quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Covilhã - Inquéritos à Indústria dos Lanifícios XV-XIII


Inquérito Social - XIII

Continuamos a publicar um inquérito social “Aspectos Sociais da População Fabril da Indústria dos Panos e Subsídios para uma Monografia da mesma Indústria” da autoria de Luiz Fernando Carvalho Dias, realizado em 1937-38.
 
      Transcritas as circulares, vamos comentar, em seguida, a estatística dos salários fixos, para depois estudarmos os salários de empreitada.
 
      SALÁRIOS FIXOS 

      Esta secção indica-nos o que foi a acção da FNIL quanto à remuneração fixa do trabalho. O mapa junto contém 7 parágrafos, divididos pela forma seguinte: o primeiro refere-se aos operários aumentados pela circular 5 e o quantitativo do aumento; o segundo refere-se àqueles operários cuja circular 5 não alterou, pois já ganhavam, à data da sua publicação, o salário mínimo por ela estabelecido; no terceiro figuram aqueles que estão a ganhar mais que o estabelecido para mínimo, mas os empregados e os chefes de secção mais bem remunerados estão na folha anexa à estatística geral dos salários fixos; o quarto abrange aqueles operários a quem a circular 5 aumentou os salários, mas que, de facto, à altura do inquérito, ainda não ganhavam o que deviam. (Este parágrafo dá uma ideia do que foi também o trabalho de fiscalização dos salários, realizada pelo inquérito); o quinto mostra-nos quais os operários que subiram de salário com a circular 5, mas à data do inquérito já ganhavam mais que o mínimo estabelecido pela mesma circular; o sexto é dedicado àqueles operários que subiram com a circular 5, mas cujo salário está ainda aquém do que ela estabeleceu como mínimo.

      Vamos comentar separadamente cada um destes parágrafos.

      a)      aumentados pela circular 5.

           A circular 5 é, como já dissemos, a base de que há a partir, para estudar a melhoria dos salários e a unificação de salários dentro da indústria; é um dos capítulos em que a acção económica da FNIL mais se evidencia.
            Através deste primeiro parágrafo, verifica-se qual o número de operários que beneficiaram com a circular 5, dentro de cada grémio, e qual a importância desse benefício. Como os salários são regulados na circular 5 com referência ao salário diário, todas as importâncias a que fazemos referência, dizem respeito ao aumento diário que se produziu nos salários. 


Resumo:
Importância anual distribuída pelos operários devido à circ. 5 ....... 2.612.532$00
Importância a distribuir pelos operários que ganham menos que o mínimo ...........................................................................................   226.200$00
Importância a distribuir pelos operários que subiram com a
circular 5 e ganham menos que o mínimo ........................................   202.142$00

                                                                      SOMA ............................3.040.874$00

 Importância distribuída pelos operários que ganham um salário
além do mínimo ............................................................................... 1.486.680$00
Importância distribuída pelos operários que subiram com a circ.
5 e ganham um salário além do mínimo ..........................................    137.748$00

                                                                        SOMA  ....................  1.624.428$00 

                                                                        Lisboa, 18 de Agosto de 1938
a)      ilegível 

ANEXO 

Operários que ganham além do mínimo, mais de 5$00 

 
 
             Operários ......................... 1.377.920$80
              Na base de 10$00 ............ 3.622.238$40
              Na base de 20$00 ............ 1.811.192$20
              Na base de 17$00 ............ 2.082.871$00
 
            É fácil, através deste parágrafo, atender portanto ao aumento de salários em cada grémio, conforme o maior ou menor número de operários beneficiados, conforme o maior ou menor aumento de salário. Assim, no Grémio da Covilhã subiram 228 operários na casa dos $50, no Grémio de Gouveia 40 e no Grémio do Sul 119, etc.
 
                        Na Covilhã subiram 1$00 .........  560 operários
                                                       2$00 .........  354     
                                                       1$50 .........  286     
                                                          $50 ........   228       
            Quem quiser, poderá ainda atender ao total dos operários da Covilhã, estabelecer a percentagem daqueles que subiram 1$00, 2$00, 1$50 e $50, neste grémio e compará-la com as percentagens idênticas de outros grémios.
            O aumento da circular 5, andou na Covilhã, entre os $50 e os 2$00.
            Consultando os boletins que serviram de base à elaboração das estatísticas, podemos acrescentar que esse aumento se verificou entre os pegadores de fios com mais de 18 anos, que no entanto já ganhavam 7$00 e 8$00; entre os homens, que, no segundo turno, ocupavam profissões desempenhadas por mulheres, no primeiro turno, como acontecia, por exemplo, nos retrocedores aonde se não atendia à sua qualidade de especializados, ganhando, por isso, 9$00 em vez de 10$00; subiram algumas espinçadeiras; algumas operárias que trabalhavam em profissões consideradas especializadas pela circular 5 e que ganhavam como se a profissão fosse não especializada.
            Tudo o que referimos no período anterior diz respeito ao grémio da Covilhã, que é o único onde o trabalho industrial tem tradições e, por isso, o único onde foi possível fazer este esboço sintético das profissões onde o aumento se verificou. Nos outros grémios isso foi impossível, porque o salário anterior à circular 5, dependia mais do arbítrio do patrão do que qualquer lei ou costume.
            Não podemos esquecer que o aumento de salários verificado no grémio da Covilhã, dentro deste parágrafo, é muito sobrecarregado pela indústria de Cebolais, que lhe está anexa, cujos salários deviam pertencer ao quadro daqueles centros onde o trabalho é pior remunerado. No grémio da Covilhã beneficiaram com um aumento de $50 a 2$00 1.428 operários; com um aumento superior a 2$00 apenas 271 operários; muitos destes aumentados são também aqueles menores que subiram por virtude da idade, o que se demonstra, lembrando que os menores com idade inferior a 18 anos são neste grémio 1.115. Não podemos esquecer aqui que a circular 5 estabelece para estes menores um aumento de salário em função da idade e do tempo de trabalho.
            No grémio de Gouveia o maior número de operários aumentados aparece na casa dos 2$00; são eles 469. Segue-se a casa dos 2$50 com 364 operários; as dos 3$00 com 278, e só depois a dos 1$50 com 173 operários e a dos 1$00 com 165.
            Daqui provém que enquanto na Covilhã os salários se equilibaram com um aumento geralmente inferior a 2$00, em Gouveia esse equilíbrio só se conseguiu com um aumento de 2$00 a 3$00 por operário.
            Prolongar-se-iam indefinidamente estas comparações se, as muitas outras que a estatística sugere, não as deixássemos ao critério esclarecido do leitor.
            Resumindo, podemos acrescentar que o maior número de operários pela circular 5 beneficiados, dentro do país, aparece na casa dos 2$00, a seguir na dos 1$00, depois, sucessivamente, nas dos 1$50, 2$50, 3$00 e, finalmente, na dos $50. Na Covilhã aumentaram os salários, por virtude da circular 5, cerca de 1.680 operários; em Gouveia, que tem quase metade da população industrial da Covilhã, ceca de 1692; no grémio do Sul 536, no grémio de Castanheira de Pera 498 e no grémio do Norte 453. As percentagens do pessoal aumentado em cada grémio são as seguintes: 
                                   Grémio da Covilhã .....  40,8%
                                   Grémio de Gouveia ....  76,5%         
                                   Grémio de Castª Pera ..  65,8%
                                         Grémio do Sul .............  25,7%
                                         Grémio do Norte .........  56,5% 
            A circular 5 melhorou os salários a 4.602 operários, na cifra diária de 8.373$00, que anualmente atinge a verba de 2.612.532$00. A Covilhã paga diariamente mais 2.553$00; Gouveia 3.666$50; o Sul 778$00; Castanheira de Pera 957$00 e o Norte 419$00.
            O grémio que tinha os salários mais baixos era o de Gouveia, a seguir o de Castanheira de Pera; depois o grémio do Norte. Os que pagavam melhor eram o do Sul e o da Covilhã.
            Já prevenimos que a presente estatística se refere aos operários assalariados. Mais adiante, ao tratarmos do trabalho de empreitada, veremos que o grémio do Sul deixa de ser o que paga melhor. Foi, por isso, que iniciado o inquérito, houve logo necessidade de publicar a circular 16 e, depois, a circular 24.
            Este comentário ao 1º quadro da estatística, que estamos a estudar, não fica completo se não chamarmos a atenção para o facto seguinte: se há uma diferença de 15% dos operários que subiram de salário, com a circular 5, entre o grémio do Sul e o grémio da Covilhã, não se deve depreender daí que o grémio do Sul estivesse mais sobrecarregado de salários do que o da Covilhã. Basta lembrar que a população do grémio do Sul, como se verifica através do Capítulo X ao tratar da mão-de-obra feminina, é constituída sobretudo por mulheres, o que vem embaratecer sensivelmente a mão de obra.

Nota dos editores - Como inserimos as tabelas segundo o sistema de imagem, aconselhamos os nossos leitores a clicarem com o rato sobre elas, para que o visionamento seja mais perfeito.

As Publicações do Blogue:
Capítulos anteriores do Inquérito Social:
Inquéritos III - I
Inquéritos IV - II
Inquéritos V - III
Inquéritos VI - IV
Inquéritos X - VIII
Inquéritos XI - IX
Inquéritos XII - X
Inquéritos XIII - XI
Inquéritos XIV - XII
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário