domingo, 9 de junho de 2013

Covilhã - Fotografias Actuais VIII


     Publicamos hoje mais algumas fotografias da Covilhã, tiradas por Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias, a propósito de alguns documentos encontrados no espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias.

1 – A Ponte Pedrinha

[...] E quanto aos clérigos dessa vila e termo que não querem pagar para a finta que se lança para refazimento da Ponte Pedrinha que me pedis que mande prover e mande ao juiz de fora dessa vila que faça redução nas fazendas dos ditos clérigos pela quantia que a cada um couber na dita finta vos mandai requerer ao bispo que mande aos clérigos que paguem conforme a direito e não cumprindo eles, escrevei-mo e proverei nisso como for justiça.

            E assim dizeis que o foral dessa vila declara que cada morador dela pague dezassete ceitis de finta para a água que se trouxe a ela e que não sejam disso escusos os ditos clérigos e que sempre os pagaram por ser direito Real e que ora se querem disso escusar e não pagam e me pedis que mande ao dito Juiz que os execute e havendo respeito ao que dizeis tendo assim que é direito Real mando ao dito Juiz que os constranja a pagar conforme a ordenação. Cristóvão Lopez o fez em Lisboa aos 20 de Abril de 1560  Diogo de Proença a fez escrever
                                                                                  Rainha (1)

Resposta aos oficiais da Câmara da vila de Covilhã sobre os apontamentos que o enviaram a Vossa. Alteza.

            Juiz vereadores e procurador da vila de Covilhã eu El Rei vos envio muito saudar vi a carta que me escrevestes e apontamentos que me enviastes e no primeiro dizeis que é impossível poder-se nessa vila cortar carne pelos preços declarados na lei das taxas, porquanto nos lugares e comarcas donde se prove ( abastece ) essa vila de carne é taxada a maior preço e me pedis que vos faça mercê de acrescentar o preço da carne para a poder haver nessa vila no que hei por escusado prover como vos tenho respondido em outra carta.

No segundo apontamento dizeis que os clérigos dessa vila e termo não querem pagar o que lhe foi taxado por finta para a obra da ponte Pedrinha e que requeresses o Bispo da Guarda que mandasse neles fazer execução e lhe enviastes minha carta que sobre isso escrevi que viu e não mandou fazer a dita execução e respondes por palavra que responderia indo à Guarda o que não esperais que vá tão cedo, o que pode causar ficar a dita obra por acabar antes do Inverno e me pedis que proveja no dito caso; Vós requereis ao dito bispo que mande aos ditos clérigos que paguem sem delonga, por que não é necessário ir à Guarda para o haver de mandar e não o fazendo assim, mandareis fazer execução nas fazendas dos ditos clérigos pela quantia que a cada um couber pagar para a dita obra. [...] Lisboa aos vinte e cinco de Setembro de 1560, Diogo de Proença o fez escrever.
                                          Rainha (a)
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Tombo dos bens foros e propiedades que pertencem ao conçelho da Villa de Couilhã que se fez por mandado do Muy alto e poderoso Rey Dom Phellippe o 2.° de Portugal Nosso Senhor na era de 1615

[…]
  Luguar do teixoso
Este luguar do teixoso tem huma freiguezia que he da Invocaçam de nosa Se­nhora das collas que tera quatro çentos freiguezes pouco mais ou menos E em cada hum año serve nelle douz Juizes de Vara E hum procurador. E estes emle­jem cada año seis homens onrados que chamão do Regimento com os quais fazem as posturas E acordos neçesarios E tem seu escrivam das achadas que com elles serve.
tem huma caza de audiençia em que fazem seus acordos.
seu curral em que metem o guado que achão nos danos.
tem huma renda que chamam do verde do rendimento da qual tem o conçelho deste luguar a coarta parte E a camara da villa tem as tres partes.
Titolo das propriedades que tem o Conçelho deste luguar
tem o concelho deste luguar hum pelame a ponte pedrinha que pessue Jorge ramos a quem se aforou Imfatiosin em preço de çincoenta reis em cada hum anño.
hum pote Junto a este pellame que se aforou ao mesmo Jorge ramos Imfa­tiossim em vinte reis cada hum ano.
afonso Roiz outro pelame que esta aj mesmo que se lhe aforou em preço de çincoenta reis E asim hum pote que tambem lhe fica aforado em vinte reis cada ano.
tem o dito conçelho três pellames e hum pote aj mesmo que pessue migel antunez aquem ficam aforados Imfatiosim a çincoenta reis cada pelame e vinte reis o pote.
Outro pelame que se aforou a pero gil em çincoenta rs.
hum pote que fica aforado a guaspar luis em vinte reis.
outro pote que fica aforado a Antonio luiz em vinte reis.
hum pote E hum pelame que fica aforado a Sebastiam lopez em cincoenta reis o pelame e vinte reis o pote.
Outro pote que fica aforado a simão fêz em vinte reis.  […] (b)

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Ponte Pedrinha

Notícia histórica sobre a ponte Pedrinha

A mala posta não pôde passar a Ponte Pedrinha na tarde de Segunda Feira por virtude da grande cheia que o Zêzere atingiu por causa das chuvas torrenciais destes últimos dias.
Por este motivo só ao meio dia de terça feira pôde ser distribuído o correio do sul por onde recebemos, como é sabido, a correspondência de Lisboa, pois que só nesse dia de manhã pôde restabelecer-se a passagem na ponte. Não estranhamos o caso porque é usual em todos os anos, nem mesmo estranhamos o desprezo que o ministério das obras públicas lhe vota.
Agora segue-se, como das demais vezes, vir um engenheiro com o respectivo pessoal estudar o projecto da ponte, passar a primavera naquele sítio que é bastante aprazível e ... quartel general em Abrantes, fica tudo como dantes.
O dinheiro que se tem gasto neste já estafado processo chegava, cremos nós, para se fazer a obra.
A Ponte Pedrinha construída no meado do século XIV à custa dum fintão especial, derramado pelos povos e eclesiásticos, acha-se em um tal estado de ruína, que já por vezes tem deixado escoar pelas fendas dos arcos a brita com que se tem macamisado o seu leito !!
Há dois anos deu-se princípio a nova ponte, cravando alguma estacaria no alveo do Zêzere, expropriando-se o terreno para as avenidas e encontros, acumulando-se material destinado à obra e construindo-se um barracão para abrigar pessoal e guardar os materiais; tudo ... para suspender a obra e perder-se parte do trabalho nele empregado.
Lembra-nos aquele malicioso que para lhe não fazer dano a salada de pepinos, os lavava primeiro, descascava-os em seguida, picava-os muito bem, deitava-os de molho, lançava-lhes vinagre, sal, azeite e pimenta, sobretudo pimenta, abria a janela e deitava tudo para a rua deixando o braço de fora durante quinze minutos para serenar”. (s.d., nem fonte)

2 – O Rio Zêzere e a sua importância ao longo dos séculos


O Rio Zêzere junto da ponte Pedrinha, perto da Boidobra

 Um exemplo:

Coutada do moesteiro de maceyra da estrella
1364
 Dom pedro e etc. A quãtos esta carta virem faço saber que eu querendo fazer graça e mercee ao abade e convento do moesteiro de maceeira da estrella couto lhe a Ribeira do zezar e do sangujnhal quanto tange aa herdade que hi tem o dicto moesteiro na qual mando que nom seia nehum tam ousado por poderoso que seia que pesque nem mande pescar na dicta Ribeira com nehua cousa que seia contra sua uontade E mando a todallas minhas Justiças que esta carta virem  que nom consentam a nenhuus que em ella pesquê cõ nehu cousa como dito he. E aquelles de que forem certos que fazem o contrayro desto que lho stranhem como no fecto couber. E de mais lhe façam correger dapno alguu ou perda se lha fizerem como acharem que he direito umde al nom façades. E em testemunho desto mandey dar aos dictos abade e conuento do dicto moesteyro esta mjnha carta dante em abrantes xxbij dias de janeiro elrrey o mandou per afonso dominguiz seu uasallo Vasco annes a fez era de mjl iiijc e dous años. (2)

3 – Um estendedouro de lãs no Pisão Novo 

Estendedouro do Lavadouro de Lãs do Pisão Novo de João Rodrigues Peixoto
 e de Prudêncio Rodrigues Peixoto, avô do editor deste blogue




        É lembrado pela sua proprietária, mãe e sogra dos editores - Maria Palmira Aguiar Peixoto Carvalho Dias (97 anos): "No Lavadouro a água vinha da Ribeira (da Goldra) por uma cal ou aqueduto. Era aquecida numa caldeira e, em seguida  entrava para a primeira de cinco tinas ou barcas dispostas em fila. As lãs eram mergulhadas na 1ª barca, onde ficavam sujeitas a movimentos praticados por uma espécie de pás/garfos. Esses garfos além de movimentarem as lãs dentro de água, iam-nas passando às barcas seguintes, até serem retiradas e lançadas numa máquina de centrifugação, denominada "hidro", colocada ao fim da fila. Já sem água, as lãs eram então levadas para este estendedouro, virado a Sul e situado a pouca distância. Ali o Sol batia-lhes bem.”
  
4 - O Núcleo 3 do Museu dos Lanifícios – As Râmolas de Sol. 


Placa batida pelo Sol, que nos informa da inauguração deste núcleo.
As râmolas
Um gancho das râmolas

    As râmolas eram utilizadas para secar e esticar os tecidos. Muito interessantes estes museus ao ar livre, mas sentimos falta de informação sobre o assunto e verificámos que o espaço estava mal conservado. Ao vermos este núcleo, o editor recordou umas râmolas bem mais vistosas, que existiram no Pisão Novo, pelo menos até ao fim da década de sessenta, junto ao espaço ocupado pela nova construção da empresa Beira Lã, perto do Polo das Engenharias da Universidade da Beira Interior.


5 - Telhados Covilhanenses vistos do nosso terraço no Pisão Novo. As torres são da Igreja de Nossa Senhora de Fátima.



Fonte – a) Arquivo Municipal da Covilhã
b) Dias, Luiz Fernando Carvalho, “Cartas de Gonçalo da Cunha Villas Boas para o Conde da Ericeira", pág. 180, Separata de Revista dos Lanifícios.

Nota dos editores – 1) Dona Catarina é mulher do defunto D. João III,  mãe do menor D. Sebastião e por isso regente do Reino.

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