sábado, 21 de maio de 2011

Covilhã - Processo da Inquisição de Francisco Ximenes

O processo que hoje apresentamos, do covilhanense Francisco Ximenes, referido sob o número 1 na lista dos Sentenciados na Inquisição foi recolhido no ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo por Luiz Fernando Carvalho Dias. Deixou na cópia que achámos deste processo as referências: “Procº 4062 da Inquisição de Coimbra” e “procº 4606. O primeiro, actualmente PT-TT-TSO/IC/25/4062, nada indica no sumário quanto ao nome do processado e remete para o processo da Inquisição de Évora PT-TT-TSO/IE/21/11761, que se encontra em branco. O segundo, actualmente PT-TT-TSO/IC/25/4606 diz respeito a uma pessoa de outra época e não a Francisco Ximenes.
O destaque que se faz a este processo é derivado do imenso interesse que Luiz Fernando Carvalho Dias tinha no estudo da  família Ximenes de Aragão, de origem judaica, e da  sua ligação à Covilhã. Os progenitores de Francisco Ximenes seriam oriundos de Castela, tendo Fernão Ximenes participado na Batalha de Toro (1476), onde teria sido aprisionado pelos portugueses. Depois disso ter-se-ia fixado na Covilhã, donde seriam naturais os seus filhos. Deles se destaca Duarte Ximenes, que foi médico do Rei D. João III e do Cardeal Infante, D. Afonso, filho de D. Manuel I, dada a referência que Francisco Ximenes faz, no ano de 1542, ao “Cardeal Infante que Deus haja”.
Dos seus familiares, descendentes de seus pais, fizeram parte ricos mercadores de Lisboa, Antuérpia, Florença e Pernambuco. Destacaremos entre outros Tomás Ximenes de Aragão (1534-1593) que foi o maior contratador de pimenta do seu tempo e que em 1566 doou à cidade de Lisboa grande soma de dinheiro, para suavizar a fome da população, na crise que se fez sentir nesse ano e Fernão Ximenes de Aragão (1524-1600), rico mercador em Antuérpia e Florença, a quem o Papa Sisto V, em 1588, concedeu, a ele e a seus irmãos, um breve de “motu próprio” declarando cristãos velhos os membros da família Ximenes.

Processo de Francisco Ximenes. Inquisição de Coimbra

Testemunhas de Francisco Ximenes

a)      Guiomar Fernandes, mulher que foi de Álvaro Gonçalves.
b)      Grº (Gregório ?) Rijo
c)      Guiomar de Figueiredo, mulher de Grº Rijo
d)      Licenciado Gomes Dias
e)      Simão Pires, tosador
f)       Pedro Francisco, tabelião
g)      Diogo de Matos
h)      António Lopes, anadel dos besteiros
i)       António Afonso, mercador
j)       Manuel Gomes, escrivão das sisas, todos moradores na Covilhã

As inquirições são feitas no adro da Igreja de S. Pedro (freguesia de onde o réu era natural), em Julho de 1542 pelo prior Bacharel António Roiz, arcipreste no arcediagado da Covilhã. O Notário Apostólico era Pedro Vaz.

“Auto de Imquiryção de fr.cº Xemenez mºr na cydade devora preso na prisão da samta Imqujsysão.
                                                           Veo esta de covilhaã”

1542 – 17 de Julho – em a vila da Covilhã, no adro da Igreja de S. Pedro estando presente o bacharel Antº Roiz acipreste em ela e em todo o seu arcediagado pelo Bispo D.  Jorge de Melo, do Conselho de el Rei e seu esmoler mor. O processo é contra Francisco Xemenez, x.n., mercador, morador em Évora; quere provar que é x.v. pois foi baptizado 8  dias depois de nascer muito embora seja filho de christãos novos – Tem 35 anos pouco mais ou menos, nasceu na vª da Covilhã e aí foi baptizado aos oito dias e nunca foi judeu.
Escrivão pº vaaz
1ª) Antº Lopes, anadel dos besteiros
Que ele testª e o Reo são ambos de um tempo pouco mais ou menos segundo tem ouvido dizer a sua mãe e a mãe do Réu, por serem de idade igual, ouviu dizer a uma Guiomar de Figueiredo mulher de Gomes da Fonseca, ambos defuntos, vizinhos dos pais do Réu, que este era seu afilhado; andaram ambos, a testª e o Réu, na escola e aprendiam a ler e a escrever e mais cousas que se costumam ensinar aos moços acerca da santa Fé católica.
2ª) Grº Rijo quando veio viver à dita vila, viu o Reo chamar madrinha a Guiomar de Figueiredo, sua sogra e vizinha do Réu.
3ª Simão Pirez, tosador, mºr na dita vila, disse que vivera um ano com o pai do Réu e lhe acabara de ensinar a ele testª, no dito tempo, o ofício de tosador […]que ao tempo que ele testª fora para o pai do R. para aprender o seu ofício com ele de tosador, como aprendeu, que já a esse tempo os judeus eram tornados cristãos e assim o era o pai e a mai do Réu e que o dito Réu era mjnjno porque no de colo começava já de falar e amdar e que o dito minino que era o R. quando via passar pela porta de seu pai a Vasco Paez, prior que foi de S. Pedro da dita vila, donde os ditos pai e mai do R. eram fregueses, o dito R. lhe chamava padrinho e assj o dito Vasco Paez lhe chamava afilhado e ele testª ouvira dizer ao dito Vasco Paez, porque ele baptizara o R. e que depois de o R. ser moço crescido ía às vezes a casa dela testª, que lhe ensinasse ele testª o pater noster e ave Maria e que ele testª lha dizia às vezes” […] que depois de asy o R. ser já homem estando em casa de seu pai…”
4ª Diogo de Matos disse que um seu irmão Jorge de Matos fora casado com uma irmã do Réu e dele ficaram filhos e filhas, seus sobrinhos dele testª […] “que era verdade que depois que os judeus foram tornados cristãos daí a sete ou oito anos pouco mais ou menos, a seu parecer dele testª, nasceu o Réu preso, o qual tanto que nasceu, no tempo que a Stª Madre Igreja manda,  ele testª o vira levar à Igreja de S. Pedro da dª Vila, onde eram fregueses o pai e a mãe do R., para se baptizar e vira ir na companhia dos quais o levavam a baptizar Gomes da Fonseca Sequeira e Guiomar de Figueiredo, sua mulher, já defuntos, que não sabe qual deles foi padrinho ou madrinha […] dise que ele testª via ao Réu quando na dita Vila vivia negociar sua Fazenda e andar camjnho assim ao sábado como os outros dias da semana…”
5ª Antº Aº mercador, mºr na dª vila, “que estando ela testª um dia em sua casa asy lhe dissera, agora levam o menino de Fernão Ximenes a bautizar […] disse, ela testª, que ao tempo que ele vivia na dita vila e estava em casa de seu pai e mãe e depois em casa de Fernão dalvrez, seu cunhado (do R.), ela testª o via trabalhar e negociar pola semana todos os dias assim ao sabado como aos outros, sem fazer diferença…”
6ª Guiomar Fernandes, mulher que foi de Álvaro Glz, mºr na dª vila, “disse ela testª que Jorge de Matos, seu irmão, fora casado com uma irmã de fr.cº ximenez […] estando ela dita testª asy em sua casa disseram hy perante ela pessoas / agora levam o filho de Fernão Xemenez a bautjzar e que a este tempo tão bem o pay e maj do Reo eram tornados cristãos e como os outros”
7ª Guiomar de Figheiredo mulher de Grº Ryjo “ … que Guiomar de Figueiredo, sua tia que Deus haja, chamava o dito R. Fr.cº Xemenez, quando estava na dita vila, madrinha e a dita Guiomar de Figueiredo chamava à may do dito Reo comadre […] ouviu um dia dizer a frei Gaspar Frade, seu irmão dela testª, que vira comer carne de porco ao Réu […] disse que, ao tempo que o Réu vivia na dita villa, ele conversava com seus irmãos dela testª e com outros moços cristãos velhos …”
20 de Julho de 1542 no adro de Stª Maria
 Jº Fr.cº tab.ªm (tabelião) mºr na dita vila

Genealogia

Seu pai chamava-se Fernão Ximenez e era castelhano e a mãe Joana Nunez, castelhana, não sabe as terras; que nasceu ele e seus irmãos na Covilhã. Tem três irmãs todas mais velhas que ele, a saber: a) Isabel Ximenez, a qual é viúva de Fernão dalvarez, vivia na cidade da Guarda. b) Brites Ximenez, (1) mulher de António Roiz Galvão, x.n., mercador, moradora na cidade da Guarda. c) Francisca Ximenez, viúva, foi mulher de Jorge de Matos, x.n., a qual vive em Covilhã. Tem dois irmãos a saber: o doutor Duarte Ximenez, (2) Físico del Rei nosso Senhor e foi do Cardeal que santa gloria haja e é mais velho que ele Fr.cº Ximenez, e outro é Gaspar Ximenez,(3) mercador, em esta cidade (Évora) o qual é mais moço que ele Francisco Ximenez três anos. A mulher do dr. Duarte Ximenez  se chama Izabel Roiz (4), filha do Licº M..( Marcos, Martim ?) Rº diziam que era x.n. …

Notas dos Editores: 1) A cota dos seus processos são PT-TT-TSO/IL/28/1656 e 1656-1, do ano de 1542. No entanto é indicada como filha de Pêro Fernandes. Pensamos que se trata de um erro, pois esta Beatriz Ximenes que é referida como natural da Guarda, é também indicada como casada com António Rodrigues “o Galvão” !
2) Para provar que Duarte Ximenes foi médico do Cardeal Infante ver alvará de 17 de Junho de 1535, “para se-lhe pagar 18.000 reis do seu ordenado” em PT/TT/CC/1/55/80.
3) Ver também o alvará do Cardeal Infante de 1 de Março de 1539, em PT-TT-CC/1/64/43, “para o seu tesoureiro dar ao físico Gaspar Ximenes 2.400 reis por outros tantos que despendeu em serviço do mesmo Senhor.” Será este o Gaspar Ximenes, o outro irmão de Francisco Ximenes e por este referido como mercador em Évora?  
4) ou Isabel Rodrigues da Veiga, filha do Dr. Rodrigo da Veiga.

Fonte do texto e das notas dos editores:
http://www.geneall.net/P/forum_msg.php?id=107654 retirado de “Os Herdeiros do Poder”, XXI - de Francisco António Dória, com a colaboração de Carlos Barata, Jorge Ricardo da Fonseca, Ricardo Teles Araújo e Gilson Nazareth, Editora Revan, ISBN – 10: 8571060819

1 comentário:

  1. Olá

    Tenho imenso interesse e paixão nos estudos da família Ximenes de Aragão de uma forma similar que tinha o inesquecivel Luiz Fernando Carvalho Dias.
    Gostaria muito de sua ajuda em me fornecer se possivel o mais completo processo transcrito de Francisco Ximenes citado por voces.
    Sou imensamente grato.
    ximenesdearagao@gmail.com
    Até mais. Francisco Ximenes Filho.

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