Inquérito Social - V
Continuamos
a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da
Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da
autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.
Capítulo III
População
A população dos lanifícios é, aquando do
inquérito, de 12.863 operários dos quais 7.856 são masculinos e 5.007 são
femininos. A sua distribuição pelos grémios em que trabalham é a seguinte:
Encontramos aqui os grémios dispostos pela
ordem da sua população industrial.
Há
que atender que na população do grémio da Covilhã não figuram os tecelões
manuais dispersos pelas freguesias do concelho, a não ser os do Teixoso. Não
houve possibilidade de os ouvir nem de preencher os boletins de cada um de1es.
Se os adicionássemos a esta estatística, o grémio da Covilhã apareceria com a
população de 6.620 operários.
Nos outros grémios, como a tecelagem manual
em propriedade dos operários é mínima, já houve possibilidade de os ouvir e por
isso constam da presente estatística.
Todos estes números revelam a população
estável da indústria, porque o preenchimento dos boletins foi realizado numa
estação em que o trabalho era diminuto.
É por isso que junto aos boletins de
inquérito dalgumas fábricas se tomou nota do número de operários que não
responderam ao inquérito por não terem trabalho nessa ocasião. Nas fábricas de Lisboa
varia esse número entre 25 e 30 operários.
Os operários de lanifícios são em regra
naturais das terras onde trabalham ou dos seus arredores.
Nas listas adjuntas, referentes à naturalidade
dos operários podemos facilmente verificá-lo.
O Grémio do Sul, tendo em vista sobretudo
as fábricas de Lisboa, é constituído quase exclusivamente por operários da
província. Predominam entre eles as mulheres, que vieram para Lisboa como
criadas de servir ou, em pequenas com os pais; aos homens trouxe-os, em geral,
o espírito de aventura, as faltas de trabalho, a exiguidade dos salários do
campo ou o serviço militar. Vale a pena notar que o número dos operários
das regiões industriais, que procuraram em Lisboa a indústria de lanifícios
como meio de vida, não é avultado. Correndo as listas é fácil encontrá-los,
pois duas cruzes sobrepostas os indicam à atenção do leitor.
A população do Grémio do Norte que trabalha
no Porto, tem idêntica origem à da população do Grémio do Sul que trabalha em
Lisboa. Nestes dois grémios encontram-se bastantes operários da Covilhã que
ocupam, vulgarmente, os lugares de mestres de secção, tecelões, empregados
fabris e trabalho especializado exclusivo de mulheres. São geralmente
contratados para virem ocupar directamente estes lugares. No entanto, nestes dois
grémio a população natural da Covilhã, não excede 98 operários.
Vem a propósito dizer, que ao constituir-se
uma fábrica no Grémio de Castanheira de Pera, lembraram-se os patrões de
recrutar todo o pessoal, para ela, na população da Covilhã. Ao fim de dois ou
três anos à excepção de seis, todos os outros tinham voltado à sua terra.
Aqueles que encontramos dispersos pelo
país, estavam em boas situações de confiança, mantendo-se por isso afastados do
velho burgo industrial, ou estavam casados e tinham constituido família no
lugar onde se encontravam e, por isso, lá permaneciam, ou então suspiravam por
voltar, mais tarde ou mais cedo ao seu torrão natal.
Apesar do embrutecimento com que a máquina
e o excessivo barulho das oficinas lhes martiriza a atenção, em vigilância
permanente, nota-se no operário, ausente da sua terra uma sensibilidade tão
excessiva que ao falarem dela são incapazes de esconder a saudade.
Do Grémio de Gouveia, andam pelos grémios
do Sul e do Norte, cerca de 25 operários. Ao contrário do critério adoptado
para a Covi1hã, de que excluímos Cebolais para averiguar o índice de
migração,no Grémio de Gouveia não fizemos distinção nenhuma das terras que o
constituem.
******
Vamos ver agora qual a migração entre os
três grémios onde a indústria tem raízes profundas, que são a Covilhã, Gouveia
e Castanheira de Pera, que o mesmo é estudar quais as relações de população
entre eles.
Operários da Covilhã em Gouveia …………….. 110
Operários da Covilhã em Castanheira ……… 23
Operários de Gouveia em Castanheira ……… 4
Operários de Gouveia na Covilhã ………...… 141
Operários de Castanheira na Covilhã ……… 2
Operários de Castanheira em Gouveia ……… 0
O predomínio de operários de Gouveia na
Covilhã sobre os da Covilhã em Gouveia
explica-se não só pelo intercâmbio operário entre os dois grémios, mas
também por aqueles operários da Covilhã, que tendo vivido em Gouveia, onde lhe
nasceram os filhos e depois voltaram à sua terra, esses filhos voltando depois
com os pais à Covilhã, aparecem como naturais de Gouveia.
Estas estatísticas revelam que a
migração entre os centros fabris é pouco importante.
Para o regime de propriedade das casas
económicas pode tirar-se daqui uma razão a favor da instituição do casal de
família,com a possibilidade de alienação, nos casos raros em que o operário
justificadamente se vê obrigado a abandonar a sua terra.
Ao mudar de terra, os operários de
lanifícios procuram quase sempre a sua antiga profissão; se a abandonam é
só por falta de trabalho dentro dela ou porque outra mais rendosa lhes apareceu.
Encontram-se trabalhando nas terras
seguintes:
Operários naturais das Colónias:
Avelar
………………… 2
Porto
………………… 2
Lisboa …………………. 2
Operários Brasileiros-Portugueses:
S. Romão …………….. 1
Trinta ………………… 3
Portodinho ……………. 2
Avelar ………………… 1
Porto …………………... 3
Famalicão ……………… 2
Lisboa ………………….. 1
Arrentela ……………….. 1
Operários nascidos na América do Norte:
Vodra …………………… 1
Moimenta da Serra ……… 1
Sampaio …………………. 7
Famalicão da Serra ………. 1
Gouveia …………………… 1
Seguem as imagens de dois gráficos, também relativos à idade dos operários, que na obra são apresentados em anexo a este capítulo da População. O suporte em que foram elaborados é papel vegetal/pergaminho, ao fim de tantos anos um pouco deteriorado.
Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.
Capítulos anteriores:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/08/covilha-inqueritos-industria-dos_2.html
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