sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Covilhã - Mosteiro de Santa Maria da Estrela III

No 1º documento ficaremos a saber que o Mosteiro de Santa Maria da Estrela pertencia à Ordem de Cister, Alcobaça. Esta ordem religiosa entrou em Portugal no século XII e tinha uma relação privilegiada com a natureza, com o campo, com o desenvolvimento da agricultura. Nele se diz que no dia 26 de Junho de 1466 “foy mostrado hum aluara de dom frey njcolaao dom abade do moesteyro dalcobaça” que confere ao abade do Mosteiro de Santa Maria da Estrela poderes para fazer os prazos como achar mais proveitoso, desde que não sejam para “caualeyro dona judeu mouro ou persoas defesas”. No mesmo documento, o abade frei Rodrigo começou logo os emprazamentos. O contrato de emprazamento, enfiteuse, aforamento, prazo ou foro, segundo o antigo Código Civil de 1867, ”dá-se quando o proprietário de qualquer prédio transfere o seu domínio útil para outra pessoa, obrigando-se esta a pagar-lhe anualmente certa pensão determinada a que se chama foro ou cânon”. Estes contratos podiam ser de duração vitalícia ou em vidas (duas ou três). Relacionado com os contratos está o laudémio que é a pensão que se pagava ao senhorio directo de qualquer prédio aforado, quando o foreiro alienava todo ou parte do prazo. (1) 

  • Saibam todos os que Este Estormento virem como aos vynte E seis dias do mes de Junho ano do naçimento de noso Senhor Jhesu christo de mjll E quatrocentos E sesenta E seis anos Em ho moesteyro de santa maria destrella que Esta a so a dicta villa de cuvjlhão dentro na casa do cabijdo do dicto moesteyro Estando hy dom frey Rodrigo dom abade do dicto moesteyro cabijdo fazendo per campaa tangida pera Esto que se sege e logo por Elle foy mostrado hum aluara de dom frey njcolaao dom abade do moesteyro dalcobaça aseelado de huu seello verde E asynado per Elle segundo se per Elle mostrava do quall ho teor tal he Nos dom frey nicolaao abade dalcobaça Esmolher moor delRey fazemos saber a quantos Este noso aluara de autoridade virem que dom frey Rodrigo abade de noso moesteyro de cuuilhãa Nos dise como pollo dicto noso moesteyro ser de nos alongado E pollos beens delle seerem de pouca sostançia muitas persoas os nom querem tomar de prazo por o trabalho E despesa que faziam vijndo a nos confyrmar suas Esprituras pydyndo nos que prouessemos sobre Esto E lhe desemos pera Ello nosa autoridade como ouuesemos por confyrmados os que asy fezese E porque sabemos que he asy como diz lhe damos nosa autoridade que Elle com os monges Hy Estantes ou sem Elles quando os nom teuer posa fazer os dictos prazos como sentyr por bem E proueyto do dicto moesteyro a quaaesquer persoas que por bem tever contanto que nom seja caualeyro dona judeu mouro ou persoas defesas Em djreito e Esto ataa em vida de tres persoas os quaaes prazos nos per Este presente avemos por boons E Fyrmes asy como per nosa confyrmaçam fosem confyrmados E aprouados fecto no dicto moesteyro dalcobaça vijnte E dous dias dabrill de iiij c E sesenta E çynquo E apresentado asy ho dicto aluara logo ho dicto dom abade dise que Emprazaua a Joham gonçallvez E a sua molher maria afomso moradores na capinha termo da dicta villa hua terra que he do dicto moesteyro que Esta no vall das hovelhas asy como diz ho Ribeyro da hurra pera çima E asy como parte com terras do jfante E que laurem a dicta tera aas folhas segundo custume da tera E page a Reçam della E dizimo ao dicto moesteyro a saber a Raçam de doze huu E que ........ emprazauam huu chão pera lenhas que Esta aa fonte do boto que parte com terras do dicto ........... mais outro chãao com holivall que Esta na dicta aldea da ca..... ......., do conçelho E que lhe page a Reçam da azeytona ou azeyte a saber de oyto hua ............. dom abade quiser E que page mais de foro Em cada huu ano por dia de natall ......  ....... .... que faça logo a primeyra paga por Este natall primeyro seguynte E que lhe Emprazava ...  .....  ..... .... Em tres persoas a saber Elle E sua molher hua persoa E filho E neto ou outra persoa quall Elles nomearem comtanto que nom seja das defesas sobredictas E que Elles laurem bem a dicta terra .... E amanhem bem os dictos chãaos E oliuall Em tall gisa que acabadas as dictas .... que todo fique ao dicto moesteyro livre E desembargado E bem aproueytado melhorado E nom pejorado E com tall condiçam que Elles nom Emalhem as dictas terras E chãaos nem as façam Em partes soomente que sempre andem jnteyramente Em hua persoa E que se obrigava de lhe nom tolher ho dicto prazo ho dicto tenpo E de lho fazer liure E de paz de quem lho Embargar quiser sob pena de lho compoer com todas perdas E danos que sobre Ello Reçeberem E as bemfeytorias que em Ello fezerem per os beens E Rendas do dicto seu moesteyro que pera ello obrigou E o dicto Joham goncallvez a Esto de presente dise que Elle filhaua E Reçebia Em sy ho dicto prazo com as crausollas E condiçõoes sobredictas per seus Beens que pera Ello obrigou e Em testemunho de verdade todo Esto asy outorgaram E pediram senhos Estromentos e Este he do dicto dom abade testemunhas Pero Lourenço morador no dicto logo da capinha e Joham afomso morador em Belmonte E Joham aluarez genrro de gill vaaz morador na dicta villa E outros Eu martym ..... pubrico tabeliam Em a dicta villa pollo ifante dom fernando noso senhor que Esto Estormento espreuy E meu synall fiz que tal nom seja duujda natrelinha (sic) onde diz de cuuilhaã que Eu tabeliam o corregy por verdade
  •                                    (lugar do sinal público)
Nota : Manuscrito em mau estado. 

Acabámos de ver um exemplo de emprazamento no 1º documento. 
Em 1579 o Mosteiro de Santa Maria da Estrela de Boidobra foi suprimido; as suas rendas serviram para dotar o Colégio de São Bernardo (ou do Espírito Santo) de Coimbra, por isso vamos agora começar a publicar os Foros d’Abadia da Senhora da Estrela ou o Foral da Abadia da Estrela feito em 1680 que Luiz Fernando de Carvalho Dias transcreveu: 

  • Recheio do Convento de S. Bernardo de Coimbra, vindos da Biblioteca Nacional para o Tombo
1 livro de apontamentos intitulado “Foral do Real Colegio de S. Bernardo e de suas três Abadias S. Paulo, Tamarães, Estella, feita no anno de 1680” vol. 3.  

Foral
 Do
 Real Colegio de S. Bernardo e
De suas três Abadias
S. Paulo
Tamarães
Estella

Feito no anno de 1680
Por Frey Benedito de S. Ber.dº
D. Abbe. R.ºr 

Apresentação do Ermitão pª a Capela de N. Snrª da / Estrella
F. Dom Abb.de R.or do Real Collª do Espº S.tº da Ordem / de S. Badº de Universidade de Coimbra etc. Pag 47 

ABBADIA / de Nossa Senhora / Da Estrella / 

Pag 506
Estrella 

Tem a Abbadia da Estrella diversos prazos / no termo de Covilhã, os quaes se consignarão / pª Comedoria do Religioso q xepde na dita / abbadia e os cobra ate o prezente, como / me constou pello Rol q delles me mandou o / p.e fr. Thomas de Souza q do tem feito da le/tra do p.e fr. João Botelho. Q está no tom./ 27 e corre a fl 231. et fol. 240./ e por outro q me mandou o mesmo pe. João / Botelho que está no mesmo tom. 27. fl / 233 dos quaes ambos copiei o Rol q está / no mesmo tomo fol. 234. E sam todos / os que adiante se seguem /
Cobram-se estes foros por Natal, e a medi/da que se chama velha, tem mais cada / alqueire hua quarta que a nova /


          Iluminura do Livro de Horas de D. Manuel         

Pag 507
Covilhã
# José Temudo Cabral paga do prazo do Pedre/gal trezentos e sincoenta rs. por prazo fei/to a
(à margem) 350 rs.
# o mesmo José Temudo paga mais do pra/zo da marinha. quatro alq.res em.s de cen/teo pella velha por prazo feito a
(à margem) 4 al. em .s de cº velha
Covilhã    507 vº
# João do Valle paga do Prazo dp Pinhei/ro três alq. de centeo pella medida velha / por prazo feito a
(à margem) 3 al. ct cº velha
# José home(m) paga da quinta de Corges sinco alq. de centeo pella medida vellha por prazo feito a
(à margem) 5 al. ct cº vª
Covilhã     508
1654 # Dom Pedro Chaves de Gusmão paga da q.tª / dos quadrados mil tresentos e setenta e sinco / rs. per prazo feito a seu sogro José de / Macedo no ano de 1654. Tom 17 fls / 384
(à margem) 1375 rs.
Fundam     508 vº
# Simam Botelho paga cinco alqueires de tri/go e dez alq.res de centeo a
(à margem) 5 al. ct trª
10 alq. ct cº. vª
#M.el. Jorge paga quinhentos e sinco/enta rs. e tres galinhas por prazo feito / a
(à margem) 550 rs.
3. g.ªs
Aldea Nova do Cabo    509
# Affonso de Sousa Pereira paga dez al/queires de centeo e sinco de trigo pella / velha per prazo feito a
(à margem) 10 alq. de Cº
5 alq. de trº vª.
1681 # Mª Rois faleira paga mil e sete centos / rs. e dous almudes de azeite pella no/va por prazo novo q se lhe fez no ano de 1681. Tom 8 fol 350
(à margem) 1700 rs.
4 alq. de az.te
1681 # M.el Roiz Tirialhaz de huas cazas pa/ga cento e vinte rs. e hua galinha por / prazo novo q se lhe fez no anno de 1681 / tom. 8. fls 347
(à margem) 120 rs.
1 gª.
Teixoso     509 vº
# Pedro Alvres Telles paga mil / e duzentos rs. e dous alq. de azei/te por prazo feito a
(à margem) 1200
2 alq. de az.te
# M.el de Saa paga mil e duzentos rs/. e dous alq. de azeite por prazo feito / a
(à margem) 1200
2 alq. de az.te
Teixoso     510
# M.el da Fonseca paga quarenta rs. / por prazo feito a
(à margem) 40
# M.el Dias Outeiro paga sinco rs/. por prazo feito / a
(à margem) 5
# Gregorio fr. paga dous ovos por / prazo feito a
(à margem) 2 ovos
Teixoso     510 vº
# O Pe. Dºs esteves Feyo paga hu / cruzado e duas galinhas por pra/so feito a
(à margem) 400
2 gªs
Capinha      511
1661 # O P.e Fr.cº da Fonseca de Carvalho prior / da Capinha paga tres alq. de trigo, e trez / de centeo, e hu alq. azeite, hua ga/linha e dous frangaos por prazo que / se lhe fez no anno de 1661. tom. 7. fol. / 265. e a Reção custumada
(à margem) 3 alq. de trº
3 alq de cº
1 alq. de az.t
1 g
2 frang.
# D.ºs Taverneiro paga do prazo de / Fr.cº Salvado hu alq. de trigo e hua ga/linha por prazo feito / a
(à margem) 1 alq. de trº
1 gª
Capinha      511 vº
# Mª Mendes paga mº alq. de trigo, e / o terço de hua galinha por prazo feito / a
(à margem) mº alq. de trº
3º de gª
# Filippe de Matos paga de hua vinha / Reção de dez, vinte rs. e hua galinha / por prazo feito  a
(à margem) 20 rs.
1 gª
Capinha      512
# Antonio Mendes paga de hua azenha / dous alq.res de Azeite e duas g.ªs por pra/so feito a
(à margem) 2 alq. de Az.te
2. gªs
# P.e Pº. giraldes paga de hu coelho por / prazo feito a
(à margem) 1 coelho
Peraboa
# P.º g.tº de Peraboa paga trinta rs. por prazo feito a
(à margem) 30
Aldeia de Carvalho       512 vº
# Miguel garcia paga de hua vinha / setenta rs. e hua gª por prazo feito a
(à margem) 70 rs.
1 gª
Ferro
# João frz paga dez alq. de trigo e duas / galinhas por prazo feito a
(à margem) 10 alq. d tº.
2. gªs.
Ferro         513
# Pº Frz fazenda paga Recam de outo e mª / gª. por prazo feito a
(à margem) mª gª
# Sebastiam Antunes da quinta da men/deira paga recam de outo e mª gª. /
(à margem) mª. gª.
# Fr.cº Lopes manocara paga reção de outo e / mª galinha por prazo feito a
(à margem) mª. gª.
Ferro          513 vº
# Matheos Roiz paga recam de 8 e mea / gª por prazo feito a
(à margem) mª. gª.
# Mel. fr.cº paga recam de outo e mª gª. / por prazo feito a
(à margem) mª. gª.
# Fr.cº Antunes reçam de outo e hua gª. / por prazo feito a
(à margem) 1 gª.
Ferro           514
# Antº Affonso reçam de outo e mª gª. / por prazo feito a
(à margem) mª. gª.
# Mel. frz. Beiçudo da quinta da madeira......... / paga recam de 8 e mª gª. / por prazo feito a
(à margem) mª. gª.
# Pº. Antunes paga reçam de 8 e mª gª. / por prazo feito a
(à margem) mª. gª.
Tortuzendo      514 vº
# An.tº frz o Samelo paga mº almude e  /seis quartilhos de vinho à bica e mª gª. / por prazo feito a
(à margem) 1 alq. e 6 q.ºs d vº
mª. gª.
# An.tº G.ªr paga hu alq. e seis quartilhos  / de vinho à bica por prazo feito a / e mª gª.
(à margem) 1 alq. e 6 q.ºs d vº
mª. gª.
# M.el Alvres Sequeira paga tres almudes / de vinho à bica e tres gªs. e das Azenhas / dez alq. de centeo, por prazo feito a
(à margem) 3 alm. d vº
3 gªs.
10 alq. d cº
Turtuzendo          515
# Dºs Fr.cº Mouro paga de um souto quatro/centos e quarenta rs. e hu frangam por prazo feito a
(à margem) 440 rs.
# João Braz paga dous almudes de vinho / a Bica e hua gª. por prazo feito a
(à margem) 2 alm. de vº
1 gª.
# André Dias paga hua galinha por pra/so etc.
Turtuzendo       515 vº
# Luiz Vaz paga almude e mº de vinho a / bica e hua galinha idem.
# M.el de Matos paga três almudes de vinho / a bica e tres galinhas por prazo feito a
# An.tº Roiz Amador paga hu almude de / vinho a bica, e hua galinha e hu fran/gam por prazo feito a
Turtuzendo        516
# M.el Duarte paga de um souto quatro cen/tos rs. e hum frangam, e da terra hu al/queire de cº à folha, idem
# M.el Affonso paga duzentos e outenta / rs. idem
Boydobra           516 vº
# M.el Roiz Pereira de hua caza e forno /  paga cento e sincoenta rs. e hua galinha, idem
# Paga mais do prazo q herdou de Antº / Gaspar setenta rs. e hua gª, idem
# O anteado do Amanco paga hu al/mude de vinho à bica e hua gª, idem
Boydobra           517
# Andre frz. paga quatro alq. e hu solmy / de trigo e hua galinha e de hu forno cem rs., idem
# Antº G.ºr o moço paga mea galinha e / reçam de 8, idem
# Antº de Matos paga galinha e mea / idem
Boydobra           517 vº
# Matheos Annes paga setenta rs. e / hua galinha e de hu forno cem rs., idem
# M.el Antunes paga mea galinha por / idem
# A mulher que foi de M.el Marty(s) / paga cem rs. de hu souto por prazo fei/to a
Boydobra            518
# Simão frz  paga mea galinha por / idem
# Miguel Antunes  paga mea gali/nha idem
# B.en frz  paga mª galinha por prazo /
Boydobra            518 vº
# O Rodrigo  paga mea gª
# O Miguel Vaz paga mª gª
# O Amanco  paga mª galinha
Boydobra             519
# Antº frz  paga mea galinha
# Antº Gaspar o coxo  paga mea galinha
1623 # D. Lucrécia de Castro paga do prazo da / Rapoula outo mil rs. de foro do qual havra / o Collegio seis mil rs. e o Reli/gioso Residente na Abaddia dous mil rs. por pra/so feito à sobredita no anno de 1623. Tom / 4 fol 183
Turtuzendo          520
# As terras do Penedo do Meyo / em q estam os soutos atraz tralas Simão frz de / turtuzendo, por renda de quatro alq.res / de centeo
Abbadia
# Tem mais esta Abbadia os passaes della / de q o Religioso ahy residente uza como lhe / parece
Todos os Rendim.tºs destas fazendas / e prazos atras cobra o Religioso residente nes/ta Abbadia; excepto os laudemios das alienações, q estes cobra o Collegio. (2)

(Seguem-se folhas em branco)

Notas dos editores - 1)In “Dicionário da História de Portugal”, Dir. Joel Serrão. 2) Continuaremos a publicar este Foral da Abadia de Nossa Senhora da Estrela.
3) À medida que vamos mostrando estes documentos ficamos com vontade de estudar toponímia que é o estudo linguístico e histórico da origem dos nomes de lugares; também podemos pensar em estudar o passado a partir do presente, ou seja, ver, por exemplo, quais os lugares/povoações do século XXI que aparecem nestes documentos. Luiz Fernando Carvalho Dias considerava importantíssimo o estudo cuidado da toponímia.

4 comentários:

  1. Um excelente blogue para a divulgação da história e património da Beira Baixa.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Agradecemos o seu interesse pelo nosso trabalho de divulgação da história da Covilhã.
      Convidamo-lo a continuar a acompanhar o nosso blogue, pois o espólio do nosso familiar é imenso.

      Eliminar
  2. Um blogue interessantíssimo para a história da região, que mais não fosse, pelos inéditos que tem divulgado. Tem-me fornecido muitas pistas para os meus trabalhos. Muito grato à família Carvalho Dias por esta meritória divulgação.

    ResponderEliminar