segunda-feira, 2 de abril de 2012

Covilhã - A Misericórdia, Uma Instituição de Solidariedade Social XVI

A Fundação da Misericórdia (de novo)

     Pensamos que está na altura de reforçarmos a ideia de ser revista a data de 1577, como ano da fundação da Misericórdia da Covilhã. O investigador Luiz Fernando Carvalho Dias encontrou no Arquivo da Misericórdia vários documentos, já apresentados neste blogue, que mostram a sua existência muito antes de 1577. São documentos de 1511, 1543, 1542, 1539-40. Num destes é mesmo referido pelo provedor e irmãos que a Misericórdia foi fundada “há 40 anos”, ou seja, em 1498-99:

 
Eu o Infante Dom Luís etc faço saber a vós licenciado Francisco Cardoso meu ouvidor das minhas terras da Beira Que vi esta petição atrás escrita que me fez o provedor e irmãos da misericórdia da minha vila de Covilhã, e havendo respeito ao que nela dizem hei por bem e me apraz que no Fundão e Aldeia de Joane, no Teixoso e Alcongosta e na vila do Alcaide haja os mamposteiros que sempre houve e lhe sejam guardados seus privilégios como até aqui foram e isto pelo espaço de dois meses, no qual tempo vos mando que me informeis por vossa carta do conteúdo na dita petição e das razões que vos moveram a mandardes que não houvesse mais de um mamposteiro em cada um dos ditos lugares com vosso parecer sobre este caso para prover nele como me parecer bem e justiça, Diogo de Proença o fez em Lisboa, ao derradeiro de Outubro de 1539/
a) Infante Dom Luís
para ver
Dom Francisco Grª ( ou Prª )

 
No verso :

 
A sua alteza para que em Alcongosta e no Fundão e Aldeia de Joane e no Teixoso e Aldeia do Alcaide haja os mamposteiros que sempre houve e isto por espaço de dois meses no qual tempo sua alteza manda que o seu ouvidor logo informe do constante na petição e as razões que o moveram a mandar que não houvesse mais de um mamposteiro com seu parecer neste caso a qual diligência e informação logo envie com brevidade Em Lisboa hoje derradeiro de Outubro de 1539 dom Francisco Pereira

 
Diz o provedor e irmãos da misericórdia da vila de Covilhã que a casa da dita misericórdia há quarenta anos que é fundada e desde o dito tempo a esta parte sempre aí houve em cada lugar do termo da dita vila um mamposteiro da dita casa privilegiados para não servir nos encargos do concelho E nos lugares grandes como é o Fundão e Teixoso e Aldeia de Joane dois em cada lugar por um não poder arrecadar. E tirar a esmola que lhe é correr todo o lugar sendo lugares cada um de muitos vizinhos o que sempre foi guardado pelos Reis passados e suas justiças. E ora o ouvidor de vossa alteza Francisco Cardoso o ano passado devassou os ditos mamposteiros nos ditos lugares que não ficasse em cada lugar mais que um, do que se agravaram a vossa alteza. E mandou ao dito ouvidor que lhe escrevesse os lugares quais eram, o que não fez Pedem a vossa alteza haja por haver nos ditos lugares os ditos mamposteiros como sempre os houve porque de outra maneira a esmola se perderá e a casa se acabará de diminuir por agora não ter outro peditório mais que na dita vila e termo tendo em todas as vilas ao redor e lhe é tirado por nas ditas vilas fazerem outras casas, sendo a dita casa muito pobre que não tem mais que os fiéis cristãos lhe fazem E das mais principais na devoção e Regimento do Reino no que receberão mercê. //

 
     Os editores também encontraram no espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias um documento anterior a 1577, que prova que no ano de 1555, a Misericórdia e o seu Hospital  se encontravam em funcionamento normal:

 
Carta de Doação da Renda da Saboaria da Covilhã ao Licº Lopo da Fonseca, morador na mesma vila, que vagara por falecimento de  Diogo Fernandes...

 
“ e isto com tal condição que o dito licenciado Lopo da Fomsequa (1) cure de graça os padres dos mosteiros de sam francisco que estão na dita vila e assim os enfermos que estam no Hospital e casa da misericordia dela ....”, com os privilégios do seu antecessor de que ninguém faça ou venda sabão na vila ou o traga de fora sob pena de ser preso.
Lisboa, 29 de Março de 1555. (2)

 
Nota dos editores – 1) Lopo da Fonseca era cristão-novo, tendo falecido cerca do ano de 1577. A sua viúva e os seus filhos foram sentenciados na Inquisição de Lisboa. Encontram-se referidos sob os nºs 50, 60 e 147 da Lista que estamos a publicar.
2) Chancelaria de D. João III, Lº 71, fls 69.

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