Como já referimos
em Inquéritos I, iniciámos a apresentação do Inquérito Industrial de 1802, mas
decidimos publicar neste tema – Contributos para a História dos Lanifícios
– as tabelas ou mapas, mas somente os relativos à Covilhã, ou os que com ela se
relacionassem. É o que vamos hoje editar.
I - Apresentámos: “O corregedor da Comarca de Castelo
Branco informa, que ela se acha em total decadência a respeito de Fábricas […]
porque como a Comarca é fértil, havendo consumidores de frutos, e mais
misteres, cresce o dinheiro, e por consequência crescem também os braços para
as artes, e para a agricultura. […]
Hoje publicamos:
Mapa das Fábricas da Comarca de Castelo
Branco
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Sítios
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Fábricas
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Estado
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Operários
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Símplices
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Manufactura
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Castelo Branco
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Chapéus Lãs |
Decadente
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30
98
|
Chapéus
Panos
|
||
Alpedrinha
|
Lãs
|
126
|
Panos
|
|||
Belmonte
|
Lãs
|
670
|
Panos
|
|||
Castelo
Novo
|
Lãs
|
9
|
Panos
|
|||
Sabugal
|
Chapéus
Lãs
|
1
172
|
Chapéus
Panos
|
|||
S. Vicente
|
Lãs
|
303
|
Panos
|
|||
Sortelha
|
Lãs
|
460
|
Panos
|
|||
Touro
|
Lãs
|
187
|
Panos
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Museu dos Lanifícios, Núcleo da Real Fábrica de Panos Fotografia de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias |
II - Apresentámos: “O Superintendente Geral das
Fábricas de lanifícios das três Comarcas dá uma ideia […] E sem remeter o mapa
da Real Fábrica, cuja factura diz ficar a cargo de seus Administradores, nem o
das mais Fábricas das Comarcas anexas à sua jurisdição, que diz em 6 de Março
de 1802 estava fazendo. […]
Hoje publicamos:
Mapa das
Fábricas da Comarca da Covilhã
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Sítios
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Fábricas
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Estado
|
Operários
|
Símplices
|
Manufacturas
|
Consumo
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Covilhã
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De
Lanifícios de D. Brites Maria Teodora de Castro, que
se compõem de 6 potros, 2 urdideiras de mão, 1 engenho de torcer e urdir, 28
teares, 1 maceira, 2 perchas, 2 prensas, 17 tesouras, 8 tabuleiros, 4 perchas
inglesas, 3 caldeiras, 1 telha, 6 râmulas, 1 grudadoiro
|
514; a saber, 6 na casa do obrador, 4 na da
urdideira, 3 na dos fiados, 27 na dos teares grandes, 10 na dos teares
pequenos, 6 na do pisão, 16 na da tenda, e prensas, 5 na da tinturaria, 2 na
da chapa, 27 nas escolas de Valezim, Sortelha, Malcata e Quadrazais, Sabugal,
Meimão e Ameais, Sarzedo, e Vide, e 407 fiadeiras
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Covilhã
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De
Lanifícios do sargento-Mor António José Ramos, que se
compõe de casa de obrador, de urdideira, de teares, de pisão, de tinturaria e
de tenda que compreende 3 râmulas
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50; a saber, 1 escadurçador; 2 cardadores; 1 urdidor,
e 3 enroladores; 25 na casa dos teares, 8 na do pisão, 3 nada tinturaria e 7
na da tenda, além das que se ocupam na fiação e cardagem, que se acham
dispersos
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Covilhã
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De
Lanifícios de José Mendes da Veiga, que se compõe de
casa de Obrador, de teares, de pisão, de prensa, de tinturaria e de râmulas
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70; a saber, 10 cardadores, 15 na casa dos teares, 10
na do pisão, 13 na da prensa, 14 na da tinturaria e 8 nas râmulas, além das
fiadeiras dispersas
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Covilhã
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De
Lanifícios dispersa pelas casas dos habitantes da
Vila, com 85 teares com pisões, 6 tinturarias e tendas
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205; a saber, 508 fabricantes, 1020 cardadores, 254
tecelões, 25 pisoeiros, 110 ocupados nos pisões, 39 na casa da tinturaria e
49 nas tendas, tesouras e prensas
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Covilhã
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De
Lanifícios do Cap. Simão Pereira da Silva que se
compõe de 2 pisões, de 2 tinturarias com 6 caldeiras e 4 dornas, de 21
râmulas e das mais oficinas para tosar, prensar e lustrar
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91; a saber, 28 nos pisões, 18 na tinturaria, 40 nas
oficinas de tosa, prensa e lustro e 5 administradores
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Celorico
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De
Lanifícios do Cap. Simão Pereira da Silva que se
compõe de uns engenhos de carduça, de 1ª e 2ª carda de nova invenção, de
desengrossar os canudos de lã para se fiar o barbim e trama além das oficinas
ordinárias
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409; a saber,
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Panos, baetões, silésias, droguetes e cobertores
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III - Apresentámos: Nº 11 […]
Covilhã 30 de Março de 1802. Do Dezembargador Superintendente das Fabricas da
Covilhã e Comarcas anexas. João Roiz Botelho […]
Hoje publicamos:
Mapa das Fábricas de Lanifícios existentes nesta Vila de
Covilhã
I
Nesta vila de Covilhã há uma fábrica de lanifícios erigida por
D. Brites Theodora de Castro, viúva de José Henriques de Castro, a qual se
compõem das máquinas seguintes:
Caza
d’Obrador
Seis potros e cardas precisas, e mais trastes em que se ocupam
… pessoas
Caza
da urdideira
Duas urdideiras de mão, um engenho de torcer, e urdir com os
trastes anexos, em que se ocupam 4 pessoas
Caza
dos fiados
Nesta casa se ocupam três pessoas
Caza
dos teares grandes
Nesta casa se ocupam, e existem catorze teares com o
necessário, e trastes conjuntos, em que se ocupam, a saber, um mestre, oito
oficiais, doze aprendizes, seis caneleiros e por todos vinte sete
Caza
dos teares pequenos
Nesta caza existem trez teares grandes, onze pequenos com os
trastes anexos em que se ocupam um mestre, cinco oficiais, quatro aprendizes,
são dez pessoas
Caza
do Pizão
Uma Maceira. Duas perchas, com os trastes necessários, em que
se ocupam um mestre, cinco oficiais, e por todos são pessoas seis
Caza
da Tenda e Prensas
Nesta caza existem duas prensas. Dezassete tesouras, oito
taboleiros e quatro perchas inglesas, com os trastes necessários. Ocupam-se um
mestre, doze oficiais, tres aprendizes e por todos dezasseis pessoas
Caza
da Tinturaria
Nesta caza existem três caldeiras grandes, uma mais pequena,
duas dornas com aprestos necessários. Ocupam-se um mestre, quatro operários e
por todos cinco pessoas
Caza
da Chapa
Uma telha de bronze para dar lustro aos baetões
Caza
do Carpinteiro
Um mestre e um oficial
Seis râmulas
Um grudadouro
Escolas
Na Vila de Valezim – Escoleiros seis
Cardadores, treze
Em Sortelha, dois
Malcata e Quadrazais, um
Sabugal e Meimão e Ameais, um
Sarzedo, três
Vide, um
Fiadeiras empregadas na fiação de lãs desta escola
quatrocentas e sete
Resumo de todas as pessoas empregadas nas manufacturas destas
fábricas são quinhentas e quatorze
II
Mapa
das Fábricas de Lanifícios erigidas pelo sargento Mór António José Raposo
Caza
de Obrador
Um escarduçador
Dois cardadores
Com os trastes necessários
Caza
da urdideira
Um urdidor
Três encarroladores
Com os trastes necessários
Caza
dos teares
Vinte e um teares preparados, em que se ocupam as pessoas
seguintes
Um mestre
Oficiais treze
Aprendizes onze
Caza
do Pisão
Duas maceiras, Seis perchas, com os necessários aprestes,
ocupam-se as seguintes pessoas
Um mestre
Sete oficiais
Caza
da Tinturaria
Duas caldeiras, uma dorna e todos os aprestes necessários,
ocupam-se nela as pessoas seguintes
Um mestre
Dois oficiais
Caza
da Tenda
Existe uma percha, Dois taboleiros, Uma prensa. Ocupam-se nela
as pessoas seguintes
Um mestre
Quatro oficiais
Dois aprendizes
Tem
três râmulas
Resumo das pessoas ocupadas nesta Fábrica são cinquenta
Além das que se ocupam na fiação e cardagem das lãs que têm
nas escolas dispersas por várias terras.
III
Mapa
da Fábrica de Lanifícios erigida por José Mendes Veiga
Caza
do obrador
Cardadores,
dez
Caza
dos Teares
Cinco teares grandes em que se ocupam pessoas quinze
Caza
do Pizão
Tem duas perchas, uma maceira, Duas perchas inglesas, Em que
se ocupam dez pessoas
Caza
da Prensa
Duas prensas, Quatro tabuleiros, Dezassete tesouras. Ocupam-se
neste exercício treze pessoas
Caza
da Tinturaria
Duas caldeiras. Quatro dornas. Ocupam-se no seu exercício
quatorze pessoas.
Râmulas – sete, em que se ocupam oito pessoas
Pessoas 70
Resumo das pessoas empregadas nesta Fábrica são setenta
Além das que se ocupam na fiação das lãs nas Escolas que tem
dispersas por vários lugares
IV
Nesta Vila da Covilhã há uma fabricância de tecidos de lã
dispersa pelas casas dos seus habitantes, cujo número são hoje quinhentos e
oito, entrando os dos lugares anexos
Cardadores, mil e vinte
Teares, oitenta e cinco em que se ocupam duzentas e oitenta e
quatro pessoas
Pizoeiros vinte e cinco
Pessoas ocupadas nos pisões, cento e dez
Tinturarias seis em que se ocupam trinta e nove pessoas
Tendas, tesouras, e prensas cinco, e no que se ocupam vinte
pessoas
Ourineiros em todos os pizões doze
Encarduçadores desassete
Pessoas 2005
V
Há mais uma fábrica Real cujo mapa se há-de remeter à Real
Junta do Comércio pelos administradores dela segundo declararam, e por isso não
vai compreendida neste.
VI
Há mais uma fábrica erigida pelo Capitão Simão Pereira da
Silva, cuja laboração e máquinas que nesta trabalham assim como as pessoas nela
ocupadas constam do mapa junto que ele deu e assinou.
É o que consta haver nesta Vila e lugares anexos. Covilhã 2 de
Abril de 1802. Eu João de Moura Barata Feyo escrivão da Superintendência o
escrevi.
João de Moura Barata Feyo
Relação da gente que
ocupa a minha fábrica de Lanifícios a qual é erigida nesta Vila de Covilhã e na
de Celorico da Beira, e gosa de Privilégio Real pelo alvará régio que Sua
Magestade me concedeu em 31 de Julho de 1788. O seguinte (sic)
Em
Celorico ocupa o seguinte
2 – Homens a variar a
lã.
15 – Mulheres a
escolher, e tirar os argueiros à lã.
32 – Cardadores a
emborrar, imprimar, e encanudar a lã.
300 – Fiadeiras com rodas para fiarem, barbim, trama, e
ourelas.
6 – Mestres para
ensinar a fiar e para asparem o fiado.
6 – Rapazes a
encarrolar o fiado para se urdir.
2 – Rapazes para se
urdirem as peças.
2 – Homens para
fazerem grude em oficina própria para este ministério com três caldeiras, e os
mesmos servem para grudarem as teias em dois grudadores com assistência do
Mestre.
20 – Tecelões com
seus teares bem preparados de liços em cujos vinte teares se tecem panos,
baetões, silézias, droguetes, e cobertores; e os panos que se tecem são de
contos 18.nos 20.nos 22.nos 24.nos e 26.nos.
10 – Rapazes para
encher as canelas, e alguns deles já vão tecendo quando falta algum dos
tecelões, e em cada tear tece uma pessoa só à maneira ingleza com suas
lançadeiras de ferro com carretas.
10 – Mulheres para
tirar os nós às peças tecidas que saiem dos teares.
2 – Mestres de
cardadores, e tecelões para ensinarem os aprendizes nos seus competentes ramos,
pago tudo à minha custa.
2 – Administradores
____
409 Soma
Agora tenho conseguido com o maior desvelo
e despeza põr em execução uns grandes engenhos feitos por dois maquinistas
Irlandeses que de propósito mandei vir não só para os fazer mas também para
ensinarem a manobra dos ditos engenhos, e são os seguintes.
Um engenho de
carduça para abrir lã.
Um engenho de
primeira carda para emborrar e impremar.
Um engenho de segunda carda para encanudar.
Estes três engenhos são movidos por
bois com sua entrosga e é uma máquina admirável e nesta laboração se ocupam
somente seis rapazes e fazem cessar a precisãodos dois variadores e 32
cardadores ou ainda mais porque os tais engenhos podem cardar muito mais do que
os ditos 32 cardadores.
Um engenho
de desengrossar os canudos de lã para se fiar barbim.
Um engenho
de desengrossar a lã para se fiar a trama.
Estes dois
engenhos ocupam dois aprendizes e oito rapazinhos. Quatro engenhos de fiar
barbim e trama e tem cada engenho 52 fusos que por todos fazem 208 e fazem a
mesma fiação que podem fazer 208 fiadeiras porque estas fiam cada uma em sua
roda com um só fuso. Nos ditos quatro engenhos somente se ocupam, quatro
aprendizes para cada um seu, e tenho esperanças de combinar estas cousas ao
ponto de ter fiados para toda a qualidade de tecidos; por ora andam as máquinas
movidas por bois porém estou disposto a mandá-las armar por água para que o
movimento seja mais certo, mais suave, mais pronto. Conservo o maquinista, e o
mestre para ensinar, e são irlandezes, e isto com avultados salários e
despesas, e ainda espero outra família que mandei vir para me dizerem que
executarão inda com maior perfeição e tendo mostrado a maior constância para
conseguir poder ser útil ao Estado, ao público e à pobreza fazendo a deligência
para que as manobras se executem com maior comodidade afim de podermos competir
com os estrangeiros, e também evitar o ocupar muita gente por ser precisa e
necessária não só para a Agricultura de que temos tido tanta necessidade mas
inda mesmo para as tropas quando são precisos recrutas. Estes engenhos são os
únicos que há no Reino para os lanifícios e ainda mesmo os não há em muitos
Reinos porque o seu invento é de moderno, e principiou em Inglaterra e Irlanda.
Da Vila de
Celorico da Beira passam as fazendas tecidas para esta de Covilhã, aonde tenho
admiráveis edifícios não só para os tecidos da minha própria conta mas inda
para mandar beneficiar os do público, e são os seguintes:
Um
edifício com dois pisões, quatro perchas de ar, e duas à moda ingleza e nela se
ocupam as seguintes pessoas.
2 - Operários para assistirem às máquinas dos
pizões e para armarem os palmares de cardo e o mais preciso.
8 - Operários para as quatro perchas do ar.
8 - Operários para as quatro perchas inglesas
e tudo com a assistência dum mestre desta oficina.
10 - Mulheres
ou casas em que se esbicam os tecidos depois de lavados.
E tem este
edifício uma caldeira para aquecer águas, e desfazer o sabão, etc.
Tinturarias
Um
edifício de tinturaria em que se tingem todas as cores, superfinas e
ordinárias, e tem cinco caldeiras grandes para a laboração e duas dornas para
tingir azul.
Outro
edifício de tinturaria com três dornas e uma caldeira e somente serve para nela
se tingir azul e estas duas oficinas ocupam dois mestres e 16 operários, e
aprendizes além de muitas pessoas que conduzem lenha para o gasto das ditas
tinturarias.
21 –
Râmulas em que se enxergam os tecidos e de cada vez podem enxergar 50 peças ou
cortes.
Um
edifício de várias oficinas de tozar, prensar, e lustrar os tecidos.
Tem 32
tesouras de toza, quatro prensas com suas platinas de ferro, papel competente e
tudo o necessário para as ditas prensas. Uma plancha de bronze para lustrar os
baetões e é uma pessa perfeita e nestas oficinas se ocupa a gente seguinte:
16 –
operários para oito taboleiros de Toza.
8 – operários para o exercício das prensas e
lustrar.
8 – operários para enxugar as fazendas.
2 – alfaiates.
2 – pregadores para pregar as peças.
3 – carpinteiros.
2 – mestres para estas oficinas.
Tudo
administrado por mim, por meu filho e por três genros que todos vigiam pela
perfeição e por tudo passar na verdade como ser pedido passo esta em Covilhã 15
de Março de 1802.
Simão Pereira da Silva
Nota dos editores – Como estamos a notar que
a consulta dos leitores vai ser difícil, não voltamos a publicar separadamente
documentos e mapas.
Fonte – Luiz Fernando Carvalho Dias,
“História dos Lanifícios (1750-1834)”, Documentos IV-V
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