Serviços prestados pela Misericórdia
A mesa, como já publicámos, era constituída por o provedor e mais doze membros; dos nove conselheiros, dois eram designados conselheiros dos hospitais; outros dois dos doentes, mais dois dos presos, o escrivão e um outro conselheiro tinham a seu cargo os envergonhados e, por fim, dois conselheiros das esmolas.
Finalmente os dois últimos membros da mesa eram designados por mordomos.
Observemos alguns dados recolhidos (transcritos) por Luiz Fernando de Carvalho Dias no Arquivo da Misericórdia da Covilhã.
Gravura representando um enterro
I - Mortos
1593
Aos 6 de Novembro desta era faleceu neste hospital um homem que disse chamar-se João de Cranaria (?), de Barcelona do reino da Catalunha de ofício de cravar atacões e trazia formas de fazer … com sua mulher que antes dele faleceu no dito hospital e chama-se Maria Martins e disse ser natural da vila de Alvoco e todos faleceram e deixaram 2 meninos o mais velho poderá ser de idade de quatro anos chama-se Manuel, outro pode ser perto de um ano chama-se António, ficaram-lhe na casa os instrumentos de seu ofício e um burro e este termo se fez para lembrança do que for necessário e assinamos os oficiais da casa do dito ano.
- pessoas q faleceram em esta Sancta casa donde sam e seus nomes
604
- dia 30 de Julho de 1604 faleceu Guiomar Jorge natural que dise ser da grãia de tedo
- oie quatro de Setembro de 604 faleceu Maria … natural…
- oie 2 de Outubro de 604 faleceu nesta casa domingos estevens natural de castro doiro.
- oie 8 d’outubro de 604 faleceu nesta casa fr.cº fig natural que dise ser de Sancta Combadão do bpd de Coimbra.
- oie 9 de Fevereiro faleceu jorge Antunes de figueiredo de Gonsalo.
- Irmãos q falecerão este ano / de 604 em q dia
- faleceu migel de Proença
- faleceu Duarte estevens
- faleceu pero ribeiro
- o prior de San pºeonor foi organizada pela Fundação
- 1617
(Tirados do Inventário da Roupa)
Francisco Lopes, do Tortozendo
António de Aldeia do Mato
António Monteiro
António
1 preso
Maria João, de S. Romão
Filipe Correia
João Fernandes
João de Seia
Domingos de Mangualde
Pº da Relvas
Domingos Gonçalves, de S. Paio
A mulher de Sortelha
João
Em 1695 morreu Maria Mendes, natural do Fundão, que deixou à Misericórdia da Covilhã – 641$905 – Livro que diz Herança de Mª Mendes – não traz testamento.
II - Doentes
Do concelho De fora do concelho
Masc - 11 ; Fem - 11 Masc – 20; Fem – 11
1617 – 12 de Setembro
entrou para o hospital e foi convalescendo em Outubro, Manuel de Figueiredo, casado com Isabel Lopes, natural de Ceuta.
Em 15 de Setembro entrou Maria Gracia, mulher de João Afonso, carpinteiro, natural de Santiago d’ Arsua ?, arcebispado de S. Tiago;
Em 15 de Setembro de 1617 entrou Maria de Arjnes biscainha, mulher de Pº Frrª, moradores em Valença, foi ”convalescida” em 15 Outº de 1617.
III - Presos
Outro documento de 1597 – cópia de provisão concedida à Misericórdia de Castelo Branco por Filipe (a Misericórdia da Covilhã pedia o mesmo)
Senhores
Dizem o Provedor e Irmãos da misericórdia da vila de Covilhã que a eles lhes é necessário o traslado de uma provisão que a misericórdia desta vila de Castelo Branco tem para levarem os presos degredados de menos cópia de seis e assim os que forem de feitos graves para se livrarem na casa
Pedem a V. M. mande dar o traslado da dita provisão em modo que faça fé etc….
Presos q esta Sancta casa livrou / e alimentou este anno de 1604
- Domingos Joam, morador em Aldeia de Joanne e natural da Cerdeira – solto em dez de Junho
- Esta casa livra e alimenta Martim frz bigos e sua molher e as duas crianças alimenta
- A Manoel Moreno rendeiro q foi do verde / desta villa livra e alimenta (Solto)
- bastiam dias estalaiadeiro que foi nesta villa / e sua molher
- Fr.cº Frz natural d’aldeia do alcaide, termo desta / villa
- domingos lopez de Penamacor
- antoneo fr.cº e sua molher
- Manuel Roiz
- Maria Glz do turtuzendo. m.er loucã
- Maria cousa livrou esta casa e foi solta / e foi comprir seu degredo.
- bastiam dias e sua mulher foram livres / e foram cumprir seu degredo.
#
- livrou esta casa e alimentou dous pastores / do teixoso que foram achados às uvas
- livrou duas molheres do tortozendo
- livrou e alimentou Manoel Roiz
- livrou e alimentou 7 ou 8 meses Antº Fr.cº e sua m.er
- aseitou esta casa para alimentar aines Nunes m.er de Fr.cº frz da madalena
- aseitou tb. a turibio da Costa
- aseitou a dº marques, oje 26 de Outº pª o livrar e alimentar
- livrou e alimentou a João Mendes das quintãs deste termo
- aseitou a Julião de Paiva do fundão pª livrar e alimentar
- aseitou a Antº Dias, o doudinho, do fundão pª livrar e alimentar
- aseitou a jorge anriques desta vila pª livrar e alimentar
- a doze dias do mês de janeiro aceitou a jorge antunes de figueiredo para o livrar e alimentar. faleceu
1614: M – 18; F - 4
1617: M – 19; F – 4
1623: M – 19; F – 5
1627: M – 11; F – 6
IV - Enjeitados e não enjeitados – crianças que a Casa cria, em casa ou fora, ou auxilia.
Enjeitados, filhos de pessoas sem meios, filhos de pessoas de má vida e órfãos, filhos de presos.
ingeitados q esta casa mandou criar / e alimentar e outras crianças / q esta casa cria
- oje 20 de Outubro de 604 aseitou / esta casa huma menina filha de dº / fig obrigado pº a criar
- outra menina que cria e alimenta filha da morena
1614 – M 4; F 4
1617 – M 3; F 6
1623 – M 4; F 6
1627 – M 3; F 1V - Esmolas q se deram a órfãos
- deu esta sancta casa a huma / esposada pobre huma manta /
- a outra a huma molher de Stª Marinha – a bispa
- a um homem das Cortes q se lhe poz o fogo a casa huma manta e hum Cabesal e huma almofada
- a outra esposada pobre hu lançol e hum travesseiro em / fronhado
- outra manta a outra esposada pobre.
- Esmola q esta Sancta casa da / aos padres de Sancto antoneo e a hospitaleira 1604
- todos os sábados do anno se da nos / padres de Sancto antoneo sinquo arateis / de carne desmola /
- Cada somana se da a espitaleira desta / casa um alqueire quarta de centeio / cada sábado trinta rs. em drº e hum / aratel de carne /
VI - As heranças também eram aplicadas em serviços. Vejamos um exemplo:
1617 - Pão sabido que se comprou com o dinheiro que deixou o doutor Batthazar Manso, prior que foi do Teixoso.
VII -Peditórios de Pão para os presos
Em cada freguesia haverá em cada mês 3 ou 4 homens, confrades ou não, que se disponham a pedir aos domingos de cada mês, depois da missa, pão para os presos, enfermos e necessitados assistidos pela Misericórdia. Esse pão será trazido à capela para ser distribuído duas vezes na semana pelos conselheiros dos presos.
- Recordemos, a propósito, um dos privilégios da Misericórdia da Covilhã:
Um dos mais curiosos e vem ele da primeira mercê de D. Manuel era o de poder mandar pedir esmolas num círculo de seis léguas para além do termo. O concelho da Covilhã ainda incluía nessa época o concelho do Fundão. Assim o Licenciado Luiz de Almeida, contador e corregedor da comarca da Guarda e Castelo Branco, em 1549 manda cumprir tal privilégio às autoridades da referida comarca. O mesmo ordena o representante do Bispo da Guarda D. Jorge de Melo, ao clero da diocese em 10 de Julho de 1542, exceptuando contudo a cidade da Guarda porquanto já tem edificada a misericórdia. Notifica-o também aos seus subordinados da correição do Mestrado de Cristo o Licenciado Fernão Gomez, ouvidor dele e provedor dos órfãos, capelas, resíduos, etc, sem qualquer restrição.
- Peditório em Alcongosta, Bendada, Teixoso, Freixial, Águas Belas, Aldeia do Mato, Casteleiro, Aldeia de Carvalho, Belmonte, Eirada, Gonçalo, Silvares, Salgueiro, Quintã, Escarigo, Cambas, (Mamposteiros), Mouta, Aldeia Nova das Donas, Alcaide, Santo Estêvão, Peroviseu, Paúl, Famalicão, Sortelha, Dornelas, Janeiro de Baixo, Souto da Casa, Aldeia de Joane, Unhais-o-Velho, S. João do Hospital, Madalena, S. Tiago e S. Silvestre, Peditório da Vila feita pelos mordomos das esmolas. (1)
VIII - As despesas da Misericórdia permitem deduzir os vários serviços que presta:
- Despesas da Capela, do Hospital, dos presos, dos órfãos e enjeitados, roupa para os pobres, aos velhos, para urdir e tecer teias de linho ou lã, aniversários, missas das obrigações, apelações, gastos dos mordomos das esmolas, cada um em seu mês.
Hoje terminamos com uma pequena reflexão de Luiz Fernando Carvalho Dias, em que se acrescenta aos clássicos serviços da Misericórdia do século XVIII, a função de banco.
Um volver de olhos superficial sobre as notas dos tabeliães da Covilhã demonstra a grande influência que a Misericórdia e as Confrarias da Covilhã e seu termo exerceram em todo o século XVIII, no desenvolvimento do Capitalismo. Verificamo-lo através de empréstimos com hipoteca e arrendamentos de imóveis. Os próprios cristãos-novos beneficiavam destes empréstimos. As Misericórdias e as Confrarias exerciam além das funções de beneficência, hospitalares e esmoleres, a função de pequenos bancos ou caixas económicas, onde o juro se justificava pela função caritativa em que se aplicava. O juro era de 5% conforme a lei que vigorava em fins do século XVIII.
Notas dos Editores – 1) A seguir iremos publicar os peditórios de pão, vinho e azeite nesta região, no ano de 1604.
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