Bens Imóveis da Misericórdia
A Misericórdia da Covilhã,
como já sabemos, possuía muitos bens imóveis vindos de várias proveniências. Os
bens imóveis deixados à confraria são, sob pregão, dados em aforamento, para
que haja um rendimento certo para a instituição, salvo se quem os ofertou os
mandou vender e ordenou que o produto da venda fosse aplicado, por sua alma, em
obras de misericórdia. A organização administrativa da instituição estabelece
que dois conselheiros se ocupem a “receber as esmolas que defuntos ricos
deixassem, bem como a recolher as rendas e foros pertencentes à instituição”.
Vejamos os documentos.
Pormenor do tecto da Igreja da Misericórdia da Covilhã
Fotografia de Miguel Nuno Peixoto de Carvalho Dias
Bens da Misericórdia - Hospital da Vila da
Covilhã
Livro 3º do registo dos Bens das
Misericórdias
Covilhã
Foros cujo domínio directo somente é
senhora a mesma Misericórdia
“ Foreiros .
a) João José da Fonseca
Propriedades - uma fazenda que consta de
pomar de regadio, olival e souto, no sítio da Dorna, limite desta Vª, que parte
com souto do Revdº Pedro de Figueiredo Botelho, com estrada pública, dois mil
rs. Foro anoal a dinheiro: 2$000.
b) Antonio Manuel Correa
A Quinta chamada de S. Lázaro, consta de
casas, pomar, terras de regadio com castanheiros, oliveiras e árvores de fruto
e terra de pão, da parte de fora, parte com estrada da Corredoira e com Joaquim
Antonio Clementino Maciel, 650 rs.
$650
c) Manuel Paulo de Almeida
Umas casas com seus altos e baixos, com
seu balcão, com serventia para o Outeiro, sitas na rua do Açougue, freguesia de
Stª Maria, que partem com José Roiz Raposo e com casa dos Freires. 1.200 rs
1$200.
d) Maria Genoveva
Um souto sito à ribeira d’ Água de Alta,
limite desta Vila, parte com souto das Mesquitas e com souto chamado d’ El-Rei.
mil rs.
1$000.
e) João da Cruz
Uma morada de casas na rua direita desta
Vila que partem com o P.e Luis Leitão e com os Fonsecas, mil e seiscentos rs.
1$600 rs.
f) Francisco António Barreiros
Um chão no sítio da Trapa, limite desta
Vila, que partem com Ribeiro chamado da Trapa e calçada concelhia. cinco mil
rs.
5$000 rs
g) Antonio Isento de Matos
Umas casas na freguesia de Stª Maria que
partem com herdeiros de Jose da Sª Cardona e com Jose Martins Valezim, 3:000
3$000
h) António José da Silva Galvão
Um chão de regadia com suas árvores, no
sitio da Trapa, limite desta Vila, que parte com olivais de Filipe Caldeira
Castelo Branco e com estrada do concelho.
mil e quinhentos rs.
1$500 rs
i) D. Felipa de Serpa
Prazo chamado da Nogueira Grande no sítio
da Corredoura desta Vila que parte com estrada publica e com prazo de Santiago
e com José Diogo Baptista . cem rs
$100 rs
j) P.e Jose
Nunes Mouzaco
Uma morada de casas na freguesia de Stª
Marinha que parte com Jose Vaz da Costa e quintal das mesmas casas, cem rs
$100 rs
l) José
Rov.tº (?) Machado
Umas casas na freguesia do Salvador que
partem com rua serventia das Escadinhas e com Valerio Gomes, cem rs.
$100 rs
m) João Abrantes
Umas casas na freguesia de Stª Marinha que
partem com João Mendes Alçada e Manuel Nunes Botelho e João Nunes Mouzaco,
duzentos rs.
$200 rs
n) Jacinta Rosa, viúva de João da Silva
Moraes
Umas casas ao pé da igreja de S. Silvestre
que partem com casas da Misericórdia de que é enfiteuta Cândida Rosa e quelha
antiga para os olivaes, setecentos rs.
$700 rs
o) Cândida Rosa, viúva de José Amaro
Cardoso
Umas casas ao pé da Igreja de S. Silvestre
que partem com casa da Misericórdia da enfiteuta Jacinta Rosa e com quintal da
mesma Misericórdia, Quatrocentos e outenta rs.
$480 rs
p) Administradores da Real Fábrica
Um terrado defronte da Fonte das Lágrimas
hoje se acha incluso na Real Fábrica, Quinhentos rs.
$500 rs
q) Agostinho Roiz Feio
Um olival sito à Carreira dos Frades que
parte com estrada do Convento e José Roiz Carqueija, cem rs.
$100 rs
r) Confraria de S. Domingos
A Confraria de S. Domingos de Aldeia do
Carvalho por posse antiquissima, trezentos rs.
$300 rs
s) P.e José dos Santos da Torre
Um pequeno chão aonde chamão a Ribeirinha,
limite desta Vª, parte com Bento da Costa Ferraz, Ribeira Publica dos Pisões
por baixo da ponte de Monte en colo, duzentos e quarenta
$240 rs.
t) Manuel Pereira Rato
Uma terra no sítio da Ribeira da Maceira,
limite do Tortozendo, parte com a Viúva de Estêvão Fernandes e com Luís Afonso
do dito lugar do Tortozendo, mil e duzentos rs.
1$200 rs
u) Manuel Domingues
Prazo no sítio da Atalaia, limite de
Gibaltar, consta de um chão com seu terreiro e corte, parte com Pedro Martins
Matapão e estrada do concelho, 4.240 rs
4$240
v) Gertrudes Maria
Um olival no sítio da Capela da Senhora da
Conceição, limite de Aldeia de Joanes, termo da Vila do Fundão, que parte com
João Mendes e com Capitão Manuel da Silva, mil e duzentos
1$200
x) Manuel Cardoso
Um souto aonde chamão os Barreiros, limite
de Alcongosta, parte com estrada que vai para o Alcaide e com souto de José
Roiz Tendeiro, mil e oitocentos rs.
1$800 rs.
y) Francisco de Brito
Uma morada no lugar de Alcongosta a partir
com casas de José da Costa carpinteiro e rua pública. mil rs
1$000
z) Pedro Gonçalves Rebordão
Duas moradas de casas no sítio dos Tintes,
na Vª do Fundão com seu quintal junto com seus terrados da parte de fora e com
suas oliveiras que partem com quintal de Manuel Alves e estrada do concelho de
Aldea de Joanes, e uma vinha e a metade de um chão, parte com estrada de São
Marcos e com Manuel Correa do Fundão, dois mil e cinquenta rs.
2$050 rs.
aa) Bernardo Soares Girão
umas casas que foram de Francisco Rebelo
carpinteiro na freguesia de S. Tiago, que partem com casas da igreja de
Santiago e com casas de Bernardo Soares, cem rs.
$100 rs
ab) Manuel Fernandes Montez
Uma quinta no sítio chamado o Porto da
Covilhã, limite desta Vila. Parte com Manuel Joaquim da Silva Botelho, com Luís
Tavares da Costa Lobo e com Dr. Gregório José Pedroso. trez mil rs.
3$000
ac) Felipe de Jesus de Almeida Ravasco
Uma morada de casas no sítio do Outeiro, freguesia de Santiago,
antigamente emprazadas a João Roiz do Outeiro, a partir com casas de Manuel
Furtado de Mesquita e com casas da Misericórdia. Emprazadas a António Roiz
Honorato, trez mil rs.
3$000 rs.
ad) Felipe de Jesus de Almeida Ravasco
Umas casas com seus altos e baixos, na
fregª de Santiago, a partir com casas que foram de Bernardo Roiz Copeiro e
casas que forão das Trancozas, cem rs.
$100 rs.
Foreiros - Propriedades - Centeio (alqueires)
1) José Agostinho de Almeida Saraiva
Umas terras no sítio do Vale da Amoreira,
limite do lugar de Perovizeu, que partem com Norberto Simões da Vila do Fundão
e com o enfiteuta P.e Agostinho de Almeida Saraiva, do lugar de Perovizeu.
Quatorze alqueires de centeio
14
2) José Paulo Caldas
Uma Tapada aonde chamam as Naves da
Ribeira, limite do lugar de Pero Vizeu, parte com tapada de Ana Caldas, com
António Ramos e com Francisco Mendes, quatro alqueires
4
3) António das Neves Carneiro
Duas terras no sítio dos Poeiros, limite
da Vila do Fundão, que partem com Tapada de D. Francisca Tudela e com D.
Antónia Joana. Dois alqueires
2
4) Manuel Pinto
Umas terras de regadio e árvores no sítio
do Souto Redondo, limite de Gibaltar, que partem com Manuel Leitão e com Manuel
Paredes do dito Gibaltar, doze alqueires.
12
5) José Martins Paredes
Umas terras de pão e regadio com árvores
de fruto no sítio da Atalaia, limite de Orjaes que partem com Manuel Lourenço,
Manuel Salvador e Manuel Domingues do lugar de Gibaltar.
6) Fernando José Saraiva
Uma vinha no sítio de S. Marcos, limite do
lugar de Peraboa, que parte com Manuel Martins e Manuel Fernandes Bonito e um
olival no mesmo sítio, junto à Fonte, que parte com estrada pública, 3
alqueires
3
7) Balbino da Fonseca
Umas terras no sítio da Atalaia, limite de
Gibaltar, que partem com Manuel Lourenço e com o P.e Manuel Grilo. 5 alqueires
5
8) João Francisco Leitão
Prazo que consta de terras de regadio e de
suas oliveiras, castanheiros e vinha no sítio do Vale da Velha, limite de
Gibaltar, que parte com José Pacheco Esteves e Teodora Antunes. 7 alqueires
7
9) Manuel Lourenço Casteleiro
Umas terras de pão e moutas sitas no
limite de Gibaltar no sítio da Atalaia, que partem com Manuel Domingues e André
Roiz. 12 alqueires.
12
10) Francisco de Carvalho
Umas terras no sítio do Picoto, limite de
Aldeia do Carvalho, que partem com terras do Prior de S. Paulo e padre João
Monteiro e Manuel Dias da dita Aldeia. Alqueire e meio
1 1/2
11) Miguel Vaz Sainhas
Uma terra calva, no sítio da Mouraca,
limite de Orjais, que parte com terras do SSmo Sacramento do dito lugar. Um
alqueire e uma quarta
1 1/4
12) Cândida Rosa, viúva de José Amaro
Cardoso
Um quintal ao pé da Igreja de S. Silvestre
que parte com Rua Pública e quintal de Manuel Fernandes Montez e com casas da
Misericórdia da mesma enfiteuta Cândida Rosa e com casas de José Gonçalves
Tártaro. quatro alqueires e uma quarta
4 1/4
13) Nicolau Antunes
Umas terras de regadio e terras de pão e
moutas no sítio da Atalaia, limite de Gibaltar, a partir com o souto dos
herdeiros de Manuel Fernandes Moura e com prazo da Misericórdia. Enfiteuta
Manuel Lourenço Casteleiro. Dois alqueires
2
14) Nicolau Roiz
Uma courela de terra com seus castanheiros,
sita aonde chamão o Ribeiro Cantar Galo, que parte com terras de Carlos
Monteiro e com o mesmo enfiteuta Nicolau Roiz. Meio alqueire
1/2
15) Manuel Fernandes Montez
Uma quinta chamada Porto da Covilhã,
limite desta Vila, que parte com Manuel Joaquim da Silva Botelho, com Luiz
Tavares da Costa Lobo e com o Dr. António Gregório José Pedroso. Alqueire e
meio de grãos e alqueire e meio de feijão grande branco. Renovos 3 (1)
Encontrámos
ainda outro documento, também do espólio de Luiz Fernando Carvalho Dias, uma só folha, sobre propriedades maninhas que
podem ser terrenos incultos, mas de propriedade particular, neste caso a Santa
Casa da Misericórdia da Covilhã.
Título das propriedades
maninhas da Santa Casa da Mizericordia da villa da Covilhã, tirado do tombo a
fls 112.
Achou o juiz deste tombo
que pertencia aos maninhos
huma terra que está ao Ribeiro de poules, limite de oreiais, leva de semeadura
duas fanegas, parte com herdeiros de João António e com herdeiros de Constança
Glz, e com quem ao presente mais deva partir e outro sim tem mais uma terra
onde chamam a atalaia, no limite do Teixoso, que leva oitenta alqueires de pam,
parte com o Ribeiro que vem de S. Gens e com os limites de oreiais e do
sarzedo.
Huma caza e terra que está
nas seladinhas com sua videira à porta, limite de dornelas, e uma vinha com
suas árvores aos cravalhons (sic) parte com erdeiro de Nuno João, leva um homem
de cava.
Outra courela que está por
cima das cazas, parte com erdeiros de Nuno João, tem de traz das cazas duas
cerejeiras e a terra levará um alqueire de pão.
Outra terra com seus
castanheiros que está ao cômaro, parte com Miguel Fr.cº e erdeiros de João
Mriz.
Outra terra ao cabo das vinhas
no caminho que vai para a póvoa parte com Nuno João e com Simão Roiz e um vale
no Comeal das Servas com suas árvores e castanheiros parte com Miguel Fr.cº e
com Antº Correa alfaiate leva dez alqueires de pão e hua terra as seladinhas,
parte com Nuno João, tem seus castanheiros, leva meio alqueire de pão.
Outra terra ao ssimo davorca
(?) parte com erdeiros de Miguel Fr.cº leva meio alqueire de pão.
Um asento com um curral a
corte do Soveral em terra de Miguel Francisco.
Outra terra por baixo dos
castanheiros do comaro, que entesta nas casas e chega à barroca, leva meio
alqueire de pão, o que tudo constava pelo tombo velho ser maninho e ser da
Santa Caza da Mizericordia desta vila por lhe aver deixado os priores
antiguos (sic) do Teixosos Baltazar Manso e o de Dornelas o que visto pelo
dito juiz julgou as ditas terras por maninhas e mandou que delas pagassem o
foro acostumado de doze um, porquanto sendo noteficados o procurador e
deputados não pareseram, e mandou lançar as ditas terras neste tombo que
assinou o dito juiz; manoel Alz Fatela (Manuel Álvares Fatela) escrivão do
tombo escrevi (2); Saraiva; -
Nota dos editores – 1) Este documento não nos apareceu datado,
contudo procurámos relacioná-lo com alguns nomes ou factos nossos conhecidos,
não tendo chegado a conclusões definitivas. Filipe Caldeira Castelo Branco é um nome
que nos aparece duas vezes na lista dos provedores da Santa Casa da
Misericórdia da Covilhã, em 1685/86 e em 1696/98 e nos levaria a considerar que
o documento seria do último quartel do século XVII, mas quando são referidos os
administradores da Real Fábrica dos Panos, desistimos da datação, pois aquela
manufactura só foi criada em 1764.
2) Manuel
Álvares Fatela, que foi tabelião da Covilhã, exerceu funções em 1658.
3) - Continua a ser muito curioso encontrar
topónimos que hoje permanecem e alguns que até já referimos a propósito de
outros assuntos. Continuamos com vontade de estudar toponímia que é o estudo
linguístico e histórico da origem dos nomes de lugares; também podemos pensar
em estudar o passado a partir do presente, ou seja, ver, por exemplo, quais os
lugares/povoações do século XXI que aparecem nestes documentos. Luiz Fernando
Carvalho Dias considerava importantíssimo o estudo cuidado da toponímia.
Fonte - ANTT -
Conselho da Fazenda, pags 77 / 635
Livro 3º do
registo dos Bens das Misericórdias
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