Ao encontrarmos no
espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias documentação vária e algumas reflexões sobre a alcaidaria da Covilhã,
decidimos iniciar a sua publicação. Sabemos da extensão e das dificuldades com
que nos deparamos, mas esperamos não ser mal sucedidos.
ALCAIDE é uma
palavra de origem árabe que significava governador de uma praça. Com a
Reconquista Cristã designava os governadores das vilas, de origem nobre, que
como representantes do rei detinham funções militares, judiciais e administrativas.
É mais uma das maneiras do rei recompensar a nobreza através do cargo e de
tenças que lhe concedia, até ao momento em que o desobrigava da menagem que
prestara. O alcaide habita o castelo. Quando saía da sua vila, podia nomear um
alcaide menor ou alcaide pequeno que tinha essencialmente funções civis.
O governador – Alcaide – virá a receber a
designação de alcaide-mor. Com o tempo este cargo passou a ser meramente
honorífico. Alcaide passou também a designar funções completamente diferentes.
Panos de muralha |
Torre octogonal |
Se nos reportarmos
à Covilhã sabemos onde viveu o alcaide: ao revermos a planta das muralhas da
Covilhã, que publicámos em 5 de Julho passado, encontramos “a porta do castelo”
e aí próximo restos de panos de muralha; estes vestígios são na zona mais alta da povoação, onde ficaria o Castelo, e
muito perto da Capela do Calvário.
A Covilhã muralhada
Luiz Fernando Carvalho Dias deixou-nos
algumas reflexões soltas sobre a alcaidaria:
“Alcaide - sua ligação com o concelho; a função do alcaide; o
alcaide e o senhor ou dominus terrae; O dominus terrae
e o privilégio; o privilégio nos forais como a Covilhã, i. e. nos forais
dados pela coroa; o privilégio nos forais como a Guarda; o privilégio nos
forais das terras das Ordens e com senhorio conhecido; o privilégio nas terras
como Évora - sem senhorio ou dominus terrae; o dominus terrae
para Herculano; A coexistência do dominus e do privilégio; o privilégio
para Paulo Merea; O foral original de D.
Sancho não existe, mas só a confirmação de D. Afonso II; a restrição na doação
de bens da Coroa; O privilégio é o precário em conformidade com o direito
estabelecido por D. Afonso II para essa transmissão. Mas essa restrição vai
caindo no esquecimento. Dominus terrae da Covilhã nos documentos.
Alcaides mores
e alcaides menores - Quando os alcaides
mores estavam ausentes, deixavam quem os substituisse na defesa do governo da
praça. Assim o alcaide-mor da Covilhã, D. Rodrigo de Castro, também conhecido por D.
Rodrigo de Monsanto, por ser filho do Conde de Monsanto, durante muito tempo
ausente nas guerras e governo das praças do norte d’ África, foi substituído
por Joham de ffygueiredo, o moço, que era alcaide menor, ou alcaide por D.
Rodrigo.
Tenens, pretores, senhores e alcaides da Covilhã, até ao fim do sec. XV. Estes termos podem ter a mesma
significação.”
Para organizarmos a lista dos Alcaides
baseámo-nos numa do investigador; mas estamos a completá-la com nomes que nos vão
aparecendo nos documentos.
Vejamos uma lista (provável) dos Alcaides da
Covilhã:
Ermígio Pais (1)
Documento de 1180 (D. Sancho I)
Estêvão Anes (2)
Documento de 1180 (D. Sancho I)
Estêvão Anes (2)
Documento de 1222.
Álvaro Vasques de Castel Branco
Presta menagem a D. Pedro em 1345. "Carta por que se entregou o seu castelo a Álvaro Vasques de Castel Branco"
Álvaro Gil Cabral
Presta menagem a D. Fernando em 1367. Também
foi alcaide da Guarda. É trisavô de Pedro
Álvares Cabral.
Gil Peres da Guarda
Entrega do castelo da Covilhã ao rei e
quitação de menagem em 27 de Junho de 1383.
Diogo Gonçalves Tavares
Diogo Gonçalves Tavares
Entrega do castelo da Covilhã ao rei e
quitação de menagem em 14 de Setembro de 1383.
Afonso Gomes da Silva
c. 1350.
Na Chancelaria de D. João I: “Carta por
que o dito senhor deu em tença a Afonso Gomes da Silva, alcaide da Covilhãa com
o dito castelo a pensão dos tabeliães e os foros e os direitos dos judeus da
dita vila e a outras rendas...”
Vasco Pires de Castelo-Branco
c. 1350.
Casado com M. Anes Soares e pai de Martim Vaz
de Castelo-Branco.
Martim Lourenço de Almeida
c. 1350.
Na Chancelaria de D. João I: “Carta per
que o dito senhor fez doação enquanto fosse sua mercê a Martim Lourenço
d’Almeida alcaide do Castelo de Covilhãa, do seu souto d’Alcambar com os
moinhos que em ele estam...”
Martim Vaz (ou Vasques)de Castelo-Branco
c. 1400
Também foi alcaide de Moura.
Monteiro-mor.
Também foi alcaide de Moura.
Monteiro-mor.
Senhor do couto d’Alcambar.
João Lourenço de Figueiredo
c. 1410
Filho segundo de Aires Gonçalves de Figueiredo e de Leonor Pereira.
Filho segundo de Aires Gonçalves de Figueiredo e de Leonor Pereira.
Recebe mercês de D. Afonso V.
D. Rodrigo de Castro
c.1440-1520(?).
Senhor de Valhelhas e Almendra (1476), o de
Monsanto, capitão no norte de África, filho natural de D. Álvaro de Castro (1º
conde de Monsanto) e de D. Maria Coutinho.
D. Manuel, Duque de Beja, faz mercê do
castelo e alcaidaria da Covilhã a D. Rodrigo, por carta lavrada em
Montemor-o-Novo, a 26 de Janeiro de 1485.
João de Figueiredo, o Moço, era alcaide menor
ou alcaide por D. Rodrigo.
Gonçalo Mendes, criado, procurador, feitor e administrador de D. Rodrigo e alcaide por ele no Castelo da Covilhã, por procuração de 24 de Novembro de 1507.
Gonçalo Mendes, criado, procurador, feitor e administrador de D. Rodrigo e alcaide por ele no Castelo da Covilhã, por procuração de 24 de Novembro de 1507.
Uma das filhas, Dona Joana de Castro, foi
casada com João Fernandes Cabral, alcaide-mor de Belmonte e irmão mais velho de
Pedro Álvares Cabral.
As duas filhas - Dona Isabel e Dona Joana -
mandam construir duas capelas
funerárias na Igreja de S. Francisco.
“D. Manuel autorizara, sendo duque, ao dito D. Rodrigo de
Castro, por seu alvará de Benavente de 20 ou 25 de Fevereiro de 1493, a emprazar quaisquer chãos, courelas e coisas do Reguengo do
Alcambar, em 3 vidas, com reserva das moendas de pão… No alvará de Benavente,
já citado, diz-se que D. Rodrigo é alcaide pelo Duque de Beja.”
Em 7 de Agosto de 1505 é feita
doação do castelo da Covilhã e rendas a D. Fernando de Castro e sua mulher, Dona
Izabel de Castro, para haverem por morte de D. Rodrigo.
Dona Izabel de Castro
Filha de D. Rodrigo.
Casada com D. Fernando de Castro, senhor de
Santa Cruz de Riba Tâmega, que morre em Arzila, por isso D. Isabel vai receber
uma tença anual a partir de 1511.
Em 6 de Novembro de 1528, a alcaidesa Dona Isabel recebe confirmação do
castelo da Covilhã, por uma carta de doação.
D. Diogo de Castro
? -1542.
Filho de Dona Izabel de Castro e de D.
Fernando de Castro.
Casado com Dona Filipa de Ataíde.
Por falecimento de D. Diogo, o Infante D.
Luís, Senhor da Covilhã, dá o castelo e alcaidaria da Covilhã ao seu
mordomo-mor André Teles de Menezes, por carta de Lisboa datada de 17 de
junho de 1542.
André Teles de Menezes (ou André Teles)
?- 20-4-1562.
Filho de Dona Guiomar de Noronha e de Rui Teles de Menezes, 5º Senhor de Unhão.
Filho de Dona Guiomar de Noronha e de Rui Teles de Menezes, 5º Senhor de Unhão.
Recebe a alcaidaria em 1542.
Mordomo-mor de D. Luís. Foi também embaixador
em Castela. Estêvão de S. Paio foi alcaide pequeno por André Teles de Menezes.
Por falecimento deste, passou a alcaidaria
com castelo e fortaleza e capitania-mor a seu filho, Ruy Teles da Silva, em
10 de Agosto de 1562.
Ruy Teles da Silva
?-1570.
Recebe do Pai a alcaidaria.
Por seu falecimento passou depois a
alcaidaria ao filho, André Teles da Silva, por carta régia de 29 de
Novembro de 1570, em Almeirim.
André Teles da Silva
?- 18-11-1580.
Recebe do pai a alcaidaria da Covilhã.
Aires Teles da Silva
?- 14 de Fevereiro de 1601.
Prestou serviços na Índia e esteve cativo em Alcácer- Quibir.
Prestou serviços na Índia e esteve cativo em Alcácer- Quibir.
Aires Teles da Silva é irmão de André Teles
da Silva, recebendo carta de mercê da alcaidaria da Covilhã em 7 de Agosto de
1584, com efeitos desde o falecimento do irmão, ocorrido em 18 de Novembro de
1580.
Chancelaria de D. Filipe I: Alvará de
lembrança da alcaidaria da Covilhã, concedido por D. Filipe I a Aires Teles da
Silva. 1581-04-17 a 1598-09-13.
Alcaide-mor que, entre 1589 e 1590, travou
uma curiosa questão com a Câmara da Covilhã relacionada com as dízimas da
execução das sentenças dadas na dita vila, que queria receber. Por sua vez o
concelho da Covilhã entendia que as não deveria pagar, visto já as pagar na
cidade do Porto a cujo distrito pertencia e que, pagando-se ao alcaide,
corresponderia pagarem-se duas dízimas. A questão foi resolvida pela Relação do
Porto que deu razão ao concelho. Desta questão publicaremos os acordãos sob o
título de “Sentenças de D. Filipe”. Nelas se contém um curioso incidente de
suspeição movido pelo concelho contra o corregedor que tinha ordenado aquele
pagamento ao alcaide, invocando-se factos que comprovavam a possível
parcialidade do corregedor no julgamento da questão, pelas intensas relações
existentes entre ambos, coroadas pela oferta de vários presentes,
designadamente de lampreias, pescado, carnes e doces do alcaide ao corregedor,
o que veio a originar a anulação da ordem do corregedor.
Foi casado com Dona Isabel de Castro. Têm
vários filhos: Ruy Teles da Silva, Dona Catarina, Dona Mariana de Vilhena.
Ruy Teles da Silva
Recebe a posse da fortaleza e castelo da
Covilhã, por alvará de 1603 e através do seu procurador Salvador Diaz.
Como
morre a caminho da Índia, este cargo passa para sua irmã menor Dona Catarina.
Dona Catarina Teles
Dona Isabel de Castro é sua Mãe e tutora. Seu
Pai é Aires Teles da Silva.
Recebe a mercê por carta de 1606.
Chancelaria de D. Filipe II: Em documentos de
1611 e 1612 é referida como alcaidesa.
Luís Castro do Rio
Casa com Dona Catarina em 1616 e, por
isso recebe a alcaidaria em 11 de Julho de 1618. Não têm filhos.
João Jorge Furtado de Mendonça
4º Senhor de Barbacena.
Foi casado com Dona Mariana de Vilhena, filha
de Aires Teles da Silva.
Afonso Furtado de Castro do Rio de Mendonça
c. 1610-1675.
É filho de João Jorge Furtado de Mendonça e
sobrinho de Luís Castro do Rio.
Recebe a alcaidaria a partir de 1 de Janeiro de 1641.
Recebe a alcaidaria a partir de 1 de Janeiro de 1641.
1º Visconde de Barbacena por carta de 1661.
Governador e capitão-General do Brasil por
nomeação de 1671.
Jorge Furtado de Mendonça
c. 1650-1708.
2º Visconde de Barbacena.
Recebe a alcaidaria por carta de 10 de
Setembro de 1676.
Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia da
Covilhã em 1678-79.
Foi também comendador de S. Martinho de
Arrefegas (Aldeia do Mato).
Gaspar José da Gama
É referido como alcaide-mor da Covilhã na
Chancelaria de D. Pedro II.
Afonso Francisco de Castro do Rio Mendonça ou
Afonso Francisco Furtado de Mendonça
1690-?
O alvará da 1ª confirmação da alcaidaria-mor
tem a data de 20 de Abril de 1709.
D. António Henrique de Gusmão
Alcaide-mor da Covilhã através do instrumento
de posse de 2 de Dezembro de 1713.
No mesmo documento é referido Manuel Cardoso
que é, provavelmente, o alcaide pequeno.
Luís Xavier Furtado Mendonça
n.1692.
É irmão de Afonso Furtado de Mendonça.
4º Visconde de Barbacena.
José Rosado (?)
Provisão, datada de 8 de Fevereiro de 1745,
para poder servir por mais três anos o ofício de alcaide da dita vila.
Francisco Vicente Xavier Furtado Castro do
Rio e Mendonça
1728-?
Recebe o alvará de mercê da alcaidaria em 7
de Setembro de 1777.
5º Visconde.
Luís António Furtado de Castro do Rio de
Mendonça e Faro
1754-1830
6º Visconde de Barbacena.
1º Conde de Barbacena.
Curiosidade – Aquando da Guerra dos 7 Anos (1756-1763) a Covilhã, invadida
em 1762, chegou a ter um “alcaide fantasma" não nomeado pelo rei D. José
I, mas pelo comandante das tropas francesas e espanholas, chamado Filipe Pacheco
de Aragão; este nomeou Ventura José “alcaide pequeno”.
Notas dos editores – Nas próximas publicações
contamos ir apresentando os documentos encontrados no espólio de Luiz Fernando
Carvalho Dias sobre a alcaidaria da Covilhã. Esperamos poder ir acrescentando
ou rectificando esta lista dos alcaides da Covilhã.
1) Esta informação encontra-se em "Subsídios para a História Regional da Beira Baixa, volume II, edição da Junta Provincial da Beira Baixa, 1950.
2)Esta informação encontra-se em "Subsídios para a História Regional da Beira Baixa, volume II, edição da Junta Provincial da Beira Baixa, 1950. No entanto o documento, dirigido ao alcaide e aos juízes da Covilhã, não tem os nomes destes. Apresentaremos o documento do Port. Mon. Hist. (indicado por Alfredo Pimenta), em que Estevão Anes é nomeado alcaide da Covilhã, no episódio Alcaidaria IX.
As Publicações do Blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2012/09/covilha-as-publicacoes.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/05/covilha-o-2-aniversario-do-nosso-blogue.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2013/05/covilha-o-2-aniversario-do-nosso-blogue.html
Estatística baseada na lista dos sentenciados na Inquisição publicada neste blogue:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2011/11/covilha-lista-dos-sentenciados-na.html
Publicações sobre a alcaidaria:
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/05/covilha-alcaidaria-xiv.htmlhttp://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/04/covilha-alcaidaria-xiii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/02/covilha-alcaidaria-xii.html
http://covilhasubsidiosparasuahistoria.blogspot.pt/2014/01/covilha-alcaidaria-xi.html
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