

                                               Por os G.res / Ao juiz vereadores e p.dor

                                                                                   da villa / de Covilhaã/


Na carta seguinte (Doc. nº 3) de 18 de Março os governadores declaram que as Cortes de Almeirim eram acabadas e as procurações findas por ser falecido o Rei e por cessar a causa para que foram juntas e ainda para diminuir os encargos que faziam os povos com o provimento dos procuradores numa época em que é preciso tanta ajuda para defensão do Reino. Refere-se também que constituindo esses procuradores as principais pessoas das vilas e cidades, a sua assistência nelas se revela tão necessária, permanecendo só alguns. Insistem para que, se houver lugar a novos procuradores, sejam os mesmos.

Esta carta mostra-se singularmente ambígua, conhecidas hoje as intenções dos governadores… mas eles insistiam pelas necessidades da defesa do Reino. Defesa do Reino só podiam entendê-la os portuguesas no sentido mais exacto e preciso!

A insistência para que os procuradores fossem os mesmos, que poderia significar?
Parece-nos que nada podia significar pois a carta devia ser como todos os documentos de igual categoria, uma chapa para todas as câmaras representadas em cortes, tanto mais que os procuradores da Covilhã foram dos que permaneceram .

Doc. Nº 3

Os G.res e defensores destes R.nos e snorios de portugal etc / fazemos saber a vos juiz vereadores e procurador da vila de covilhã / q֮ por sermos certificados q֮ as cortes q֮ ElRey dom anrique noso / Sõr q֮ ds֮ te֮n mandou aJuntar nesta vila dalmeirim erão acaba/das. e as procuraçois findas. asi por ser falecido El Rej q֮ ds֮ / ten como por çesar a causa p.ª q֮ forão juntas. e pla obrigaçã / q֮ tinhamos ás avermos por acabadas por aliviar os povos da m.ta / opresão q֮ reçeben e grande custo q֮ faze֮ no provim.to dos pro/curadores em tal tenpo e֮ q֮ he neçesario pedir se lhe ajuda p.ª / Defensão do Rejno e tanben por sere֮ das principaes pesoas das / Çidades e vilas de q֮ vierão seria nelas sua asistençia de m.ta / Inportancia pera a defensão e bom governo da terra. por todas / estas Rezois e outros resp.tos, asentamos q֮ se devião as cortes /   se desolver e Irense os procuradores embora p.ª suas casas com / ficar numero deles competente p.ª milhor se podere֮ agasalhar / nos lugares pª q֮ nos pasarmos em quanto a çidade de lix.ª es/tiver Inpedida do mal da peste de q֮ nos ds֮ livre, que necesariam.te  hão de ser pequenos e de pouco gasalhado p.ª lenbrare֮ e re/querere֮ o q֮ lhes parecer q֮ conve֮, e lhes podermos comunicar as / cousas q֮ se oferecere֮ e vos podere֮ avisar do q֮ cunprir q֮ da / nosa parte façais como lhe sinificamos. de que nos pareceo vos devia/mos avisar p.ª saberdes as causas q֮ nos a isto movera֮ e vos / e֮come֮damos tenhais m.to cuidado de nos avisar senpre do q֮ p.ª efeito / da defensão. vos parecer q֮ conve֮ como de vós esperamos e avendo / algũ caso de tanta Inportançia q֮ seja necesario ajuntare֮se / cortes e p.ª Isso tenhais recado noso vos lenbramos q֮ as p.ªs / q֮ p.ª Isso enlegerdes devem ser as mesmas q֮ agora vierã pla /

       H. p.º barbosa                 Jeronimo p.ra //

noticia q֮ue te֮ dos neguocios e por sere֮ tais q֮ folgaremos / sempre de com eles tratar os mais Jeronimo de carvalhosa / a fez dalmeirin a xbiij de março de mill e bc lxxx / alvaro fernandez a fez escprever e às ditas pesoas pagareis / os ordenados que tiveren vencidos ate dez dias do mez dabrill e֮ q֮ poden / ser e֮ suas casas ----------- diz no emendado pera i ---/ do, abrill/



O arcebispo de Lisboa + dº jº mazs     francisco de sa    Dõ João tello

                                                                             dº lopes de Sousa



                                                      +

                                     Por os Governadores

             Ao juiz vereadores e procurador da

             villa de covilham   

É verdade que Nuno Camelo voltou à Beira, como se deduz das cartas de Miguel de Figueiredo, (Doc. nº 4) de Santarém a 13 de Abril, mas teria sido substituído pelo meirinho António de Proença, como adiante se verá.

Esta carta de Figueiredo é um documento precioso e como as duas restantes também inédito. Dá-nos notícia de factos da história geral do país passados em Santarém nessa época e já conhecidos, como as diligências de Osuna e de Moura junto dos procuradores e outros desconhecidos que muito interessam ao nosso intento. Destes convém assinalar: o procurador da Covilhã notou as contradições e mentiras de Osuna e de Moura; repele pessoalmente as muitas mercês e favores que Filipe oferecia ao Reino, se lho entregassem, porque lhe “não cabe no coração ser castelhano”; mas para cumprir o mandato não se escusa se lho pedirem da Covilhã, a enviar os partidos del Rei Filipe.
Contudo assinala que a forma como os emissários do Rei de Espanha os ofereciam “por um modo tão fora da justiça que este Reino pretende haver e dar só a quem de direito o for que a ninguém satisfez o não querer estar por ela mas antes encrua os estômagos a muitos desinteressados e bons portugueses, zelozos do bem comum.”
Filipe chegou a argumentar que D. Henrique o dera como sucessor, mas depois, pelo testamento deste, se viu não ser certo. Escandalizaram os procuradores muito de tudo o que sem fundamento alegara Molina e não se espantaram das ameaças de haver por armas o que lhe pertencia.

A Covilhã fez parte do grupo dos vinte procuradores a que se reduziram as Cortes. Como parece demonstrado que Febo Moniz só escolheu gente contrária a Castela, havemos de, com os termos desta carta, concluir pela sua sinceridade e haver Miguel de Figueiredo, se não entre os partidários intransigentes da resistência, ao menos daqueles que pugnavam pelo direito da eleição.
Por isso diz “quiseram estes senhores fazer mercê a essa vila de ser eu um dos vinte que mandaram ficar e não por eu ser digno desta honra e mercê e quanto ao Rejno deus o dê a cujo for com tal que seja Rei que nos governe em paz e justiça e poder para nos defender de nossos inimigos. E isto é o que pertendo e quanto a mim confesso a vossas mercês que não quero tantas honras para tantos trabalhos como cada dia se oferecem e padeço…” Insiste por voltar para a Covilhã.

Quem assim escrevia não era de certeza do grupo dos vendilhões!...

Também parece deduzir-se desta carta que os vereadores da Covilhã também não navegavam nas águas de Christovam de Moura – porque d’outro modo Figueiredo não escreveria referindo-se, sem dúvida, aos espanholisados: «i outra gente fora da calidade de vossas mercês às vezes lhe parece bem o que a muitos lhe parece mal pelo que não quis nesta que não sei se lhe será dada apontar mais……”

Quem era Miguel de Figueiredo?
……………..
Doc. nº 4

Aos muyto Illtres Sñores Juiz e / Vereadores da Villa de covj/lham

Depois q֮ se foj meu cõpanhejro nuno quamello não tjve / mais por quem pudese escrever e por q֮ de nouo não soffreceu / cousa mais qujportase não tjve majs hocasyão de q֮ avisar / a vosas mercês q֮ ho q֮ direj nesta em q֮ serej breve. depois / de partjdo nuno Camello como diguo veho a nosa cõsullta e estado / do Rejno dous Embaixadores dellRej felljpe e dous lletrados / .s. ho duque dosuna e dõ xpovam de moura e da sua parte / nos dixerão mtas cousas acerqua de não querer estar per justª / dize֮do q֮ a Justª da sua parte estava crara pois não avia hou/tro pare֮te majs chegado quello a perte֮ção deste Rejno e q֮ / ellRej dõm amrique seu tjo ho tjnha decrarado per soce/çor deste Reino e q֮ na tera não avia Justª de q֮ se fiase / ne֮ que֮ o pudese Jullgar q֮ nos pedia ho quisesemos amj/tyr ao q֮ Era seu derejto e q֮ elle querja E estava prestes / pera fazer grãodes mercês a todos os deste Rejno e grãodes / lljberdades ao Rejno e llogo por o letrado e seu doutor foj / llido hũ papell em q֮ os decraraua e certo erã mtas / E grãodes. hũ numero q֮ não escreuo aquj a vosas m’ per q֮ ate / guora não me cabe no coração ser castelhano, e amtre / ge֮te fora da calljdade de vosas merces֮ as vezes lhe pare/ce bem ho q֮ a mtos parece mall pollo q֮ não quis nesta q֮ não / sej se lhe sera dada apõtar mais.  q֮ãodo v. s. m’ qujsere֮ / averej ho trellado E lho mãodarej asy da carta dellRej / Felipe como dos partidos q֮ hos soma são tão grãodes / E tajs q֮ fara tudo ho q֮ qujsermos e sasinara em brãoco / segũdo tenho Emte֮dido. mas ysto vynha por hũ modo/ tão fora da da (sic) Justª q֮ este Rejno perte֮de aver e dar //

(f. 2)

so aque֮ de drto o for q֮ a ny֮gem satisfez o não querer estar per / ella mas ãotes Emcruza hos Estamagos a mtos desymteresados / e bõs portugeses zellosos do bem comũ. por q֮ quãoto ao q֮ diz que ellRej / seu tjo ho decrarou por sucesor destes Reinos e q֮ mtos perllados / nobres delle lhe beijarão a mão por lhe dar tall cuceçor de/pois deste Requado nos mãodou outro em q֮ avia per bem e nos / fazia m’ de nos amytir aa Justª q֮ perte֮diamos ter acerqa / da ellejção de Rej destes Rejnos e querja per ella se determjnase / e q֮  nos certiFiquava q֮ ate aquella ora não tjnha dado Snça / ne֮ determjnado ne֮ per sy ne֮ per nhenhũ lletrado deste Rejno / aquem perte֮cia a elleição e dr.to delle Easy ho decrarou em / seu testamto per omde e nullo tudo ho q֮ allegou ho dito / doutor molljna. ho quall Fũdamto escãodaljzou a mtos / e não espãotarão as ameaças de per armas aver o seu de / que֮ lho não qujsese dar não se lhe tem Respõdido ate / o presemte majs q֮ dizerse aos ditos embajxadores q֮/ se Respõderya a sua magestade aprjcarão (sic) (suprjcarão) fose a Resposta cõ bre/vjdade depois disto pasado pareceo be֮ aos sñores go/vernadores q֮ as cortes se Reduzise֮ Em menos numero de pro/curadores como Ja dãotes tinhão detremjnado per cõprjr / asy somte mãodarão fiquar vymtomes somte os quais cove/se a materja de cortes e a Justª dos perte֮demtes e as majs / cousas nececarias pera a difemsão destes Rejnos até se / tornare֮ a chamar os cõpanhejros quãode cõprjse e ysto per / mtos Respeitos q֮ se não podem fiar de papell qujserão Estes / Snores fazer mercê a esa villa de ser Eu hũ dos vj֮te q֮ mão/dase֮m fiquar e não por eu ser dino desta omRa e m’ / e quãoto ao Rejno deos o dê a cujo for cõ tall q֮ seJa Rej q֮ nos / governe em paz e Justª e poder pera nos defemder de / nosos enemjgos. E ysto E o q֮ perte֮do e quãoto a my֮ cõfeso / a vosas mercês q֮ não quero tãotas omRas pera tãotos / trabalhos como cada dia se ofrece֮ e padeço e q֮ não / E Rezão Estar mais tp֮o fora de mjnha casa e q֮ cõ mta E/ficaçia Requererej llicª a estes Sñores e a vosas mercês / pera ho fazer e emtretãoto avize֮ me v. m’ do q֮ me mão/dão e lla pasar.

beijo as mãos de v. s m’m./ oje 13 dabrill de sãotare֮ de 1580/

servjdor de V.s m’                               a)  mjgell de ffigdo
(Continua)

Nota - 1) Documento s.a.n.d.

Letra de Nuno Camelo. Trata-se do 2º recado levado pelo Bispo Pinheiro, por ordem do Cardeal-Rei, às Cortes.
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